Aspirina (ácido acetilsalicílico): para que serve e como tomar

O ácido acetilsalicílico é um medicamento anti-inflamatório e analgésico usado para aliviar dores, febre e inflamações. Também é indicada para reduzir o risco de problemas cardiovasculares, como infarto e AVC.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Aspirina

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O que é a aspirina?

O ácido acetilsalicílico, chamado abreviadamente de AAS, é um fármaco do grupo salicilato, presente no mercado desde 1899 sob o nome comercial de Aspirina®, da empresa alemã Bayer. O AAS é um dos fármacos mais antigos e estudados na medicina moderna.

O ácido acetilsalicílico faz parte do grupo dos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), que inclui substâncias como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida e cetoprofeno. No entanto, a aspirina possui características únicas, tanto em termos de efeitos terapêuticos benéficos quanto de possíveis efeitos colaterais, que a distinguem dos demais medicamentos deste grupo.

Uma característica singular da aspirina é que seus efeitos variam significativamente conforme a dosagem administrada. Em doses a partir de 500 mg, o ácido acetilsalicílico (AAS) atua com propriedades anti-inflamatórias, antipiréticas (redução da febre) e analgésicas (alívio da dor). Por outro lado, quando administrado em doses inferiores a 300 mg, o AAS exerce predominantemente um efeito antiagregante plaquetário, inibindo a ação das plaquetas no sangue e contribuindo para a prevenção de eventos trombóticos.

Nota: esse texto não aspira ser uma bula completa da aspirina. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações sobre este anti-inflamatório.

Nomes comerciais

Como já referido, o principal nome comercial do ácido acetilsalicílico é Aspirina®. No entanto, além do medicamento genérico, existem também diversas outras marcas de AAS. As principais são:

  • Aspirina prevent®.
  • Bufferin®.
  • Somalgin Cardio®.
  • Melhoral®.
  • Doril® (ácido acetilsalicílico com cafeína).
  • Engov® (combinação de AAS com outros componentes).
  • Sonrisal® (AAS em apresentação efervescente).
  • CafiAspirina®.
  • Acetil®.
  • Anaprin®.
  • Coristina D® (AAS combinado com descongestionantes).
  • Alidor®.
  • Migrane®.
  • Aspegic®.
  • Tromalyt®.

Para que serve?

O ácido acetilsalicílico atua no corpo de forma a reduzir os sintomas de dor, inflamação e febre, além de prevenir problemas de coagulação sanguínea. Ele faz isso ao interferir na ação de uma enzima chamada ciclo-oxigenase (COX). Essa enzima é importante porque ajuda o corpo a produzir substâncias chamadas prostaglandinas e tromboxanos. As prostaglandinas são responsáveis por causar dor e inflamação, enquanto os tromboxanos ajudam as plaquetas do sangue a se aglomerarem e formarem coágulos.

Quando o AAS inibe a COX, o corpo produz menos prostaglandinas e tromboxanos. Isso significa que os processos de dor e inflamação são reduzidos, e a capacidade do sangue de formar coágulos também diminui. Por essa razão, o AAS pode ser usado em diversas situações:

  1. Alívio da dor: atua como analgésico, ajudando a aliviar dores leves a moderadas, como cefaleias, dores musculares e dores de dente.
  2. Redução da febre: funciona como antipirético, ajudando a diminuir a temperatura corporal em casos de febre.
  3. Ação anti-inflamatória: em doses mais elevadas, possui propriedades anti-inflamatórias, sendo utilizado no tratamento de condições como artrite e outras doenças inflamatórias.
  4. Prevenção de doenças cardiovasculares: em doses baixas (geralmente menores que 300 mg), o AAS age exclusivamente como um antiagregante plaquetário, inibindo a formação de coágulos sanguíneos. Por essa razão, é amplamente prescrito para a prevenção de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio, ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral (AVC) em pessoas com risco elevado de desenvolver essas condições.

Ação antiplaquetária

Atualmente, o ácido acetilsalicílico é amplamente utilizado como antiagregante plaquetário, superando seu uso como anti-inflamatório. Para entender essa aplicação, é importante compreender o papel das plaquetas e a coagulação sanguínea.

As plaquetas são fragmentos celulares essenciais no processo de coagulação, que é uma resposta natural do organismo para conter hemorragias. Quando um vaso sanguíneo sofre lesão, as plaquetas se dirigem rapidamente ao local, formando uma camada protetora que interrompe o sangramento até que os fatores de coagulação completem a reparação do dano. Assim, o funcionamento eficiente das plaquetas é fundamental para uma coagulação adequada.

A aspirina atua inibindo a capacidade das plaquetas de se agregarem, dificultando a formação da camada inicial de proteção. Esse efeito é popularmente conhecido como “afinar o sangue”, pois torna o processo de coagulação mais lento e menos propenso a ocorrer de forma espontânea.

Mas por que os médicos precisam reduzir a agregação plaquetária em determinados pacientes?

A trombose ocorre quando a coagulação se dá de forma anormal dentro de um vaso sanguíneo, bloqueando o fluxo de sangue. Quando isso acontece em uma artéria coronária, pode causar um infarto do miocárdio; já em um vaso cerebral, pode resultar em um acidente vascular cerebral (AVC). O uso contínuo de AAS ajuda a prevenir a formação de coágulos, diminuindo, assim, a probabilidade de formação de trombos.

Portanto, o AAS é indicado para pacientes com alto risco de desenvolver trombos. As doses utilizadas para o efeito antiagregante plaquetário variam de 75 a 325 mg. Doses acima de 200 mg geralmente são indicadas para indivíduos que já passaram por um evento cardiovascular, enquanto em pacientes de alto risco que nunca tiveram um evento trombótico anterior, é comum a prescrição do AAS em doses menores, como 100 mg (conhecido como AAS infantil).

A aspirina desempenha também um papel crucial na prevenção da trombose em pacientes que passaram por procedimentos de angioplastia, nos quais stents são colocados em artérias coronárias. Nesses casos, ela é frequentemente combinada com outros antiagregantes plaquetários, como clopidogrel ou ticlopidina, para aumentar a eficácia na inibição da função plaquetária e prevenir complicações graves.

Efeitos anti-inflamatórios

Em doses iguais ou superiores a 500 mg, a aspirina atua não apenas como antiagregante plaquetário, mas também como um agente anti-inflamatório. No entanto, seu efeito anti-inflamatório tende a ser menos potente em comparação com diversos anti-inflamatórios mais modernos disponíveis no mercado. Por exemplo, o AAS não é a melhor escolha como analgésico para dores musculares, cólicas intestinais ou inflamações de pele.

Apesar disso, existem condições em que a aspirina ainda se destaca por sua eficácia como anti-inflamatório e analgésico. Entre essas condições, destacam-se:

O ácido acetilsalicílico também tem se mostrado eficaz em outras doenças, como no tratamento das cólicas menstruais, na prevenção da pré-eclampsia e na prevenção de pólipos intestinais e do câncer de cólon.

Como tomar

A posologia do ácido acetilsalicílico varia consoante a idade do paciente, a condição a ser tratada e a gravidade dos sintomas. Abaixo, listamos as posologias mais utilizadas para cada situação:

Alívio de dor leve a moderada e redução da febre (efeito analgésico e antipirético)

  • Dose: 500 mg a 1.000 mg por via oral.
  • Intervalo entre doses: a cada 4 a 6 horas, conforme necessário.
  • Dose máxima diária: não exceder 4.000 mg (4 g) em 24 horas.

Ação anti-inflamatória (em condições reumáticas como artrite reumatoide)

  • Dose: 1.000 mg por via oral.
  • Intervalo entre doses: a cada 4 a 6 horas.
  • Dose máxima diária: com orientação médica, podem ser indicados até 6.000 mg (6 g) em 24 horas.

Prevenção de eventos cardiovasculares (ação antiplaquetária)

  • Dose diária: 75 mg a 325 mg por via oral, uma vez ao dia.
  • Dose mais utilizada: 100 mg por dia.
  • Administração: preferencialmente, na hora do almoço, para reduzir risco de irritação gástrica.

Tratamento do infarto agudo do miocárdio (IAM)

  • Dose inicial (na suspeita de IAM): 160 mg a 325 mg, administrados imediatamente.
  • Administração: o comprimido pode ser mastigado para acelerar a absorção.
  • Dose de manutenção: 75 mg a 162 mg por dia, conforme orientação médica.

Prevenção de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico ou ataque isquêmico transitório (AIT)

  • Dose diária: 75 mg a 325 mg por via oral, uma vez ao dia.
  • Administração: preferencialmente, na hora do almoço, para reduzir risco de irritação gástrica.

Prevenção de pré-eclâmpsia (em gestantes de alto risco)

  • Dose diária: 75 mg a 150 mg por via oral, uma vez ao dia.
  • Dose comum: 100 mg por dia.
  • Início do tratamento: geralmente entre a 12ª e 16ª semana de gestação.

Prevenção de trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar

  • Dose diária: 75 mg a 325 mg por via oral, uma vez ao dia.
  • Administração: dose única diária.

Pericardite

  • Dose inicial: 650 mg a 1.000 mg por via oral, a cada 6 a 8 horas.
  • Duração do tratamento: geralmente mantido por 1 a 2 semanas, podendo ser estendido conforme a resposta clínica e orientação médica.

Prevenção do câncer colorretal

  • Dose diária: 75 mg a 100 mg por via oral, uma vez ao dia.
  • Administração: preferencialmente, na hora do almoço, para reduzir risco de irritação gástrica.

Efeitos adversos

Se o AAS reduz a incidência de tromboses, por que não utilizá-lo universalmente? A resposta está nos seus efeitos colaterais. Assim como outros anti-inflamatórios, o AAS pode aumentar o risco de desenvolver gastrites, úlceras gástricas e duodenais, levando potencialmente a hemorragias digestivas. Esse risco cresce proporcionalmente à dose administrada. No entanto, mesmo doses baixas, como 80 mg, ainda podem apresentar riscos de lesão gástrica.

O AAS se liga irreversivelmente às plaquetas, o que significa que, uma vez afetadas pela aspirina, essas plaquetas não podem mais desempenhar seu papel na coagulação sanguínea. O efeito antiagregante dura, portanto, o tempo de vida das plaquetas, que é de 5 a 10 dias. Assim, uma dose de AAS tomada hoje terá efeito por pelo menos 5 a 7 dias. Essa informação é crucial para procedimentos como cirurgias, extrações dentárias ou qualquer evento que exija uma coagulação eficiente para a segurança do paciente.

A inibição da função plaquetária é também a razão pela qual o AAS é contraindicado em casos de dengue ou outras doenças que cursam com trombocitopenia, como a púrpura trombocitopênica idiopática. Em pacientes com baixo número de plaquetas e risco de sangramento, o uso de uma medicação que prejudica a função plaquetária pode ter consequências graves.

O AAS também não deve ser administrado em casos de catapora (varicela) e gripe, especialmente em crianças e adolescentes, devido ao risco de desenvolver a síndrome de Reye. Essa condição é severa e pode causar edema cerebral e insuficiência hepática fulminante.

Além disso, a aspirina em doses acima de 325 mg deve ser evitada em pacientes com insuficiência renal crônica, uma vez que doses elevadas podem piorar a função renal. O uso de AAS nesse grupo de pacientes só é indicado quando os benefícios superam os riscos, como, por exemplo, em doses baixas para pacientes com alto risco cardiovascular.

O uso crônico de aspirina também tem sido associado a um risco aumentado de presbiacusia, que é a perda auditiva relacionada ao envelhecimento.

Contraindicações e precauções

O AAS deve ser evitado ou utilizado com extremo cuidado nas seguintes situações:

  • Reações alérgicas prévias a qualquer anti-inflamatório: pacientes que já apresentaram reações de hipersensibilidade ao AAS ou outros AINEs, como urticária, angioedema, broncoespasmo ou anafilaxia, não devem utilizar o medicamento.
  • Asma induzida por AAS: indivíduos com asma que experimentam broncoespasmo após o uso de AAS ou outros anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) estão em risco de reações potencialmente fatais.
  • Úlcera gástrica ou duodenal ativa: o AAS pode agravar lesões existentes na mucosa gastrointestinal, aumentando o risco de sangramento.
  • Histórico de hemorragia digestiva: pacientes com antecedentes de sangramento gastrointestinal, especialmente associado ao uso de AINEs, devem evitar o AAS.
  • Hemofilia e outras coagulopatias: o AAS inibe a função plaquetária, prolongando o tempo de sangramento e podendo exacerbar distúrbios hemorrágicos.
  • Trombocitopenia: baixa contagem de plaquetas aumenta o risco de sangramento.
  • Insuficiência hepática severa: o metabolismo do AAS é prejudicado, aumentando o risco de toxicidade.
  • Insuficiência renal: doses acima de 325 mg devem ser evitadas em doentes renais crônicos.
  • Insuficiência cardíaca congestiva não controlada: doses acima de 325 mg podem causar retenção de líquidos e sódio, agravando a insuficiência cardíaca.
  • Gravidez: doses acima de 150 mg devem ser evitadas.
  • Lactação: o AAS é excretado no leite materno em pequenas quantidades. Pode haver risco de efeitos adversos no lactente, incluindo reações alérgicas ou disfunção plaquetária.
  • Crianças: o uso de AAS em crianças e adolescentes com doenças virais, como varicela (catapora) ou influenza (gripe), está associado ao desenvolvimento da síndrome de Reye, uma condição rara, porém grave, que causa encefalopatia e insuficiência hepática.
  • Polipose nasal associada à asma (Tríade de Samter): pacientes com a tríade de Samter (asma, polipose nasal e intolerância ao AAS) apresentam risco elevado de reações de hipersensibilidade severas.
  • Deficiência de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD): o AAS pode induzir hemólise em pacientes com deficiência de G6PD, especialmente em doses elevadas.
  • Procedimentos cirúrgicos ou odontológicos imediatos: devido ao efeito antiplaquetário, o AAS pode prolongar o tempo de sangramento. Deve-se suspender o uso pelo menos 5 a 7 dias antes de cirurgias eletivas, conforme orientação médica.

Interações medicamentosas

O AAS pode interagir com diversos medicamentos:

  • Anticoagulantes (como varfarina): aumentam o risco de sangramentos.
  • Outros AINEs e corticosteroides: potencializam efeitos colaterais gastrointestinais.
  • Antihipertensivos (como inibidores da ECA e diuréticos): podem ter sua eficácia reduzida, especialmente em doses acima de 325 mg/dia.
  • Metotrexato: aumenta o risco de toxicidade.
  • Álcool: o consumo concomitante pode intensificar a irritação gástrica e o risco de sangramentos.

Perguntas frequentes

Posso consumir álcool enquanto uso AAS?

Não é recomendado, pois o álcool pode aumentar o risco de irritação gástrica e sangramentos, potencializando os efeitos adversos do AAS no trato gastrointestinal.

O AAS infantil é seguro para crianças?

O uso de AAS em crianças deve ser feito somente sob orientação médica. Em crianças e adolescentes com doenças virais, há o risco de síndrome de Reye, uma condição rara porém grave que afeta o fígado e o cérebro.

O AAS pode prevenir tromboses?

Sim, em doses baixas, o AAS é utilizado para prevenir a formação de coágulos sanguíneos em pessoas com risco cardiovascular aumentado. No entanto, essa indicação deve ser avaliada e prescrita por um médico.

Posso tomar AAS se estou grávida?

O uso do AAS durante a gravidez deve ser cuidadosamente avaliado pelo médico. Especialmente no terceiro trimestre, o AAS pode causar complicações para a mãe e o feto, incluindo riscos de hemorragias e problemas no desenvolvimento fetal.

Qual a diferença entre AAS e outros analgésicos como o paracetamol?

Enquanto ambos são eficazes no alívio da dor e redução da febre, o AAS possui propriedades anti-inflamatórias e antiplaquetárias que o paracetamol não tem. Isso faz com que o AAS seja útil em condições inflamatórias e na prevenção de eventos cardiovasculares, mas também o associa a um maior risco de efeitos colaterais gastrointestinais e sangramentos.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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