Mulheres Grávidas Podem Menstruar?

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Grávida menstruada

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Grávida pode menstruar?

Não. Menstruação e gravidez são dois eventos incompatíveis entre si. Quem está grávida não menstrua e quem está menstruada não pode estar grávida. Não há exceções.

No entanto, é importante deixar claro que dizer que grávidas não podem menstruar não significa dizer que grávidas não possam ter episódios frequentes de sangramento vaginal durante a sua gestação. A questão é que esses sangramentos podem ter várias causas, mas, com certeza, a menstruação nunca será uma delas.

Essa informação é de extrema importância porque se uma grávida está tendo sangramento suficiente para ser confundido com menstruação, existe chance dela estar tendo alguma complicação na gravidez. Apesar de existirem causas benignas de sangramento vaginal durante a gestação, o ideal é que todo e qualquer sangramento seja comunicado ao obstetra. É ele quem tem que decidir se a perda de sangue é ou não relevante.

Se você não só acha que é plenamente possível uma gestante menstruar, como ainda é capaz de citar casos pessoais nos quais essa situação tenha ocorrido, sugiro que leia esse texto com atenção, pois ele irá sanar todas as suas dúvidas.

Para que você possa entender o motivo da total incompatibilidade entre a gravidez e a menstruação, precisamos primeiro explicar o que é a menstruação e como ela ocorre.

Neste artigo vamos falar do ciclo menstrual resumidamente; se você deseja informações mais detalhadas, não deixe de ler também o seguinte texto: Ciclo menstrual – Como ocorre a menstruação.

O que é a menstruação?

A camada mais superficial da parede do útero chama-se endométrio. A cada ciclo menstrual, o endométrio se prepara para receber um possível embrião. Esse processo se dá através da proliferação das células do endométrio e do desenvolvimento de vasos sanguíneos, que serão responsáveis pelo fornecimento de fluidos e nutrientes para o futuro feto.

A preparação do útero para a gravidez ocorre todo mês e inicia-se no primeiro dia do ciclo menstrual, sendo primeiramente estimulado pelo hormônio estrogênio e posteriormente pelo hormônio progesterona.

Se fizermos um ultrassom nos primeiros dias do ciclo menstrual veremos um endométrio fino, com uma camada única com menos de 0,4 cm de espessura, e pobre em vasos sanguíneos. Conforme se passam os dias, a estimulação hormonal faz com que as células do endométrio se proliferem e novos vasos sanguíneos sejam criados.

Na fase final do ciclo, o endométrio torna-se espesso, com três camadas, viscoso, rico em vasos sanguíneos e com cerca de 1,5 cm de espessura, que é quase 4 vezes mais espesso que no início do ciclo.

Após a ovulação, se o óvulo não for fecundado em cerca de 24 horas, ele se degenera e o estímulo para a produção de estrogênio e progesterona acaba. Como já não há mais possibilidade de surgir uma gravidez neste ciclo, não há porque o organismo manter a preparação do útero para a implantação de um embrião.

Sem a presença dos hormônios estrogênio e progesterona, a espessa parede do endométrio perde o seu estímulo para se proliferar e o suprimento de sangue é subitamente cortado. Como efeito, a parede do endométrio começa a desabar, levando consigo tecido endometrial, muco, água e sangue.

A menstruação, então, nada mais é que o descolamento de parte expressiva da parede interna do útero, que ao longo do ciclo menstrual se preparou para receber um embrião que nunca foi gerado.

Portanto, para existir a menstruação, a mulher precisa passar por duas fases:

  1. Produzir estrogênio em ritmo crescente, de forma a induzir a ovulação e proliferar o endométrio.
  2. Ovular e não ser fecundada, pois a ausência da fecundação e a degeneração do óvulo é que provoca o fim do estímulo hormonal, que, por sua vez, leva ao desabamento da parede uterina.

Nota: quando a mulher usa pílula anticoncepcional, ela utiliza hormônios para enganar o sistema reprodutor, fazendo com que o endométrio se prolifere, sem, porém, induzir a ovulação. Quando a pílula é interrompida, o endométrio desaba e a paciente menstrua.

Por que a menstruação não ocorre durante a gravidez?

Quando o óvulo é fecundado, em vez dos níveis de estrogênio e progesterona caírem rapidamente, tal como ocorre quando o óvulo não fecundado degenera, eles fazem o oposto, elevam-se, mantendo o endométrio espesso e apto para receber o embrião. Esse é o primeiro ponto, se a mulher menstruasse após a fecundação, o endométrio estaria descamado e não teria condições de receber nem manter viável o embrião que acabou de chegar.

O segundo ponto é que, uma vez que o embrião tenha se implantado e esteja a se desenvolver adequadamente no endométrio, um novo hormônio começa a ser produzido: a gonadotrofina coriônica humana, também conhecida pelo acrônimo hCG. Um dos vários papéis do hCG é avisar ao organismo materno que há um bebê em desenvolvimento. Isso significa, entre outras coisas, que o ovário é “orientado” a não mais maturar óvulos todo mês, o que, na prática, faz com que a mulher não ovule durante todo o período em que estiver grávida.

Portanto, como um dos requisitos básicos para haver menstruação é a ovulação, se a mulher não ovula nem tem as flutuações hormonais de estrogênio e progesterona que ocorrem ao longo do ciclo menstrual, ela não apresenta os estímulos necessários para poder menstruar todo o mês.

Mas o principal motivo da incompatibilidade da gravidez com a menstruação é muito mais simples do que os mecanismos hormonais descritos acima.

Pense bem, se o embrião está fixado à parede do endométrio e é dele que a placenta recebe o sangue necessário para o seu desenvolvimento, caso a mulher menstruasse, ou seja, caso a parede do endométrio desabasse, como o embrião poderia permanecer inserido no útero? Não poderia. Assim como é impossível que um quadro permaneça pendurado a uma parede que tenha sido derrubada, um embrião não consegue permanecer fixado ao útero, caso a parede deste útero tenha sido arruinada.

Resumindo, a mulher grávida não tem nenhum dos estímulos necessários para que a menstruação ocorra, mas, mesmo que tivesse, isso significaria o término imediato da gravidez, pois, assim que ela menstruasse, o embrião seria expelido junto com o tecido endometrial que desabou.

Alguns de vocês devem estar pensando: mas eu conheço mulheres que sangravam durante a gravidez, como isso é possível?

Como já referido na introdução do texto, nem todo sangramento vaginal é menstruação. Existem diversas causas para sangramento na gestante, mas nenhuma delas é a menstruação.

Causas de sangramento vaginal na gravidez

Já falamos sobre as causas de sangramento na gravidez em um artigo à parte, que pode ser acessado através do seguinte link: Sangramento vaginal durante a gravidez.

Aqui, portanto, vamos apenas explicar de forma resumida os motivos pelo qual algumas mulheres apresentam sangramento vaginal durante a gestação.

São diversas as causas de sangramento durante a gravidez, sendo que até uma em cada cinco grávidas apresenta, pelo menos, um episódio de sangramento vaginal nas 12 primeiras semanas de gestação. Algumas dessas causas são inocentes, mas outras podem indicar problemas graves na gravidez, tais como risco de abortamento ou gravidez ectópica.

Entre as causas benignas de sangramento na gravidez está o chamado sangramento de implantação, que é uma discreta perda sanguínea que pode surgir quando o embrião se implanta na parede do endométrio. Esse sangramento, apesar de ter um aspecto bem diferente da menstruação, é frequentemente confundido com o período, pois ele costuma ocorrer ao redor da 4ª semana do ciclo menstrual, época em que a mulher está à espera da sua menstruação.

Sangramentos sem relevância clínica podem ocorrer também após um exame ginecológico ou mesmo após relações sexuais. Esses sangramentos ocorrem porque a vagina e o colo do útero encontram-se mais sensíveis, com alterações nos seus tecidos e com maior aporte de sangue durante a gravidez. Mulheres com pólipos ou miomas uterinos também podem ter episódios de sangramento vaginal ao longo da gestação.

Entrando na área das doenças, as infecções ginecológicas, tais como gonorreia, herpes, clamídia, candidíase ou outras formas de vaginite, podem deixar a mucosa vaginal irritada, facilitando a ocorrência de sangramentos.

A partir da 20ª semana de gestação, a placenta prévia (implantação da placenta à frente do orifício de saída do útero) ou descolamento prematuro da placenta (quando a placenta solta-se do útero antes da hora do parto) são causas comuns e preocupantes de sangramento vaginal.

Sangramento na gravidez por uso da pílula anticoncepcional

Raramente, a mulher pode engravidar mesmo tomando a pílula anticoncepcional. Isso costuma ocorrer quando a pílula é tomada de forma errada.

Nesses casos, a mulher pode inadvertidamente permanecer tomando o anticoncepcional por vários meses. Por conta dos hormônios contidos no medicamento, ao final de cada cartela, a grávida pode apresentar uma pequena perda de sangue, tal como se fosse a menstruação.

Esse sangramento, porém, não é tecnicamente uma menstruação, e a perda de sangue costuma ser bem menor que a habitual.

Independentemente da causa, todo sangramento durante a gravidez deve ser prontamente avaliado pelo obstetra. Como já referido, não existe menstruação durante a gravidez. Se você está grávida e está perdendo sangue pela vagina, mesmo em pequena quantidade, não assuma que está tudo bem. Entre em contato com o seu médico e deixe que ele decida se o sangramento é ou não preocupante.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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