O que é diabetes gestacional?
Assim como qualquer tipo de diabetes, o diabetes gestacional é uma doença que afeta o modo como as células utilizam a glicose (açúcar), provocando níveis elevados desta substância no sangue, situação que pode afetar o curso da gravidez e a saúde do bebê.
O diabetes gestacional é um tipo de diabetes que apresenta uma particularidade, ele surge durante a gravidez e costuma desaparecer após o nascimento do bebê.
Mulheres que são diabéticas e engravidam não são consideradas portadoras de diabetes gestacional. O diabetes gestacional é aquele que aparece somente após iniciada a gravidez.
O diabetes gestacional é uma complicação comum da gravidez, acometendo, dependendo da região, entre 2% e 15% das gestantes.
Em comparação com mulheres não grávidas, as gestantes tendem a ter maior risco de hipoglicemia (glicose sanguínea baixa) durante os períodos fora das refeições e durante o sono. Isso ocorre porque o feto extrai continuamente glicose da mãe, mesmo quando a mesma encontra-se em jejum. Conforme o feto cresce, maior é a sua necessidade de glicose.
A partir do segundo trimestre de gravidez, como o bebê começa a ficar grande, a mãe precisa de mecanismos protetores contra hipoglicemia, pois o consumo de glicose pelo feto torna-se intenso. Esta proteção surge através dos hormônios produzidos naturalmente pela placenta, como estrogênios, progesterona e somatomamotropina coriônica, que agem diminuindo o poder de ação da insulina, fazendo com que mais glicose fique disponível na corrente sanguínea.
O efeito anti-insulínico destes hormônios é tão forte, que no final da gravidez, o pâncreas da mãe precisa produzir até 50% mais insulina para evitar que esta fique com hiperglicemia (níveis elevados de glicose no sangue). O diabetes gestacional surge exatamente nas gestantes que não conseguem aumentar a ação da sua insulina para compensar os efeitos hiperglicemiantes dos hormônios da gravidez.
Mães com diabetes gestacional apresentam níveis elevados de glicose no sangue, principalmente após as refeições, que é o momento em que o organismo recebe uma carga grande glicose vinda dos alimentos.
O diabetes gestacional só costuma surgir a partir da metade do segundo trimestre, em geral, somente após a 20.ª semana de gestação.
Fatores de risco
Não sabemos exatamente por que em algumas gestantes os mecanismos de controle da glicemia (glicose no sangue) se descontrolam, levando ao diabetes gestacional. Sabemos, porém, que algumas características pessoais aumentam o risco de uma grávida desenvolver diabetes gestacional. São eles:
- História familiar de diabetes mellitus.
- Já ter exames de sangue com glicose alterada em algum momento antes da gravidez.
- Excesso de peso antes e/ou durante a gravidez.
- Idade maior que 25 anos.
- Gravidez anterior com feto nascido com mais de 4 kg.
- Histórico de aborto espontâneo sem causa esclarecida.
- Ter tido um filho anterior com malformação.
- Ter hipertensão arterial.
- Ter ou já ter tido em gestação anterior pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.
- Ter síndrome dos ovários policísticos.
- Usar corticoides.
Sintomas
Ao contrário das outras formas de diabetes, que cursam com sintomas como perda de peso, sede excessiva, excesso de urina, visão turva e fome constante, o diabetes gestacional não costuma provocar sintomas. É sempre bom lembrar que sintomas como aumento da frequência urinária, cansaço e alterações no padrão da fome são habituais na gravidez, não servindo como parâmetro para identificação de um diabetes gestacional.
Portanto, sem a realização de exames laboratoriais de rastreio, não é possível identificar grávidas com diabetes gestacional.
Diagnóstico
O rastreio para o diabetes gestacional é habitualmente realizado entre a 24.ª e a 28.ª semana de gestação. Em gestantes com alto risco, a investigação pode ser feita mais precocemente. Muitos obstetras começam a investigação para todas as gestantes já na primeira consulta, através da dosagem da glicemia em jejum.
Atualmente, há mais de uma forma de fazer o rastreio do diabetes gestacional. Não há amplo consenso sobre o melhor método. As escolas brasileira, americana e europeia propõem métodos ligeiramente diferentes, baseados em estudos das características das suas próprias populações.
Portanto, dependendo da fonte que se pesquise, o método de diagnosticar o diabetes gestacional pode ser diferente. Apresentaremos aqui as orientações da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) que são as mesmas da International Association of Diabetes in Pregnancy Study Group (IADPSG).
Todas as gestantes devem medir sua glicose em jejum na primeira consulta do pré-natal. O valor esperado é menor que 85 mg/dl. Se a paciente tiver uma glicemia em jejum menor que 85 mg/dl e não apresentar nenhum fator de risco para diabetes gestacional, nenhuma outra pesquisa adicional é necessária, exceto se ao longo do curso da gravidez surjam indícios de diabetes gestacional.
Se a paciente apresentar um resultado acima de 126 mg/dl na glicemia em jejum da primeira consulta, isso é indicativo de diabetes mellitus. O exame deve ser repetido 1 ou 2 semanas depois para confirmação.
As gestantes com glicemia em jejum entre 85 e 125 mg/dl não são consideradas diabéticas, mas estão no grupo de alto risco, principalmente aquelas com glicemia mais próxima de 125 mg/dl. Neste grupo, uma nova pesquisa, chamada curva glicêmica ou teste de tolerância oral à glicose, deve ser feita entre a 24.ª e a 28.ª semana de gravidez.
No teste de tolerância oral à glicose, a gestante colhe sangue para glicemia em 3 momentos. O primeiro é em jejum. Depois, a grávida consome um xarope contendo 75 gramas de glicose, espera 1 hora e colhe o sangue novamente. Duas horas após a ingestão do xarope, a gestante colhe o sangue pela 3.ª e última vez.
O diagnóstico do diabetes gestacional é feito de a paciente tiver pelo menos 2 dos 3 resultados alterados:
- Glicemia Jejum: normal até 92 mg/dl.
- Glicemia após 1 hora: normal até 180 mg/dl.
- Glicemia após 2 horas: normal até 153 mg/dl.
Como já foi dito, este protocolo descrito é apenas um dos vários existentes. Esta é a forma mais indicada para a pesquisa do diabetes gestacional na população brasileira, mas não é a única correta.
Consequências do diabetes na gravidez
O diabetes gestacional traz riscos à gestação e ao bebê. O excesso de glicose circulando no sangue da mãe atravessa a placenta e chega ao feto, enchendo-o de glicose. O pâncreas do feto passa a produzir grande quantidade de insulina, na tentativa de controlar a hiperglicemia fetal.
A insulina é um hormônio que estimula o crescimento e o ganho de peso, fazendo com que o feto cresça excessivamente. Fetos de mães com diabetes gestacional habitualmente nascem com mais de 4 kg e precisam ser submetidos a parto por casariana.
Bebês filhos de mães com diabetes gestacional não tratado têm maior risco de morte intrauterina, problemas cardíacos e respiratórios, icterícia e episódios de hipoglicemia após o parto. Quando adultos, o risco de obesidade e diabetes mellitus tipo 2 também é maior que na população em geral.
Da parte da mãe, o diabetes gestacional aumenta o risco de abortamento, parto prematuro e pré-eclâmpsia.
Tratamento
O controle dos níveis de glicose no sangue é essencial para a saúde materna e fetal. Para mulheres com sobrepeso ou obesidade é imperativo emagrecer. Uma dieta saudável, com controle de gordura, carboidratos e calorias é indicado para todas as gestantes. Exercícios físicos também são importantes, pois ajudam no funcionamento da insulina.
Se a mudança de hábitos de vida não resultar no controle da glicose, a gestante pode precisar usar injeções de insulina.
Nos casos mal controlados, se a paciente não entrar naturalmente me trabalho de parto, o parto é induzido na 39.ª semana, para evitar que o feto cresça muito dentro útero.
Diabetes gestacional tem cura?
Na maioria dos casos, o diabetes desaparece espontaneamente após o nascimento do bebê, porém, essas mães apresentam elevado risco de desenvolver diabetes tipo 2 ao longo da vida, caso não controlem seu peso, dieta e não pratiquem atividades físicas regularmente.
Referências
- Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil – Organização pan-americana da saúde, Ministério da saúde, Federação brasileira das associações de ginecologia e obstetrícia, Sociedade brasileira de diabetes.
- The International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) Initiative on gestational diabetes mellitus: A pragmatic guide for diagnosis, management, and care – International Journal of Gynecology and Obstetrics.
- Pregnancy and Diabetes – The International Diabetes Federation (IDF).
- Final Recommendation Statement Gestational Diabetes Mellitus, Screening – U.S. Preventive Services Task Force.
- Gestational diabetes mellitus: Glycemic control and maternal prognosis – UpToDate.
- Gestational diabetes mellitus: Obstetric issues and management – UpToDate.
- Diabetes mellitus in pregnancy: Screening and diagnosis – UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
Boa tarde, doutor, tenho diabetes gestacional é perigoso?
Sim, é preciso controlá-lo para reduzir o risco de complicações para você e para o bebê.
Dr. Porque alguns médicos dizem que 1 hora após o almoço precisa estar no máximo 140?
Existem protocolos diferentes para o diagnóstico. Dependendo da carga de glicose administrada, o resultado após 1 hora muda.
Olá doutor, comecei a monitorar a glicose hoje de manhã, em jejum deu 101 e 1 hora após o almoço deu 159, devo me preocupar?
Obs: Sou gestante de 33 semanas e até o meu último exame de curva glicêmica estava tudo certo.
Se você estiver monitorando com a glicemia capilar, os resultados não são confiáveis para o diagnóstico. É preciso fazer o exame de sangue.
Eu sou diabética, teria que fazer na mesma esse exame?
Não, se você já é sabidamente diabética, basta controlar a glicemia durante a gestação.
Estou com 11 semanas, no exame em jejum deu 116,9 mg/dl é preocupante?
Sim, é pra acompanhar de perto, pois a sua gravidez ainda está muito no começo. O seu obstetra precisa te orientar para evirar que você desenvolva diabetes gestacional.
Eu estou de 38 semanas +2 e descobri hoje que o meu nível está a 99 em jejum e o meu médico nunca me disse que tinha diabetes sempre disse que estava tudo bem
Esse valor sozinho não caracteriza diabetes gestacional. É preciso fazer o teste de tolerância oral à glicose.
26 semanas e no exame deu 92mg/ dl, tou pirando , estou com diabetes?
Mim ajudem!?
Abaixo de 95 em jejum é normal.
Em jejum minha curva glicemica em jejum 89MG/dl em tempo 120minutos R 102MG/dl e sinal de diabete to 33 semana 2dia gestação
Você não tem critérios pra diabetes gestacional.
Estou com 27 semanas e minha glicemiade jejum deu 90 o médico pediu pra q eu fizesse uma dieta pous estou tbm acima do peso e um novo exame dentro de 15 dias …. preocupante ?????
90 tá muito próximo do limite do aceitável.
Olá, boa tarde!
Em relação ao critério de detecção, minha esposa está com 30sem e deu alteração no teste de 120min (170mg/dL), os outros deram ok (basal – 84mg e 1h – 164mg).
Gostaria de saber o quão preocupante é isso, pois alguns sites dizem que se apenas 1 dos itens derem alterado, o diagnóstico é para diabetes…
Obrigado!
Os critérios podem ser diferentes. Há uma tendência a ser mais rigoroso e considerar diabetes gestacional apenas com 1 alteração e não mais com 2 no teste de 75 mg.
Ola boa tarde. Estou gravida d quase onze smn, n final d março fiz analises e o valor k me deu foi 92. A mh médica d família disse m estar td bem, vou a maternidade e ao mostrar as msm análises dizem k estou cm diabetes gestacionais. Todos os dias os meus valores estão entre oitenta e noventa em jejum. Nunca tendo passado dos 128 após refeiçao. Nao m deram tabela pra m puder guiar. Qual a sua opinião? Obrigada.
90 em jejum não é diabetes.
Resultado do exame no primeiro jejum deu 196mg com 27 semanas. É preocupante? Os outros dois resultados deu dentro.
Essa glicemia em jejum está bem alta. Ela foi realmente feita em jejum?
Se a glicemia em jejum está normal (79 mg/dL), ainda é possível que a gestante tenha diabetes gestacional?
Se está normal, ela não tem diabetes.
Exame de glicose com valor de 95 mg/dL, realizado após 8 horas de jejum, na 33a semana de gestação pode ser considerado normal?
Tá no limite. O seu obstetra indicou mais algum exame?