Síndrome dos ovários policísticos (SOP): o que é, sintomas e tratamento

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um distúrbio hormonal que causa o crescimento de pequenos cistos nos ovários. Ela pode provocar ciclos menstruais irregulares, acne, ganho de peso e dificuldade para engravidar.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Ovário policístico

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O que é a síndrome dos ovários policísticos (SOP)?

A síndrome dos ovários policísticos (SOP), também chamada de síndrome dos ovários micropolicísticos (SOMP), é uma doença caracterizada pela presença de múltiplos cistos nos ovários, associados à desregulação do ciclo ovulatório e dos hormônios femininos.

Cisto é uma espécie de saco formado por uma fina membrana, contendo líquido ou ar em seu interior. É como aquelas bolhas que surgem na pele após uma queimadura ou no pé após o uso de sapato desconfortável. O cisto é uma estrutura fechada que não tem comunicação direta com o tecido no qual ele está inserido.

Para entender por que surgem vários cistos no ovário é preciso primeiro conhecer o ciclo ovulatório normal. Vamos resumi-lo:

Ciclo menstrual normal

O ciclo da ovulação ocorre por uma sequência de eventos desencadeados pelo cérebro, ovários e útero, que ocorrem em média uma vez a cada 28 dias (em algumas mulheres este ciclo é maior, em outras, menor). O ciclo ovulatório é controlado basicamente por 4 hormônios, dois deles, FSH e LH, produzidos pela glândula hipófise do cérebro, e outros dois, estrogênio e progesterona, produzidos pelos ovários.

Ovário policístico
Ovário policístico e ovário normal

Durante a primeira metade do ciclo, o cérebro produz o hormônio FSH, que estimula o ovário a desenvolver vários folículos (um tipo de cisto). Na presença do FSH, os folículos começam a se desenvolver, crescendo e amadurecendo. Sete dias após o início do ciclo, é possível detectar na ultrassonografia do ovário vários folículos medindo entre 9 e 10 milímetros.

Estes folículos ovarianos começam a produzir estrogênio. Conforme os níveis de estrogênio vão crescendo, um dos folículos se torna dominante, desenvolvendo-se mais rápido que os outros, que param de crescer e começam a involuir. Este folículo dominante é quem liberará o óvulo no momento da ovulação.

O pico na produção de estrogênio ocorre um dia antes da ovulação. No momento de concentração máxima do estrogênio, outro hormônio da hipófise é liberado, o LH. Estamos agora exatamente no meio do ciclo, ao redor do 14º dia em casos de ciclos menstruais de 28 dias. Trinta e seis horas após a liberação do LH, ocorre o rompimento do folículo dominante e a liberação do óvulo.

Após a ovulação, o ovário produz estrógeno e progesterona, que preparam o útero para a implantação e possível gravidez. Se o óvulo não for fecundado, ele é absorvido e a produção de LH, estrogênio e progesterona é interrompida. Sem estes hormônios o útero descama, surgindo assim a menstruação.

Portanto, a menstruação é um sinal que a mulher ovulou, mas não foi fecundada.

Para ler sobre o ciclo menstrual com mais detalhes sugerimos dois textos:

Ciclo menstrual na SOP

Nas mulheres com SOP, os folículos que surgem devido à ação do FSH são incapazes de crescer até um tamanho que provocaria a ovulação, não havendo, portanto, o desenvolvimento de um folículo dominante. Sem o folículo dominante, não ocorre ovulação nem estímulo para os folículos restantes involuírem, havendo acúmulo progressivo dos mesmos, fato que é responsável pelo aspecto policístico que os ovários adquirem.

A ausência de ovulação e a presença constante de folículos desregula todo o ciclo de produção de FSH, LH, estrogênio e progesterona. A mulher com ovário policístico pode não ovular por vários ciclos, o que é facilmente perceptível pela natureza irregular das suas menstruações.

O que causa a síndrome dos ovários policísticos?

Não se sabe bem ao certo o que provoca a SOP. É provável que a mesma seja o resultado da associação de fatores genéticos e factores ambientais. Cerca de 10% das mulheres possuem a síndrome dos ovários policísticos em algum grau.

A influência genética é forte. Mulheres com ovário policístico frequentemente possuem uma mãe ou irmã também com a doença. Pesquisadores ainda estão à procura dos genes responsáveis pela doença.

Um achado muito comum nas mulheres com síndrome dos ovários policísticos é um aumento dos níveis de testosterona, o principal hormônio masculino. Outra alteração comum é a resistência a insulina. A paciente produz insulina normalmente, mas os seus tecidos são resistentes a sua ação, causando uma alteração nos valores de glicose no sangue.

Sintomas

A síndrome dos ovários policísticos é chamada de síndrome porque possui um conjunto de sinais e sintomas que podem ou não estar presentes. A doença pode ser mais branda em algumas mulheres e mais exuberante em outras.

As principais características da SOP são a menstruação irregular, que é provocada pelos ciclos anovulatórios (ciclos menstruais em que a mulher não ovula), infertilidade, obesidade, aumento dos pelos e acne. Laboratorialmente é comum encontrar níveis elevados de glicose no sangue. Em cerca de 10% dos casos, a alteração da glicose sanguínea é suficiente para causar diabetes mellitus tipo 2.

Oligomenorreia é um termo médico usado para descrever um ciclo menstrual irregular ou infrequente. Mulheres com oligomenorreia têm períodos menstruais com menos frequência do que o normal, geralmente definido como tendo menos de 8 ciclos por ano ou intervalos entre menstruações superiores a 35 dias. A oligomenorreia é um sintoma comum da SOP.

O excesso de testosterona, chamado de hiperandrogenismo, é responsável por alguns dos sinais e sintomas típicos da síndrome dos ovários policísticos. Hirsutismo é o nome dado à presença de pelos nas mulheres em locais com características masculinas. Os pelos costumam surgir acima do lábio superior, no queixo, ao redor dos mamilos e abaixo do umbigo. As mulheres também podem apresentar uma calvície com padrão masculino. O excesso de hormônios masculinos também é o responsável pelo aumento da oleosidade da pele e surgimento da acne (cravos e espinhas).

Outro achado comum na síndrome dos ovários policísticos é a síndrome metabólica, caracterizada per excesso de peso, resistência à insulina, níveis elevados de colesterol e hipertensão arterial. Pacientes com síndrome metabólica têm maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

Acantose nigricans é o nome que damos ao aumento da pigmentação da pele nas regiões da nuca, dobras cutâneas, articulações ou cotovelos, que se tornam mais escuras. É um achado típico nos pacientes obesos e com resistência à insulina.

A ausência de ovulação e as alterações hormonais da SOP aumentam o risco do desenvolvimento do câncer do endométrio, que é a parede interna que reveste o útero.

Outras alterações comuns são a apneia do sono e esteatose hepática.

Quem tem ovários policísticos pode engravidar?

Pode, mas a dificuldade para engravidar é muito comum nas mulheres com a síndrome. Os frequentes ciclos anovulatórios são a causa dessa dificuldade para engravidar naturalmente.

Existem tratamentos e estratégias de fertilidade que podem ajudar mulheres com SOP a engravidar, como mudanças no estilo de vida (perda de peso, alimentação saudável e exercícios), medicamentos para induzir a ovulação e técnicas de reprodução assistida. Muitas das pacientes com SOP acabam precisando de tratamento para infertilidade para conseguir engravidar.

Diagnóstico

O diagnóstico da síndrome dos ovários policísticos é feito com base em um conjunto de critérios clínicos e laboratoriais, conhecidos como os critérios de Rotterdam, que incluem:

  1. Irregularidades Menstruais: ciclos anovulatórios ou oligomenorreia (menos de oito ciclos menstruais por ano ou ciclos com duração maior que 35 dias).
  2. Hiperandrogenismo: presença de sintomas como acne, hirsutismo (crescimento excessivo de pelos) ou alopecia, ou níveis elevados de andrógenos no sangue.
  3. Ovários Policísticos: aparência policística dos ovários ao ultrassom, geralmente definida pela presença de 12 ou mais folículos em cada ovário ou um volume ovariano aumentado (alguns grupos sugerem 20 a 25 folículos em cada ovário como valor de corte mais confiável).

Para o diagnóstico, dois dos três critérios devem estar presentes após a exclusão de outras causas de sintomas semelhantes.

Nas adolescentes, os critérios de Rotterdam são mais falhos, dado que irregularidades menstruais, acne, aumento dos pelos e um ovário com aparência multifolicular são achados comuns nessa faixa etária.

Existe algum teste específico para ovários policísticos?

Não há um único teste para diagnosticar a síndrome dos ovários policísticos (SOP). O diagnóstico é habitualmente baseado em 4 pilares:

  1. Histórico clínico: discussão dos sintomas, histórico menstrual, ganho de peso, problemas de fertilidade, entre outros.
  2. Exame físico: avaliação de sinais de hiperandrogenismo, como acne e hirsutismo.
  3. Exames de sangue: verificação de níveis hormonais, incluindo hormônios sexuais e, às vezes, testes de resistência à insulina.
  4. Ultrassonografia pélvica: visualização dos ovários para identificar a presença de múltiplos folículos.

Os médicos também precisam excluir outras condições com sintomas semelhantes. Portanto, o diagnóstico da SOP é muitas vezes um diagnóstico de exclusão, após outras causas serem descartadas.

Tratamento

Não existe cura para a síndrome dos ovários policísticos. Porém, há tratamentos efetivos que conseguem controlar bem os sintomas da doença.

A prática de exercícios físicos e a perda de peso são importantes, pois atuam melhorando a resistência à insulina, reduzem a produção de hormônios masculinos e protegem contra as doenças cardiovasculares.

Pílulas anticoncepcionais

O tratamento medicamentoso da SOP é geralmente direcionado para os sintomas mais exuberantes. Nas mulheres com hiperandrogenismo, o uso de pílulas anticoncepcionais ajuda a diminuir a produção de hormônios masculinos. O Acetato de ciproterona, hormônio presente na pílula Diane, tem uma boa ação antiandrogênica.

Se não houver resposta esperada após 6 meses de pílula, um diurético chamado espironolactona pode ser usado, por ter também atividade antiandrogênica, principalmente na pele, inibindo o hirsutismo. Outra medicação com efeito antiandrogênico que pode ser usada é a Finasterida.

O uso de anticoncepcionais, além da parte estética, também é importante para regularizar o ciclo menstrual, diminuindo os riscos de câncer do endométrio. A pílula também age contra a acne.

Leitura sugerida: Anticoncepcional mais indicado para cada situação.

Vaniqa

Existe um creme chamado Vaniqa, que pode ser aplicado na pele, pois inibe o crescimento de pelos.

Vaniqa é um creme dermatológico que contém eflornitina como princípio ativo e é usado para tratar o crescimento excessivo de pelos faciais em mulheres. Ele funciona inibindo a enzima ornitina descarboxilase, que está envolvida no crescimento dos pelos, resultando na diminuição do crescimento de pelos na face.

O Vaniqa não é um creme depilatório, então deve ser usado em conjunto com métodos de remoção de pelos. A aplicação recomendada é duas vezes ao dia, com pelo menos 8 horas de intervalo, e o creme deve permanecer na pele por pelo menos 4 horas após a aplicação. Melhorias são geralmente observadas dentro de quatro a seis semanas, e o uso contínuo é necessário para manter os resultados​.

Metformina

A metformina é uma droga antidiabética muito usada na SOP por seu papel na melhoria da resistência à insulina, um componente-chave na fisiopatologia dos ovários policísticos. Estudo demonstram que a metformina pode reduzir significativamente os níveis de testosterona, androstenediona e a curva de glicose em pacientes não-obesas com SOP. Além disso, pode haver também melhoria nos ciclos menstruais. Embora os resultados em pacientes obesas não tenham sido estatisticamente significativos, houve uma melhoria nos parâmetros avaliados após seis meses de tratamento​.

Inositol

O mio-inositol é um composto que tem ganhado atenção no tratamento da síndrome dos ovários policísticos (SOP) devido aos seus múltiplos benefícios metabólicos e reprodutivos. Ele atua como um sensibilizador de insulina e está envolvido na regulação de importantes hormônios​​. Além disso, o mio-inositol pode contribuir para o aumento das taxas de ovulação e a diminuição dos níveis de testosterona no plasma, promovendo a restauração do perfil hormonal em pacientes com SOP​​.

Estudos apontam melhorias na ovulação, redução dos níveis de testosterona e benefícios na qualidade dos oócitos, podendo ser comparável à metformina em eficácia, mas com um bom perfil de segurança​.

Clomid

Nas mulheres que desejam engravidar, o Clomid (citrato de clomifeno) costuma ser o medicamento mais usado para induzir ovulação. A metformina é frequentemente usada para aumentar a eficácia do Clomid.

Diferenças entre ovário policístico e cisto no ovário

O cisto de ovário e a SOP são doenças completamente distintas. Na síndrome dos ovários policísticos a paciente apresenta múltiplos cistos de tamanho pequeno, cerca de 5 mm (0,5 cm), espalhados pelos dois ovários. Geralmente estão presentes mais de dez cistos em cada lado.

Já o cisto de ovário é diferente. Ele é habitualmente uma lesão única e de tamanho maior, em geral, acima de 2 cm.

Se você procura informações sobre cisto simples de ovário, acesse o seguinte link: Cisto de ovário – Sintomas e Tratamento.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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