Metformina: para que serve, como tomar e efeitos colaterais

Dr. Pedro Pinheiro

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Metformina

Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

O que é a metformina?

A Metformina, cujo nome técnico é cloridrato de metformina, é um medicamento da classe dos hipoglicemiantes orais, utilizados para controlar os níveis de glicemia (açúcar no sangue) em pacientes diagnosticados com diabetes mellitus tipo 2.

Utilizado desde a década de 1950, o cloridrato de metformina permanece até hoje como um dos principais fármacos no tratamento do diabetes tipo 2, seja como monoterapia ou em combinação com outros hipoglicemiantes orais.

A metformina faz parte de um grupo de fármacos antidiabéticos chamado de biguanidas. Ela é atualmente o único fármaco desse grupo ainda comercializado. Seus similares Fenformina e Buformina foram proibidos na década de 1970 devido aos seus efeitos tóxicos.

Falamos especificamente sobre todos os grupos de hipoglicemiantes no artigo: Antidiabéticos (remédios para diabetes tipo 2).

Como a metformina funciona?

Diferentemente da diabetes mellitus tipo 1, que é resultado da produção insuficiente de insulina pelo pâncreas, a diabetes tipo 2 ocorre devido à insulina produzida não funcionar de maneira eficaz.

Essa distinção permite que a diabetes tipo 2 possa ser gerenciada inicialmente com medicamentos orais, conhecidos como antidiabéticos orais ou hipoglicemiantes orais. Entre eles, o cloridrato de metformina destaca-se por ser eficaz em pacientes que ainda mantêm a produção de insulina em níveis relevantes.

A metformina atua no controle glicêmico do diabetes tipo 2 por meio de três mecanismos principais:

  • Redução da produção de glicose pelo fígado.
  • Aumento da sensibilidade dos tecidos — especialmente músculos — à insulina. A metformina não aumenta a produção de insulina, mas sim otimiza a ação daquela já produzida.
  • Diminuição da absorção de glicose pelo trato gastrointestinal.

Metformina e perda de peso

A metformina é uma excelente opção para pacientes diabéticos obesos, uma vez que o seu uso não está associado a ganho de peso indesejado, ao contrário de alguns outros antidiabéticos orais e insulina.

Contudo, é um mito que a metformina promova perda de peso relevante. A maioria dos pacientes com esse medicamento mantém o peso estável, mas alguns até podem perder uma pequena quantidade de gordura. No entanto, essa perda raramente ultrapassa os 2 ou 3 kg.

Se o objetivo do paciente for tratar o diabetes e, ao mesmo tempo, ajudar na perda peso, há novos antidiabéticos que são muito mais eficazes, como os agonistas dos receptores do GLP-1 (Semaglutida, Liraglutida e Dulaglutida) ou os agonistas dos receptores GLP-1 e GIP (Tirzepatida). Os medicamentos dessas duas classes podem ser tomados em associação com a metformina, caso necessário para o controle da glicemia.

Benefícios cardiovasculares da metformina

Alguns estudos sugerem que a metformina pode ajudar a reduzir o risco de eventos cardiovasculares adversos, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral em pessoas com diabetes tipo 2.

Um dos mecanismos propostos é a sua capacidade de reduzir lipídios, o que se traduz em uma diminuição nas concentrações sanguíneas de triglicerídeos e ácidos graxos livres. Além disso, observa-se uma leve redução nas concentrações séricas de “colesterol ruim” (LDL), acompanhada de um aumento modesto nas concentrações séricas do “colesterol bom” (HDL) (leitura sugerida: Colesterol: o que são HDL, LDL, VLDL e triglicerídeos?).

Outras possíveis indicações da metformina além do diabetes

A principal indicação da metformina é para o tratamento do diabetes tipo 2. No entanto, esse fármaco também tem sido utilizado de forma off-label em outras condições que apresentam resistência à insulina, tais como:

Síndrome dos ovários policísticos (SOP)

A metformina costuma ser utilizada de forma off-label nas pacientes com SOP, especialmente naquelas com sobrepeso, irregularidades menstruais ou hirsutismo (excesso de pelos). No entanto, a eficácia da metformina nesses casos nunca foi comprovada e a tendência atual é não utilizá-la como tratamento de primeira linha nesses casos.

Falamos especificamente da SOP no artigo: Ovário policístico – Sintomas e tratamento.

Esteatose hepática

A esteatose hepática, também conhecida como doença hepática gordurosa, é uma condição na qual a gordura se acumula nas células do fígado.

Durante algum tempo ponderou-se se a metformina poderia ser útil nesses pacientes, especialmente naqueles com sinais de resistência à insulina. No entanto, estudos recentes não mostraram nenhum efeito benéfico na evolução da esteatose hepática.

Falamos especificamente da esteatose hepática no artigo: O que é esteatose hepática (gordura no fígado)?

Pré-diabetes

Nos pacientes com pré-diabetes, a metformina parece ajudar a prevenir, ou a pelo menos atrasar, a transição para diabetes mellitus estabelecido. No entanto, é importante destacar que os estudos mostraram que a perda de peso e atividade física regular são superiores à metformina na prevenção do diabetes tipo 2.

Falamos especificamente sobre o pré-diabetes no artigo: Pré-diabetes: sintomas, diagnóstico e tratamento.

Nomes comerciais

A metformina é um medicamento que pode ser encontrado nas farmácias sob a forma genérica ou através dos seguintes nomes comerciais:

  • Diaformin.
  • Dimefor.
  • Formet.
  • Glicefor.
  • Glicomet.
  • Glifage.
  • Glifage XR.
  • Glucoformin.
  • Glucophage (Portugal).
  • Jaira Met.
  • Losix.
  • Meta SR.
  • Metformed.
  • Neo Metformin.
  • Risidon (Portugal).
  • Stagid (Portugal).

Como tomar – Posologia

Os comprimidos de metformina podem ser encontrados nas dosagens de 500 mg, 850 mg e 1000 mg. Já os comprimidos de ação prolongada podem ser encontrados nas doses de 750 mg ou 1000 mg.

Tratamento do diabetes mellitus tipo 2

Adultos ≥ 17 anos:

Dose inicial: 500 mg duas vezes por dia ou 850 mg uma vez por dia. A dose pode ser elevada em 500 mg a cada duas semanas. Se for necessária uma dose maior que 2000 mg por dia, a posologia deve ser alterada para três vezes por dia. A dose total máxima recomendada é de 2550 mg por dia.

Nos casos de comprimidos de liberação prolongada, a dose inicial é de 500 a 1.000 mg uma vez por dia. A dosagem pode ser aumentada em 500 mg a cada semana, sendo a dose máxima: de 2000 mg uma vez por dia.

Em muitos casos, não conseguimos obter respostas clínicas significativas com doses menores que 1500 mg por dia; no entanto, para minimizar os efeitos colaterais gastrointestinais, recomenda-se uma dose inicial baixa, já imaginando um aumento gradual ao longo das semanas.

A metformina deve ser tomada junto às refeições e o comprimido deve ser engolido por inteiro, evitando parti-lo ou mastigá-lo.

Tratamento da síndrome do ovário policístico (off-label e apenas como segunda linha)

  • 1500 mg a 2000 mg por dia, divididos em 2 ou 3 doses diárias (dose inicial de 500 mg por dia, com incrementos de 500 mg a cada 1 ou 2 semanas).
  • Nos comprimidos de liberação prolongada, a dose é de 1000 mg duas vezes por dia (dose inicial de 500 mg por dia, com incrementos de 500 mg a cada 1 ou 2 semanas).

Contraindicações

A metformina é um medicamento com pouquíssimas contraindicações, mas uma delas é muito importante: a insuficiência renal avançada.

A metformina não deve ser usada em pacientes com insuficiência renal:

  • Se o paciente tiver uma taxa de filtração glomerular abaixo de 45 ml/minuto, sugere-se não iniciar a metformina.
  • Se o paciente já toma metformina e apresenta uma taxa de filtração glomerular abaixo de 30 ml/minuto, o medicamento deve ser suspenso.

Para estimar a taxa de filtração glomerular, também chamada clearance de creatinina, é preciso ter um exame de sangue com doseamento da creatinina.

Fornecemos algumas calculadoras para que você possa avaliar o grau de funcionamento dos seus rins: Calculadoras do clearance de creatinina (TFG).

O uso de metformina nos pacientes com insuficiência renal está relacionado a um alto risco de acidose láctica (aumento do ácido láctico no sangue), uma complicação potencialmente fatal (veja mais abaixo nos efeitos colaterais).

Pacientes com doença hepática ou insuficiência cardíaca grave também não devem tomar metformina.

Gravidez e lactação

A metformina não é contraindicada na gravidez, mas a preferência nesse grupo deve ser sempre pela insulina.

A metformina pode utilizada quando a gestante não pode tomar insulina ou quando a insulina sozinha não consegue controlar os níveis glicêmicos com doses baixas.

Estudos publicados recentemente mostram não haver um risco aumentado de defeitos congênitos ou eventos adversos para o feto após o uso materno de metformina para diabetes mellitus gestacional ou diabetes mellitus tipo 2 quando o controle glicêmico é mantido.

Nas mulheres amamentando, a presença de metformina no leite costuma ser pequena e o seu uso durante o aleitamento materno costuma ser autorizado pelos pediatras.

Efeitos colaterais

A metformina é uma droga geralmente bem tolerada, principalmente se for respeitada a contraindicação para pacientes com doença renal crônica avançada.

Entre os efeitos colaterais mais comuns estão a diarreia, náuseas e um gosto metálico na boca.

A hipoglicemia (baixa de glicose no sangue), efeito colateral comum dos outros hipoglicemiantes orais e da insulina, é rara com a metformina.

Acidose lática

A acidose láctica, um efeito colateral raro, mas potencialmente fatal associado à metformina, manifesta-se especialmente em indivíduos com insuficiência renal avançada. Nesses pacientes, a capacidade de metabolizar a metformina encontra-se comprometida, levando ao acúmulo deste fármaco no sangue e, consequentemente, a uma intoxicação.

A acidose lática induzida por metformina é grave e se caracteriza por níveis elevados de ácido láctico no sangue, podendo evoluir para uma acidose metabólica severa, muitas vezes com risco iminente de parada cardíaca.

Os sintomas da acidose láctica incluem fadiga extrema, fraqueza, dor muscular, dificuldade em respirar, dor abdominal, sensação de frio, tonturas e batimento cardíaco irregular.

Diante de um quadro de acidose láctica, a intervenção médica imediata é vital, e o tratamento deve englobar a interrupção do uso de metformina, hidratação por via intravenosa e a realização de hemodiálise emergencial nos casos mais críticos.

Infográfico

Infográfico da metformina: posologia, como tomar, contraindicações e nomes comerciais

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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