Semaglutida (Ozempic, Wegovy e Rybelsus): Novos medicamentos para emagrecer

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Ozempic - Semaglutida

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O que é a semaglutida?

semaglutida (ou semaglutido) é um medicamento antidiabético da classe dos agonistas dos receptores do GLP-1, da qual também fazem parte os fármacos: liraglutida (Saxenda®), dulaglutida (Trulicity®), exenatida, lixisenatida e tirzepatida (Mounjaro®).

Inicialmente desenvolvida para o controle da glicemia nos pacientes com diabetes mellitus tipo 2, a semaglutida foi recentemente aprovada também como tratamento do sobrepeso e da obesidade.

Este fármaco não é indicado para pacientes com diabetes mellitus tipo 1.

A semaglutida é vendida sob os nomes comerciais Ozempic® e Wegovy® nas formas de injeções subcutâneas semanais ou sob o nome Rybelsus® na forma de comprimidos para administração diária.

O uso de semaglutida em pacientes com diabetes tipo 2 está associado a uma redução da incidência das seguintes complicações:

A semaglutida nos diabéticos também reduz em cerca de 12% a mortalidade em pacientes com doença cardiovascular conhecida.

Atenção: esse texto não aspira ser uma bula completa da semaglutida. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações práticas sobre este medicamento. O que segue é um resumo voltado ao público em geral das principais informações contidas em estudos clínicos e bulas publicadas pelos laboratórios farmacêuticos.

Indicações

A semaglutida é um fármaco aprovado para o tratamento de duas condições:

  • Diabetes mellitus tipo 2.
  • Sobrepeso ou obesidade.

Controle da glicemia

A semaglutida está indicada para o tratamento de segunda linha do diabetes tipo 2 nos pacientes que não conseguem atingir níveis adequados de hemoglobina glicada com a metformina isoladamente ou como primeira linha nos pacientes que não toleram ou não podem tomar a metformina.

A semaglutida deve ser considerada tratamento de segunda linha preferencial sempre que o paciente diabético também tiver as seguintes comorbidades:

  • Obesidade.
  • Nefropatia diabética.
  • Doença cardiovascular aterosclerótica.
  • Quando se planeja evitar episódios de hipoglicemia, pois o medicamento não costuma causar quedas acentuadas da glicemia.

Semaglutida para emagrecer

Desde 2021, a semaglutida foi aprovada para o tratamento do sobrepeso e da obesidade, mesmo em pacientes não diabéticos. As indicações atuais são:

Para saber qual é o seu índice de massa corporal (IMC), acesse: Calculadora online IMC (índice de massa corporal).

Quando utilizada com mudanças de estilo de vida (dieta e exercício físico), a semaglutida 2,4 mg subcutânea semanalmente resulta em perda de peso média de 10 a 15 kg após 60 semanas. Cerca de 75% referem efeitos colaterais gastrointestinais, mas poucos precisam interromper o tratamento.

Mecanismo de ação

O peptídeo semelhante a glucagon 1 (GLP-1) é uma incretina, ou seja, uma substância produzida pelo pâncreas ou pelos intestinos que regula o metabolismo da glicose. Exemplos de incretinas são: insulina, glucagon, amilina, GLP-1 e GIP (peptídeo inibidor gástrico).

A GLP-1 é produzida no intestino delgado toda vez que nos alimentamos. Sua principal função é estimular a liberação de insulina pelo pâncreas.

Além do aumento da insulina circulante, o GLP-1 também age:

  • Bloqueando a liberação de glicose do fígado.
  • Diminuindo a secreção de glucagon quando a glicemia está alta.
  • Reduzindo o esvaziamento gástrico e a absorção de glicose pelo trato gastrointestinal.
  • Promovendo a saciedade, reduzindo a ingestão de alimentos.

Como a Semaglutida é um agonista dos receptores do GLP-1, ela age como se fosse um GLP-1 sintético, tendo as mesmas ações do GLP-1 produzido naturalmente no intestino.

Apresentações

Ozempic

O Ozempic pode ser encontrado nas doses de 0,25 mg, 0,5 mg, 1,0 mg ou 2,0 mg. A administração do fármaco é feita por via subcutânea com o sistema de aplicação que vem com o produto (caneta).

Caneta para administração subcutânea do ozempic
Caneta para administração subcutânea do ozempic

Wegovy

A marca Wegovy possui as seguintes apresentações da sua solução injetável em caneta pré-cheia: 0,25 mg, 0,5 mg, 1,0 mg, 1,7 mg e 2,4 mg.

Caneta para administração subcutânea do Wegovy
Caneta para administração subcutânea do Wegovy

Rybelsus

O medicamento Rybelsus é a forma em comprimidos da semaglutida. São três as apresentações disponíveis: 3 mg, 7 mg e 14 mg.

Rybelsus comprimidos de 3 mg, 7 mg e 14 mg
Rybelsus comprimidos de 3 mg, 7 mg e 14 mg

Posologia

Para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2

Como tomar Ozempic ou Wegovy:

0,25 mg* por via subcutânea uma vez por semana durante 4 semanas, depois aumente para 0,5 mg uma vez por semana. Se necessário, pode aumentar para 1,0 mg uma vez por semana após 4 semanas na dose de 0,5 mg/semana. Se após 4 semanas com 1,0 mg o paciente ainda não atingir as metas glicêmicas, pode-se aumentar para 2,0 mg uma vez por semana.

* Nota: a dose inicial mais baixa (0,25 mg/semana) destina-se a reduzir os sintomas adversos gastrointestinais, porém não fornece um controle glicêmico efetivo.

Os melhores locais para aplicar a injeção são a parte anterior das coxas, parte inferir do abdômen e a parte superior do braço. Um médico ou enfermeiro deve ensinar como aplicar a caneta durante a primeira administração.

A semaglutida por via subcutânea pode ser administrada a qualquer hora do dia, independentemente das refeições.

Dose perdida: se o paciente esquecer de tomar o medicamento no dia correto, a dose perdida deve ser administrada o mais rápido possível dentro de 5 dias; depois disso, retomar a programação habitual. Se mais de 5 dias tiverem decorrido, pule a dose perdida e retome a administração na próxima dose semanal programada.

Se necessário, você pode alterar o dia da injeção semanal da semaglutida, contanto que tenham se passado pelo menos 3 dias desde sua última injeção. Após selecionar um novo dia, continue com a injeção uma vez por semana, sempre nesse mesmo dia da semana.

Como tomar Rybelsus:

3,0 mg* por via oral uma vez ao dia por 30 dias, depois aumente para 7,0 mg uma vez ao dia. Se necessário, pode aumentar para 14,0 mg uma vez ao dia após 30 dias na dose de 7,0 mg.

* Nota: A dose inicial mais baixa (3,0 mg diários) destina-se a reduzir os sintomas adversos gastrointestinais, porém não fornece um controle glicêmico efetivo.

O Rybelsus deve ser tomado em jejum, pelo menos 30 minutos antes dos primeiros alimentos, bebidas ou outros medicamentos do dia.

Dose perdida: se esquecer de tomar o medicamento em um dia, essa dose perdida deve ser ignorada. Tome a próxima dose no dia seguinte normalmente. Não é indicado tomar 2 comprimidos em um mesmo dia.

Populações Especiais

Maiores de 65 anos: não é necessário qualquer ajuste da dose com base na idade. A experiência terapêutica em doentes com idades acima de 75 anos é limitada, e não pode ser excluída a possibilidade de maior sensibilidade em alguns indivíduos mais idosos.

Insuficiência renal: não é necessário ajuste de dose para pacientes com doença renal crônica.

Para perda de peso

Como tomar Ozempic ou Wegovy: para reduzir a incidência de efeitos colaterais, a semaglutida deve ser iniciada com o seguinte esquema:

  • Semana 1 a semana 4: 0,25 mg uma vez por semana.
  • Semana 5 até a semana 8: 0,5 mg uma vez por semana.
  • Semana 9 até a semana 12: 1 mg uma vez por semana.
  • Semana 13 até a semana 16: 1,7 mg uma vez por semana.
  • Semana 17 em diante: 2,4 mg uma vez por semana.

Se a dose alvo de 2,4 mg por semana não for tolerada, pode-se diminuir temporariamente a dosagem para 1,7 mg uma vez por semana por até 4 semanas adicionais, para só então aumentar novamente para 2,4 mg uma vez por semana.

O Rybelsus, a semaglutida por via oral, ainda não foi aprovado para o tratamento da obesidade, apenas para controle da glicemia.

Efeitos adversos

Sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos e diarreia, são os efeitos colaterais mais comuns da semaglutida. Esses sintomas são frequentes nas doses mais altas, mas tendem a melhorar com o passar dos dias. Apenas 4% dos pacientes não toleram os efeitos adversos e precisam descontinuar o tratamento.

Quando tomado em conjunto com insulina ou com antidiabéticos da classe das sulfonilureias (glipizida, gliclazida, glibenclamida ou glimepirida) há risco de hipoglicemia.

Outros efeitos adversos descritos, porém menos comuns, são:

Retinopatia diabética

Durante o estudo SUSTAIN-6, um ensaio clínico desenhado para avaliar o impacto da semaglutida subcutânea nos resultados cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2, observou-se um aumento da incidência de complicações da retinopatia diabética.

Esse efeito foi observado principalmente em pacientes com retinopatia diabética pré-existente que apresentaram rápida e grande redução da HbA1c durante as primeiras 16 semanas do ensaio clínico. Novos estudos estão em andamento para entender melhor os efeitos a longo prazo da semaglutida na doença diabética dos olhos.

A semaglutida oral (Rybelsus) não tem sido associado a um aumento da incidência de retinopatia diabética.

Pancreatite

Casos de pancreatite aguda já foram relatados em associação ao tratamento com GLP-1 (sitagliptina e exenatida). Porém, não há dados suficientes para saber se existe uma relação causal.

Um quadro de pancreatite deve ser considerado em pacientes com dor abdominal grave persistente (com ou sem náusea), e os agonistas dos receptores de GLP-1 devem ser descontinuados em tais pacientes. Se a pancreatite for confirmada, o medicamento não deve ser reiniciado. Além disso, os agonistas receptores da GLP-1 não devem ser iniciados em um paciente com histórico de pancreatite.

No estudo SUSTAIN-6, a taxa de pancreatite aguda com semaglutida foi semelhante a do placebo e ocorreu em apenas 0,1% dos pacientes.

Contraindicações

Além dos pacientes com histórico de alergia a qualquer agonista dos receptores do GLP-1, a semaglutida também não deve ser administrada em grávidas, durante o aleitamento materno, em crianças, adolescentes ou pacientes com diabetes mellitus tipo 1.

Devido a um aumento da incidência de tumores da tireoide nos estudos em ratos, a semaglutida não deve ser administrada em pacientes com história pessoal ou familiar de carcinoma medular da tireoide ou de síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (NEM 2).

Não há experiência terapêutica em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva classe IV da New York Heart Association (NYHA) nem em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.

Interações medicamentosas

A semaglutida retarda o esvaziamento gástrico, o que pode influenciar a absorção de outros medicamentos orais. Algumas interações dignas de nota são:

  • Furosemida: pode diminuir o efeito terapêutico da semaglutida; a semaglutida pode aumentar a concentração sanguínea da furosemida.
  • Levotiroxina: a semaglutida pode aumentar a concentração sanguínea da levotiroxina. Pode ser necessário ajuste da dose.
  • Hidroxicloroquina: aumenta o risco de hipoglicemia.
  • Insulinas: a semaglutida pode aumentar o efeito hipoglicêmico das insulinas.
  • Meglitinidas: a semaglutida pode aumentar o efeito hipoglicêmico dos antidiabéticos repaglinida, nateglinida e mitiglinida.
  • Sulfonilureias: a semaglutida pode aumentar o efeito hipoglicêmico dos antidiabéticos glipizida, gliclazida, glibenclamida ou glimepirida.
  • Varfarina: apesar de ser incomum a interação, após o início do tratamento com semaglutida em pacientes em uso de varfarina ou outros derivados cumarínicos, o monitoramento frequente da INR é recomendado.

A semaglutida não interfere com a eficácia dos contraceptivos hormonais.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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