Artrose (osteoartrite): o que é, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Artrose

Tempo de leitura estimado do artigo: 7 minutos

Introdução

A artrose é uma das formas mais comuns de artrite, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. Também conhecida como osteoartrite, essa condição pode afetar qualquer articulação do corpo, mas é mais comum nas mãos, joelhos, quadris e coluna vertebral.

Embora a artrose seja mais comum em idosos, qualquer pessoa pode desenvolver a doença. Fatores como histórico familiar, excesso de peso, lesões articulares prévias e atividades que colocam estresse repetitivo nas articulações podem aumentar o risco de desenvolver a artrose. Infelizmente, não há cura para a artrose, mas existem muitas opções de tratamento que podem ajudar a aliviar a dor e melhorar a função articular.

Neste artigo, explicaremos a artrose, incluindo seus sintomas, causas, fatores de risco e opções de tratamento. Esperamos que, ao final da leitura, você tenha uma compreensão mais clara da artrose e de como gerenciar seus sintomas para melhorar sua qualidade de vida.

Definições

Para que você entenda o que será explicado, é preciso conhecer os termos médicos relacionados ao tema. Portanto, proponho começarmos o artigo pelas definições.

O que significam artrite, artrose, osteoatrose e osteoartrite?

Artrite é um termo genérico que significa inflamação das articulações. Existem dezenas de tipos de artrite, sendo a artrose, também conhecida como osteoartrite ou osteoartrose, a forma mais comum.

O que é uma articulação?

Articulação é a região onde há contato e conexão entre dois ou mais ossos distintos. Exemplos:

  • O joelho é uma articulação que liga os ossos fêmur, patela e tíbia (conecta a coxa à perna e à patela).
  • O cotovelo é uma articulação que liga o osso úmero aos ossos ulna e rádio (conecta o braço ao antebraço).
  • O tornozelo é uma articulação que liga os ossos tíbia, fíbula e tálus (conecta a perna ao pé).

Na ilustração abaixo, podemos ver três exemplos de articulações que existem na região do joelho.

Articulações
Articulações

O que é cartilagem?

A cartilagem é um tipo de tecido conjuntivo encontrado no corpo humano e em outros animais. Ela é composta principalmente de células chamadas condrócitos e de uma matriz extracelular, que é uma mistura de fibras de colágeno, proteoglicanos e água.

A cartilagem é responsável por fornecer uma superfície lisa e borrachosa para as articulações, permitindo que elas se movam sem danificar os ossos. Além disso, ela também ajuda a absorver impactos e a distribuir as cargas que passam pelas articulações durante atividades como caminhar, correr e saltar.

A cartilagem, portanto, permite que os ossos deslizem um sobre o outro com mínimo atrito, funcionando como uma espécie de amortecedor.

O que é artrose?

A artrose é a doença causada pelo desgaste da cartilagem, o que provoca aumento da fricção entre os ossos e leva à inflamação local (artrite), dor e incapacidade funcional.

A osteoartrite é uma doença que acomete preferencialmente pessoas idosas, principalmente nas articulações das mãos, joelhos e quadris e coluna vertebral.

Essas quatro articulações citadas acima são móveis, ao contrário, por exemplo, das articulações que conectam os diversos ossos do crânio, que são fixas (o nosso crânio não é formado por um único grande osso, mas sim por vários ossos conectados mutualmente).

As articulações móveis possuem, além da cartilagem, uma bolsa cheia de líquido, chamado líquido sinovial. Quando há movimento na articulação, graças ao efeito lubrificante do líquido sinovial e ao amortecimento da cartilagem, os ossos deslizam entre si com mínimo atrito.

Artrose
Artrose

A artrose é um processo no qual há uma degeneração da cartilagem. Nas fases inicias da artrose, a cartilagem torna-se mais áspera, aumentando o atrito durante a movimentação da articulação. A artrose grave surge quando a cartilagem é completamente destruída, fazendo com que o atrito entre os dois ossos cause desgaste dos mesmos.

Este atrito nas articulações provoca uma inflamação, que se caracteriza por um quadro de artrite, daí o motivo da artrose também ser chamada osteoartrite.

Existem cerca de 100 doenças que podem causar artrite; a artrose (osteoartrite) é a mais comum. Se você quiser mais informações sobre as diferenças entre a artrite da artrose e as artrites de outras doenças, leia: Artrite e artrose – sintomas e diferenças.

Causas e fatores de risco

A osteoartrose é rara antes dos 40 anos, mas muito comum após os 60 anos. Durante muito tempo pensou-se que a degeneração da articulação, e consequentemente a artrose, era um processo natural do envelhecimento. Sabemos hoje que a idade é um dos principais fatores de risco, mas não é a única causa da artrose. Ou seja, envelhecimento da cartilagem e artrose não são sinônimos, apesar de estarem intimamente relacionados.

Além da idade, outros fatores de risco para osteoartrite são a obesidade (principalmente para artrose do joelho), ser do sexo feminino (mulheres têm até três vezes mais chances de desenvolver osteoartrite que homens), falta de exercícios (exceto os de alto impacto nas articulações, que podem levar à artrose), predisposição genética, etc.

A artrose pode ser primária, quando não há uma causa aparente além da idade, ou secundária, quando surge devido a traumas nas articulações, deformidades ósseas, obesidade, diabetes, etc.

Resumindo, os principais fatores de risco para artrose são:

  • Idade acima de 50 anos.
  • Sexo feminino.
  • Obesidade.
  • Não ter osteoporose (ossos fortes na velhice aumentam o risco de artrose).
  • Ocupação (trabalhos que forcem as articulações cronicamente).
  • Atividades desportivas de alto impacto.
  • Traumas nas articulações.
  • Doenças articulares prévias, como gota ou artrite reumatoide.
  • Doenças musculares.
  • Predisposição genética.
  • Deformidades ósseas.
  • Diabetes Mellitus.
  • Sedentarismo.

Sintomas

Como já citado, as articulações mais acometidas pela osteoartrose são as mãos, joelhos, quadril e coluna.

O principal sintoma da artrose é a dor, que normalmente piora com esforço físico e alivia com repouso. A dor costuma ser pior no final do dia e após longos períodos de imobilização, como em viagens de avião ou em poltronas de cinema. Alguns pacientes apresentam piora da dor com mudanças no clima. Conforme a osteoartrite avança, a dor pode surgir com atividades cada vez menos intensas, podendo, por fim, ocorrer mesmo em repouso e durante a noite. A artrose em fases avançadas é uma doença incapacitante.

A dor não é causada diretamente pela lesão na cartilagem, dado que esta não apresenta inervação. Isso significa que alguns pacientes com lesões graves da cartilagem, visíveis na radiografia, podem apresentar poucas queixas de dor, enquanto outros com lesões menos visíveis podem ter sintomas de artrose mais evidentes.

Rigidez também é uma queixa comum em pacientes com artrose. A rigidez das articulações doentes é comum nos primeiros minutos após o paciente acordar, melhorando após cerca de meia hora. Durante o dia também podem haver episódios de rigidez articular, principalmente após períodos de inatividade.

A articulação acometida pela osteoartrite costuma apresentar uma mobilidade menor e pode estar inchada, quente e apresentar crepitações à movimentação.

Tratamento

A artrose é uma doença crônica que piora progressivamente com o passar dos anos. O tratamento da osteoartrite pode muitas vezes reduzir os sintomas, manter o paciente ativo e, em alguns casos, retardar a progressão desta patologia. O tratamento inclui uma combinação de terapias com e sem medicamentos e, em alguns casos, correção cirurgia da articulação.

Os objetivos do tratamento da osteoartrose são o controle a dor e do inchaço, melhorar a qualidade de vida e prevenir a progressão da lesão.

Tratamento não medicamentoso

Perda de peso

O excesso de peso está associado a um maior risco de desenvolvimento de artrose, principalmente nos joelhos. Estudos que acompanharam pacientes com sobrepeso por 10 anos mostraram que aqueles que perderam pelo menos 4,5 kg diminuíram em 50% o risco de osteoartrose nos joelhos.

Mesmo nos pacientes com sobrepeso ou obesidade que já apresentam artrose estabelecida, perder peso diminui a pressão sobre os joelhos, diminuindo a dor e melhorando a capacidade funcional.

Repouso

A dor da osteoartrite costuma piorar após o uso prolongado da articulação, melhorando após o repouso.

Descansar a articulação afetada no momento de crise costuma aliviar a dor, no entanto, o descanso prolongado pode levar à atrofia muscular e diminuição da mobilidade articular. Portanto, o descanso é recomendado apenas para curtos períodos de tempo, geralmente 12 a 24 horas em casos de agudizações da dor.

Exercícios físicos

Pacientes com osteoartrite podem achar absurda a ideia de praticar exercícios, tamanho é o incômodo que a movimentação das articulações acometidas causam durante um esforço. Porém, um bom fisioterapeuta pode criar um regime de exercícios individualizado que irá fortalecer os músculos em torno da sua articulação, aumentando a amplitude do movimento.

Quanto mais forte e flexível é a musculatura ao redor das articulações, mais estáveis elas ficam, diminuindo o atrito entre os ossos, a dor e a inflamação.

Órteses

Órteses são dispositivos que ajudam a manter as articulações alinhadas e funcionando corretamente. Existem vários tipos de órteses que podem reduzir os sintomas e ajudar a manter a função das articulações em pacientes com osteoartrite.

Cintas e talas que imobilizam as articulações podem reduzir a dor e a inflamação; muitas delas pode ser usado durante todo o dia e noite. As órteses podem ajudar a estabilizar as articulações instáveis.

Calor local

A aplicação de calor úmido pode aumentar o limiar para a dor e diminuir o espasmo muscular. É preciso ter cuidado para evitar queimaduras. Garrafas de água quente deve ser preenchidas com água quente, mas não fervente.

O calor local pode ser aplicado várias vezes ao dia.

TENS (neuroestimulação elétrica transcutânea)

A sigla TENS vem do inglês Transcutaneous electrical nerve stimulation, que significa neuroestimulação elétrica transcutânea.

A TENS é um aparelho que produz uma corrente elétrica suave que estimula as fibras nervosas na pele, interferindo com a transmissão de sinais de dor das articulações com artrose.

O uso da TENS como tratamento da artrite é controverso. Há estudos que mostram algum benefício no controle da dor, enquanto outros não conseguiram mostrar superioridade em relação ao placebo.

Campo eletromagnético pulsátil

Conhecido como Pulsed Signal Therapy (PST), baseia-se na criação de campos eletromagnéticos pulsáteis de baixa intensidade ao redor das articulações. O PST supostamente atua estimulando o metabolismo e a atividade das células das cartilagens. Apesar de haver alguns estudos demonstrando melhora da dor e da capacidade funcional, este tratamento ainda não possui um volume de estudos científicos suficiente para ser amplamente indicado pelas sociedades internacionais de reumatologia.

Tratamento com medicamentos

Glicosamina e condroitina

Apesar da popularidade ganha nos últimos anos, o sulfato de glicosamina e o sulfato de condroitina não apresentam evidências científicas de que realmente sejam benéficos para a osteoartrose. A despeito de alguns pacientes relatarem melhora da dor com estes medicamentos, os estudos mais recentes demonstraram que ambos apresentam apenas efeito placebo.

O sulfato de glicosamina e o sulfato de condroitina não melhoram a inflamação da artrose, não retardam a progressão da doença e não regeneram a articulação acometida pela osteoartrite.

Todavia, como são drogas praticamente sem efeitos adversos, continuam sendo muito utilizadas por alguns médicos, principalmente pelo seu efeito placebo.

Nota: a glicosamina não deve ser usada em pacientes com alergia a frutos-do-mar.

Analgésicos

Analgésicos simples, como o paracetamol e a dipirona (metamizol em Portugal), ajudam a aliviar a dor em casos iniciais. Esses medicamentos, porém, não agem diretamente na inflamação da osteoartrite, tendo efeito apenas temporário.

Em casos de artrose mais grave, analgésicos opioides (da classe da morfina) podem ser usados por curtos períodos, para evitar dependência. Os melhores resultados no controle das crises nos casos de artrose avançada são obtidos quando se associa um analgésico opioide e um anti-inflamatório.

Anti-inflamatórios

Os anti-inflamatórios possuem efeito analgésico e atuam diretamente na inflamação, apresentando melhores resultados que os analgésicos comuns. São drogas que atuam aliviando a dor até nos casos de artrose moderada/severa.

Apesar da boa resposta, os anti-inflamatórios são medicamentos com alta toxicidade, aumentando os riscos de úlceras do estômago, doenças cardíacas e lesão dos rins (leia: Remédios que podem fazer mal aos rins e Anti-inflamatórios – ação e efeitos colaterais).

Corticoides intra-articulares

Os corticoides, quando injetados em articulações artríticas, agem diminuindo a inflamação e aliviando os sintomas da osteoartrite.

Injeções intra-articulares de corticoides podem ser recomendadas para pessoas com artrose limitada a poucas articulações, e que não conseguem controlar a dor apenas com o uso de anti-inflamatórios (ou já apresentam sinais de toxicidade aos mesmos).

Os corticoides podem danificar as articulações, principalmente aquelas que suportam peso, como joelhos, quando injetado com frequência. Portanto, recomenda-se não mais que 3-4 injeções por ano em cada articulação.

Injeção de hialuronato de sódio

O líquido articular normal contém uma grande quantidade de hialuronato, que o torna viscoso, permitindo o deslizamento sem atrito dos ossos. Hialuronatos sintéticos podem ser injetados no joelho para tratar a artrite.

Após a injeção, o alívio da dor pode durar vários meses.

Injeções de hialuronato são geralmente reservadas para os pacientes com osteoartrite que não podem tomar anti-inflamatórios ou que não apresentem alívio adequado da dor com eles.

Leia também: Melhores remédios para diferentes tipos de dor.

Tratamento cirúrgico

A cirurgia é habitualmente reservada para os casos de artrite grave e limitante que não respondem aos tratamentos descritos acima.

É importante ressaltar que a cirurgia é recomendada antes que artrite provoque complicações, como perda muscular e deformidades articulares. Além disso, aqueles que sofrem cirurgia devem ter boa saúde e estar preparados para a reabilitação no pós-operatório.

Sinovectomia artroscópica

A sinovectomia artroscópica é a remoção cirúrgica da sinóvia (o revestimento da articulação que costuma estar inflamado na artrose) usando um artroscópio, que é inserido dentro da articulação. Sinovectomia pode ser recomendada para pessoas com osteoartrite que não respondem a outras medidas.

Realinhamento

Esta cirurgia pode ser usada para realinhar ossos e outras estruturas que se tornaram desalinhadas devido à artrose. O realinhamento pode ser recomendada para pacientes mais jovens e mais ativos.

Fusão

Esta cirurgia pode ser usada para fundir permanentemente dois ou mais ossos de uma articulação. Este procedimento pode ser recomendado para articulações danificadas na qual a cirurgia de substituição articular já não é apropriada. A cirurgia de fusão é geralmente indicada para as articulações do punho, tornozelo e das articulações dos dedos.

Substituição da articulação

A cirurgia também pode ser indicada para substituir uma articulação danificada por uma artificial. A cirurgia de substituição articular alivia a dor em pessoas com artrite grave, principalmente do quadril ou joelho. No entanto, pode demorar até um ano para que os benefícios da cirurgia de substituição articular sejam plenamente demonstrados.

Enxertos de cartilagem

Esta cirurgia pode ser usada para enxertar células de cartilagem em articulações danificadas. Os enxertos de cartilagem são indicados quando a lesão está confinado a uma área muito pequena, ainda rodeada por cartilagem normal.

Prevenção

A prevenção da artrose está intimamente ligada ao controle dos fatores de risco listados anteriormente. Ela envolve uma combinação de estratégias, incluindo cuidados com a saúde, estilo de vida saudável e manutenção de um peso dentro do IMC considerado normal. Quanto mais jovem você implementar as medidas explicadas a seguir, mas sucesso terá.

Algumas das medidas que podem ajudar na prevenção da artrose incluem:

  • Manter um peso saudável: o excesso de peso é um dos principais fatores de risco para a artrose, especialmente na articulação do joelho. Manter um peso saudável pode ajudar a reduzir a pressão sobre as articulações e diminuir o risco de desenvolver a doença.
  • Praticar atividade física regularmente: a atividade física regular pode ajudar a manter as articulações saudáveis e fortalecer os músculos ao redor das articulações, o que ajuda a prevenir a artrose. O American College of Rheumatology recomenda pelo menos 45 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana (150 minutos por semana é o tempo ideal, caso seja possível).
  • Musculação: exercícios de fortalecimento muscular, especialmente para as pernas e os joelhos, podem ajudar a manter as articulações estáveis e prevenir lesões que podem levar à artrose. Pelo menos 2 sessões de musculação por semana são recomendadas para reduzir o risco de osteoartrite.
  • Praticar exercícios de baixo impacto: exercícios de baixo impacto, como caminhada, natação, ioga e ciclismo, podem ajudar a manter as articulações saudáveis sem causar muito estresse ou impacto sobre elas.
  • Evitar atividades que aumentem o risco de lesão nas articulações: lesões nas articulações podem aumentar o risco de desenvolver artrose mais tarde na vida. Esportes com elevada incidência de choques e traumas, como futebol americano, rugby e algumas artes marciais, devem ser evitados.
  • Manter uma boa postura: manter uma boa postura pode ajudar a reduzir o estresse sobre as articulações e prevenir lesões que podem levar à artrose.
  • Alimentação saudável: uma dieta equilibrada e rica em nutrientes pode ajudar a manter um peso saudável e fornecer os nutrientes necessários para manter as articulações em bom estado.

Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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