Dipirona: posologia, indicações e efeitos adversos

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos.

O que é o medicamento dipirona?

A dipirona sódica, que em alguns países é chamada de metamizol sódico, é um analgésico e antipirético muito popular em boa parte do mundo, incluindo no Brasil, onde se encontra na lista das 10 drogas mais vendidas anualmente. Também existem as formas dipirona magnésica e metamizol magnésico, que são basicamente iguais às formas sódicas.

Apesar de ser um medicamento eficaz, extremamente popular e já em comercialização há décadas, a dipirona permanece sendo uma droga polêmica, que foi banida em cerca de 30 países do mundo, incluindo EUA, Japão, Austrália, Inglaterra, Suécia e Colômbia. O motivo da proibição é o risco de agranulocitose, uma complicação rara, mas potencialmente fatal.

Ainda assim, a dipirona (ou metamizol) continua sendo amplamente comercializada em países como Brasil, Portugal, México, Espanha, Israel e Rússia, que consideram que a ocorrência da agranulocitose é tão rara, que não justifica a proibição da droga.

Neste artigo vamos fazer uma revisão sobre a dipirona (metamizol), abordando as suas indicações, nomes comerciais, doses, efeitos adversos e interações medicamentosas. Vamos explicar também a polêmica proibição da droga devido ao risco de complicações graves.

Atenção: este texto não pretende ser uma bula completa da dipirona. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações sobre este popular analgésico.

Nomes comerciais

No Brasil, em Portugal e em vários outros países do mundo, a dipirona ou o metamizol já estão disponíveis sob a forma de medicamento genérico. Isso não impede porém, que existam diversas marcas comerciais deste fármaco. Vamos listar abaixo os principais nomes comerciais disponíveis no Brasil (dipirona) e em Portugal (metamizol).

  • Anador.
  • Analgex C.
  • Baralgin.
  • Conmel.
  • Dipidor.
  • Dipimed.
  • Dipironati.
  • Dolocalma (Portugal).
  • Doralex.
  • Dorfebril.
  • Dorilan.
  • Lomdor.
  • Magnopyrol.
  • Maxiliv.
  • Mirador.
  • Nofebrin.
  • Nolotil (Portugal).
  • Novalgina.
  • Santidor.
  • Termopirona.
  • Termoprim.

Exemplos de medicamentos compostos que apresentam dipirona em sua fórmula:

  • Alginac: dipirona sódica + carisoprodol + cianocobalamina + piridoxina + tiamina.
  • Atroveran: dipirona sódica + cloridrato de papaverina + extrato fluido de Atropa belladona.
  • Benegrip: dipirona sódica + cafeína + maleato de clorfenamina.
  • Buscopan composto: dipirona Sódica + butilbrometo de escopolamina.
  • Dexalgen: dipirona sódica + dexametasona + hidroxocobalamina.
  • Enxak: dipirona sódica + mesilato de diidroergotamina + cafeína.
  • Migraliv: dipirona sódica + didroergotamina + cafeína.
  • Mionevrix: dipirona sódica + carisoprodol + cianocobalamina + piridoxina + tiamina.
  • Nogripe: dipirona sódica + cafeína + maleato de clorfenamina.
  • Tropinal: dipirona sódica + butilbrometo de escopolamina + hiosciamina + homatropina.

Indicações – Para que serve

A dipirona é um fármaco que tem potente ação antipirética (contra febre), analgésica (contra dor) e antiespasmódica (contra cólicas), sendo, portanto, uma excelente opção para o tratamento das doenças que provocam febre e/ou dor.

A dipirona tem um efeito antipirético e analgésico semelhante ou até melhor que muitos anti-inflamatórios não-esteroides, sem ter, porém, o risco de causar lesões do estômago e dos rins. Todavia, a dipirona possui um fraco efeito anti-inflamatório, sendo inferior aos anti-inflamatórios no tratamento de doenças claramente inflamatórias, como são os casos das artrites e outras doenças de origem reumática (leia: Reumatismo – O que é, Sintomas e Tratamento).

Estudos mostram que a dipirona tem bons resultados no controle da dor de origem traumática, odontológica, oncológica e pós-operatória. A dipirona também é uma boa opção para analgesia nos quadros de enxaqueca e nas cólicas de origem renal, intestinal ou uterina.

A dipirona é frequentemente utilizada nos quadros de gripe ou resfriado, seja isoladamente ou em conjunto com outros fármacos, servindo tanto para o controle da febre quanto para as dores no corpo (leia: Diferenças entre gripe e resfriado).

Posologia – Como tomar

A dipirona pode ser comprada na forma de xarope, gotas, supositórios ou comprimidos. Em geral, as doses podem ser administradas de 8/8 horas ou 6/6 horas.

Xarope – solução oral – 50 mg/ml

  • 5 a 8 kg (3 a 11 meses) → Dose individual de 1,25 a 2,5 ml, sendo a dose máxima diária de 10 ml (2,5 ml 4 vezes por dia).
  • 9 a 15 kg (1 a 3 anos) → Dose individual de 2,5 a 5 ml, sendo a dose máxima diária 20 ml (5 ml 4 vezes por dia).
  • 16 a 23 kg (4 a 6 anos) → Dose individual de 3,75 a 7,5 ml, sendo a dose máxima diária 30 ml (7,5 ml 4 vezes por dia).
  • 24 a 30 kg (7 a 9 anos) → Dose individual de 5 a 10 ml, sendo a dose máxima diária 40 ml (10 ml 4 vezes por dia).
  • 31 a 45 kg (10 a 12 anos) → Dose individual de 7,5 a 15 ml, sendo a dose máxima diária 60 ml (15 ml 4 vezes por dia).
  • 46 a 53 kg (13 a 14 anos) → Dose individual de 8,75 a 17,5 ml, sendo a dose máxima diária 70 ml (17,5 ml 4 vezes por dia).
  • Adultos e adolescentes acima de 15 anos →  Dose individual de 10 a 20 ml, sendo a dose máxima diária 80 ml (20 ml 4 vezes por dia).

Gotas – solução oral – 500 mg/ml

  • 5 a 8 kg (3 a 11 meses) → Dose individual de 2 a 5 gotas, sendo a dose máxima diária de 20 gotas (5 gotas 4 vezes por dia).
  • 9 a 15 kg (1 a 3 anos) → Dose individual de 3 a 10 gotas, sendo a dose máxima diária de 40 gotas (10 gotas 4 vezes por dia).
  • 16 a 23 kg (4 a 6 anos) → Dose individual de 5 a 15 gotas, sendo a dose máxima diária de 60 gotas (15 gotas 4 vezes por dia).
  • 24 a 30 kg (7 a 9 anos) → Dose individual de 8 a 20 gotas, sendo a dose máxima diária de 80 gotas (20 gotas 4 vezes por dia).
  • 31 a 45 kg (10 a 12 anos) → Dose individual de 10 a 30 gotas, sendo a dose máxima diária de 120 gotas (30 gotas 4 vezes por dia).
  • 46 a 53 kg (13 a 14 anos) → Dose individual de 15 a 35 gotas, sendo a dose máxima diária de 140 gotas (35 gotas 4 vezes por dia).
  • Adultos e adolescentes acima de 15 anos → Dose individual de 20 a 40 gotas, sendo a dose máxima diária de 160 gotas (40 gotas 4 vezes por dia).

Comprimidos (500 ou 1000 mg)

  • Adultos e adolescentes acima de 15 anos → Dose individual de 500 a 1000 mg, sendo a dose máxima diária de 4000 mg (1000 mg 4 vezes por dia).

Supositórios (300 ou 1000 mg)

  • Crianças com mais de 4 anos (16 kg) → Dose individual de 300 mg, sendo a dose máxima diária de 1200 mg (1 supositório de 300 mg 4 vezes por dia).
  • Adultos e adolescentes acima de 15 anos → Dose individual de 1000 mg, sendo a dose máxima diária de 4000 mg (1 supositório de 1000 mg 4 vezes por dia).

A dipirona também pode ser administrada na forma intravenosa, mas essa via é habitualmente restrita a administração hospitalar.

Precauções e contraindicações

A dipirona é contraindicada nas seguintes situações:

  • Bebês com menos de 3 meses ou menos que 5 quilos.
  • Gravidez.
  • Durante a amamentação.
  • Histórico de alergia à dipirona ou às pirazolonas ou pirazolidinas (ex. fenazona, propifenazona, fenilbutazona e oxifembutazona).
  • Se o paciente tiver histórico de urticária, angioedema ou síndrome de asma induzida por outros analgésicos, tais como salicilatos, paracetamol, diclofenaco, ibuprofeno, indometacina ou naproxeno.
  • Se o paciente tiver alguma doença da medula óssea.
  • Se o paciente tiver deficiência congênita da glucose-6-fosfato-desidrogenase.
  • Se o paciente tiver porfiria hepática aguda intermitente.

Efeitos colaterais

A dipirona é um medicamento que costuma provocar poucos efeitos colaterais. Além da possibilidade de reação alérgica, que é comum a todos os outros analgésicos e anti-inflamatórios do mercado, o efeito colateral mais relatado costuma ser a queda da pressão arterial, principalmente nos pacientes desidratados ou com problemas cardíacos descompensados.

Agranulocitose provocada pela dipirona

Apesar de ser um fármaco bem tolerado pela imensa maioria das pessoas, a dipirona/metamizol foi proibida em diversos países após alguns relatos de pacientes que desenvolveram agranulocitose.

A agranulocitose é uma situação na qual há uma queda abrupta no número dos granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos), que são algumas formas de glóbulos brancos, células do nosso sistema imunológico responsáveis pelo combate a germes invasores. A agranulocitose induzida pela dipirona, apesar de temporária e reversível, é um quadro potencialmente fatal, pois pode deixar o paciente completamente indefeso contra infecções.

Por que a dipirona ainda é comercializada em vários países?

A verdadeira incidência da agranulocitose induzida pela dipirona ainda é desconhecida. Os defensores do fármaco afirmam que o risco de agranulocitose foi superestimado em estudos conduzidos na década de 1970 e que a sua proibição não é baseada em evidências científicas fortes. Estudos mais recentes têm mostrado um risco de 2 casos de agranulocitose a cada 1 a 10 milhões de usuários do medicamento. Isso significa que num país de 200 milhões de habitantes, como o Brasil, se toda a população passasse a tomar dipirona de forma conjunta, teríamos entre 40 a 400 casos de agranulocitose. Em um país de 10 milhões de habitantes, como Portugal, se a população inteira tomasse o metamizol, o número de casos de agranulocitose seria de apenas 2.

Outro argumento em defesa da dipirona é o fato de que várias outras drogas que possuem risco de causar agranulocitose, tais como ticlopidina, clozapina, sulfassalazina e Bactrim (sulfametoxazol + trimetoprima), permanecem no mercado nos países que proibiram a dipirona.

Mais um ponto a favor da dipirona é um estudo publicado em 1998, no Journal of Clinical Epidemiology, que comparou as complicações fatais dos principais analgésicos e anti-inflamatórios do mercado e chegou a conclusão que ela era um analgésico mais seguro que a aspirina, o diclofenaco e o paracetamol.

Interações medicamentosas

A dipirona pode causar redução dos níveis sanguíneos de ciclosporina e bupropiona, além de reduzir o efeito de inibição plaquetária da aspirina.

A dipirona não interfere na ação dos anticoncepcionais hormonais.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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COMENTÁRIOS
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14 comentários em “Dipirona: posologia, indicações e efeitos adversos”

  1. dr eu estou usando 1mg de dipirona todos od dias receita medica mais mesmo assim me preocupo será que não vai me prejudicar tenho muitas dores na coluna se me responder agradeço

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    • Eva, se você tem dor crônica, não tem jeito, você precisa de analgesia crônica. Há riscos, mas, pelo menos, a dipirona é melhor que um anti-inflamatório em relação aos riscos de efeitos adversos.

      Responder
  2. Dr. Pedro
    Gostei da informação sobre o estudo de 1998…
    O objetivo de minha pesquisa informal na internet sobre o assunto… é meu diagnóstico de Hernia de Disco na L5-S1, que me leva a recorrer de analgésicos para controle da dor, principalmente pela inflamação do ciático…
    Então meu objetivo é saber se o uso da dipirona de forma contínua (uso a de 1g quando a dor aperta… se for menor, só um dorflex…) pode me trazer muitos problemas daqui a 10 anos… já que a hernia não vai retroceder…
    Mas não é comum o uso diário (geralmente alternados), nem o uso de mais de 2 g dia…
    É provável algum dano após 8-10 anos?!
    Se puder emitir uma opinião… agradeço.
    Mas desde já agradeço o artigo pela informação do estudo de 1998

    Responder
    • Dalton, pode, mas o mais provável é que não traga. Um anti-inflamatório seria muito mais perigoso a longo prazo que a dipirona.

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  3. doutor por curiosidade poderia a dipirona estar associada a uma nefrite aguda? tipo com uma creatinina de 4 mg/dL e ureia de 50 mg/dL… devido ao uso exacerbado durante 2 dias?

    Responder
    • Qualquer medicamento pode causar nefrite intersticial. Dito isso, é importante salientar que a dipirona não é um fármaco que costuma causar problemas renais. Nefrite intersticial por dipirona é bem raro. Portanto, antes de culpar a dipirona é preciso investigar melhor essa insuficiência renal.

      Responder
    • Eu nunca li um estudo que faça essa comparação direta, mas a minha impressão pessoal é de que a dipirona tem um efeito analgésico mais forte que o paracetamol. Mas isso é opinião pessoal, não tem valor científico.

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