Fascite plantar: o que é, causas, sintomas e tratamento

A fascite plantar é uma inflamação da fáscia plantar, tecido que conecta o calcanhar aos dedos do pé. Provoca dor intensa na sola do pé, especialmente ao caminhar. Comum em atletas e pessoas com sobrepeso, o tratamento inclui repouso, fisioterapia e, em casos graves, cirurgia.

Dr. Pedro Pinheiro
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Fascite plantar

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O que é fascite plantar?

A fascite plantar (fasceíte plantar em Portugal) é uma das causas mais comuns de dor no calcanhar ou na sola dos pés, sendo provocada pela inflamação da fáscia plantar, uma espécie de ligamento que fica localizado na sola do pé.

O que a fáscia plantar?

A fáscia plantar, também chamada de aponeurose plantar, é um ligamento que corre ao longo da parte inferior do pé, conhecida como sola ou planta do pé.

A fáscia plantar é uma faixa de tecido espesso, intimamente ligada à pele e com propriedades elásticas, capaz de se esticar ligeiramente conforme a movimentação dos pés. Esse tecido recobre toda a base do pé, estendendo-se desde o osso do calcanhar, chamado osso calcâneo, até a ponta dos pés, local onde se divide em cinco ramos, um para cada dedo.

A fáscia plantar age como um elástico. Ela cria uma tensão de modo a manter o pé sempre levemente arqueado. Quando andamos, no momento em que levantamos o calcanhar do chão e ficamos apenas com a ponta dos pés encostada ao solo, a fáscia plantar age como uma espécie de guincho, diminuído a pressão que os dedos sofrem ao receber grande parte do peso do corpo.

A fascite plantar é uma inflamação da fáscia plantar. Habitualmente, o local onde há maior inflamação da fáscia é próximo à sua ligação com o osso calcâneo.

Inflamação da fáscia plantar.
Inflamação da fáscia plantar.

Causas

A fascite plantar surge após repetitivos estresses na região da planta dos pés, causados normalmente por tensão e esgarçamento da fáscia plantar, que levam a micro traumas neste tecido e, consequentemente, inflamação da área lesionada.

A fascite plantar ocorre habitualmente em pessoas entre 40 e 60 anos, que ao longo de sua vida tiveram atividades ou problemas que provocaram repetido estresse sobre a fáscia plantar, como, por exemplo:

  • Obesidade.
  • Pé chato.
  • Pé cavo.
  • Trabalhar muito tempo em pé, como seguranças, professores, cirurgiões, trabalhadores de fábrica, etc.
  • Uso excessivo de salto alto.
  • Uso de calçados pouco apropriados para os pés, como sapatos apertados, largos ou velhos.
  • Alterações da marcha, como pisar com o pé torto, principalmente com a parte de dentro dos pés.

A fascite plantar também é muito comum em pessoas que praticam determinadas atividades, como corridas, balé, levantamento de peso e dança. Caminhada sem tênis adequado também pode causar estresse sobre a sola dos pés e levar à lesão da fáscia plantar. Estas atividades podem provocar o aparecimento precoce da fascite plantar, antes dos 40 anos.

Relação entre esporão do calcâneo e fascite plantar

O esporão do calcâneo é uma protuberância que surge no osso calcâneo devido a múltiplos microtraumatismos nesta região. Portanto, as mesmas lesões que provocam o surgimento da fascite plantar também causam o aparecimento do esporão.

Antigamente achava-se que o esporão era uma das causas da fascite plantar, mas hoje sabe-se que só 5% dos pacientes com esporão apresentam quadro de dor e inflamação na sola do pé.

Para saber mais sobre o esporão de calcâneo, leia: Esporão de calcâneo – Dor no calcanhar.

Sintomas da fascite plantar

O sintoma mais comum da fascite plantar é a dor, tipo pontada, na planta do pé, especialmente na região logo abaixo do calcanhar. A dor é tipicamente pior durante os primeiros passos, como ao sair da cama de manhã ou levantar-se depois de estar sentado por algum tempo. A dor da fascite plantar costuma acometer apenas um dos pés, apesar de não ser impossível ter a lesão em ambos os pés ao mesmo tempo.

A dor pode ser agravada por andar descalço em superfícies duras ou subir escadas. Em atletas, ela pode ser particularmente agravada pela corrida. Profissionais que permanecem em pé por muito tempo costumam se queixar de piora do quadro ao final do dia.

Um elemento importante na história clínica é o período que antecede o início da fascite plantar. Os pacientes podem relatar que antes do aparecimento da dor haviam aumentado a quantidade das atividades físicas, mudado o tipo de calçado habitual ou sofrido algum trauma no pé.

Diagnóstico

O diagnóstico pode ser feito através da história clínica do paciente e do exame físico dos pés. O médico irá procurar por sinais de lesão nos pés, pontos dolorosos e alterações anatômicas, como pé chato.

Em caso de dúvida, a ultrassonografia e a ressonância magnética podem ajudar no diagnóstico. A radiografia do pé é geralmente solicitada quando queremos descartar outras causas para a dor.

Diferença entre fascite plantar e outras causas de dor no calcanhar

A dor no calcanhar é uma queixa comum na prática clínica e pode ter diversas causas além da fascite plantar. Embora esta seja, de fato, a etiologia mais prevalente, é importante reconhecer outras possíveis condições para evitar diagnósticos equivocados e tratamentos ineficazes. A seguir, destacamos as principais causas de dor no calcanhar e suas diferenças em relação à fascite plantar:

1. Tendinopatia do tendão de Aquiles

A tendinopatia (ou tendinite) do tendão de Aquiles é uma inflamação ou degeneração do maior tendão do corpo humano, que conecta os músculos da panturrilha ao osso do calcanhar.

Diferenciação clínica:

  • A dor localiza-se na parte posterior do calcanhar, e não na planta do pé.
  • Comum em corredores e atletas.
  • A dor geralmente piora durante ou após a atividade física.
  • Pode haver espessamento do tendão e dor à palpação.

2. Bursite retrocalcânea

A bursite ocorre quando a bursa, uma pequena bolsa cheia de líquido que atua como amortecedor entre o tendão de Aquiles e o calcâneo, inflama-se.

Diferenciação clínica:

  • Dor localizada logo acima do calcanhar, na região posterior.
  • Inchaço e vermelhidão podem estar presentes.
  • A dor pode aumentar ao usar sapatos fechados que pressionem a área.

3. Esporão do calcâneo

Apesar de sua associação com a fascite plantar, o esporão calcâneo nem sempre está presente, e quando está, pode ser assintomático.

Diferenciação clínica:

  • Quando doloroso, causa dor semelhante à da fascite plantar.
  • O diagnóstico é feito por radiografia.
  • Nem todo esporão causa dor, e nem toda fascite está associada a um esporão.

4. Fratura por estresse do calcâneo

Mais comum em atletas, militares ou indivíduos submetidos a impacto repetitivo, a fratura por estresse pode simular fascite plantar.

Diferenciação clínica:

  • A dor é mais difusa e pode ocorrer tanto na planta quanto na lateral ou parte posterior do calcanhar.
  • A dor tende a aumentar com o peso corporal e melhora com repouso.
  • Radiografia inicial pode ser normal, sendo necessária ressonância magnética para confirmação.

5. Síndrome do túnel do tarso

É uma compressão do nervo tibial posterior ao nível do tornozelo, condição análoga à síndrome do túnel do carpo nos punhos.

Diferenciação clínica:

  • Dor associada a formigamento, queimação ou dormência na planta do pé e calcanhar.
  • Pode haver irradiação da dor para o arco plantar ou dedos.
  • O exame físico pode revelar sinal de Tinel positivo sobre o nervo tibial posterior.

6. Atrofia do coxim plantar

Com o envelhecimento ou uso crônico de calçados inadequados, pode haver diminuição do tecido adiposo que amortece a região do calcanhar.

Diferenciação clínica:

  • Dor descrita como uma sensação de “impacto direto” no osso.
  • Agravada ao caminhar em superfícies duras.
  • O exame físico revela menor espessura do coxim e sensibilidade localizada.

Tratamento da fascite plantar

O tratamento é inicialmente feito de forma conservadora, com repouso e aplicação de gelo local. Outros tratamentos para fascite plantar incluem:

Fisioterapia, com exercícios e alongamentos específicos para os pés e panturrilhas, é uma das abordagens mais eficazes. O objetivo é reduzir a tensão na fáscia plantar, melhorar a flexibilidade da musculatura da perna e fortalecer os músculos intrínsecos do pé. Exercícios comuns incluem o alongamento da fáscia plantar (por exemplo, puxar os dedos do pé em direção ao corpo com a mão), alongamento do tendão de Aquiles, fortalecimento da musculatura do pé e exercícios de equilíbrio. A regularidade e a execução correta dos exercícios são fundamentais para a melhora dos sintomas e prevenção de recidivas.

Palmilhas para fascite plantar também têm um papel relevante no alívio dos sintomas, principalmente em pessoas que permanecem longos períodos em pé. As palmilhas ortopédicas, especialmente aquelas com suporte para o arco plantar e amortecimento na região do calcanhar, ajudam a distribuir melhor a pressão nos pés, reduzindo o estresse sobre a fáscia plantar. Existem modelos prontos ou personalizados, sendo os confeccionados sob medida os mais eficazes em casos mais persistentes. Além das palmilhas, calçados adequados, com bom amortecimento e suporte para o arco, são essenciais no controle da fascite.

Em alguns casos, o uso por poucos dias de um anti-inflamatório não esteroidal (AINE), como ibuprofeno ou naproxeno, pode ser necessário para controlar a dor e a inflamação, especialmente nas fases iniciais ou durante crises agudas. No entanto, o uso prolongado desses medicamentos deve ser evitado, devido ao risco de efeitos adversos gastrointestinais, renais e cardiovasculares.

O uso de tala noturna é outra opção terapêutica. Esse dispositivo mantém o pé em dorsiflexão leve durante o sono, mantendo a fáscia plantar esticada e prevenindo o encurtamento que ocorre durante o repouso noturno. Muitos pacientes relatam melhora significativa da dor matinal com o uso regular da tala.

Pessoas com excesso de peso devem emagrecer, pois a perda de peso reduz a sobrecarga sobre a fáscia plantar e pode melhorar consideravelmente os sintomas.

Em casos refratários, injeções de corticoides diretamente na região do calcanhar podem ser utilizadas, proporcionando alívio temporário da dor. Essas injeções devem ser aplicadas com critério, pois o uso repetido pode enfraquecer a fáscia plantar ou provocar atrofia do coxim gorduroso do calcanhar.

Estudos mais recentes também têm mostrado benefícios com a injeção de toxina botulínica (botox), que parece ter efeito anti-inflamatório e analgésico local, com resultados semelhantes ao uso de corticoides.

Outras abordagens, como ondas de choque extracorpóreas e terapia com plasma rico em plaquetas (PRP), têm sido estudadas e podem ser consideradas em casos crônicos e resistentes aos tratamentos convencionais.

A cirurgia para liberação parcial da fáscia plantar é considerada a última opção, sendo raramente necessária e reservada para casos muito específicos que não melhoram após meses de tratamento conservador.

Prognóstico

A maioria dos casos de fascite plantar melhora com o tratamento conservador, especialmente quando iniciado precocemente. Mais de 80% dos pacientes apresentam alívio significativo da dor dentro de 6 a 12 meses. A adesão ao plano de tratamento, incluindo exercícios, uso de palmilhas e modificação de hábitos, é determinante para o sucesso terapêutico. Casos negligenciados ou de longa duração tendem a ser mais resistentes e podem exigir intervenções mais complexas.


Referências


Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.


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