Sinovite transitória: o que é, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

4 Comentários

Sinovite transitória: o que é, sintomas e tratamento

Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

O que é a sinovite transitória do quadril?

A sinovite transitória do quadril, também chamada sinovite tóxica ou síndrome do quadril irritável, é um quadro de inflamação dos tecidos ao redor da articulação do quadril que provoca dor e faz com que o paciente manque e tenha dificuldade de suportar o próprio peso.

Esta condição é chamada de “transitória” porque dura apenas um curto período e resolve-se sozinha. Embora a sinovite tóxica em si seja benigna, ela deve ser distinguida da artrite séptica, uma infecção da articulação que requer tratamento de emergência.

A sinovite transitória é a causa mais comum de dor aguda no quadril em crianças de 3 a 10 anos, ocorrendo em até 3% das crianças. Os meninos são mais afetados do que as meninas e há uma ligeira predileção pelo lado direito do quadril.

Apesar de ser mais comum em crianças, a doença também já foi descrita em bebês e adultos.

O que é uma sinovite?

Articulação sinovial ou diartrose é o nome dado ao tipo de articulação envolvida por uma capsula repleta de um fluido chamado líquido sinovial ou sinóvia.

O líquido sinovial é produzido pela membrana sinovial, um tecido conjuntivo especializado que recobre a superfície interna das cápsulas das articulações sinoviais.

Articulação sinovial
Articulação sinovial

A sinóvia é um fluido viscoso e transparente que serve para lubrificar as articulações e prevenir o desgaste da cartilagem quando ela está em movimento.

Exemplos de articulações sinoviais são os joelhos, cotovelos, quadris, ombros, punhos e tornozelos.

Damos o nome de sinovite quando há uma inflamação na membrana sinovial. A sinovite transitória do quadril é, portanto, um quadro de inflamação temporária da membrana sinovial de uma das articulações dos quadris.

A sinovite transitória pode afetar outras grandes articulações sinoviais, mas o quadril é local mais frequente.

Causas

A causa exata da sinovite transitória do quadril ainda é desconhecida. A literatura científica apresenta múltiplas teorias etiológicas, mas nenhuma dessas hipóteses postuladas foi conclusivamente substanciada.

Os fatores de risco mais descritos incluem:

  • Infecção respiratória viral recente das vias respiratórias altas (otite média, sinusite, faringite ou gripe).
  • Infecção recente por Parvovírus B-19 ou Betaherpesvirus humano 6A.
  • Infecção bacteriana recente, principalmente faringite estreptocócica.
  • Trauma local nas semanas anteriores.
  • Vacinação recente.
  • Reação a medicamentos.

Sintomas

O sintoma mais típico da sinovite transitória é dor unilateral de início súbito ou gradual de intensidade ligeira a moderada. Menos de 5% dos casos apresentam dor bilateral nos quadris.

Os pacientes geralmente relatam dor no quadril ou virilha, mas a dor também pode surgir no joelho, coxa medial ou nádega. As crianças afetadas podem caminhar mancando ou podem se recusar a caminhar de todo por não conseguirem tolerar o peso do corpo no lado afetado.

A amplitude do movimento do quadril afetado costuma estar levemente limitada pela dor e espasmo, e o quadril pode estar mantido em flexão com leve abdução e rotação externa da perna.

Ao exame físico do pediatra, movimentos suaves de arco curto do quadril podem ser tolerados, mas uma tentativa de se estender completamente ou girar internamente o quadril costuma provocar dor relevante.

Crianças muito pequenas, que pouco andam e não falam, podem não ter outros sintomas além de chorar à noite; entretanto, um exame cuidadoso costumam revelar algum grau de coxeio antálgico (o paciente manca devido à dor).

Crianças com sinovite transitória são geralmente afebris ou têm uma temperatura levemente elevada. Na imensa maioria dos casos, a criança queixa-se de dor, manca, mas apresenta um estado geral muito bom. Febre alta é rara e deve fazer o médico suspeitar de artrite séptica.

Alguns pacientes com sinovite transitória podem não relatar dor e apresentar apenas um coxear.

Em resumo, os sintomas da sinovite transitória do quadril são:

  • Dor unilateral no quadril de início súbito ou gradual de intensidade leve a moderada.
  • Dor pode ocorrer também no joelho, coxa ou nádega.
  • Paciente manca e pode ter dificuldade de apoiar o pé no chão.
  • Estado geral da criança permanece bom.
  • Não há sinais claros de artrite, como calor, vermelhidão ou inchaço na articulação afetada.

Sinais de alarme

Os pais devem procurar o pediatra se a criança apresentar os seguintes sinais:

  • Febre, sonolência, cansaço, perda do apetite ou queda do estado geral.
  • Inchaço ou vermelhidão no quadril ou perna.
  • Agravamento da dor, tornando-se intensa.
  • Persistência da dor após 2 semanas.

Diagnóstico

O diagnóstico de sinovite transitória é de exclusão e se baseia no histórico e exame físico, em combinação com testes laboratoriais e de imagem do quadril.

Exames de imagens, como radiografia, ultrassonografia ou ressonância magnética do quadril podem ser solicitados se o pediatra desejar descartar outras doenças com sintomas semelhantes, como a síndrome de Legg-Calvé-Perthes, tumores ou artrite idiopática juvenil.

Os testes laboratoriais são usados para ajudar a distinguir crianças com sinovite transitória daquelas com artrite séptica. Na sinovite transitória, os valores laboratoriais costumam ser normais ou podem revelar apenas pequenas elevações na contagem de leucócitos, nível de proteína C reativa e taxa de sedimentação de eritrócitos (VHS), consistentes com um processo inflamatório leve e inespecífico.

Vários estudos têm tentado definir critérios para diferenciar a sinovite transitória da artrite séptica. Quatro preditores independentes de artrite séptica foram encontrados, chamados critérios de Kocher:

  • Febre acima de 38,5°C.
  • Incapacidade de suportar peso.
  • VHS maior que 40 mm/h.
  • Contagem de leucócitos no sangue superior a 12.000 células/µL.

Pacientes com três dos quatro preditores tinham 93% de chance de ter artrite séptica, e aqueles com todos os quatro tinham 99% de chance.

Um estudo subsequente para validar esses achados mostrou que pacientes com nenhum desses preditores tinham 2% de probabilidade de artrite séptica. Com um preditor, a chance era de 9,5%; com dois preditores, 35% de probabilidade; com três preditores, 73% de probabilidade; e com todos os quatro preditores, 93% de probabilidade do quadro ser artrite séptica.

Tratamento

Por definição, a sinovite transitória é uma doença autolimita e de cura espontânea. Sendo assim, a maioria dos casos de sinovite transitória do quadril pode ser gerenciada em casa com acompanhamento próximo pelo pediatra.

O tratamento da sinovite transitória é feito com repouso da articulação afetada e anti-inflamatórios. As temperaturas devem ser monitoradas e qualquer febre deve ser relatada ao médico. É permitido às crianças um retorno gradual à atividade à medida que a dor diminui. O retorno às atividades normais é permitida quando o quadril estiver completamente livre de dor, sem nenhuma evidência de coxear.

O prognóstico para crianças com sinovite transitória é excelente. A maioria dos pacientes refere melhora da dor após 24 a 72 horas. 75% têm resolução completa da dor dentro de 2 semanas e 88% dentro de 4 semanas. O restante pode ter dores menos intensas, mas persistentes por até 8 semanas.

A recidiva pode ocorrer em cerca de 5 a 20% dos pacientes, mas as sequelas a longo prazo são raras.

Um pequeno número (2 a 3%) de casos de sinovite transitória segue um curso clínico e radiográfico consistente com o da doença de Legg-Calvé-Perthes. Crianças com sintomas persistentes devem ser submetidas à ultrassonografia para avaliar a presença de derrame na articulação, pois um derrame persistente além de 6 semanas pode estar associado ao desenvolvimento da doença de Legg-Calvé-Perthes.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Ficou com alguma dúvida?

Comentários e perguntas