Classificação ACR BI-RADS (categoria 0 a 6)

O BI-RADS é um sistema de classificação usado em exames de imagem de mama, como mamografias, para avaliar e categorizar os achados de forma padronizada. Ele ajuda a orientar o diagnóstico e o acompanhamento do risco de câncer de mama.

Dr. Pedro Pinheiro
Atualizado:

91 Comentários

Mamografia

Tempo de leitura estimado do artigo: 6 minutos

O que é BI-RADS?

O termo BI-RADS, um acrônimo em inglês para Breast Image Reporting and Data System, é uma classificação desenvolvida em 1993 pelo Colégio Americano de Radiologia (ACR) com intuito de padronizar os relatórios mamográficos, de forma a minimizar os riscos de má interpretação dos laudos da mamografia e facilitar a comparação de resultados para futuros estudos clínicos.

O ACR BI-RADS, portanto, é uma forma padronizada de relatar os achados radiológicos da mamografia, o que reduz em muito o risco de interpretações subjetivas de laudos puramente descritivos e impede que um mesmo achado seja interpretado de forma diferente entre o médico radiologista que realizou o exame e o médico assistente da paciente que solicitou o exame.

A classificação também ajuda o médico assistente a saber quando a investigação de um nódulo suspeito deve ser complementada com outros métodos e quando ela pode ser satisfatoriamente interrompida apenas com o resultado da mamografia. Ele ajuda também a padronizar as condutas médicas.

Inicialmente proposto como uma classificação para os relatórios da mamografia, o BI-RADS atualmente também tem sido usado para descrever laudos de ultrassonografia mamária e de ressonância magnética das mamas.

Classificação ACR BI-RADS

Se você faz uma mamografia e apresenta alguma lesão suspeita, seja ela um nódulo na mama, um cisto, uma calcificação ou uma lesão claramente maligna, é importante que o laudo desta mamografia seja o mais direto e compreensível possível.

BI-RADS - Mamografia
BI-RADS – Mamografia

Para que todos os médicos, independentemente das suas especialidades, possam entender e interpretar os resultados da sua mamografia de modo uniforme, o radiologista precisa sintetizar os achados mamográficos usando uma das 6 categorias da classificação de BI-RADS. Através desta classificação, o seu médico poderá facilmente distinguir a probabilidade de a sua lesão ser maligna ou benigna.

O que descrevemos a seguir são as 6 categorias de classificação do Colégio Americano de Radiologia. Comece preenchendo nosso assistente de Interpretação BI-RADS e depois leia as informações mais completas sobre cada resultado.

Assistente de Interpretação dos resultados BI-RADS


BI-RADS categoria 0 – Exame inconclusivo

Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 0, isso significa que ele considerou o exame inconclusivo ou incompleto.

As causas para uma categoria 0 incluem fatores técnicos, tais como imagens de baixa qualidade, que podem ser devidos ao posicionamento inadequado da mama ou à movimentação da paciente durante o exame.

A categoria 0 também pode ser atribuída quando há dúvida sobre a existência ou não de uma lesão, havendo necessidade de realizar outro exame de imagem para tirar a prova, como ultrassonografia ou ressonância magnética.

A disponibilização de laudos de mamografia anteriores para que o médico radiologista possa comparar imagens antigas com as imagens atuais diminui o risco de a mamografia ser classificada como BI-RADS 0. Por exemplo, uma lesão de difícil avaliação, mas que existe há vários anos e nunca mudou de aspecto, fala claramente a favor de uma lesão benigna. Com o auxílio de resultados anteriores, o médico pode mudar a classificação de categoria 0 para categoria 2 (ver mais adiante).

Portanto, um BI-RADS 0 não indica nem que a lesão é provavelmente benigna, nem que é provavelmente maligna. A categoria 0 indica um exame inconclusivo que deve ser repetido.

BI-RADS categoria 1 – Exame normal ou exame negativo

Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 1, isso significa que a mamografia não apresenta nenhuma alteração. O exame é completamente normal. As mamas são simétricas e não foram visualizadas massas, distorções de arquitetura ou calcificações suspeitas.

O risco de lesão maligna em um exame classificado como categoria 1 é de 0%.

BI-RADS categoria 2 – Exame com achados certamente benignos

Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 2, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, mas que as características da lesão permitem afirmar que ela é benigna.

Entre as lesões que costumam ser encontradas em exames com classificação BI-RADS 2, podemos citar:

  • Fibroadenomas calcificados.
  • Cistos simples da mama.
  • Linfonodos intra-mamários.
  • Calcificações vasculares.
  • Lipomas.
  • Hamartomas.
  • Calcificações de origem secretória.
  • Implantes de silicone.
  • Cicatriz cirúrgica.

Para ser classificado como categoria 2, o médico precisa ter segurança para afirmar que a lesão é de origem benigna. Se o médico tiver dúvidas, o resultado não pode ser classificado como BI-RADS 2, mas sim como BI-RADS 3.

Portanto, na prática, um resultado BI-RADS 2 tem o mesmo valor clínico de um BI-RADS 1. O risco de lesão maligna é de 0%.

BI-RADS categoria 3 – Exame com achados provavelmente benignos

Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 3, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, que provavelmente é benigna, mas que ele não tem 100% de segurança. Por mais que o médico tenha quase certeza de que a lesão é benigna, se ele tiver a mínima dúvida, a classificação deve ser categoria 3.

Quando o exame é classificado como BI-RADS 3, a conduta sugerida é repetir a mamografia após 6 meses. Se o novo exame também for categoria 3, uma nova mamografia é repetida após mais 6 meses (12 meses após a primeira). Se nessa mamografia o resultado for o mesmo, uma última reavaliação mamográfica deve ser realizada após mais 1 ano (2 anos após o resultado inicial). Se, após 2 anos, a lesão permanecer igual, o radiologista pode considerá-la um BI-RADS 2.

Por outro lado, se em algum momento do seguimento a lesão mudar de características e se tornar mais suspeita, a classificação deve ser mudada para BI-RADS 4 e a lesão deve ser biopsiada. Vários estudos já mostraram que esse seguimento semestral não acarreta risco para a paciente. Mesmo nos raros casos em que a lesão muda de característica e passa a haver a suspeita de malignidade, a espera não traz prejuízos à saúde da paciente.

Portanto, um resultado na categoria 3 indica uma lesão com baixíssimo risco de malignidade, que não precisa ser inicialmente biopsiada, mas que, por prudência, deve ser seguida de perto ao longo dos próximos 2 anos.

O risco de lesão maligna do BI-RADS 3 é de apenas 2%, ou seja, 98% dos casos são mesmo lesões benignas.

BI-RADS categoria 4 – Exame com achados suspeitos

Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 4, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, que pode ser um câncer, mas que não necessariamente é um câncer. Todas as pacientes com um resultado BI-RADS 4 devem ser submetidas à biópsia da lesão para que o diagnóstico correto possa ser estabelecido.

A categoria 4 costuma ser dividida em 3 subcategorias conforme o risco de câncer:

  • BI-RADS 4A: lesão com baixa suspeita de malignidade: 2 a 10% de risco de câncer.
  • BI-RADS 4B: lesão com moderada suspeita de malignidade: 11 a 50% de risco de câncer.
  • BI-RADS 4C: lesão com elevada suspeita de malignidade: 51 a 95% de risco de câncer.

Independentemente da subcategoria de BI-RADS 4, todos os casos devem ser submetidos à biópsia. A diferença é que na paciente com BI-RADS 4A, o esperado é que a biópsia confirme uma lesão benigna, enquanto no BI-RADS 4C, o esperado é que a biópsia confirme o diagnóstico de câncer.

BI-RADS categoria 5 – Exame com elevado risco de câncer

Quando o radiologista classifica o seu resultado como BI-RADS 5, isso significa que ele encontrou alguma alteração na mamografia, que quase com certeza é derivada de um câncer da mama.

Lesões das mamas com típicas características de câncer incluem nódulos densos e espiculados, calcificações pleomórficas, lesões com retração da pele ou distorções da arquitetura da mama, ou calcificações lineares finas dispostas num segmento da mama.

Todas as lesões com categoria 5 devem ser biopsiadas.

O risco de lesão maligna em um exame classificado como BI-RADS 5 é maior que 95%.

BI-RADS categoria 6 – Exame com lesão maligna previamente conhecida

A classificação BI-RADS 6 é utilizada apenas nas pacientes que já têm o diagnóstico de câncer de mama estabelecido e acabam por fazer uma mamografia para acompanhamento da doença, como, por exemplo, após o início da quimioterapia. Essa classificação serve somente para confirmar ao médico que a lesão maligna identificada na mamografia é a mesma já conhecida anteriormente.

Classificação ACR para densidade das mamas

Conforme a última atualização do Colégio Americano de Radiologia, as classificações BI-RADS também devem descrever as mamas da paciente, classificando-as de A a D conforme a sua densidade:

  • Mamas tipo A: as mamas são quase inteiramente compostas por gordura. Cerca de 1 em cada 10 mulheres tem esse resultado.
  • Mamas tipo B: existem áreas dispersas de densidade fibroglandular. Indica haver maior densidade em algumas regiões da mama, mas a maior parte do tecido mamário é composta por gordura. Cerca de 4 em cada 10 mulheres têm esse resultado.
  • Mamas tipo C: as mamas são heterogeneamente densas. Indica haver algumas áreas de tecido com gordura, mas a maioria do tecido mamário é denso. Cerca de 4 em cada 10 mulheres têm esse resultado.
  • Mamas tipo D: os seios são extremamente densos. Indica que quase todo o tecido mamário é composto por tecido fibroglandular e quase nada por gordura. Cerca de 1 em cada 10 mulheres tem esse resultado.

Por que a densidade das mamas importa?

Mulheres com mama extremamente densa (ACR‑BI‑RADS tipo D) têm um risco elevado de desenvolver câncer de mama em comparação com aquelas com tecido mamário predominantemente gorduroso.

Estudos demonstram que mulheres com mamas ACR tipo D apresentam um risco cerca de 2 a 6 vezes maior de desenvolver câncer de mama em comparação com aquelas com mamas ACR tipo A. Este aumento no risco se deve a fatores biológicos associados à densidade mamária, como maior quantidade de tecido glandular e fibroso, que pode estar associado a maior atividade proliferativa e inflamatória local.

Além do câncer de mama ser mais comum em mulheres com mamas densas, um tecido mamário denso (ACR tipo C ou D) torna mais difícil a interpretação da mamografia, pois tanto o câncer quanto o tecido mamário denso aparecem brancos na imagem, dificultando a distinção entre estruturas normais e alterações suspeitas.

Mamas muito densas, portanto, aumentam o risco de um exame falso-negativo — ou seja, de que um câncer presente passe despercebido na mamografia. Isso pode atrasar o diagnóstico e comprometer o prognóstico da paciente.

Tendo em conta essas limitações na detecção precoce de lesões suspeitas, especialmente em mulheres com mamas do tipo C ou D, o médico pode solicitar estudos complementares de imagem, tais como:

  • Ultrassonografia bilateral das mamas, útil para detectar nódulos não visíveis na mamografia.
  • Tomossíntese mamária (mamografia 3D), que aumenta a sensibilidade do exame em mamas densas.
  • Ressonância magnética das mamas, indicada especialmente para pacientes de alto risco.

Implicações clínicas e acompanhamento

A presença de mamas densas, especialmente do tipo D, exige uma abordagem mais cuidadosa no rastreamento do câncer de mama. Embora a densidade mamária por si só seja um fator de risco moderado, quando associada a outros fatores (como histórico familiar, mutações genéticas, menarca precoce, entre outros), ela pode justificar um rastreamento personalizado.

É importante que a mulher tenha ciência de sua densidade mamária, o que pode ser informado no laudo da mamografia, e que discuta com seu médico as estratégias de rastreio mais adequadas, considerando tanto o risco aumentado de câncer quanto as limitações dos métodos diagnósticos convencionais.


Referências


Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.


Ficou com alguma dúvida?

Comentários e perguntas

Atenção: para enviar sua pergunta, utilize a caixa de comentário abaixo e não o botão “Responder” em comentários de outros leitores. Assim, sua dúvida será respondida de forma individual e você não interrompe conversas já iniciadas.