O que é diabetes tipo 2?
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é a forma de diabetes mais comum, acometendo mais de 350 milhões de pessoas em todo o planeta. Esta forma de diabetes está em franca expansão, aumentando sua incidência em todo os países, devido, principalmente, à má alimentação e ao aumento de casos de obesidade. Nos últimos 30 anos o número casos de DM2 aumentou em mais de 100%. Por isso, entender os fatores de risco e as causas do diabetes é essencial para preveni-lo.
O diabetes tipo 2 ocorre em adultos, geralmente obesos, sedentários e com histórico familiar de diabetes. O excesso de peso é o principal fator de risco. A associação entre obesidade e diabetes tipo 2 é tão forte, que muitos pacientes podem até deixar de ser diabéticos se conseguirem emagrecer. A forma como o corpo armazena gordura também tem relevância. Pessoas que acumulam gordura predominantemente na região abdominal apresentam maior risco.
O diabetes mellitus tipo 2 é um tipo de diabetes que ocorre por uma deficiente ação da insulina presente na circulação sanguínea. Geralmente há dois problemas:
- o pâncreas produz menos insulina do que seria necessário para o controle adequado dos níveis de glicose;
- a insulina produzida além de ser insuficiente, funciona mal. Os tecidos perdem a capacidade de reconhecer a presença da insulina, fazendo com que o açúcar presente no sangue não chegue às células. Este processo é conhecido como resistência à insulina.
Se você não está muito familiarizado com as ações da insulina e da glicose no nosso organismo, sugiro a leitura de: O que é diabetes?
Causas
Embora seja uma forma de diabetes mellitus mais comum que o diabetes tipo 1, as causas da diabetes tipo 2 são menos conhecidas. Esta forma de diabetes é provavelmente desencadeada por múltiplos fatores, nem todos ainda reconhecidos. O porquê de o pâncreas produzir menos insulina e os motivos pelo qual ela funciona mal ainda não estão totalmente esclarecidos.
O desenvolvimento do DM2 parece envolver interações complexas entre fatores ambientais e genéticos. Presumivelmente, a doença se desenvolve quando um indivíduo geneticamente susceptível adota um estilo de vida “diabetogênico”, ou seja, com ingestão calórica excessiva, sedentarismo, obesidade, tabagismo, etc.
90% dos diabéticos tipo 2 são obesos ou apresentam sobrepeso, porém, nem todo indivíduo obeso é diabético. Este simples dado serve para mostrar que a causa do DM2 não está restrita a um único fator. Muito provavelmente vários fatores estão envolvidos.
Fatores de risco
Se por um lado ainda não esclarecemos totalmente as causas do DM2, já são bastante conhecidos os seus fatores de risco. Vamos listar abaixo os principais:
1. História familiar – Indivíduos que possuem parentes com diabetes tipo 2, principalmente se de primeiro grau, apresentam maior risco de também desenvolver a doença. Estes pacientes devem tomar muito cuidado com o ganho excessivo de peso.
2. Etnia – Por motivos ainda desconhecidos, a incidência do DM2 varia de acordo com a origem étnica do paciente. Em ordem decrescente de incidência, as etnias com maiores riscos de diabetes tipo 2 são: descendentes de asiáticos, hispânicos, negros e brancos. Cabe aqui uma ressalva, apesar da maior incidência de diabetes nos descendentes asiáticos, a população da Ásia, por possuir hábitos alimentares mais saudáveis, acaba apresentando menos casos de diabetes que a população americana, composta em sua maioria por brancos.
3. Obesidade – O sobrepeso é talvez o principal fator de risco para o desenvolvimento do diabetes DM2. O risco aumenta progressivamente a partir de um IMC maior que 25 (leia: Obesidade – Definições e consequências). A obesidade é um fator tão importante, que alguns pacientes conseguem deixar de ser diabéticos apenas emagrecendo. Atualmente, mais de 90% dos diabéticos tipo 2 apresentam excesso de peso.
Para saber mais sobre o índice de massa corporal e o cálculo do IMC, acesse o seguinte artigo: IMC | cálculo do índice de massa corporal.
4. Gordura abdominal – Além do excesso de peso, o modo como a gordura é distribuída pelo corpo também é um fator determinante para um maior risco de resistência à insulina e diabetes tipo 2. O risco de diabetes é mais elevado nos indivíduos com obesidade central, ou seja, naqueles que acumulam gordura na barriga. Homens com uma cintura maior que 102 cm e mulheres com cintura maior que 88 cm apresentam elevado risco. Mulheres que acumulam gordura preferencialmente nos quadris têm menos riscos do que aquelas que acumulam gordura na região abdominal.
5. Idade acima de 45 anos – Apesar de ser uma doença cada vez mais prevalente em jovens, o diabetes tipo 2 é mais comum em indivíduos acima de 45 anos. Provavelmente, a queda na massa muscular e o aumento da gordura corporal que ocorrem com o envelhecimento desempenham papel importante nestes pacientes.
6. Sedentarismo – Um estilo de vida sedentário reduz o gasto de calorias, promove ganho de peso e aumenta o risco de DM2. Dentre os comportamentos sedentários, assistir televisão por muito tempo é um dos mais comuns, estando comprovadamente associado com o desenvolvimento de obesidade e diabetes. A atividade física regular não só ajuda a controlar o peso, como também aumenta a sensibilidade dos tecidos à insulina, ajudando a controlar os níveis de glicose do sangue. Tanto a musculação quanto exercícios aeróbicos ajudam a prevenir o diabetes tipo 2.
7. Cigarro – Indivíduos que fumam apresentam 40% mais chances de desenvolver diabetes tipo 2 do que não fumantes. Quanto mais tempo o paciente fuma e quanto maior for o número de maços consumidos por dia, maior é o risco. A associação do fumo com o diabetes é tão forte que são precisos 5 anos sem fumar para que o risco de diabetes comece a cair. E somente após 20 anos sem fumar é que o paciente volta a ter o mesmo risco de pessoas que nunca fumaram (leia: Doenças do cigarro – Como parar de fumar).
8. Glicemia de jejum alterada – O diagnóstico do diabetes é feito quando o paciente apresenta glicemias (níveis de glicose no sangue) persistentemente acima de 126 mg/dl. Porém, os valores normais da glicemia são abaixo de 100 mg/dl. Os pacientes que ficam no meio do caminho, com valores entre 100 e 125 mg/dl, são considerados como portadores de glicemia de jejum alterada, que é um estágio de pré-diabetes. O risco de evolução para diabetes estabelecido é muito elevado neste grupo.
9. Dieta hipercalórica – A dieta ocidental, baseada no consumo excessivo de carne vermelha, carnes processadas, calorias, doces e refrigerantes, está associada a um maior risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2. Se for paciente tiver sobrepeso, o risco é ainda maior. O consumo regular de cereais, vegetais, soja e fibras reduz o risco do diabetes.
10. Hipertensão – Paciente hipertensos apresentam maior risco de terem diabetes. Não se sabe se a hipertensão tem algum papel no desenvolvimento da doença ou se ela, por possuir muitos fatores de risco em comum, apenas aparece junto com o diabetes, sem relação de casualidade. Alguns medicamentos usados no tratamento da hipertensão, como diuréticos e betabloqueadores interferem na ação da insulina, aumentando o risco de diabetes (leia: Hipertensão arterial -Sintomas e tratamento).
11. Colesterol elevado – Pacientes com níveis elevados de colesterol também estão sob maior risco de DM2. Níveis elevados de LDL (colesterol ruim) e triglicerídeos e/ou níveis baixos de HDL (colesterol bom) são os principais fatores (leia: Colesterol: o que são HDL, LDL, VLDL e triglicerídeos?).
12. Síndrome dos ovários policísticos (SOP) – Mulheres portadoras de SOP apresentam frequentemente resistência à insulina e, consequentemente, riscos de desenvolver diabetes tipo 2 (leia: Ovário policístico -Sintomas e tratamento).
13. Diabetes gestacional – O diabetes gestacional é um tipo de diabetes que surge durante a gravidez e habitualmente desaparece após o parto. Porém, mesmo com a normalização da glicose com o término da gravidez, estas pacientes passam a apresentar elevado risco de desenvolverem diabetes tipo 2 nos 10 anos seguintes à gravidez.
14. Uso de corticoides – Os corticoides são uma classe de medicamentos muito usados na prática médica, principalmente contra doenças de origem imunológica e/ou alérgica. Um dos efeitos colaterais comuns do uso prolongado de corticoides é o desenvolvimento de diabetes.
Comer doces em excesso provoca diabetes?
Essa é uma dúvida muito comum na população. A resposta simples é: não, comer doces em excesso não causa diabetes. Porém, é bom destacar que uma má alimentação, com excesso de carboidratos e gorduras, é um dos fatores que levam à obesidade ou ao sobrepeso, estes sim, fatores de risco para o diabetes.
Vídeo
Assista também a esse curto vídeo sobre os sintomas do diabetes:
Conclusão
Como se pôde notar, já foram identificados inúmeros fatores de risco para o diabetes tipo 2. Neste artigo listamos apenas os mais comuns e comprovados. Existem ainda estudos que mostram relação do diabetes com dezenas de outros fatores, como níveis elevados de ácido úrico, esquizofrenia, depressão, nunca ter amamentado, ciclo menstrual irregular, exposição à bisfenol A, uso de esteroides anabolizantes, etc.
Ninguém pode mudar a sua etnia, idade ou histórico familiar, por isso, o paciente deve sempre ter em mente quais são os fatores de risco modificáveis. Se você tem história familiar de diabetes, procure se manter ativo, dentro do peso, não fume e adote uma dieta saudável. Não é porque seu pai ou sua mãe tiveram DM2 que você necessariamente terá. A prevenção pode estar ao seu alcance.
Referências
- Classification of diabetes mellitus and genetic diabetic syndromes – UpToDate.
- What is Diabetes? – The National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases
- What is Diabetes? – Centers for Disease Control and Prevention.
- Diabetes symptoms – American Diabetes Association.
- Kasper DL, et al., eds. Diabetes mellitus: Diagnosis, classification and pathophysiology. In: Harrison’s Principles of Internal Medicine. 19th ed. New York, N.Y.: McGraw-Hill Education; 2015.
- Papadakis MA, et al., eds. Diabetes mellitus and hypoglycemia. In: Current Medical Diagnosis & Treatment 2018. 57th ed. New York, N.Y.: McGraw-Hill Education; 2018.
- Ferri FF. Diabetes mellitus. In: Ferri’s Clinical Advisor 2018. Philadelphia, Pa.: Elsevier; 2018.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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