Síndrome Metabólica: o que é, critérios e tratamento

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O que é a síndrome metabólica?

A síndrome metabólica, também conhecida como síndrome X ou síndrome da resistência à insulina, não é propriamente uma doença, mas sim um grupo de condições clínicas que, quando presentes em conjunto, aumentam o risco de doenças cardíacas, AVC, diabetes mellitus tipo 2 e várias outras doenças.

A síndrome metabólica é frequentemente descrita como um estado pró-inflamatório e pró-trombótico, refletindo um ambiente no corpo que favorece tanto a inflamação quanto a formação de coágulos. Isso é importante porque ambos, inflamação e coagulação, estão associados a um risco aumentado de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

O que é resistência à insulina?

A resistência à insulina é uma condição na qual as células do corpo não respondem adequadamente à insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas que é essencial para o metabolismo da glicose.

Quando a insulina é liberada na corrente sanguínea após uma refeição, ela ajuda a transportar a glicose para as células, onde pode ser usada como energia ou armazenada como gordura. Em pessoas com resistência à insulina, as células musculares, de gordura e hepáticas não absorvem a glicose de maneira eficaz, levando a um aumento dos níveis de glicose no sangue.

A resistência à insulina geralmente precede e contribui para o desenvolvimento dos componentes da síndrome metabólica. Ela pode levar a altos níveis de glicose no sangue e hiperinsulinemia (altos níveis de insulina no sangue), que podem, por sua vez, promover o ganho de peso, especialmente na forma de gordura visceral (abdominal).

Esta distribuição de gordura com predomínio no abdômen está associada a um maior risco de complicações cardiovasculares e metabólicas. Além disso, a resistência à insulina pode causar alterações nos níveis de lipídios no sangue, como aumento dos triglicerídeos e diminuição do HDL (colesterol “bom”), e pode contribuir para o desenvolvimento da hipertensão. Estes são todos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, conforme veremos a seguir.

Fatores de risco para o desenvolvimento da resistência à insulina incluem genética, estilo de vida sedentário, dieta ricas em gorduras e açúcares e obesidade, especialmente a obesidade abdominal.

Critérios da síndrome metabólica

Existem várias definições para a síndrome metabólica, sendo os critérios da National Cholesterol Education Program (NCEP) Adult Treatment Panel III (ATP III) os mais amplamente utilizados atualmente.

Segundo os critérios da ATPIII, considera-se que um paciente tem síndrome metabólica se ele tiver pelo menos 3 das 5 alterações listadas abaixo:

  • Obesidade abdominal ou central, definida como uma circunferência abdominal maior que 102 cm nos homens ou maior que 88 cm nas mulheres. Embora a obesidade abdominal seja fundamental para a fisiopatologia da síndrome metabólica, ela não é um pré-requisito obrigatório para o diagnóstico; a presença de quaisquer três dos cinco critérios listados constitui um diagnóstico de síndrome metabólica.
  • Taxa de triglicerídeos no sangue acima de 150 mg/dL, ou necessidade de usar medicamentos para manter a taxa abaixo desse valor (leia: O que são os triglicerídeos).
  • Colesterol HDL menor que 40 mg/dL nos homens ou menor que 50 mg/dL nas mulheres, ou necessidade de tomar medicamentos para manter as taxas acima desses valores (leia: Colesterol alto: o que são HDL, LDL, VLDL, ApoB e Lp(a)?).
  • Pressão arterial maior ou igual a 130/85 mmHg, ou necessidade de tomar medicamentos para manter a pressão controlada (leia: Qual é a pressão arterial normal?).
  • Glicemia de jejum maior ou igual a 100 mg/dL, ou necessidade de tomar medicamentos para manter os valores abaixo desse limite (leia: Pré-diabetes – Diagnóstico, Riscos e Tratamento). Alguns grupos aceitam a hemoglobina glicada acima de 5,7% como critério em vez da glicemia em jejum.

Portanto, dizemos que um paciente tem síndrome metabólica quando ele tem um acúmulo de determinadas alterações que são reconhecidamente fatores de risco para doenças de origem cardiovascular.

O diagnóstico da síndrome metabólica é relevante porque a presença de cada uma dessas alterações potencializa os danos das outras. Por exemplo, ter pressão alta é um conhecido fator de risco para doenças cardiovasculares. Porém, quando um paciente tem pressão alta, obesidade e glicemia acima de 100 mg/dL, os malefícios das três alterações são potencializados e o risco de doença cardiovascular eleva-se mais do que o esperado pela simples soma do risco individual de cada uma das três condições.

O mecanismo pelo qual a síndrome metabólica aumenta o risco de doenças coronarianas, diabetes ou AVC parece estar ligado a um aumento da resistência à insulina e a uma ação pró-inflamatória das células adiposas (células de gordura).

Falaremos das doenças provocadas pela síndrome metabólica mais adiante.

Fatores de risco

A síndrome metabólica é mais comum nos pacientes que apresentam as seguintes características:

  • Idade acima de 40 anos.
  • Menopausa (nas mulheres, obviamente).
  • Maus hábitos alimentares (dieta rica em carboidratos e gorduras saturadas).
  • Tabagismo.
  • Sobrepeso (IMC acima de 25 kg/m2) – leia: Calcule seu peso ideal e IMC.
  • Sedentarismo.
  • História familiar de diabetes mellitus.
  • Baixa condição econômica (pessoas mais pobres tendem a comer alimentos de pior qualidade nutricional por serem mais baratos).

O aumento do peso corporal é o fator de risco mais importante para a síndrome metabólica. No estudo estadunidense Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III), a síndrome metabólica estava presente em 5% das pessoas com peso normal, em 22% das pessoas com sobrepeso e em 60% das pessoas com obesidade.

Um estudo realizado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em 2020, estimou que a prevalência de síndrome metabólica na população brasileira era de 38,4%, ou quase quatro a cada dez pessoas no país. Esses valores são semelhantes à prevalência da síndrome metabólica nos EUA.

Implicações clínicas

Pacientes que preenchem critérios para síndrome metabólica apresentam um elevado risco de desenvolverem várias doenças potencialmente graves. As duas mais importantes são o diabetes mellitus tipo 2 e a doença coronariana.

Na síndrome metabólica o risco de desenvolvimento do diabetes é de 3 a 5 vezes maior que na população em geral e o de infarto é duas vezes maior.

Mas os riscos não se limitam a essas duas doenças. Estudos mostram que os pacientes com critérios para síndrome metabólica apresentam também maior risco de desenvolverem os seguintes problemas:

Tratamento

O tratamento inicial da síndrome metabólica envolve modificações no estilo de vida, incluindo alterações na dieta e nos hábitos de exercício. Medicamentos podem ser utilizados quando a dieta e os exercícios não forem suficientes.

As metas terapêuticas para indivíduos com síndrome metabólica são:

  • Tratar as causas subjacentes, reduzindo o peso e aumentando a atividade física.
  • Tratar os fatores de risco cardiovascular se eles persistirem apesar da modificação do estilo de vida.

Dieta

Pacientes com síndrome metabólica devem evitar alimentos ricos em carboidratos (refrigerantes, doces, chocolate ou qualquer alimento rico em açúcar) e gorduras saturadas (frituras, fast food e carnes gordas). Bebidas alcoólicas também devem ser consumidas com pouca frequência.

Por outro lado, frutas, legumes e verduras, carnes magras e alimentos ricos em fibras devem ter prioridade na dieta.

Exercícios físicos

A recomendação de exercício mínimo é de 30 minutos diários ou 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada, como caminhada rápida. Com o tempo, conforme o paciente vá ganhando condicionamento físico, o nível de atividade física deve aumentar.

O objetivo da dieta e da atividade física é aumentar a capacidade cardiovascular, reduzir o percentual de gordura e aumentar massa muscular, fatores que ajudam a tratar a resistência à insulina, o excesso de colesterol e a hipertensão.

A melhor opção é associar exercícios com pesos, tipo musculação, a exercícios aeróbicos, como andar, correr ou andar de bicicleta, por exemplo.

Medicamentos

Entre os medicamentos que podem ser utilizados no tratamento da síndrome metabólica estão as estatinas para controle do colesterol, anti-hipertensivos e antidiabéticos, como a metformina.

Recentemente, novos fármacos para auxiliar na perda de peso entraram no mercado, sendo os peptídeos semelhantes ao glucagon-1 (GLP-1), como a semaglutida, e os inibidores da dipeptidil peptidase-4 (DPP-4), como a Tirzepatida, duas opções de tratamento que reduzem a resistência à insulina, provocam redução no peso corporal e reduzem a incidência de doenças cardiovasculares.

Síndrome metabólica em crianças e adolescentes

A síndrome metabólica tem se tornado cada vez mais comum na população pediátrica, apesar de não haver ainda consenso sobre quais são os critérios diagnósticos mais adequados para essa população.

Em geral, os pediatras utilizam os critérios da ATPIII, mudando apenas a medida da circunferência da cintura, com pontos de corte específicos que variam conforme a idade, sexo e referências de percentil específicas para cada população.

A prevenção e o tratamento da síndrome metabólica em crianças e adolescentes focam principalmente em mudanças no estilo de vida:

  • Dieta equilibrada: incentivar uma alimentação rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras, e pobre em açúcares adicionados, gorduras saturadas e calorias vazias.
  • Atividade física regular: pelo menos 60 minutos de atividade moderada a vigorosa diariamente é recomendada para jovens.
  • Redução do tempo de tela: limitar o tempo gasto em dispositivos eletrônicos pode ajudar a aumentar a atividade física e diminuir a exposição a comportamentos sedentários.

Em casos no quais as mudanças de estilo de vida sozinhas não são suficientes para controlar os fatores de risco, pode ser necessário considerar intervenções médicas, incluindo aconselhamento nutricional profissional e, em situações extremas, medicação sob estrita supervisão médica.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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