Aneurisma da aorta abdominal: o que é, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Aneurisma aorta

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O que é um aneurisma?

Aneurisma é uma dilatação anormal e localizada que habitualmente surge devido a uma fragilidade na parede de um vaso sanguíneo. Para um aneurisma surgir, o vaso sanguíneo precisa estar enfraquecido, seja por uma condição hereditária ou por uma doença adquirida ao longo da vida.

Os aneurismas surgem com mais frequência nas artérias, pois esses vasos lidam com pressões sanguíneas muito mais elevadas que as veias. As artérias precisam ter paredes fortes e elásticas para não cederem, mesmo quando há um grande aumento da pressão arterial. Se um segmento de uma artéria por algum motivo torna-se mais fraco, a pressão do sangue irá lentamente causar uma dilatação nesta região.

Com o passar dos anos, a dilatação vai ficando cada vez maior e a parede da artéria cada vez mais fraca, até o ponto em que a pressão interna vence a resistência da parede e a artéria rompe-se, provocando hemorragia interna.

Como as artérias transportam grandes volumes de sangue sob elevada pressão, o rompimento de um desses vasos costuma causar intensa hemorragia e elevado risco de morte. Quanto maior for o diâmetro de um aneurisma, maior será o risco do mesmo se romper. A existência de um aneurisma, portanto, é um quadro grave e potencialmente fatal.

Neste artigo falaremos exclusivamente dos aneurismas que surgem na aorta abdominal, se você procura mais informações sobre aneurismas, acesse os seguintes textos:

O que é a artéria aorta?

A artéria aorta é a maior e mais calibrosa artéria do nosso corpo. A aorta nasce na saída do ventrículo esquerdo, o que significa dizer que ela é o primeiro vaso sanguíneo a receber o sangue bombeado pelo coração. Todo o sangue do organismo obrigatoriamente passa pela artéria aorta antes de ser distribuído para o resto do corpo.

Logo após sair do coração, a aorta faz uma grande curva, chamada de arco aórtico, e libera seus primeiros ramos, que irão levar sangue para os membros superiores e para a cabeça. A aorta segue, então, em direção à parte inferior do corpo, atravessando todo o tórax e abdômen.

Artéria aorta
Aorta

Conforme a aorta vai descendo, seu diâmetro torna-se progressivamente menor. Ela nasce na saída do ventrículo esquerdo com cerca de 3,5 cm de diâmetro, diminui para 2,5 cm após o fim do arco aórtico e apresenta cerca de 1,5 cm no segmento já abaixo dos rins.

Conforme a aorta vai descendo, dezenas de ramos vão sendo lançados, de modo a nutrir tecidos e órgãos ao longo do corpo, incluindo intestinos, estômago, baço, fígado, rins, etc. Na parte mais baixa do abdômen, a artéria aórtica bifurca-se, transformando-se nas artérias ilíacas, responsáveis pela irrigação dos membros inferiores e da pelve.

Tecnicamente, a aorta abdominal inicia-se logo após a passagem da artéria pelo diafragma, estrutura que separa fisicamente o tórax do abdômen.

Aneurisma da aorta abdominal

Aneurismas que surgem na porção torácica da aorta são chamados de aneurisma da aorta torácica, enquanto os aneurismas que surgem na porção abdominal são chamados de aneurismas da aorta abdominal.

Um aneurisma aórtico é definido como uma dilatação segmentar da aorta que é 50% maior que o diâmetro normal. Na maioria dos adultos, a aorta abdominal apresenta um diâmetro de aproximadamente 2,0 cm. Sendo assim, consideramos a existência de um aneurisma sempre que algum segmento dessa artéria apresente uma dilação maior que 3,0 cm.

Aneurisma da aorta
Aneurisma da aorta

Risco de rompimento de um aneurisma da aorta abdominal

É importe realçar que nem todo aneurisma da aorta abdominal encontra-se sob risco de rompimento a curto prazo. Dois fatores devem ser sempre observados quando se avalia o risco de rotura de um aneurisma: tamanho e velocidade de crescimento.

Estudos mostram que aneurismas com diâmetro menor que 4 cm não apresentam risco de rotura e aqueles com até 5,5 cm apresentam risco muito baixo. As chances de um aneurisma de aorta abdominal se romper no intervalo de um ano são as seguintes:

  • 0% para aneurismas menores que 4,0 cm de diâmetro.
  • 0,5 a 5% para aneurismas entre 4,0-4,9 cm de diâmetro.
  • 3 a 15% para aneurismas entre 5,0-5,9 cm de diâmetro.
  • 10 a 20% para aneurismas entre 6,0-6,9 cm de diâmetro.
  • 20 a 40% para aneurismas entre 7,0-7,9 cm de diâmetro.
  • 30 a 50% para aneurismas a partir de 8,0 cm de diâmetro.

Em relação à velocidade de expansão, sabemos que aqueles que crescem cerca de 0,5 cm em seis meses também apresentam elevado risco de rompimento.

Fatores de risco

A maioria dos aneurismas da aorta surge na aorta abdominal. Destes, mais de 90% se localizam abaixo no nível das artérias renais.

O principal fator de risco para um aneurisma de aorta é a idade do paciente, pois essas lesões são incomuns em pessoas com menos de 50 anos. Sua incidência começa a subir a partir dos 60 anos, atingido pico nos indivíduos entre 75 e 80 anos de idade. Cerca de 10% da população acima dos 60 anos possui um aneurisma da aorta abdominal. Felizmente, a maioria são pequenos e com baixo risco de rotura.

Além da idade, há outros fatores que aumentam o risco de uma pessoa desenvolver um aneurisma da aorta abdominal. São eles:

  • Cigarro: fumar aumenta significativamente o risco. Mais de 75% dos aneurismas de grande porte ocorrem em fumantes. O risco está diretamente relacionado à quantidade e ao tempo de tabagismo.
  • Sexo: homens apresentam de quatro a seis vezes mais riscos de desenvolverem aneurismas da aorta que as mulheres.
  • Etnia: caucasianos (brancos) são o grupo com o risco mais elevado.
  • História familiar: há uma clara associação genética no risco de desenvolver um aneurisma da aorta. Quem tem um familiar próximo com história de aneurisma da aorta abdominal apresenta maior risco de também tê-lo.
  • Obesidade: pacientes obesos apresentam maior risco.
  • Aneurismas em outras artérias: pacientes que possuem aneurismas em outras artérias do corpo, principalmente nos membros inferiores, apresentam elevado risco de também.

Algumas doenças também estão mais relacionadas, entre elas podemos citar:

Sintomas

A maioria dos aneurismas da aorta abdominal são pequenos e não causam nenhum sintoma. Na verdade, a maioria das pessoas que possui um aneurisma não sabe que o tem. Muitos aneurismas da aorta são descobertos por acidente durante a realização de uma ultrassonografia ou tomografia computadorizada do abdômen solicitada por algum outro motivo médico.

Conforme o aneurisma cresce, alguns sinais e sintomas podem começar a ser perceptíveis. Cerca de 30% dos aneurismas são descobertos após a detecção de uma pequena massa pulsante perto do umbigo. Alguns aneurismas podem causar dor no abdômen ou nas costas, e acabam por serem diagnosticados durante a investigação desta dor.

Infelizmente, a maioria dos aneurismas cresce sem causar sintomas, e o paciente pode só descobrir a lesão na aorta quando esta se rompe. O rompimento de um aneurisma abdominal costuma provocar intensa dor abdominal e evoluir rapidamente para choque circulatório devido à grande perda sanguínea. Cerca de 65% dos pacientes falecem antes mesmo de conseguirem chegar ao hospital. Em alguns casos, porém, o sangramento de um aneurisma roto pode ser temporariamente contido por algumas estruturas intra-abdominais, dando tempo do paciente receber atendimento médico.

Tratamento

A correção de um aneurisma da aorta abdominal é feita através de cirurgia. Uma vez que a rotura tenha ocorrido, a taxa de sucesso é muito menor do que se a cirurgia tivesse sido realizada eletivamente, antes do rompimento. O objetivo deve ser sempre corrigir o aneurisma antes da sua rotura.

Todos os aneurismas da aorta abdominal precisam ser operados?

Não. A reparação cirúrgica de um aneurisma é uma complexa cirurgia e traz riscos. A cirurgia está indicada nos casos em que o risco de rotura a curto prazo é maior que os risco da cirurgia em si. Sendo assim, a cirurgia geralmente não é aconselhável se você tiver um aneurisma menor que 4,0 cm de diâmetro. Nestes casos, o paciente deve apenas realizar ultrassonografias abdominais regularmente (a cada 6 meses) para confirmar que o aneurisma encontra-se estável, sem crescimento e sem risco de rotura a curto prazo.

Pacientes com um aneurisma entre 4,0 e 5,5 cm devem discutir suas opções com seu médico. A melhor solução irá depender do risco cirúrgico do paciente e do risco de rotura a curto prazo do aneurisma. Nestes casos, as características que influenciam na decisão incluem:

  • O tamanho e a velocidade de crescimento do aneurisma.
  • Presença de dor abdominal.
  • A existência de outros aneurismas.
  • Risco cirúrgico. O paciente com múltiplas doenças, cujo risco cirúrgico é elevado, deve preferencialmente evitar a cirurgia.

Cirurgia

Nos pacientes em que a cirurgia está indicada, existem duas opções.

A cirurgia tradicional consiste na remoção de todo o segmento aneurismático e substituição por um enxerto (prótese). Apesar dessa operação ser de grande porte, ela costuma ser bem sucedida na maioria dos casos. O enxerto geralmente funciona bem para o resto da vida do paciente.

A cirurgia tradicional leva de 4 a 6 horas e é feita sob anestesia geral. Após a cirurgia, o paciente é levado para a unidade de terapia intensiva. Os pacientes geralmente são capazes de ter alta hospitalar depois de quatro a sete dias, e podem retomar suas atividades normais em cerca de quatro a seis semanas.

Um procedimento cirúrgico mais recente e menos invasivo, chamado reparação endovascular tem apresentado sucesso na reparação dos aneurismas da aorta. Nessa técnica, um enxerto (stent) é levado até o local do aneurisma através da cateterização de uma artéria dos membros inferiores, geralmente a artéria femural. A técnica é semelhante à implantação de stents no cateterismo cardíaco.

A técnica endovascular é mais segura, pois não é propriamente uma cirurgia. O procedimento costuma durar de 1 a 3 horas, e os pacientes habitualmente deixam o hospital dentro de 1 ou 2 dias. As atividades normais podem ser retomadas de 2 a 6 semanas.

Mas nem tudo é perfeito. Há menos experiência, menos dados sobre resultados a longo prazo e a taxa de sucesso da técnica endovascular não é tão alta quando a da cirurgia aberta. Além disso, com o tempo, o stent pode sair do lugar, obrigando a realização de um novo procedimento.

Atualmente, a reparação endovascular com stent tem sido mais indicada em pacientes idosos, com múltiplas condições médicas que aumentam o risco da cirurgia convencional.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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