Calvície (queda de cabelo): causas e tratamento

Muitas pessoas acham que a calvície é um problema exclusivo dos homens, mas, na verdade, a perda definitiva de cabelos acomete mulheres na mesma proporção. A diferença é que, como no sexo feminino a calvície costuma ser menos intensa e, portanto, mais discreta, ela é mais facilmente camuflável.
Dr. Pedro Pinheiro

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Calvície

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Introdução

A queda de cabelo, conhecida como calvície (ou calvíce), recebe em medicina o nome de alopécia androgênica (ou alopecia androgenética). Alopécia significa queda de cabelo, e androgênica se refere a influência dos hormônios masculinos no processo.

Muitas pessoas acham que a calvície é um problema exclusivo dos homens, mas, na verdade, a perda definitiva de cabelos acomete mulheres na mesma proporção. A diferença é que, como no sexo feminino a calvície costuma ser menos intensa e, portanto, mais discreta, ela é mais facilmente camuflável.

Neste artigo abordaremos as causas da calvície nos homens e os tratamentos disponíveis.

Ciclo de vida do cabelo

Os pelos e os cabelos são estruturas cilíndricas compostas por proteínas, principalmente queratina, que crescem através da pele pelos folículos pilosos situados nas regiões mais profundas da derme. Todo o corpo, exceto as palmas das mãos e plantas dos pés, possuem folículos pilosos e pelos. Em alguns locais, por serem muito claros e finos, o pelos podem passar despercebidos, mas estão lá.

Os pelos apresentam características e velocidade de crescimento diferentes em cada local do corpo, o que é facilmente perceptível quando comparamos cílios, cabelos, pelos pubianos e a barba, por exemplo. O couro cabeludo possui, em média, 100.000 fios de cabelo, com um crescimento médio de 1 a 2 cm por mês.

Todos os dias perdemos aproximadamente 75 a 100 fios. Dependendo da época do ano, da fase da vida e de fatores ambientais, esta perda pode ser ainda maior. O ciclo de vida do cabelo é dividido em 3 fases:

  • Anágena ou fase de crescimento dos cabelos. Dura em média de 2 a 3 anos, podendo chegar até a 7 anos.
  • Catágena ou fase de involução. Dura apenas algumas semanas, em média duas ou três. Nesta fase o cabelo para de crescer e o folículo começa a regredir.
  • Telógena ou fase de desprendimento. Dura 3 a 4 meses. O cabelo se solta da papila e uma nova fase de crescimento começa.
Ciclo do cabelo
Ciclo de crescimento do cabelo

Conforme o novo cabelo vai crescendo, o antigo cabelo “morto” é empurrado para fora do folículo piloso e cai. Esse processo de crescimento e morte ocorre em todo o corpo com velocidades diferentes para cada tipo de pelo. Pelos que demoram muito tempo para crescer acabam caindo antes de ficarem grandes. Este ciclo explica o motivo de alguns pelos nunca ultrapassarem certos tamanhos e por que o cabelo da cabeça raramente ultrapassa a linha da cintura, mesmo que ele nunca seja cortado.

Dos 100.000 cabelos presentes no seu couro cabeludo, neste momento, aproximadamente 85% estão na fase de crescimento, 5% na fase de involução e 10% na fase de queda.

O que causa a calvície?

A calvície ou alopécia androgênica é causada por um encurtamento da fase de crescimento (anágena), por um afinamento progressivo do fio de cabelo e pela redução do tamanho dos folículos, fazendo com que a raiz fique cada vez mais próxima da superfície da pele.

Essa miniaturização do folículo é um processo hereditário e mediado por hormônios masculinos. Para ser mais exato, o problema ocorre naqueles pacientes que produzem excessivamente uma enzima chamada 5 alfa-redutase, que transforma o hormônio masculino testosterona no seu derivado dihidrotestosterona. Fatores genéticos determinam essa produção excessiva.

A dihidrotestosterona se liga a receptores existentes em alguns folículos pilosos provocando a redução do seu tamanho. Portanto, a calvície ocorre naqueles indivíduos com altos níveis de dihidrotestosterona e numerosos folículos com receptores para este hormônio. As diferentes distribuições dos receptores de dihidrotestosterona entre indivíduos explica porque temos diferentes tipos de calvície. A figura abaixo ilustra os padrões mais comuns de queda de cabelo no sexo masculino.

Calvície masculina
Padrões de calvície masculina

Nas mulheres, a alopécia androgênica é mais difusa pelo couro cabeludo, porém, é menos intensa. Em geral, o que ocorre é um afinamento intenso dos fios de cabelo, que ocorre principalmente no centro e no ápice da cabeça. Calvície completa, como nos homens, é rara em mulheres.

calvície feminina
Padrões de calvície feminina

Tratamento

O tratamento da calvície masculina é baseado no uso de duas drogas:

  • Minoxidil em solução tópica (aprovado para homens e mulheres).
  • Finasterida por via oral (aprovado apenas para homens).

Minoxidil

A solução de minoxidil para aplicação direta no couro cabeludo melhora a queda de cabelo por aumentar o tempo da fase anágena e estimular o crescimento dos folículos miniaturizados. Os resultados demoram pelo menos 2 a 4 meses, sendo mais pronunciados no ápice do couro cabeludo e menores na região frontal. O tratamento é para vida inteira. Com a interrupção, a perda de cabelo retorna.

Explicamos o tratamento com minoxidil tópico no artigo: Minoxidil tópico: tratamento para queda de cabelo.

Finasterida

A finasterida é um medicamento originalmente usado na hipertrofia prostática, mas que, com o tempo, notou-se que apresentava como efeito colateral uma redução na queda de cabelo dos pacientes.

A finasterida é um bloqueador da enzima 5 alfa-redutase, o que, como explicado anteriormente, impede a transformação da testosterona em dihidrotestosterona (DHT), responsável pelos efeitos negativos nos folículos pilosos.

Em geral, preconiza-se o uso de comprimidos de 1 mg por dia, por pelo menos, 1 ano. Com o uso da Finasterida ocorre aumento do número de fios de cabelo, que também se tornam mais grossos e fortes. Se a droga for suspensa, porém, dentro de 6 a 9 meses o paciente perde todo o cabelo novo que havia crescido.

A finasterida em mulheres ainda não se mostrou eficaz e comprovadamente causa má formações fetais. Portanto, não é uma droga indicada para a calvície feminina.

Não existem evidências que tratamentos à base de laser ou outros tipos de luzes, muito divulgados na mídia, sejam realmente eficazes para impedir a queda de cabelo. Resista à tentação de experimentar tônicos capilares milagrosos. Além de não funcionarem, podem acelerar o processo de queda do cabelo.

Se você tem queda de cabelo, procure um dermatologista para que ele possa decidir a melhor estratégia terapêutica para o seu caso. Não se automedique. Lembre-se que tanto a finasterida quanto o minoxidil apresentam efeitos colaterais e contraindicações. Além disso, existem várias outras causas para perda de cabelo além da alopécia androgênica, que não devem ser tratadas com nenhuma dessas duas drogas.

Transplante de cabelo

Melhora permanente da alopecia androgênica pode ser alcançada através do transplante capilar com unidades foliculares, que atualmente é a base do tratamento cirúrgico da calvície. Os candidatos ideais para o transplante de cabelo são os pacientes com alopecia androgenética estável e controlada por medicação, que desejam melhorias permanentes e têm um reservatório de cabelo adequado para o transplante.

Nessa forma de tratamento, o cirurgião remove os folículos pilosos do couro cabeludo occipital (parte posterior do couro cabeludo onde ainda há pelos) e os transplanta para áreas afetadas pela calvície. O cabelo transplantado manterá as características do local doador do couro cabeludo occipital, que é relativamente resistente à alopecia androgênica. Os cabelos transplantados, portanto, tendem a continuar a ser cabelos de grande calibre.

A grande desvantagem dos transplantes capilares é o fato deles serem caros e dolorosos.

Outros tipos de queda de cabelo

Existem várias outras causas para queda de cabelo. Ao contrário da calvície, elas costumam causar perdas localizadas e irregulares. Porém, em casos difusos podem se assemelhar à alopécia androgênica. Vamos citar as causas mais comuns:

a. Eflúvio anágeno: é a queda de cabelo que ocorre, por exemplo, na quimioterapia, radioterapia ou envenenamentos com mercúrio.

b. Eflúvio telógeno: ocorre como efeito colateral de várias drogas, deficiências de vitaminas, estresse psicológico ou doenças da tireoide ou gravidez (leia: Eflúvio telógeno gravídico).

c. Alopécia traumática: ocorre por trauma mecânico e/ou químico do cabelo. Pode surgir após algumas técnicas de alisamento de cabelo com repetidas tração do mesmo associado ao uso de produtos químicos. Algumas pessoas com crises nervosas podem arrancar o próprio cabelo e ter esse tipo de alopécia.

d. Alopécia areata: é uma doença autoimune na qual o corpo passa a equivocadamente produzir anticorpos contra os seus folículos pilosos. O couro cabeludo é o mais afetados, mas pode haver perda de pelos em qualquer parte do corpo.

e. Tinea capitis: infecção do couro cabeludo por fungos

f. Lúpus discoide: é uma forma de lúpus que acomete preferencialmente a pele.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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