Introdução
Durante muito tempo o tratamento para a impotência sexual se restringia a injeções no pênis, mecanismos que criam vácuos ou próteses implantadas através de cirurgias.
Desde o final da década de 1990, porém, há uma opção simples e cômoda para a disfunção erétil: os inibidores da fosfodiesterase Tipo 5 (PDE5), conhecidas comercialmente pelas marcas Viagra, Cialis, Levitra e Spedra.
Neste artigo explicaremos como os medicamentos contra a disfunção erétil funcionam. Falaremos também sobre as suas indicações, contraindicações e os efeitos colaterais mais comuns.
Se você procura informações sobre as causas da impotência sexual, acesse o seguinte link: Impotência sexual – Causas e Tratamento.
Falamos mais especificamente da impotência provocada por fármacos no artigo: 86 Medicamentos que podem causar disfunção erétil.
Como ocorre a ereção?
Para entender como funcionam os inibidores da PDE5, é preciso primeiro entender como ocorre a ereção normal do pênis.
Existem duas estruturas cilíndricas amplamente vascularizadas dentro do pênis, chamadas de corpo cavernoso.
Quando ocorre um estímulo sexual, o fluxo sanguíneo para essas estruturas se eleva, o que provoca enchimento do corpo cavernoso, ereção e aumento do tamanho do pênis.
O enchimento do copro cavernoso provoca compressão das veias penianas, fazendo com que o sangue fique represado no pênis, o que o mantém ereto enquanto houver estímulo sexual.
Quando o homem tem um orgasmo ou quando o estímulo para a ereção acaba, o corpo cavernoso se esvazia e o pênis volta a ficar flácido.
Para que o corpo cavernoso se encha de sangue é preciso um sinal do sistema nervoso central, que libera uma substância chamada óxido nítrico.
O óxido nítrico é um neurotransmissor que relaxa os vasos sanguíneos do corpo cavernoso, facilitando a entrada de sangue no mesmo. Enquanto houver óxido nítrico no corpo cavernoso, o pênis se manterá cheio de sangue e ereto; quando os níveis de óxido nítrico caem, a ereção termina.
A ereção, entretanto, é um processo mais complexo do que este explicado acima. Fatores hormonais e psicológicos interferem nesse mecanismo.
Por exemplo, homens com baixos níveis de testosterona não conseguem produzir quantidades suficientes de óxido nítrico. O mesmo pode ocorrer durante períodos de estresse ou ansiedade.
Já um paciente com diabetes e vasos sanguíneos doentes pode não conseguir fornecer sangue suficiente para o pênis se encher, mesmo que haja óxido nítrico suficiente.
Portanto, a ereção depende de fatores vasculares, neurológicos, hormonais e psicológicos.
Antes de seguir em frente, assista a um curto vídeo sobre disfunção erétil de origem psicológica.
Como funcionam os inibidores da fosfodiesterase 5?
Em suma, podemos dizer que a substância responsável pela eliminação da ação óxido nítrico chama-se fosfodiesterase Tipo 5 (PDE5).
Sendo assim, quando administramos fármacos que inibem a ação da PDE5, conseguimos aumentar o tempo de ação do óxido nítrico, garantindo assim uma maior facilidade no aporte de sangue para o corpo cavernoso e uma ereção mais fácil e duradoura.
Existem atualmente 4 medicamentos diferentes que agem na inibição da PDE-5:
- Sildenafila (Viagra®).
- Vardenafila (Levitra®).
- Tadalafila (Cialis®).
- Avanafil (Spedra® ou Stendra®).
Sildenafila (Viagra®)
A sildenafila (ou sildenafil), comercializado sob o nome Viagra® desde 1998, foi a primeira droga da classe dos inibidores da PDE5 a ser lançada no mercado. É atualmente o fármaco por via oral para impotência sexual mais testado e estudado.
Posologia
O Viagra é vendido em comprimidos de 25 mg, 50 mg ou 100 mg, com posologia que varia entre 25 mg a 100 mg por dia, dependendo da avaliação médica.
O comprimido deve ser tomado idealmente de estômago vazio (pelo menos 2 horas depois da última refeição) e 1 hora antes da relação sexual. A Sildenafila não é um medicamento para ser usado todo dia; o intervalo mínimo entre uma dose e outra deve ser de pelo menos 24 horas.
A ação do Viagra inicia-se com 30 minutos e dura por até 4 horas, mas isso não significa que o paciente apresentará ereção durante todo esse tempo.
A Sildenafila é apenas um facilitador da ereção, pois ele aumenta o tempo de existência do óxido nítrico já produzido, não influenciando diretamente na sua produção. Se não houver estímulo sexual, não haverá estímulo para liberação do óxido nítrico e consequentemente ereção, exatamente como ocorre normalmente com todas as pessoas.
Contraindicações
O Viagra é uma droga bastante segura, com mais de 12 anos no mercado. Porém, como qualquer medicamento, existem contra-indicações e efeitos colaterais. A contra-indicação mais conhecida é em pacientes com doenças cardíacas em uso de nitratos.
A Sildenafila é um vasodilatador e apesar de agir preferencialmente nos vasos do pênis, há também um aumento do óxido nítrico sistêmico causando uma redução da pressão arterial.
Em pessoas saudáveis essa queda é pequena é costuma ser assintomática. Porém, o uso do Viagra com remédios para hipertensão deve ser feita com cuidado. Os nitratos (isordil, monocordil, monoket, etc.), usados para a doenças cardíacas, são vasodilatadores cuja ação é excessivamente potencializada pelo Sildenafil, podendo causar uma importante queda da pressão arterial, síncope e até angina (dor no peito por isquemia cardíaca).
Medicamentos usados para a hipertrofia da próstata, como doxazosina e terazosina, também têm efeitos vasodilatadores potencializados pelo Viagra e podem causar hipotensão. Dessa classe, a tansulosina parece ser a droga mais segura para ser tomada em conjunto com o Viagra.
Em pacientes com insuficiência cardíaca, o Viagra também não deve ser usado sem explícita autorização médica, pois pode causar descompensação do quadro.
Pacientes com histórico de AVC, principalmente nos últimos 6 meses, também devem ter cautela com o uso do Sildenafil.
Interações medicamentosas
Alguns medicamentos alteram o efeito do Viagra e a sua associação deve ser evitada. Os mais comuns são:
- Eritromicina.
- Cetoconazol.
- Cimetidina.
- Itraconazol.
- Rifampicina.
- Fenitoína.
- Indinavir.
- Ritonavir.
O Viagra não deve ser usado em conjunto com outros inibidores da PDE5. Não há potencialização da ereção com esta combinação e ainda existe elevado risco de toxicidade.
Os inibidores da PDE5 em doses muito elevadas (acima das indicadas) podem causar AVC e hipotensões graves.
Efeitos colaterais
O efeito colateral mais comum da sildenafila são a dor de cabeça e tonturas, causados pelos efeitos sistêmicos da vasodilatação. Azia também é um sintoma comum.
Outros efeitos mais raros incluem alterações visuais como visão azulada, borrada ou aumento de sensibilidade à luz. Alterações auditivas como perda da audição (em alguns casos definitiva) também podem ocorrer.
O priapismo, que é a ereção prolongada e dolorosa, é um evento muito raro, mas que pode ocorrer após o uso do Viagra. Todo paciente com ereção contínua por mais de 4 horas deve procurar um serviço de emergência, pois há risco de isquemia e trombose do pênis.
O priapismo é um efeito colateral mais comum quando o Viagra é usado de modo recreacional por pessoas jovens e associado a outras drogas como ecstasy, cocaína e anfetaminas.
Vardenafila (Levitra®)
O Levitra é uma droga lançada em 2003, comercializado em comprimidos de 2,5 mg, 5 mg, 10 mg e 20 mg.
Assim como o Viagra, deve ser tomado 1 hora antes da relação sexual, e, de preferência, longe da última refeição. A ação também dura aproximadamente 4 horas.
Os perfis de efeitos colaterais e contra-indicações do Levitra são semelhantes ao do Viagra.
Tadalafila (Cialis®)
O Cialis também foi lançado em 2003. É comercializado em comprimidos de 5 mg, 10 mg e 20 mg.
Apesar da eficácia ser semelhante a dos outros inibidores de PDE5, o Cialis tem um efeito mais prolongado, que dura por até 36 horas.
Em relação aos efeitos adversos, a Tadalafila não parece causar as raras alterações visuais do Viagra e do Levitra.
Falamos especificamente da tadalafila no artigo: Tadalafila (5 mg e 20 mg): para que serve e efeitos colaterais.
Avanafil (Spedra® ou Stendra®)
A Avanafil é o inibidor do PDE-5 mais novo no mercado. Sua grande diferença em relação aos outros fármacos da classe é o rápido início de ação, geralmente com 15 minutos, principalmente nas doses a partir de 100 mg.
Qual inibidor da PDE5 escolher?
Todos os inibidores da PDE5 têm eficácia e perfil de efeitos colaterais semelhantes.
Portanto, a escolha do melhor medicamento deve se basear nas preferências do paciente, incluindo custo, facilidade de uso e duração de ação desejada.
Para facilitar a escolha, alguns pontos precisam ser ressaltados:
- O sildenafil é o mais estudado e o que possui o mais longo registro de segurança entre os quatro medicamentos.
- Os nitratos são contra-indicados com todos os inibidores de PDE5.
- Sildenafila, Vardenafila e Tadalafila devem ser tomados 60 minutos antes da atividade sexual. O avanafil pode ser tomado de 15 a 30 minutos antes.
- A duração de ação da Sildenafila, Vardenafila e Avanafil é de quatro a cinco horas. Em contraste, a Tadalafila é eficaz por até 36 horas.
- Nos indivíduos com vida sexual muito ativa, a Tadalafila pode ser administrado diariamente em doses baixas (2,5 a 5 mg diariamente).
- O Sildenafil e a Vardenafila devem ser tomados com o estômago vazio. Os alimentos não interferem com a absorção de Tadalafila ou do Avanafil.
Se você tem disfunção erétil, converse sobre as opções de tratamento com um urologista.
Referências
- Treatment of male sexual dysfunction – UpToDate.
- Erectile Dysfunction: AUA Guideline (2018) – American Urological Association.
- Erectile Dysfunction, Premature Ejaculation, Penile Curvature and Priapism – European Association of Urology.
- Male Sexual Dysfunction – JAMA.
- Recent advances in the treatment of erectile dysfunction – British Medical Journal.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.