O que é hidradenite supurativa?
A hidradenite supurativa, também conhecida por hidrosadenite ou acne inversa, é uma doença inflamatória crônica da pele, caracterizada por nódulos subcutâneos inflamatórios, que, muitas vezes, são equivocadamente diagnosticados como furúnculos ou espinhas grandes.
A hidradenite é uma doença que até pouco tempo atrás pensava-se ter origem nas glândulas sudoríparas apócrinas, glândulas produtoras de um tipo de suor mais gorduroso, que drenam para um folículo capilar.
A teoria mais aceita atualmente diz que a doença surge devido a uma obstrução do folículo piloso, o que leva ao acúmulo de sebo e suor e, como consequência, à inflamação desta área. Muitas vezes, a pressão elevada dentro do folículo provoca a sua ruptura, favorecendo a contaminação por bactérias e a formação de pequenos túneis nas camadas mais profundas da pele.
Ao contrário do furúnculo, a hidradenite pode torna-se uma doença crônica, com duração de semanas a meses. A recorrência também é extremamente comum, fazendo com que o mesmo local da pele seja acometido pela hidradenite dezenas de vezes durante a vida.
A hidradenite supurativa é uma doença que acomete mais as mulheres que os homens e é mais comum em adolescentes e adultos jovens. Esta doença também é mais comum em pessoas obesas (ou com sobrepeso), fumantes e naqueles com história familiar de hidradenite.
Sintomas
A hidradenite é uma doença que acomete preferencialmente áreas intertriginosas, ou seja, regiões onde duas superfícies de pele entram em contato, podendo sofrer fricção, como as axilas, virilhas, região inferior das mamas ou dos glúteos, ao redor do ânus, saco escrotal ou na parte de dentro das coxas. Axila e virilha são os locais mais comumente afetados.
Na maioria das vezes, a primeira lesão que surge é um solitário nódulo inflamado e doloroso, medindo cerca de 0,5 a 2,0 cm de diâmetro. Com o tempo, outros nódulos satélites podem surgir ao redor. Lesões com pontos pretos, tipo cravos, são comuns ao redor das lesões da hidradenite.
Esses nódulos costumam ser muito dolorosos e podem durar vários dias ou meses. Nesta fase, a hidradenite costuma ser sub-diagnosticada, pois a maioria das pessoas a confunde com uma “espinha interna” ou “furúnculo sem a cabeça de pus”. Ao contrário do furúnculo, a hidradenite tem uma evolução mais insidiosa, crescendo mais lentamente.
Depois de um período variável de tempo, que pode ser de poucos dias até várias semanas, o nódulo doloroso progride para formar um abscesso, que pode drenar para a superfície da pele de forma espontânea ou como um resultado da manipulação da lesão por parte do paciente. Ao “estourar”, o nódulo da hidradenite drena um material purulento e/ou sanguinolento. A dor muitas vezes melhora após a drenagem.
Nem todos os nódulos precisam ser drenados para regredirem, alguns deles involuem de forma espontânea após alguns dias. Em geral, o nódulo some ou é drenado, mas retorna após algumas semanas ou meses no mesmo local. O paciente com hidradenite frequentemente reporta um histórico de várias lesões que vão e voltam ao longo dos anos, quase sempre nos mesmos locais da pele.
Quando as lesões são múltiplas, tornam-se repetitivas ou demoram muito para desaparecer, é possível a formação de túneis ou canais pela pele, que se comunicam entre si e com o exterior, drenando intermitentemente um material purulento e com odor forte.
Cicatrizes podem surgir após a resolução de lesões muito inflamadas. As lesões cicatriciais podem ser grandes, cumpridas e múltiplas. São frequentes na virilha e na axila. Cicatrizes graves na axila podem causar redução da mobilidade do braço ou obstrução linfática, levando ao linfedema (inchaço do braço por acúmulo de linfa).
A hidroadenite supurativa pode ter um impacto significativo na qualidade de vida do paciente. A descarga imprevisível de material purulento e o odor que o acompanha podem ser embaraçosos. Como resultado, os pacientes tendem a experimentar o isolamento social, depressão, fim de relacionamentos e até dificuldades profissionais.
Estágios
A hidradenite supurativa costuma ser classificada em três grupos de gravidade da doença:
- Estágio I: formação de abscesso único ou múltiplo, mas sem formação de canais, túneis ou cicatrizes.
- Estágio II: abscessos recorrentes, com formação de canais, túneis ou cicatrizes. Ainda é possível individualizar as lesões.
- Estágio III: envolvimento difuso da região da pele acometida, com múltiplas lesões, vários túneis interligados e cicatrizes extensas.
Cerca de 70% dos pacientes desenvolvem apenas o estágio I. Felizmente, apenas 5% dos pacientes chegam ao estágio III, que é esteticamente deformante.
Diferenças entre hidradenite e furúnculo
A hidradenite supurativa pode ser facilmente confundida com um furúnculo, principalmente no estágio I. No entanto, com o tempo, a distinção se torna mais fácil. Os furúnculos não são lesões que recorrem sempre no mesmo lugar, não têm preferência por áreas intertriginosas, não possuem os cravos ao seu redor, não criam túneis ou canais nem formam cicatrizes grandes e compridas.
Explicamos o furúnculo com detalhes no artigo: Furúnculos – Causas, Sintomas e Tratamento.
Tratamento
Não há cura definitiva para a hidradenite supurativa, mas o tratamento precoce com o dermatologista pode ajudar a controlar os sintomas, evitar novas lesões e impedir a formação de cicatrizes.
Algumas medidas não medicamentosas ajudam no tratamento da hidradenite. A principal delas é evitar o cigarro. Consumo excessivo de laticínios e alimentos ricos em açúcar também parecer ser prejudiciais para quem tem a doença. Nos pacientes com excesso de peso, emagrecer é essencial. A higiene diária do local afetado é necessária e sabonetes antibacterianos podem ser usados.
Estágio I
Nos pacientes com hidradenite no estágio I, antibióticos tópicos, como a solução de clindamicina a 1% para aplicação direta sobre as lesões, são normalmente indicados. Aplicação de corticoides através de punção por agulha das lesões é outra opção, pois ela ajuda a acelerar a resolução das mesmas.
Estágio II
Nos casos de hidradenite no estágio II, antibióticos por via oral, como a doxiciclina, devem ser usados por, pelo menos, 2 ou 3 meses.
Medicamentos que diminuem a ação dos androgênios (hormônios masculinos) são eficazes, principalmente nas mulheres. As opções são o acetado de ciproterona associado a estrogênio, pílulas anticoncepcionais que contenham etinilestradiol e norgestrel ou espironolactona.
Nos homens, a finasterida ou a dutasterida, dois medicamentos usados habitualmente na hiperplasia benigna da próstata, podem ser usados para o controle da hidradenite.
Nos pacientes com cicatrizes e canais, a cirurgia plástica para remoção dos mesmos pode ser indicada, caso seja o desejo do paciente.
Estágio III
Nos pacientes com hidradenite no estágio III, um fármaco chamado infliximabe é o tratamento de primeira linha. A isotretinoína (roacutan) muito usada na acne grave pode ajudar a melhorar a hidradenite, mas sua resposta é melhor nos casos menos graves.
Se a hidradenite não melhorar com nenhum tratamento clínico, uma cirurgia para remoção da pele cicatrizada e dos folículos doentes deve ser efetuada, sendo a pele retirada substituída por enxertos.
Referências
- North American clinical management guidelines for hidradenitis suppurativa: A publication from the United States and Canadian Hidradenitis Suppurativa Foundations Part I: Diagnosis, evaluation, and the use of complementary and procedural management – Journal of the American Academy of Dermatology.
- North American clinical management guidelines for hidradenitis suppurativa: A publication from the United States and Canadian Hidradenitis Suppurativa Foundations Part II: Topical, intralesional, and systemic medical management – Journal of the American Academy of Dermatology.
- European S1 guideline for the treatment of hidradenitis suppurativa/acne inversa – European Academy of Dermatology and Venereology.
- Hidradenitis suppurativa: Pathogenesis, clinical features, and diagnosis – UpToDate.
- Hidradenitis suppurativa: Treatment – UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.