Dermatite perioral: o que é, causas, sintomas e tratamento

Atualizado em
Comentários: 12

O que é a dermatite perioral?

A dermatite perioral, também conhecida como dermatite periorificial, é um distúrbio da pele que normalmente se apresenta com várias pápulas (lesão sólida da pele, elevada, com menos de 1 cm de diâmetro) pequenas e inflamatórias ao redor da boca, nariz ou olhos. Eventualmente, podem surgir também lesões genitais.

Embora o nome “dermatite perioral” sugira que a condição seja uma dermatite ou eczema, a dermatite perioral se assemelha mais a uma erupção tipo acne ou rosácea, podendo ou não ter as características associadas de uma dermatite eczematosa leve.

Explicamos as diferentes formas de dermatite (eczemas) com mais detalhes no artigo: 6 tipos de eczema: causas, sintomas e tratamento.

A dermatite periorificial e suas variantes acometem principalmente mulheres adultas de 15 a 45 anos. 90% dos casos ocorrem no sexo feminino. A doença pode afetar crianças de qualquer idade, sendo a média entre 6 e 7 anos. Também nas crianças, a incidência é maior nas meninas, mas não tanto quanto nos adultos (cerca de 58% dos casos infantis ocorrem em meninas).

Causas

Os mecanismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento da dermatite perioral ainda não são bem compreendidos. Deficiências na função de barreira da pele e características de atopia (alergia) são detectadas com maior frequência nesses pacientes, mas esses dois mecanismos não parecem ser suficientes para o surgimento das lesões.

O uso de corticoides tópicos na face costuma estar associado à doença. Não sabemos se esses medicamentos são capazes de induzir a dermatite perioral ou se podem simplesmente exacerbar uma dermatite preexistente. Corticoides intranasais e inalatórios também parecem aumentar o risco.

Além dos corticoides tópicos, vários outros fatores foram propostos como potenciais contribuintes para a dermatite perioral, incluindo:

  • Creme dental com flúor.
  • Hidratantes para a pele.
  • Protetor solar.
  • Produtos cosméticos, especialmente aqueles à base de petrolato ou parafina.
  • Colonização da pele por fusobactérias.
  • Infecção por Candida albicans.
  • Flutuações hormonais em mulheres (lesões podem piorar no período pré-menstrual).
  • Uso de contraceptivos orais.
  • Gravidez.
  • Exposição solar.

A dermatite perioral não é contagiosa e não está relacionada a nenhum tipo de dieta.

Sintomas

A dermatite periorificial geralmente se manifesta como múltiplas pápulas de 1 a 2 mm, avermelhadas, agrupadas, que podem vir acompanhadas de pequenas vesículas (bolhas com líquido no interior) ou papulopústulas (pápulas com pus no interior, tipo acne).

Dermatite perioral com pápulas e pústulas
Dermatite perioral com pápulas e pústulas

Em alguns pacientes, também estão presentes características consistentes com eczema, com vermelhidão e inflamação da pele ao redor das lesões. Escamação também pode ocorrer.

Dermatite perioral com eczema e descamação.
Dermatite perioral com eczema e descamação.

A dermatite perioral pode ser acompanhada de dor leve tipo picadas ou sensação de queimação nas áreas afetadas.

Em resumo, as principais características da dermatite periorificial são:

  • Erupção unilateral ou bilateral no queixo, lábio superior e pálpebras com distribuição perioral, perinasal e periocular.
  • Grupos de pápulas avermelhadas ou papulopústulas de 1 a 2 mm.
  • Superfície da pele seca e escamosa.
  • Irritação com sensação de queimação ou ardência.

Dermatite Periorificial Granulomatosa

A dermatite periorificial granulomatosa representa uma variante clínica da dermatite perioral que ocorre tipicamente em crianças pré-púberes.

O quadro é de numerosas pápulas inflamatórias pequenas, avermelhadas, marrom-avermelhadas ou marrom-amareladas nas áreas periorais, perinasais ou perioculares. Ocasionalmente, outros locais além da face podem ser afetados.

Dermatite periorificial granulomatosa envolvendo região perioral, perinasal e periorbital.
Dermatite periorificial granulomatosa envolvendo região perioral, perinasal e periorbital.

Curso da doença

A dermatite perioral é na maioria dos casos uma doença benigna e autolimitada. Em alguns pacientes, as lesões se resolvem dentro de alguns meses, mesmo sem terapia farmacológica, enquanto em outros, o distúrbio pode persistir por vários anos. Em média, 75% dos pacientes curam-se completamente após 3 a 4 meses.

As lesões cutâneas geralmente desaparecem sem deixar cicatrizes.

Diagnóstico diferencial

Várias doenças podem apresentar lesões semelhantes as da dermatite perioral. Os principais diagnósticos diferenciais são:

Tratamento

O manejo da dermatite perioral geralmente envolve a descontinuação de corticosteroides tópicos, evitar produtos de pele que possam promover ou exacerbar as lesões e tratamento com medicamentos.

Embora a dermatite perioral possa melhorar em poucos meses com as duas primeiras intervenções, a angústia com o aparecimento das lesões e o curso imprevisível da doença fazem com que a maioria dos pacientes deseje intervenção farmacológica para reduzir a duração dos sintomas.

Nos casos leves, a terapia tópica costuma ser a mais utilizada. Os principais opções de medicamentos em creme ou gel são:

  • Pimecrolimo 1% duas vezes ao dia.
  • Eritromicina 2% duas vezes ao dia.
  • Metronidazol 0.75% ou 1% uma vez ao dia.
  • Tacrolimo 0.03% ou 0.1% duas vezes ao dia.

O tratamento tópico é habitualmente feito por 4 a 8 semanas.

Nos casos mais severos, ou que não respondem à terapia tópica, o tratamento costuma ser feito com comprimidos por via oral por até 8 semanas. As principais opções para adultos são:

  • Tetraciclina 250 a 500 mg duas vezes ao dia.
  • Doxiciclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
  • Minociclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
  • Eritromicina 333 mg três vezes ao dia ou 500 mg duas vezes ao dia.

Nas crianças, o tratamento deve ser feito com eritromicina, geralmente 40 mg/kg, divididos em 3 doses diárias, com dose máxima diária de 1000 mg.

A terapia fotodinâmica tem sido utilizada em alguns centros com boa resposta, mas alguns pacientes não toleram o tratamento por irritação da pele ou hiperpigmentação (escurecimento da pele nas áreas tratadas).

É importante destacar que dermatite perioral não é um processo eczematoso primário; os corticoides tópicos, portanto, não devem ser usados. Embora os corticoides possam proporcionar um benefício temporário, quando são descontinuados, a erupção costuma retornar de forma mais grave.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Temas relacionados
Azitromicina Azitromicina [Bula simplificada]
Desidrose Disidrose (eczema disidrótico)
Dermatite de estase Dermatite de estase
Foliculite Foliculite (barba, virilha, nádegas): o que é e como tratar
Vitamina A Vitamina A: para que serve, alimentos e carência
Herpes zoster Fotos de herpes zóster (cobreiro)
Dermatite atópica Fotos de dermatite atópica (bebês, crianças e adultos)
Dermografismo Dermografismo: causas, fotos, sinais e tratamento
Sarna Sarna humana (escabiose): sintomas e tratamento
Celulite Celulite infecciosa: o que é, sintomas e tratamento
Furúnculo Furúnculo: causas, locais comuns e tratamento
Tínea corporis Impinge (tínea): causas, sintomas e tratamento
Cobreiro Herpes zóster: causas, sintomas e tratamento
Fotos de varicela Fotos de catapora (varicela) – Fases inicial e final
Erisipela Erisipela: o que é, sintomas, causas e tratamento
Sarampo Sarampo: sintomas, imagens e vacina
- Publicidade -
COMENTÁRIOS
Por favor, leia as regras do site antes de enviar a sua pergunta.

Deixe um comentário

12 comentários em “Dermatite perioral: o que é, causas, sintomas e tratamento”

  1. Gostaria de colocar uma questão se me permitem. Eu fui diagnosticada com dermatite perioral. Neste momento estou a aplicar pomada de eritromicina 2x por dia. Apenas se passaram alguns dias, mas penso estar a piorar do que melhorar. É suposto ser assim? Para não falar que os sintomas são mais intensos.
    Obrigado

    Responder
  2. Olá! Primeiramente parabéns pela matéria, li várias outras até chegar nessa.

    Tenho 46 anos e estou com erupções e sintomas muito parecidas. As únicas diferenças que não ressecam e não surgiu no rosto, mas no umbigo e foi se espalhando pelo antebraço, pescoço e coxas. Inicia aglomerada e depois vai se espalhando, uma bolinha aqui, outra ali. Às vezes 3 a 4 bolinhas juntas. E todas com líquido parecendo água. Será que pode ser uma variação ou manifestação diferente?

    Já a dermatologista, mas ela soube dá a certeza do que seja meu problema, mesmo assim fui medicada com corticoide e por enquanto está melhorando.

    Responder
  3. Olá! Eu fiquei dois meses passando a pomada Trok N e depois a Trok G, foi uma dermatologista que me passou, mas depois fui pesquisar e vi que não pode usar corticoide na dermatite perioral. Eu estou usando ela um dia sim e um dia não pra fazer o desmame, o ideal seria eu trocá-la por um esteróide de menor potência pra eu fazer isso?

    Responder
  4. Minha bebe tem 3 anos. Quando era recem nascida a medica falou dermatite atópica .. aliviou bem os sintomas nunca mais apareceram !Essa semana começou a coçar mt o nariz apenas um lado, fica vermelho inchado , com bolinhas e a boca com bolinhas e descamando, pode ser dermatite perioral ? que pomada me indica Dr.?

    Responder
    • Barbara, lamento, mas não posso indicar tratamentos pela Internet, sem ver a lesão ou examinar o paciente. Ainda mais em uma criança de apenas 3 anos. Você precisa mostrar a lesão a um pediatra.

      Responder
    • Trok-G tem corticoide. Na Dermatite perioral os corticoides não estão indicados. Além disso, em nenhuma doença de pele é bom ficar passando corticoide a longo prazo, pois pode causar atrofia da pele e perpetuação da lesão. Sua lesão está durando muitos anos porque você provavelmente não está recebendo o tratamento correto.

      Responder