O que é a dermatite perioral?
A dermatite perioral, também conhecida como dermatite periorificial, é um distúrbio da pele que normalmente se apresenta com várias pápulas (lesão sólida da pele, elevada, com menos de 1 cm de diâmetro) pequenas e inflamatórias ao redor da boca, nariz ou olhos. Eventualmente, podem surgir também lesões genitais.
Embora o nome “dermatite perioral” sugira que a condição seja uma dermatite ou eczema, a dermatite perioral se assemelha mais a uma erupção tipo acne ou rosácea, podendo ou não ter as características associadas de uma dermatite eczematosa leve.
Explicamos as diferentes formas de dermatite (eczemas) com mais detalhes no artigo: 6 tipos de eczema: causas, sintomas e tratamento.
A dermatite periorificial e suas variantes acometem principalmente mulheres adultas de 15 a 45 anos. 90% dos casos ocorrem no sexo feminino. A doença pode afetar crianças de qualquer idade, sendo a média entre 6 e 7 anos. Também nas crianças, a incidência é maior nas meninas, mas não tanto quanto nos adultos (cerca de 58% dos casos infantis ocorrem em meninas).
Causas
Os mecanismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento da dermatite perioral ainda não são bem compreendidos. Deficiências na função de barreira da pele e características de atopia (alergia) são detectadas com maior frequência nesses pacientes, mas esses dois mecanismos não parecem ser suficientes para o surgimento das lesões.
O uso de corticoides tópicos na face costuma estar associado à doença. Não sabemos se esses medicamentos são capazes de induzir a dermatite perioral ou se podem simplesmente exacerbar uma dermatite preexistente. Corticoides intranasais e inalatórios também parecem aumentar o risco.
Além dos corticoides tópicos, vários outros fatores foram propostos como potenciais contribuintes para a dermatite perioral, incluindo:
- Creme dental com flúor.
- Hidratantes para a pele.
- Protetor solar.
- Produtos cosméticos, especialmente aqueles à base de petrolato ou parafina.
- Colonização da pele por fusobactérias.
- Infecção por Candida albicans.
- Flutuações hormonais em mulheres (lesões podem piorar no período pré-menstrual).
- Uso de contraceptivos orais.
- Gravidez.
- Exposição solar.
A dermatite perioral não é contagiosa e não está relacionada a nenhum tipo de dieta.
Sintomas
A dermatite periorificial geralmente se manifesta como múltiplas pápulas de 1 a 2 mm, avermelhadas, agrupadas, que podem vir acompanhadas de pequenas vesículas (bolhas com líquido no interior) ou papulopústulas (pápulas com pus no interior, tipo acne).
Em alguns pacientes, também estão presentes características consistentes com eczema, com vermelhidão e inflamação da pele ao redor das lesões. Escamação também pode ocorrer.
A dermatite perioral pode ser acompanhada de dor leve, tipo picadas ou sensação de queimação nas áreas afetadas.
Em resumo, as principais características da dermatite periorificial são:
- Erupção unilateral ou bilateral no queixo, lábio superior e pálpebras com distribuição perioral, perinasal e periocular.
- Grupos de pápulas avermelhadas ou papulopústulas de 1 a 2 mm.
- Superfície da pele seca e escamosa.
- Irritação com sensação de queimação ou ardência.
Dermatite Periorificial Granulomatosa
A dermatite periorificial granulomatosa representa uma variante clínica da dermatite perioral que ocorre tipicamente em crianças pré-púberes.
O quadro é de numerosas pápulas inflamatórias pequenas, avermelhadas, marrom-avermelhadas ou marrom-amareladas nas áreas periorais, perinasais ou perioculares. Ocasionalmente, outros locais além da face podem ser afetados.
Curso da doença
A dermatite perioral é na maioria dos casos uma doença benigna e autolimitada. Em alguns pacientes, as lesões se resolvem dentro de alguns meses, mesmo sem terapia farmacológica, enquanto em outros, o distúrbio pode persistir por vários anos. Em média, 75% dos pacientes curam-se completamente após 3 a 4 meses.
As lesões cutâneas geralmente desaparecem sem deixar cicatrizes.
Diagnóstico diferencial
Várias doenças podem apresentar lesões semelhantes as da dermatite perioral. Os principais diagnósticos diferenciais são:
- Acne vulgar.
- Rosácea.
- Dermatite seborreica.
- Dermatite de contato.
- Impetigo.
- Infecção por fungos dermatófitos (tínea).
Tratamento
O manejo da dermatite perioral geralmente envolve a descontinuação de corticosteroides tópicos, evitar produtos de pele que possam promover ou exacerbar as lesões e tratamento com medicamentos.
Embora a dermatite perioral possa melhorar em poucos meses com as duas primeiras intervenções, a angústia com o aparecimento das lesões e o curso imprevisível da doença fazem com que a maioria dos pacientes deseje intervenção farmacológica para reduzir a duração dos sintomas.
Nos casos leves, a terapia tópica costuma ser a mais utilizada. Os principais opções de medicamentos em creme ou gel são:
- Pimecrolimo 1% duas vezes ao dia.
- Eritromicina 2% duas vezes ao dia.
- Metronidazol 0.75% ou 1% uma vez ao dia.
- Tacrolimo 0.03% ou 0.1% duas vezes ao dia.
O tratamento tópico é habitualmente feito por 4 a 8 semanas.
Nos casos mais severos, ou que não respondem à terapia tópica, o tratamento costuma ser feito com comprimidos por via oral por até 8 semanas. As principais opções para adultos são:
- Tetraciclina 250 a 500 mg duas vezes ao dia.
- Doxiciclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
- Minociclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
- Eritromicina 333 mg três vezes ao dia ou 500 mg duas vezes ao dia.
Nas crianças, o tratamento deve ser feito com eritromicina, geralmente 40 mg/kg, divididos em 3 doses diárias, com dose máxima diária de 1000 mg.
A terapia fotodinâmica tem sido utilizada em alguns centros com boa resposta, mas alguns pacientes não toleram o tratamento por irritação da pele ou hiperpigmentação (escurecimento da pele nas áreas tratadas).
É importante destacar que dermatite perioral não é um processo eczematoso primário; os corticoides tópicos, portanto, não devem ser usados. Embora os corticoides possam proporcionar um benefício temporário, quando são descontinuados, a erupção costuma retornar de forma mais grave.
Referências
- Perioral (periorificial) dermatitis – UpToDate.
- Perioral dermatitis – Clinics in dermatology.
- Red Rash Around Your Mouth Could Be Perioral Dermatitis – American Academy of Dermatology Association.
- Perioral Dermatitis – Statpearls.
- Perioral Dermatitis – Medscape.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
Deixe um comentário