Dermatite perioral: o que é, causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

O que é a dermatite perioral?

A dermatite perioral, também conhecida como dermatite periorificial, é um distúrbio da pele que normalmente se apresenta com várias pápulas (lesão sólida da pele, elevada, com menos de 1 cm de diâmetro) pequenas e inflamatórias ao redor da boca, nariz ou olhos. Eventualmente, podem surgir também lesões genitais.

Embora o nome “dermatite perioral” sugira que a condição seja uma dermatite ou eczema, a dermatite perioral se assemelha mais a uma erupção tipo acne ou rosácea, podendo ou não ter as características associadas de uma dermatite eczematosa leve.

Explicamos as diferentes formas de dermatite (eczemas) com mais detalhes no artigo: 6 tipos de eczema: causas, sintomas e tratamento.

A dermatite periorificial e suas variantes acometem principalmente mulheres adultas de 15 a 45 anos. 90% dos casos ocorrem no sexo feminino. A doença pode afetar crianças de qualquer idade, sendo a média entre 6 e 7 anos. Também nas crianças, a incidência é maior nas meninas, mas não tanto quanto nos adultos (cerca de 58% dos casos infantis ocorrem em meninas).

Causas

Os mecanismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento da dermatite perioral ainda não são bem compreendidos. Deficiências na função de barreira da pele e características de atopia (alergia) são detectadas com maior frequência nesses pacientes, mas esses dois mecanismos não parecem ser suficientes para o surgimento das lesões.

O uso de corticoides tópicos na face costuma estar associado à doença. Não sabemos se esses medicamentos são capazes de induzir a dermatite perioral ou se podem simplesmente exacerbar uma dermatite preexistente. Corticoides intranasais e inalatórios também parecem aumentar o risco.

Além dos corticoides tópicos, vários outros fatores foram propostos como potenciais contribuintes para a dermatite perioral, incluindo:

  • Creme dental com flúor.
  • Hidratantes para a pele.
  • Protetor solar.
  • Produtos cosméticos, especialmente aqueles à base de petrolato ou parafina.
  • Colonização da pele por fusobactérias.
  • Infecção por Candida albicans.
  • Flutuações hormonais em mulheres (lesões podem piorar no período pré-menstrual).
  • Uso de contraceptivos orais.
  • Gravidez.
  • Exposição solar.

A dermatite perioral não é contagiosa e não está relacionada a nenhum tipo de dieta.

Sintomas

A dermatite periorificial geralmente se manifesta como múltiplas pápulas de 1 a 2 mm, avermelhadas, agrupadas, que podem vir acompanhadas de pequenas vesículas (bolhas com líquido no interior) ou papulopústulas (pápulas com pus no interior, tipo acne).

Dermatite perioral com pápulas e pústulas
Dermatite perioral com pápulas e pústulas

Em alguns pacientes, também estão presentes características consistentes com eczema, com vermelhidão e inflamação da pele ao redor das lesões. Escamação também pode ocorrer.

Dermatite perioral com eczema e descamação.
Dermatite perioral com eczema e descamação.

A dermatite perioral pode ser acompanhada de dor leve, tipo picadas ou sensação de queimação nas áreas afetadas.

Em resumo, as principais características da dermatite periorificial são:

  • Erupção unilateral ou bilateral no queixo, lábio superior e pálpebras com distribuição perioral, perinasal e periocular.
  • Grupos de pápulas avermelhadas ou papulopústulas de 1 a 2 mm.
  • Superfície da pele seca e escamosa.
  • Irritação com sensação de queimação ou ardência.

Dermatite Periorificial Granulomatosa

A dermatite periorificial granulomatosa representa uma variante clínica da dermatite perioral que ocorre tipicamente em crianças pré-púberes.

O quadro é de numerosas pápulas inflamatórias pequenas, avermelhadas, marrom-avermelhadas ou marrom-amareladas nas áreas periorais, perinasais ou perioculares. Ocasionalmente, outros locais além da face podem ser afetados.

Dermatite periorificial granulomatosa envolvendo região perioral, perinasal e periorbital.
Dermatite periorificial granulomatosa envolvendo região perioral, perinasal e periorbital.

Curso da doença

A dermatite perioral é na maioria dos casos uma doença benigna e autolimitada. Em alguns pacientes, as lesões se resolvem dentro de alguns meses, mesmo sem terapia farmacológica, enquanto em outros, o distúrbio pode persistir por vários anos. Em média, 75% dos pacientes curam-se completamente após 3 a 4 meses.

As lesões cutâneas geralmente desaparecem sem deixar cicatrizes.

Diagnóstico diferencial

Várias doenças podem apresentar lesões semelhantes as da dermatite perioral. Os principais diagnósticos diferenciais são:

Tratamento

O manejo da dermatite perioral geralmente envolve a descontinuação de corticosteroides tópicos, evitar produtos de pele que possam promover ou exacerbar as lesões e tratamento com medicamentos.

Embora a dermatite perioral possa melhorar em poucos meses com as duas primeiras intervenções, a angústia com o aparecimento das lesões e o curso imprevisível da doença fazem com que a maioria dos pacientes deseje intervenção farmacológica para reduzir a duração dos sintomas.

Nos casos leves, a terapia tópica costuma ser a mais utilizada. Os principais opções de medicamentos em creme ou gel são:

  • Pimecrolimo 1% duas vezes ao dia.
  • Eritromicina 2% duas vezes ao dia.
  • Metronidazol 0.75% ou 1% uma vez ao dia.
  • Tacrolimo 0.03% ou 0.1% duas vezes ao dia.

O tratamento tópico é habitualmente feito por 4 a 8 semanas.

Nos casos mais severos, ou que não respondem à terapia tópica, o tratamento costuma ser feito com comprimidos por via oral por até 8 semanas. As principais opções para adultos são:

  • Tetraciclina 250 a 500 mg duas vezes ao dia.
  • Doxiciclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
  • Minociclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
  • Eritromicina 333 mg três vezes ao dia ou 500 mg duas vezes ao dia.

Nas crianças, o tratamento deve ser feito com eritromicina, geralmente 40 mg/kg, divididos em 3 doses diárias, com dose máxima diária de 1000 mg.

A terapia fotodinâmica tem sido utilizada em alguns centros com boa resposta, mas alguns pacientes não toleram o tratamento por irritação da pele ou hiperpigmentação (escurecimento da pele nas áreas tratadas).

É importante destacar que dermatite perioral não é um processo eczematoso primário; os corticoides tópicos, portanto, não devem ser usados. Embora os corticoides possam proporcionar um benefício temporário, quando são descontinuados, a erupção costuma retornar de forma mais grave.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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Comentários e perguntas

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12 respostas para “Dermatite perioral: o que é, causas, sintomas e tratamento”

  1. Melanie Baiao
    Gostaria de colocar uma questão se me permitem. Eu fui diagnosticada com dermatite perioral. Neste momento estou a aplicar pomada de eritromicina 2x por dia. Apenas se passaram alguns dias, mas penso estar a piorar do que melhorar. É suposto ser assim? Para não falar que os sintomas são mais intensos.
    Obrigado
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Não, não é suposto piorar após alguns dias de tratamento.
  2. Renata Oliveira

    Olá! Primeiramente parabéns pela matéria, li várias outras até chegar nessa.

    Tenho 46 anos e estou com erupções e sintomas muito parecidas. As únicas diferenças que não ressecam e não surgiu no rosto, mas no umbigo e foi se espalhando pelo antebraço, pescoço e coxas. Inicia aglomerada e depois vai se espalhando, uma bolinha aqui, outra ali. Às vezes 3 a 4 bolinhas juntas. E todas com líquido parecendo água. Será que pode ser uma variação ou manifestação diferente?

    Já a dermatologista, mas ela soube dá a certeza do que seja meu problema, mesmo assim fui medicada com corticoide e por enquanto está melhorando.

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Não, se não é ao redor da boca, a causa é outra.
  3. Érika

    Olá! Eu fiquei dois meses passando a pomada Trok N e depois a Trok G, foi uma dermatologista que me passou, mas depois fui pesquisar e vi que não pode usar corticoide na dermatite perioral. Eu estou usando ela um dia sim e um dia não pra fazer o desmame, o ideal seria eu trocá-la por um esteróide de menor potência pra eu fazer isso?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Corticoide tópico não precisa de desmame.
  4. Claudete Greco

    Boa noite, dr.

    Este tipo de dermatite necessita de dieta alimentar? Pode passar seu contato para consulta?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Não há uma dieta específica.
      Lamento, mas além de não viver no Brasil, eu não faço consultas privadas de dermatologia.
  5. Barbara Marchiori

    Minha bebe tem 3 anos. Quando era recem nascida a medica falou dermatite atópica .. aliviou bem os sintomas nunca mais apareceram !Essa semana começou a coçar mt o nariz apenas um lado, fica vermelho inchado , com bolinhas e a boca com bolinhas e descamando, pode ser dermatite perioral ? que pomada me indica Dr.?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Barbara, lamento, mas não posso indicar tratamentos pela Internet, sem ver a lesão ou examinar o paciente. Ainda mais em uma criança de apenas 3 anos. Você precisa mostrar a lesão a um pediatra.
  6. Rai Viana

    Estou passando uma pomada chamada de trok g a mais de 15 anos

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Trok-G tem corticoide. Na Dermatite perioral os corticoides não estão indicados. Além disso, em nenhuma doença de pele é bom ficar passando corticoide a longo prazo, pois pode causar atrofia da pele e perpetuação da lesão. Sua lesão está durando muitos anos porque você provavelmente não está recebendo o tratamento correto.