Dermatite perioral: o que é, causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Dermatite perioral

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O que é a dermatite perioral?

A dermatite perioral, também conhecida como dermatite periorificial, é um distúrbio da pele que normalmente se apresenta com várias pápulas (lesão sólida da pele, elevada, com menos de 1 cm de diâmetro) pequenas e inflamatórias ao redor da boca, nariz ou olhos. Eventualmente, podem surgir também lesões genitais.

Embora o nome “dermatite perioral” sugira que a condição seja uma dermatite ou eczema, a dermatite perioral se assemelha mais a uma erupção tipo acne ou rosácea, podendo ou não ter as características associadas de uma dermatite eczematosa leve.

Explicamos as diferentes formas de dermatite (eczemas) com mais detalhes no artigo: 6 tipos de eczema: causas, sintomas e tratamento.

A dermatite periorificial e suas variantes acometem principalmente mulheres adultas de 15 a 45 anos. 90% dos casos ocorrem no sexo feminino. A doença pode afetar crianças de qualquer idade, sendo a média entre 6 e 7 anos. Também nas crianças, a incidência é maior nas meninas, mas não tanto quanto nos adultos (cerca de 58% dos casos infantis ocorrem em meninas).

Causas

Os mecanismos fisiopatológicos que levam ao desenvolvimento da dermatite perioral ainda não são bem compreendidos. Deficiências na função de barreira da pele e características de atopia (alergia) são detectadas com maior frequência nesses pacientes, mas esses dois mecanismos não parecem ser suficientes para o surgimento das lesões.

O uso de corticoides tópicos na face costuma estar associado à doença. Não sabemos se esses medicamentos são capazes de induzir a dermatite perioral ou se podem simplesmente exacerbar uma dermatite preexistente. Corticoides intranasais e inalatórios também parecem aumentar o risco.

Além dos corticoides tópicos, vários outros fatores foram propostos como potenciais contribuintes para a dermatite perioral, incluindo:

  • Creme dental com flúor.
  • Hidratantes para a pele.
  • Protetor solar.
  • Produtos cosméticos, especialmente aqueles à base de petrolato ou parafina.
  • Colonização da pele por fusobactérias.
  • Infecção por Candida albicans.
  • Flutuações hormonais em mulheres (lesões podem piorar no período pré-menstrual).
  • Uso de contraceptivos orais.
  • Gravidez.
  • Exposição solar.

A dermatite perioral não é contagiosa e não está relacionada a nenhum tipo de dieta.

Sintomas

A dermatite periorificial geralmente se manifesta como múltiplas pápulas de 1 a 2 mm, avermelhadas, agrupadas, que podem vir acompanhadas de pequenas vesículas (bolhas com líquido no interior) ou papulopústulas (pápulas com pus no interior, tipo acne).

Dermatite perioral com pápulas e pústulas
Dermatite perioral com pápulas e pústulas

Em alguns pacientes, também estão presentes características consistentes com eczema, com vermelhidão e inflamação da pele ao redor das lesões. Escamação também pode ocorrer.

Dermatite perioral com eczema e descamação.
Dermatite perioral com eczema e descamação.

A dermatite perioral pode ser acompanhada de dor leve, tipo picadas ou sensação de queimação nas áreas afetadas.

Em resumo, as principais características da dermatite periorificial são:

  • Erupção unilateral ou bilateral no queixo, lábio superior e pálpebras com distribuição perioral, perinasal e periocular.
  • Grupos de pápulas avermelhadas ou papulopústulas de 1 a 2 mm.
  • Superfície da pele seca e escamosa.
  • Irritação com sensação de queimação ou ardência.

Dermatite Periorificial Granulomatosa

A dermatite periorificial granulomatosa representa uma variante clínica da dermatite perioral que ocorre tipicamente em crianças pré-púberes.

O quadro é de numerosas pápulas inflamatórias pequenas, avermelhadas, marrom-avermelhadas ou marrom-amareladas nas áreas periorais, perinasais ou perioculares. Ocasionalmente, outros locais além da face podem ser afetados.

Dermatite periorificial granulomatosa envolvendo região perioral, perinasal e periorbital.
Dermatite periorificial granulomatosa envolvendo região perioral, perinasal e periorbital.

Curso da doença

A dermatite perioral é na maioria dos casos uma doença benigna e autolimitada. Em alguns pacientes, as lesões se resolvem dentro de alguns meses, mesmo sem terapia farmacológica, enquanto em outros, o distúrbio pode persistir por vários anos. Em média, 75% dos pacientes curam-se completamente após 3 a 4 meses.

As lesões cutâneas geralmente desaparecem sem deixar cicatrizes.

Diagnóstico diferencial

Várias doenças podem apresentar lesões semelhantes as da dermatite perioral. Os principais diagnósticos diferenciais são:

Tratamento

O manejo da dermatite perioral geralmente envolve a descontinuação de corticosteroides tópicos, evitar produtos de pele que possam promover ou exacerbar as lesões e tratamento com medicamentos.

Embora a dermatite perioral possa melhorar em poucos meses com as duas primeiras intervenções, a angústia com o aparecimento das lesões e o curso imprevisível da doença fazem com que a maioria dos pacientes deseje intervenção farmacológica para reduzir a duração dos sintomas.

Nos casos leves, a terapia tópica costuma ser a mais utilizada. Os principais opções de medicamentos em creme ou gel são:

  • Pimecrolimo 1% duas vezes ao dia.
  • Eritromicina 2% duas vezes ao dia.
  • Metronidazol 0.75% ou 1% uma vez ao dia.
  • Tacrolimo 0.03% ou 0.1% duas vezes ao dia.

O tratamento tópico é habitualmente feito por 4 a 8 semanas.

Nos casos mais severos, ou que não respondem à terapia tópica, o tratamento costuma ser feito com comprimidos por via oral por até 8 semanas. As principais opções para adultos são:

  • Tetraciclina 250 a 500 mg duas vezes ao dia.
  • Doxiciclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
  • Minociclina 50 a 100 mg duas vezes ao dia ou 100 mg uma vez ao dia.
  • Eritromicina 333 mg três vezes ao dia ou 500 mg duas vezes ao dia.

Nas crianças, o tratamento deve ser feito com eritromicina, geralmente 40 mg/kg, divididos em 3 doses diárias, com dose máxima diária de 1000 mg.

A terapia fotodinâmica tem sido utilizada em alguns centros com boa resposta, mas alguns pacientes não toleram o tratamento por irritação da pele ou hiperpigmentação (escurecimento da pele nas áreas tratadas).

É importante destacar que dermatite perioral não é um processo eczematoso primário; os corticoides tópicos, portanto, não devem ser usados. Embora os corticoides possam proporcionar um benefício temporário, quando são descontinuados, a erupção costuma retornar de forma mais grave.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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