Candidíase: tipos de infecção pelo fungo Candida

A candidíase é uma infecção causada por fungos do gênero Candida, principalmente Candida albicans. Pode afetar a pele, mucosas e órgãos internos, manifestando-se como candidíase oral, vaginal, esofágica ou sistêmica, com sintomas variados conforme a localização.

Dr. Pedro Pinheiro
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Candidíase

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O que é candidíase?

A maioria das pessoas associa o termo candidíase apenas à infecção vaginal pelo fungo Candida. Apesar de a candidíase vaginal, também conhecida como monilíase vaginal ou vulvovaginite por Candida, ser a forma mais comum de candidíase, ela está longe de ser a única.

Candidíase é o nome que damos a qualquer infecção fúngica causada pelas várias espécies do fungo Candida. Uma candidíase pode se manifestar de várias formas, desde infecções superficiais na pele e mucosas — como a candidíase vaginal, candidíase oral (sapinho), candidíase peniana ou intertrigo (micose nas dobras da pele) — até infecções graves em órgãos internos, como candidíase do esôfago, candidíase das vias urinárias ou nos casos de pneumonia ou meningite por Candida.

A Candida é um gênero de fungos que possui dezenas de espécies, muitas delas capazes de provocar quadros de micose nos seres humanos. No entanto, na imensa maioria das vezes que um paciente desenvolve alguma infecção pelo fungo Candida, a espécie responsável é a Candida albicans.

A candidíase não costuma provocar quadros graves em pessoas saudáveis com sistema imunológico em perfeito estado. Nesses, a candidíase costuma ser superficial, como nas monilíases de pele, boca ou vagina. Todavia, em idosos, pacientes com doenças graves ou indivíduos imunossuprimidos, o fungo Candida pode vencer a resistência do sistema imunológico, atingir órgãos internos e provocar grave infecção generalizada, chamada candidíase disseminada ou candidíase invasiva.

Nesse artigo faremos um resumo sobre as formas mais comuns de infecção pela Candida. Para saber mais detalhes sobre algumas infecções específicas provocadas pela Candida, como a candidíase oral, vaginal ou peniana, acesse os links disponíveis abaixo:

Transmissão do fungo Candida

Na imensa maioria dos casos de candidíase, a infecção não ocorre por transmissão de uma pessoa para outra. A Candida albicans, espécie mais comum de Candida, é um membro normal da flora gastrointestinal dos seres humanos.

A maioria das pessoas é colonizada por Candida e nenhum sintoma apresenta. Porém, qualquer desequilíbrio na flora local ou no estado imunológico do paciente pode levar esse fungo a se proliferar e invadir tecidos, causando, assim, a doença candidíase. Portanto, ter Candida é diferente de ter candidíase. Até 80% das pessoas saudáveis têm o fungo Candida na cavidade oral ou no trato gastrointestinal sem que isso represente qualquer perigo.

Podemos concluir, portanto, que a Candida albicans é um germe oportunista, ou seja, ela vive silenciosamente em nosso corpo durante anos, somente à espera de um desequilíbrio no nosso sistema de defesa para nos atacar.

Para reforçar o conceito, podemos comparar, por exemplo, a colonização da boca pela Candida com a colonização da pele por bactérias. Todo mundo consegue entender que o fato de termos bilhões de bactérias na nossa pele não significa que tenhamos alguma doença de pele. O mesmo ocorre com a Candida. Para ter doença, não basta ter os germes, é preciso que eles estejam atacando o nosso organismo.

A transmissão da Candida ocorre somente em algumas situações, como no caso da transmissão para o bebê durante o parto vaginal ou pontualmente através de relações sexuais.

Candidíase genital é uma doença sexualmente transmissível?

Na imensa maioria dos casos, não. A candidíase vaginal pode ocorrer em pessoas que não são sexualmente ativas, incluindo mulheres em celibato. Isso ocorre porque Candida albicans é um membro normal da flora vaginal. Não é preciso ter relações sexuais para ser colonizada pela Candida.

Isso não significa, porém, que a transmissão sexual de Candida não ocorra nunca ou que a candidíase vulvovaginal não esteja associada à atividade sexual. Por exemplo, um aumento na frequência de candidíase vulvovaginal costuma ser notado quando as mulheres iniciam atividade sexual regular.

Além disso, parceiros de mulheres infectadas têm quatro vezes mais chance de serem colonizados do que parceiros de mulheres não infectadas, e a colonização do casal é geralmente pela mesma linhagem de Candida. Em geral, 15 a 20% dos homens apresentam o pênis colonizado por Candida. O risco de colonização é maior se a parceira tiver história de candidíase vaginal recorrente.

Fatores de risco

A candidíase não surge somente em pessoas com sistema imunológico fraco. Outros fatores podem levar ao aparecimento desta micose. Um exemplo clássico é o uso de antibióticos por tempo prolongado. Os antibióticos matam as bactérias, mas poupam os fungos. Deste modo, ele reduz a competição por espaço e alimentos, facilitando a vida dos fungos que colonizam o organismo.

A candidíase oral, conhecida como sapinho ou monilíase oral, também pode ocorrer em pessoas sem doenças do sistema imunológico, principalmente em crianças pequenas. Cabe ressaltar que neste caso, a candidíase é restrita e provoca poucos sintomas.

Quando a candidíase oral é mais severa, isso nos leva a pensar em um estado de imunossupressão (baixa imunidade).

Doentes imunossuprimidos, como nos pacientes com AIDS, câncer, uso de quimioterapia, transplantantes de órgãos, uso crônico de corticoides, doentes graves internados em CTI, etc., podem apresentar infecção fúngica generalizada, chamada de candidemia.

Nos pacientes imunossuprimidos, a cândida pode causar, por exemplo:

Mais de 90% dos pacientes HIV positivo, com critérios para AIDS, possuem alguma infecção por Candida, normalmente candidíase oral e de esôfago. Feitas as devidas explicações, voltemos aos pacientes imunocompetentes (sem alterações do sistema imunológico).

Vamos falar a seguir dos diferentes tipos de candidíase que podemos desenvolver. Como já referido, a Candida albicans pode atacar a pele, a vagina, o pênis, a boca, o esôfago, a bexiga e vários outros órgãos internos.

Candidíase vaginal

Aos 25 anos de idade, metade das mulheres já terão apresentado pelo menos um episódio de vaginite por cândida; ao longo da vida, cerca de 75% das mulheres terão tido ao menos um episódio de candidíase vulvovaginal, o que ilustra o quão comum é ter esse tipo de micose. A espécie Candida albicans é responsável por até 90% dos casos de candidíase vaginal.

A candidíase vaginal é comum em mulheres em idade fértil, mas também pode correr após a menopausa, apesar de ser menos comum.

A vulvovaginite por cândida pode surgir em qualquer mulher, mas ela é bem mais comum nas seguintes situações:

  • Uso recente de antibióticos.
  • Mulheres com diabetes mellitus.
  • Alterações hormonais (uso de anticoncepcionais hormonais, reposição hormonal ou menopausa).
  • Mulheres com predisposição genética.
  • Mulheres imunossuprimidas.

O sintoma mais típico da candidíase vaginal é a coceira na região genital. Uma sensação de ardência ou queimação na área ao redor da vulva também é bastante comum. Esta dor tende a se agravar no período pré-menstrual ou durante o ato sexual (leia: Dor durante o sexo (dispareunia e vaginismo).

Outro sinal frequente é o corrimento vaginal, embora a sua ausência não descarta o diagnóstico de candidíase. O corrimento vaginal da candidíase, quando presente, é, em geral, brancacento, sem odor e de pequeno volume.

Os sintomas da candidíase são muito semelhantes aos de outras formas de vaginite, como a tricomoníase e a vaginose bacteriana. Portanto, diagnóstico de certeza da candidíase vaginal é feito com o exame ginecológico, por meio de coleta da secreção vaginais e identificação do fungo Candida pelo microscópio.

O tratamento da candidíase vaginal é simples na maioria dos casos e consiste em uma dose oral de antifúngico, como o Fluconazol por via oral em dose única, ou creme vaginal, que deve ser indicado pelo ginecologista. Cerca de 5% das mulheres, porém, apresentam quadros recorrentes de candidíase vaginal, sendo necessário tratamento por várias semanas.

Candidíase no pênis

A candidíase nos homens não é tão comum como nas mulheres, mas pode ocorrer em determinadas situações. Os fatores de risco são semelhantes aos da candidíase vaginal, sendo importante acrescentar também a má higiene do pênis e o uso de fraldas geriátricas ou infantis.

Os sintomas mais comuns da candidíase no pênis são: vermelhidão, inchaço e dor na glande. Placas brancas, semelhantes às que ocorrem na língua nos casos de sapinho, também são comuns. As lesões podem causar intensa coceira e frequentemente há ardência durante o ou após o ato sexual.

Da mesma forma que a candidíase vaginal, a candidíase no pênis pode ser tratada com antifúngicos em creme ou por via oral.

Candidíase oral (sapinho)

Exceto em crianças, a candidíase oral costuma indicar algum grau de imunossupressão ou distúrbio na flora de germes normal da boca. Entre os fatores de risco estão os diabetes, uso de dentadura, doenças que causam diminuição na salivação (xerostomia) e imunossupressão, seja por doenças, drogas ou quimioterapia.

A candidíase oral manifesta-se como lesões brancas de aspecto cremoso, na língua, parede interna das bochechas e no palato (céu da boca). O paciente se queixa de ardência, diminuição do paladar e sensação de ter algodão na boca. Quando o esôfago é acometido, o paciente se queixa de dificuldade e dor para engolir.

O tratamento é feito com bochechos de nistatina ou com fluconazol por via oral.

Candidíase de esôfago

Ao contrário da candidíase oral, que pode eventualmente ocorrer em pacientes saudáveis, a candidíase esofagiana é um sinal claro de que há algo errado com o sistema imunológico. A infecção pelo HIV é uma das principais causas de esofagite por Candida, mas qualquer estado de imunossupressão pode ser a causa.

O principal sintoma da candidíase de esôfago é a dor ao engolir, chamada de odinofagia. Os pacientes também referem uma dor no peito, por trás do esterno (osso que fica no centro do tórax).

O diagnóstico da candidíase esofagiana é habitualmente feito através da endoscopia digestiva alta.

O tratamento é feito com Fluconazol oral por até 21 dias.

Candidíase na pele (intertrigo)

Intertrigo é o nome que damos à inflamação que ocorre em áreas onde duas partes da pele se encostam, como, por exemplo, nas dobras cutâneas da virilha, nas axilas, bolsa escrotal, embaixo das mamas ou na região entre os dedos.

Essas áreas de dobras são especialmente susceptíveis ao aparecimento do intertrigo, pois são regiões úmidas e quentes, o que favorece a proliferação de germes, principalmente de fungos.

O intertrigo candidiásico se manifesta por placas avermelhadas na pele, que podem coçar ou doer.

O tratamento é feito com cremes antifúngicos e cuidados gerais com a pele.

Explicaremos o intertrigo com mais detalhes em um artigo à parte que será publicado brevemente.

Candidíase do trato urinário

A presença de fungos na urina é bastante comum em pacientes hospitalizados, embora muitas vezes seja difícil distinguir uma simples colonização de uma infecção da bexiga. A cistite por Candida pode ser assintomática, provocando apenas alterações nas análises de urina ou pode ter sintomas semelhantes aos da cistite bacteriana, com dor para urinar e micção frequente.

A infecção invasiva dos rins é incomum, sendo mais grave e mais difícil tratamento do que a infecção da bexiga. O quadro clínico costuma ser de microabscessos nos rins e sintomas como febre e dor abdominal.

Endoftalmite por Candida

A endoftalmite (inflamação no globo ocular) por Candida pode se desenvolver após trauma, cirurgia ocular ou como complicação de um quadro de candidíase disseminada.

O principal sintoma é diminuição da acuidade visual. Alguns pacientes também apresentam dor nos olhos.

Candidíase disseminada

A candidíase disseminada, também chamada de candidíase invasiva ou candidemia, é a forma mais grave da infecção por Candida. Ela ocorre quando o fungo atinge a corrente sanguínea e se espalha para órgãos internos, como fígado, rins, pulmões, coração, ossos, olhos ou sistema nervoso central. Esse tipo de infecção costuma acometer pacientes com o sistema imunológico muito debilitado, como aqueles com câncer, AIDS, em uso prolongado de corticoides ou submetidos a transplantes de órgãos.

Ao contrário das formas superficiais da doença, como a candidíase oral ou vaginal, a candidíase disseminada é uma infecção potencialmente fatal e exige tratamento antifúngico agressivo por via intravenosa (ver tratamento mais adiante).

O diagnóstico da candidíase disseminada pode ser desafiador. Embora a hemocultura (exame que detecta fungos no sangue) seja o método mais comumente utilizado, ela apresenta baixa sensibilidade, podendo resultar negativa mesmo em pacientes com infecção fúngica invasiva. Estudos indicam que até 50% dos casos de candidemia podem não ser detectados por hemoculturas, especialmente em pacientes com fungemia intermitente ou carga fúngica baixa.

Para contornar essa limitação, alguns biomarcadores têm sido utilizados como ferramentas auxiliares no diagnóstico. Um dos mais promissores é o (1→3)-β-D-glucano, um componente da parede celular de diversos fungos, incluindo Candida spp. Esse teste é realizado por meio de uma amostra de sangue e pode indicar a presença de infecção fúngica sistêmica, mesmo na ausência de hemocultura positiva.

Vale destacar, porém, que o (1→3)-β-D-glucano não é específico para Candida — ele pode estar elevado em outras infecções fúngicas, como aspergilose ou pneumocistose —, e também pode apresentar resultados falso-positivos em certas situações, como em pacientes submetidos à hemodiálise com filtros de celulose ou uso de antibióticos como a amoxicilina-clavulanato.

Portanto, o diagnóstico da candidíase disseminada deve ser baseado na avaliação clínica do paciente, na presença de fatores de risco, nos achados laboratoriais (como hemocultura, β-D-glucano ou exames de imagem), e, sempre que possível, na confirmação histopatológica ou microbiológica da infecção em sítios estéreis.

Tratamento

O tratamento da candidíase depende da forma clínica da infecção, da gravidade do quadro e do estado imunológico do paciente.

Nas formas superficiais, como candidíase vaginal, peniana, oral ou cutânea, geralmente são suficientes os antifúngicos tópicos, como cremes vaginais, pomadas ou soluções para bochecho contendo nistatina. Em muitos casos, pode-se optar por antifúngicos orais, como o fluconazol, administrado em dose única ou por alguns dias, conforme a gravidade e recorrência da infecção.

Já nas formas mais graves, como candidíase esofágica, urinária complicada, candidemia ou candidíase disseminada com acometimento de órgãos internos, o tratamento deve ser feito com antifúngicos por via oral ou intravenosa. As opções incluem o fluconazol, voriconazol, itraconazol, anfotericina B ou as equinocandinas (como caspofungina, micafungina e anidulafungina), especialmente em pacientes hospitalizados, imunossuprimidos ou com suspeita de infecção por espécies resistentes.

A escolha do antifúngico deve considerar o sítio da infecção, a espécie de Candida envolvida — quando identificada — e a condição clínica do paciente. Em infecções invasivas, recomenda-se manter o tratamento por no mínimo 14 dias após a última hemocultura negativa e resolução dos sintomas.

Em casos de candidíase genital de repetição, pode ser necessário tratamento prolongado e, eventualmente, também do parceiro sexual. A correção de fatores predisponentes, como o uso excessivo de antibióticos, controle do diabetes ou distúrbios hormonais, é essencial para prevenir recorrências.

Falamos mais sobre o tratamento da candidíase vaginal no artigo: Tratamento para candidíase vaginal.

A tabela abaixo resume os principais tipos de candidíase:

Tipo de candidíaseLocal acometidoSintomas principaisTratamento habitual
VaginalVagina e vulvaCoceira, ardência, corrimento esbranquiçadoFluconazol oral ou creme vaginal
Oral (sapinho)Língua, bochechas, palatoPlacas brancas, ardência, boca secaNistatina ou fluconazol oral
PenianaGlandeVermelhidão, coceira, dorPomada antifúngica ou fluconazol
EsofágicaEsôfagoDor ao engolir, dor retroesternalFluconazol oral ou intravenoso
Cutânea (intertrigo)Dobras da peleVermelhidão, coceira, lesões úmidasCremes antifúngicos tópicos
UrináriaBexiga ou rinsDisúria, febre (quando sintomática)Fluconazol oral ou IV, se grave
Disseminada/invasivaMúltiplos órgãosFebre, choque séptico, falência orgânicaAnfotericina B ou equinocandinas IV

Referências


Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.


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