Principais sintomas do HIV e da AIDS

Um paciente só é considerado como portador de AIDS quando o vírus HIV tiver atacado e destruído uma quantidade tão grande de linfócitos, que o sistema imunológico já encontra-se debilitado.
Dr. Pedro Pinheiro

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Tempo de leitura estimado do artigo: 4 minutos

Como o vírus HIV provoca imunossupressão?

Ao contrário do que muita gente pensa, ser portador do vírus HIV não é igual a ter AIDS. Para o diagnóstico de AIDS é preciso, além da contaminação pelo HIV, a existência de pelo menos uma doença causada pelo quadro de imunossupressão.

O vírus HIV provoca imunossupressão porque ele ataca o sistema imunológico. As células de defesa mais atingidas são os linfócitos T CD4+. O HIV invade esses linfócitos e altera o DNA das células de forma que elas deixem de funcionar normalmente e passem apenas a produzir cópias do próprio vírus HIV. Depois de se multiplicar, o vírus destrói os linfócitos infectados e volta para o sangue em busca de outros para continuar sua multiplicação.

Com o passar do tempo, o número de vírus na corrente sanguínea torna-se cada vez maior, enquanto o número de linfócitos CD4+ cada vez menor. Este processo de destruição é bem lento e gradual, permitindo que os pacientes permaneçam assintomáticos por muitos anos. Isto significa que as pessoas podem ser portadoras do HIV por muito tempo sem necessariamente desenvolver a doença AIDS.

Um paciente só é considerado portador de AIDS quando o vírus HIV tiver atacado e destruído uma quantidade tão grande de linfócitos, que o sistema imunológico já se encontra debilitado. Com poucos linfócitos viáveis, o organismo se torna mais vulnerável a infecções, ficando susceptível a diversos tipos de vírus, bactérias, fungos e até tumores.

Na verdade, o vírus HIV em si provoca poucos sintomas. A gravidade da doença está nas chamadas infecções oportunistas, que são aquelas que se aproveitam da fraqueza do sistema imunológico para se desenvolver.

Todavia, o HIV em alguns casos pode também causar sintomas. Logo após a contaminação pelo vírus podemos ter um quadro chamado de infecção aguda pelo HIV, que nada tem a ver com a AIDS. É um quadro semelhante a qualquer virose comum, que o ocorre por uma reação do corpo à presença de um vírus novo.

Nesse texto falaremos sobre os sintomas da infecção aguda pelo HIV e sobre os sintomas da AIDS.

Informações em vídeo

Antes de seguirmos em frente com o texto, assista a esse curto vídeo sobre os primeiros sintomas da infecção pelo HIV.

YouTube video

Sintomas da Infecção aguda pelo HIV

Chamamos de infecção aguda pelo HIV o quadro de infecção viral que surge dias após o paciente ter sido contaminado pelo vírus.

Uma grande quantidade de sinais e sintomas podem estar associados à infecção aguda pelo HIV. Muitos destes sintomas são inespecíficos e ocorrem também em outros quadros infecciosos, principalmente infecções respiratórias por outros vírus, como gripes, resfriados, mononucleose, etc.

A maioria dos pacientes que se contamina com HIV desenvolve sintomas de infecção aguda. O problema é que o quadro é tão inespecífico, e em alguns casos tão leve, que a maioria dos pacientes não se recorda de tê-lo tido.

O sintoma mais comum da infecção aguda pelo HIV é a febre (38ºC a 40ºC), que ocorre em mais de 80% dos casos.

Também são muito comuns:

  • Faringite sem aumento das amígdalas e sem presença de pus.
  • Manchas vermelhas na pele (frequentemente chamadas de rash) que ocorrem 48 a 72h após o início da febre e costumam durar entre 5 e 8 dias. Este rash costuma se apresentar como lesões arredondadas, menores que 1 cm, avermelhadas, com discreto relevo e distribuídas pelo corpo, principalmente no tórax, pescoço e face. Também podem acometer solas dos pés e palmas das mãos.
  • Aumento de linfonodos (ínguas) principalmente em axilas e pescoço.
  • Dores articulares, musculares e cefaleia.

Em 10% dos casos pode haver também aumento do fígado e/ou baço, úlceras orais, anais ou genitais, diarreia e vômitos (podendo levar ao emagrecimento de até cinco quilos).

Sintomas da infecção aguda pelo HIV
Sintomas da infecção aguda pelo HIV

As úlceras parecem estar relacionadas ao ponto de entrada do vírus nas mucosas, semelhante ao que ocorre na sífilis. Úlceras orais indicam contaminação por sexo oral ativo e as úlceras anais por sexo anal passivo. Do mesmo modo, pode haver úlceras vaginais e penianas.

Existem também casos descritos de hepatite, pneumonia e pancreatite causados pela infecção aguda do HIV. Em raros casos também pode ocorrer candidíase oral ou vaginal.

Tipicamente, os sintomas de infecção aguda pelo HIV iniciam-se entre 2 e 4 semanas após a exposição ao vírus. Porém, já foram descritos casos com até dez meses de intervalo.

Como se pode notar, os sintomas da infecção aguda pelo HIV são inespecíficos, comuns a várias outras doenças. É muito difícil estabelecer um diagnóstico apenas pelo quadro clínico. Por isso, mais importante que os sintomas em si é o tempo de intervalo entre o comportamento de risco (sexo sem preservativos ou compartilhamento de agulhas) e o aparecimento dos mesmos.

De qualquer modo, o diagnóstico nunca é fechado através do quadro clínico, já que várias doenças podem ter os mesmos sintomas, sendo necessária a realização das sorologias ou a pesquisa do vírus para confirmação (leia: TESTE PARA HIV).

Os pacientes na fase aguda do HIV apresentam carga viral elevadíssima, estando, portanto, altamente contagiosos neste momento.

O quadro de infecção aguda pode durar até duas semanas, depois desaparece e o HIV fica silenciosamente alojado no corpo por muitos anos. Após a fase aguda, a carga viral (contagem de vírus circulante no sangue) cai e se estabiliza em níveis baixos.

Temos um artigo específico e mais completo sobre a infecção aguda do HIV: Infecção aguda pelo HIV.

Sintomas da AIDS

O término da infecção aguda costuma coincidir com a positivação da sorologia anti-HIV, ou seja, os exames de sangue para a pesquisa do HIV passam a ficar positivos.

O HIV ataca e destrói as células de defesa chamadas linfócitos CD4. A síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA ou AIDS) é um quadro de imunossupressão causado por níveis baixos de linfócitos CD4, o que favorece o surgimento de infecções oportunistas.

Chamamos de infecções oportunistas aquelas que se aproveitam da queda no nosso sistema imunológico para nos atacar. Infecções oportunistas existem não só na AIDS, mas também em pacientes transplantados, em quimioterapia, com câncer, ou qualquer outra condição que leve à imunossupressão.

Para se estabelecer o diagnóstico de AIDS é preciso estar infectado pelo HIV e:

1. ter uma contagem de linfócitos CD4 menor que 200 células/mm³; ou
2. apresentar uma das doenças definidoras de AIDS, que são:

  • Candidíase pulmonar ou traqueal.
  • Candidíase de esôfago.
  • Câncer de colo uterino invasivo.
  • Coccidioidomicose disseminada (infecção fúngica).
  • Criptococose extrapulmonar (infecção fúngica).
  • Criptosporíase intestinal (doença parasitária).
  • Citomegalovírus (doença viral).
  • Encefalopatia do HIV (lesão cerebral pelo HIV).
  • Herpes simples crônica (mais de um mês de duração) ou disseminada.
  • Histoplasmose disseminada (infecção fúngica).
  • Isosporíase intestinal crônica (doença parasitária).
  • Sarcoma de Kaposi (neoplasia típica da AIDS).
  • Linfoma de Burkitt.
  • Linfoma do sistema nervoso central.
  • Infecção disseminada por Mycobacterium avium complex (infecção bacteriana).
  • Tuberculose disseminada.
  • Pneumonia pelo fungo Pneumocystis carinii (também chamado Pneumocystis jirovecii).
  • Pneumonia recorrente.
  • Leucoencefalopatia multifocal recorrente (doença viral que ataca o cérebro).
  • Sepse pela bactéria salmonela.
  • Toxoplasmose cerebral.
  • Síndrome consumptiva do HIV (emagrecimento do HIV).

Qualquer paciente que apresente uma das doenças acima provavelmente possui alguma deficiência imunológica, pois são problemas de saúde que não costumam surgir em indivíduos com sistema imune perfeito. As doenças listadas acima são típicas de pacientes com imunossupressão, não necessariamente por AIDS. Sua presença, porém, indica obrigatoriamente a investigação do HIV, caso não haja uma causa óbvia para a imunossupressão, como, por exemplo, uso de drogas imunossupressoras ou quimioterapia.

Não existe um quadro clínico único da AIDS. A apresentação clínica dependerá do tipo de doença que se desenvolver e os órgãos afetados. Se você me perguntar quais são os sintomas da AIDS, eu vou responder: depende, há vários.

As doenças mais típicas da AIDS são a candidíase de esôfago, a tuberculose (que na forma pulmonar pode ocorrer também em pessoas sem HIV), o sarcoma de Kaposi, a toxoplasmose cerebral, a pneumonia pelo fungo P.carinii e a citomegalovirose.

A imunossupressão, além de facilitar o surgimento de infecções, também aumenta a frequência de neoplasias malignas. Cânceres como o de colo uterino tornam-se extremamente agressivos e linfomas são muito mais frequentes na AIDS do que em pessoas sadias. Outros tumores, como o Sarcoma de Kaposi, são típicos de imunossuprimidos, principalmente em homossexuais.

Aquela imagem do paciente com AIDS, caquético, cheio de lesões de pele e candidíase oral, já não é mais tão comum. O tratamento avançou muito nos últimos anos e boa parte dos pacientes HIV positivos mantém seus níveis de CD4 elevados, impedindo a ocorrência de infecções oportunistas. Os pacientes já são diagnosticados mais precocemente e o tratamento costuma ser iniciado antes de fases avançadas da doença.

Mas, atenção, o HIV ainda não tem cura e ainda mata. Na verdade, quem leva ao óbito não é o HIV, mas sim as infecções oportunistas e neoplasias secundárias à imunossupressão. Por isso é importante tomar o coquetel antirretroviral corretamente para impedir a multiplicação do vírus e a destruição dos linfócitos CD4.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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