35 Tipos de Dor de Cabeça e 15 Sinais de Gravidade

Dr. Pedro Pinheiro

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cefaleia - dor de cabeça

Tempo de leitura estimado do artigo: 10 minutos

Introdução

A dor de cabeça, chamada em medicina de cefaleia, é uma das queixas médicas mais comuns. É difícil encontrar alguém que nunca tenha tido pelo menos uma crise de dor de cabeça durante a vida.

Algumas dores de cabeça podem ser muito intensas e recorrentes, levando o paciente a achar que há algo de grave no seu cérebro. Tumores cerebrais e aneurismas costumam ser os maiores temores de quem se vê acometido por uma forte cefaleia. Não é incomum recebermos pessoas apavoradas, querendo que o médico solicite uma tomografia computadorizada de crânio, quando, na verdade, a sua dor trata-se apenas de uma cefaleia primária simples, facilmente diagnosticada clinicamente.

As dores de cabeça são habitualmente divididas em dois grupos:

  • Cefaleias primárias: são aquelas dores de cabeça que não são provocadas por outras doenças e cujas causas ainda não estão bem esclarecidas, como a enxaqueca e a cefaleia tensional, por exemplo.
  • Cefaleias secundárias: são as dores de cabeça provocadas por outras doenças, tais como tumor, aneurisma, sinusite ou problemas de coluna.

Nesse artigo, explicaremos quais são os diferentes tipos de cefaleia, quais são os sintomas típicos de cada uma e quais são os sinais de gravidade. Daremos ênfase às cefaleias primárias, dado que boa parte das causas secundárias de dor de cabeça já foram abordadas em textos à parte.

Tipos de dor de cabeça

Apesar de muito comum, as pessoas sabem muito pouco sobre as cefaleias e pensam que todas são iguais. Na verdade, existem diversos tipos de dor de cabeça.

Cefaleias primárias

A grande maioria das cefaleias é benigna e tem origem primária. 90% dos casos são causados por uma das seguintes três síndromes:

  • Enxaqueca (migrânea).
  • Cefaleia tensional.
  • Cefaleias trigêmino-autonômicas (CTA).

A enxaqueca e as cefaleias trigêmino-autonômicas apresentam vários subtipos que serão rapidamente explicados ao longo do artigo.

Além das três grandes síndromes listadas acima, há outras causas de cefaleias primárias menos comuns, tais como:

  • Cefaleia primária da tosse.
  • Cefaleia primária do esforço.
  • Cefaleia primária associada à atividade sexual.
  • Cefaleia por estímulo frio.
  • Cefaleia hípnica.

Cefaleias secundárias

Entre as cefaleias secundárias, existem as causas graves, que correspondem a menos de 10% dos casos, incluindo:

Existem ainda várias outras causas de cefaleia secundária que, apesar de dolorosas, ou são apenas temporárias, ou não são doenças graves com elevado risco potencial de morte:

Ao contrário do que se imagina, problemas de visão, tais como miopia, hipermetropia e astigmatismo não são causas muito comuns de cefaleia. Podem até ocorrer em algumas crianças, mas não são causas habituais de dor de cabeça crônica nos adultos. Também não há uma associação direta entre cefaleia crônica e problemas no fígado.

Como já referido, 90% das cefaleias benignas se enquadram em uma das três grandes síndromes que serão explicadas a seguir.

Enxaqueca (migrânea)

Enxaqueca, também chamada de migrânea, não é o termo usado para descrever qualquer dor de cabeça de forte intensidade. Enxaqueca é um tipo específico de cefaleia, que habitualmente cursa com dores de cabeça muito intensas, mas que tem características próprias, diferentes de outras formas de dor de cabeça intensa.

A enxaqueca caracteriza-se por ser uma dor de cabeça unilateral (70% dos casos), pulsátil e de início gradual, que costuma ir se agravando até atingir grande intensidade. A enxaqueca piora com luz forte e barulho e pode vir acompanhada de náuseas, vômitos ou tonturas. As dores normalmente pioram à movimentação da cabeça e com esforço físico. Também é comum a hipersensibilidade do couro cabeludo, o que pode levar ao agravamento da dor com uma simples escovação dos cabelos. As crises podem durar de 4 até 72 horas.

características da dor da enxaqueca
Características da dor da enxaqueca

A enxaqueca é três vezes mais comum nas mulheres, ocorre principalmente entre os 20 e 40 anos de idade e costuma ser hereditária. Pessoas obesas apresentam maior incidência. As crises podem ser tão frequentes, a ponto de aparecerem mais de quatro vezes por mês.

20% dos pacientes apresentam a aura, que é um sintoma que é característico da enxaqueca. A aura são sinais neurológicos que precedem o início da dor. Tipicamente são pontos brilhantes ou raios luminosos na vista e formigamento em alguma região do corpo, que ocorrem antes do início da cefaleia. Às vezes, a aura pode apresentar sintomas como fraqueza muscular, perda parcial da visão e alterações na fala, que assustam muito os pacientes por lembrarem um AVC. A diferença está no fato das auras durarem em média apenas 20 minutos e normalmente desaparecerem espontaneamente após o início da dor. Eventualmente, alguns sintomas de fraqueza podem demorar mais tempo para desaparecer.

As crises de enxaqueca podem ser desencadeadas por estresse, menstruação, fome, exercícios, anticoncepcionais, perfume, fumaça, refrigerantes ou comidas que contenham nitritos, aspartatos, tiramina ou glutamato.

O diagnóstico é clínico. Exames com ressonância magnética e tomografias computadorizadas só são realizados quando o quadro é atípico e há suspeita de outro diagnóstico.

Não existe cura para migrânea, mas os tratamentos disponíveis hoje em dia são muito eficazes.

Subtipos de enxaqueca

Existem vários subtipos de enxaqueca, mais raros, que podem causar sintomas neurológicos que não se enquadram na definição de aura. São sinais e sintomas muito parecidos com os de um AVC. Muitas vezes só o neurologista consegue diferenciá-los.

Os subtipos de enxaqueca mais típicos são:

  • Enxaqueca com aura do tronco cerebral: anteriormente chamada enxaqueca da artéria basilar, a enxaqueca com aura de tronco cerebral é uma forma pouco comum de enxaqueca onde os sintomas principais estão relacionados ao tronco cerebral, mas sem fraqueza muscular. Mais comum em mulheres, começa geralmente entre 7 e 20 anos. Os sintomas podem incluir vertigem, fala arrastada, zumbido no ouvido, visão dupla, descoordenação motora, redução do nível de consciência e diminuição da audição. Diagnosticar essa condição pode ser desafiador, especialmente se o paciente também apresentar redução do nível de consciência.
  • Enxaqueca hemiplégica: diferencia-se de outras enxaquecas pela presença de fraqueza muscular durante a aura. Além da fraqueza, os sintomas podem incluir dor de cabeça intensa, manchas brilhantes na visão, perda de campo visual, dormência, parestesia, afasia, febre, letargia, coma e convulsões. Pode ocorrer em famílias ou de forma esporádica.
  • Enxaqueca retiniana: condição rara caracterizada por ataques repetidos de escotoma monocular (manchas na visão) ou cegueira temporária, acompanhados ou seguidos de dor de cabeça. Há risco de perda visual permanente, embora a frequência exata seja incerta.
  • Enxaqueca crônica: definida como dor de cabeça que ocorre 15 ou mais dias por mês durante mais de três meses, com características de enxaqueca em pelo menos oito desses dias. A característica da dor de cabeça pode variar diariamente.
  • Enxaqueca vestibular: termo usado para descrever vertigem episódica em pacientes com histórico de enxaquecas. A associação de dor de cabeça com vertigem varia entre pacientes.
  • Enxaqueca associada ao estrogênio (enxaqueca menstrual): enxaqueca que ocorre em relação próxima ao início da menstruação.
  • Síndrome dos vômitos cíclicos: a síndrome dos vômitos cíclicos é um quadro raro que ocorre normalmente em pessoas com enxaqueca e se caracteriza por episódios repetidos (3 a 4 vezes por ano) de crises de vômitos que podem durar de 3 a 6 dias. Às vezes, é necessário internar os pacientes para controle do quadro e realização de hidratação e correção de distúrbios hidreletrolíticos.

Explicamos a enxaqueca com mais detalhes no artigo: Enxaqueca – Sintomas, Causas e Tratamento.

Cefaleia tensional

A cefaleia tensional é o tipo de dor de cabeça mais comum na população. Acomete mais as mulheres que os homens e o estresse costuma ser o principal desencadeador das crises.

A classificação mais moderna subdivide a cefaleia tensional em três classes:

  • Cefaleia tensional infrequente: menos de 1 episódio por mês.
  • Cefaleia tensional frequente: de 1 a 14 episódios por mês.
  • Cefaleia tensional crônica: mais de 15 episódios por mês.

A característica da cefaleia tensional é ser uma dor de cabeça leve a moderada, não pulsátil, sem que haja necessariamente outros sintomas associados, diferentemente da enxaqueca. Pode durar de 30 minutos até 1 semana. A queixa mais comum é de uma dor em aperto por toda a cabeça, com irradiação para nuca e, em alguns casos, até os ombros. Também é muito comum encontrar a musculatura da cabeça, pescoço e ombros tensa e contraída.

características da cefaleia tensional
Características da cefaleia tensional

Outros sintomas que podem estar presentes incluem insônia, fadiga, irritabilidade, falta de apetite, dificuldade de concentração.

O tratamento é feito com analgésicos ou anti-inflamatórios. (leia: O que são medicamentos anti-inflamatórios?).

Como a cefaleia tensional é um tipo de dor de cabeça que pode ser muito frequente, existe um grupo de pacientes que acaba por fazer uso abusivo de analgésicos para controlar a dor. Esse comportamento pode levar a outro tipo de dor de cabeça, que é a cefaleia induzida por remédios. Os doentes apresentam cefaleia apesar do uso de analgésicos, sugerindo um quadro de tolerância. Existe uma discussão se os próprios analgésicos podem causar a dor de cabeça. Para evitar essa complicação, pessoas com crises de cefaleia frequentes (independente do tipo) devem ser acompanhadas por um neurologista.

Cefaleias trigêmino-autonômicas

As cefaleias trigêmino-autonômicas (CTA), são um grupo de cefaleias primárias caracterizadas por dor intensa e de curta duração na região da cabeça, geralmente associadas a sintomas autonômicos (lacrimejamento, congestão nasal, sudorese, rubor facial, entre outros) no mesmo lado da dor.

Existem 6 tipos principais de cefaleias trigêmino-autonômicas:

  1. Cefaleia em salvas (cluster headache).
  2. Hemicrania contínua.
  3. Hemicrania paroxística.
  4. Cefaleia primária em facadas.
  5. Síndrome de SUNCT (Cefaleia de curta duração unilateral neuralgiforme com congestão conjuntival e lacrimejamento).
  6. Síndrome de SUNA (cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autonômicos cranianos).

Cefaleia em salvas (cluster headache)

A cefaleia em salvas é a forma mais conhecida, mais comum e uma das mais dolorosas do grupo das cefaleias trigêmino-autonômicas. Ela é menos frequente e mais severa que a enxaqueca e cefaleia tensional. Este tipo de dor de cabeça é mais comum em homens.

A cefaleia em salvas ocorre em ciclos de crises (daí o termo “em salvas”), que podem durar várias semanas, intercalados por períodos assintomáticos que podem durar de meses a anos. Um ataque costuma durar de 30 minutos a 3 horas e pode ocorrer até três vezes por dia.

A dor da cefaleia em salvas é tipicamente unilateral e localizada em volta de um dos olhos. Ao contrário da enxaqueca, que pode variar de lado, a cefaleia em salvas costuma atacar sempre o mesmo lado da cabeça. É uma dor de início abrupto, que rapidamente atinge sua maior intensidade, chegando muitas vezes a ser excruciante.

características da cefaleia em salvas
Características da cefaleia em salvas

A dor em volta do olho costuma estar associada a lacrimejamento e vermelhidão do olho acometido. Pode também ocorrer nariz entupido e coriza.

Não existe uma associação clara de fatores precipitantes como na enxaqueca e na tensional. O consumo de álcool e cigarro podem agravar a crise durante os períodos de salvas.

Curiosamente, a cefaleia em salvas é uma dor de cabeça que responde à administração de oxigênio, além dos analgésicos comuns.

Hemicrania contínua

A hemicrania continua é uma forma rara de cefaleia primária caracterizada por uma intensa dor de cabeça contínua, unilateral, que persiste por meses ou até anos sem remissão significativa. As principais características incluem:

  • Localização unilateral: a dor ocorre sempre do mesmo lado da cabeça.
  • Dor contínua: a dor é constante, embora sua intensidade possa variar. Geralmente, a dor é de intensidade moderada, mas pode ter episódios de exacerbação aguda.
  • Resposta à indometacina: um aspecto diagnóstico distintivo é a resposta completa ou quase completa ao uso da indometacina, um anti-inflamatório não esteroidal.
  • Sintomas autonômicos: durante os períodos de dor mais intensa, podem ocorrer sintomas autonômicos no mesmo lado da dor, como lacrimejamento, vermelhidão ocular, congestão nasal ou ptose palpebral.

Hemicrania paroxística

A hemicrania paroxística é uma desordem de cefaleia caracterizada por ataques curtos e frequentes de dor intensa, unilateral, acompanhados por sintomas autonômicos. Existem duas variantes desta condição:

  • Hemicrania Paroxística Episódica (HPE): os episódios de dor ocorrem em períodos ou “salvas” que duram de semanas a meses, seguidos por períodos sem dor.
  • Hemicrania Paroxística Crônica (HPC): nesta forma, os ataques ocorrem sem períodos de remissão significativos, ou os períodos sem dor duram menos de três meses.

Características comuns das hemicranias paroxísticas incluem:

  • Duração dos ataques: a dor dura geralmente de 2 a 30 minutos.
  • Frequência dos ataques: vários ataques podem ocorrer ao longo do dia.
  • Sintomas autonômicos: durante os ataques, podem surgir sintomas como lacrimejamento, congestão nasal, vermelhidão ocular, ou ptose palpebral no mesmo lado da dor.
  • Resposta à indometacina: assim como a hemicrania continua, a hemicrania paroxística também responde bem ao tratamento com indometacina, sendo este um ponto-chave para o diagnóstico.

Cefaleia primária em facadas

A cefaleia primária em facadas é um tipo de cefaleia caracterizado por dor breve e intensa, semelhante a facadas, que ocorre na cabeça. As principais características incluem:

  • Dor breve e aguda: a dor é muito curta, durando geralmente de alguns segundos a até um minuto.
  • Localização variável: a dor pode ocorrer em qualquer parte da cabeça, embora frequentemente afete a área ao redor dos olhos, o couro cabeludo ou as têmporas.
  • Padrão irregular: os ataques são geralmente esporádicos e imprevisíveis, podendo ocorrer isoladamente ou em séries durante o dia.
  • Sem sintomas autonômicos: diferentemente de outras cefaleias trigêmino-autonômicas, esta condição geralmente não apresenta sintomas autonômicos significativos, como lacrimejamento ou congestão nasal.
  • Sem fatores desencadeantes claros: a dor pode surgir sem um gatilho específico e frequentemente ocorre em indivíduos sem histórico de cefaleia crônica.

Síndrome de SUNCT

A síndrome de SUNCT (cefaleia de curta duração unilateral neuralgiforme com congestão conjuntival e lacrimejamento) é uma forma rara de cefaleia trigêmino-autonômica. Suas principais características incluem:

  • Dor intensa e de curta duração: os ataques de dor são muito breves, durando de segundos a poucos minutos, mas são extremamente intensos. A dor é geralmente unilateral e pode ocorrer na área ao redor do olho, na têmpora ou na face.
  • Sintomas autonômicos marcantes: durante os ataques, ocorrem sintomas autonômicos proeminentes no mesmo lado da dor, como vermelhidão ocular (congestão conjuntival) e lacrimejamento.
  • Frequência alta de ataques: os indivíduos podem experienciar múltiplos ataques ao longo do dia, com frequência variando de algumas vezes por dia a centenas de episódios.
  • Resposta ao tratamento: A Síndrome de SUNCT pode ser difícil de tratar, e os medicamentos comumente utilizados para outras cefaleias trigêmino-autonômicas, como a indometacina, geralmente não são eficazes. Tratamentos antiepilépticos, como o lamotrigina, podem ser úteis.

Síndrome de SUNA

A síndrome de SUNA (cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autonômicos cranianos) é uma desordem de cefaleia rara e semelhante à Síndrome de SUNCT, mas com algumas diferenças nos sintomas autonômicos. As principais características da Síndrome de SUNA incluem:

  • Dor intensa e de curta duração: a dor é unilateral, muito intensa, e ocorre em ataques breves, durando de segundos a poucos minutos. A localização da dor é frequentemente ao redor do olho, da têmpora ou da face.
  • Sintomas autonômicos menos pronunciados: ao contrário da SUNCT, os sintomas autonômicos como lacrimejamento e vermelhidão ocular (hiperemia) são menos proeminentes ou consistentes.
  • Alta frequência de ataques: os pacientes podem sofrer vários ataques ao longo do dia, que podem ser bastante debilitantes devido à frequência e intensidade.
  • Tratamento: o tratamento da Síndrome de SUNA pode ser desafiador, e os pacientes frequentemente não respondem bem à indometacina, um tratamento eficaz para outras cefaleias trigêmino-autonômicas. Medicamentos como antiepilépticos podem ser usados.

Outros tipos de cefaleia primária

Além das três grandes síndromes de cefaleia primária explicadas nos tópicos anteriores, existem também outras causas menos comuns de cefaleia primárias. Falaremos rapidamente das principais.

Cefaleia primária da tosse

A cefaleia primária da tosse é um tipo de dor de cabeça desencadeada por episódios de tosse. Este tipo de cefaleia é caracterizado por dores súbitas e de curta duração, que geralmente duram de segundos a minutos. A dor é tipicamente bilateral, ou seja, afeta ambos os lados da cabeça, e tende a ser de natureza aguda e penetrante.

A cefaleia primária da tosse é mais comum em pessoas acima de 40 anos e sua causa exata ainda não é bem compreendida. Diferentemente de outras dores de cabeça primárias, como a enxaqueca ou a cefaleia tensional, a cefaleia da tosse é especificamente desencadeada por atos de tosse.

O diagnóstico geralmente é feito após excluir outras causas potenciais de dor de cabeça induzida por tosse, pois condições como sinusite, aneurismas cerebrais ou tumores intracranianos também podem causar sintomas semelhantes.

Cefaleia primária do esforço

A cefaleia primária do esforço, ou cefaleia primária do exercício, é um tipo de dor de cabeça que ocorre durante ou após atividades físicas intensas. É caracterizada por uma dor súbita, de curta duração, que é habitualmente bilateral (afetando ambos os lados da cabeça). A dor é frequentemente descrita como latejante.

Embora a cefaleia primária do esforço seja geralmente considerada benigna e não associada a condições neurológicas graves, é importante realizar um diagnóstico diferencial para descartar outras causas de dor de cabeça induzida por esforço, como aneurismas ou malformações vasculares.

O tratamento pode incluir medidas preventivas, como o aquecimento adequado antes do exercício e evitar atividades que desencadeiem a dor. Em alguns casos, medicamentos preventivos podem ser prescritos.

Os dados são limitados com relação ao prognóstico de longo prazo da cefaleia primária do exercício. Em uma série que acompanhou 93 pacientes, a remissão completa da cefaleia em cinco anos foi observada em 32%, e a melhora significativa ou remissão completa após 10 anos foi observada em 78%.

Cefaleia primária associada à atividade sexual

A cefaleia primária associada à atividade sexual é um tipo de dor de cabeça que ocorre em conexão com a atividade sexual, começando geralmente durante a excitação ou o orgasmo. Esta condição pode ser dividida em dois tipos principais:

  • O primeiro tipo é caracterizado por uma dor de cabeça de intensidade crescente, bilateral e pulsátil, com o aumento da excitação sexual;
  • O segundo tipo, chamado cefaleia orgástica, é mais súbito e intenso, muitas vezes descrito como “explosiva”, ocorrendo usualmente no momento do orgasmo. A cefaleia orgástica pode se generalizar rapidamente e envolver toda a cabeça. A dor intensa geralmente dura menos de 15 minutos, mas a dor de cabeça latejante subsequente persiste geralmente por várias horas.

Embora a causa exata seja desconhecida, acredita-se que esteja relacionada às alterações na pressão sanguínea e tensão muscular durante a atividade sexual.

O tratamento pode incluir o uso de medicamentos preventivos e medidas para reduzir a intensidade e a frequência das dores de cabeça. Aconselhamento e técnicas de relaxamento também podem ser úteis. Em muitos casos, a cefaleia primária associada à atividade sexual é esporádica e pode se resolver sem tratamento.

Cefaleia por estímulo frio

A cefaleia por estímulo frio, também conhecida como “dor de cabeça do sorvete”, é um tipo de dor de cabeça transitória desencadeada pela exposição a estímulos frios. Geralmente ocorre após o consumo de alimentos ou bebidas geladas, como sorvete ou bebidas geladas, ou pela exposição a temperaturas frias. A dor é tipicamente aguda e de início súbito, localizando-se principalmente na região frontal da cabeça.

Esta condição é caracterizada por ser de curta duração, durando geralmente menos de cinco minutos. A dor surge rapidamente após a exposição ao estímulo frio e tende a resolver-se espontânea e rapidamente após a remoção do estímulo.

A causa exata da cefaleia por estímulo frio não é totalmente compreendida, mas acredita-se que esteja relacionada à rápida mudança de temperatura na parte posterior da garganta e palato, que afeta os vasos sanguíneos e nervos na área.

Embora seja uma condição incômoda, geralmente não é grave e não requer tratamento específico, além de evitar a exposição a estímulos frios ou consumir alimentos e bebidas frias mais lentamente para prevenir a ocorrência da dor.

Cefaleia hípnica

A cefaleia hípnica, também conhecida como “cefaleia do despertar”, é um distúrbio de dor de cabeça raro que ocorre exclusivamente durante o sono, levando frequentemente ao despertar do paciente. Caracteriza-se por dores de cabeça que surgem durante o sono e persistem por um tempo após o despertar. Estas dores de cabeça geralmente duram de 15 a 180 minutos, podendo variar em intensidade.

A cefaleia hípnica afeta mais comumente indivíduos acima de 50 anos, embora possa ocorrer em qualquer idade. A dor é tipicamente moderada, mas pode ser intensa, e geralmente é descrita como uma sensação de pressão ou aperto, afetando ambos os lados da cabeça.

A causa exata da cefaleia hípnica é desconhecida, e o diagnóstico é feito principalmente por exclusão de outras condições médicas. O tratamento pode incluir medicamentos preventivos, como a cafeína antes de dormir ou outros medicamentos específicos prescritos pelo médico.

Embora seja uma condição crônica, a cefaleia hípnica pode ser gerenciada efetivamente com tratamento adequado, permitindo que os pacientes mantenham uma boa qualidade de sono e de vida.

15 Sinais de gravidade de uma dor de cabeça

Como já foi explicado antes, a grande maioria dos episódios de cefaleia são causados por patologias benignas. Mas, mesmo pessoas com história de dor de cabeça crônica ficam assustadas com algumas crises. O medo de todos é que uma doença grave não identificada, como um tumor ou aneurisma cerebral, possa ser a causa da cefaleia.

É impraticável realizar tomografias computadorizadas em todas as pessoas que apresentam dor de cabeça. Em geral, a história clínica e um bom exame físico são suficientes para definir se há ou não necessidade da realização de um exame de imagem.

É importante ter em mente as principais características das cefaleias primárias descritas acima para não confundi-las com as causas graves de dor de cabeça.

15 sinais de alerta de uma dor de cabeça

  1. Início súbito: cefaleias persistentes, de início abrupto, que atingem sua maior intensidade em alguns segundos, podem indicar rotura de aneurismas ou trombose venosa. É importante lembrar que a cefaleia em salvas pode apresentar essas características, porém, costuma durar poucas horas, possui localização típica e sinais como lacrimejamento e olhos vermelhos. A enxaqueca costuma começar como uma dor leve a moderada e piorar ao longo das horas.
  2. Pior dor de cabeça da vida: quando o paciente refere que o atual quadro é de longe a pior dor de cabeça de sua vida, ou uma cefaleia completamente diferente das que costuma ter, deve-se ter mais atenção com o quadro. Hemorragias e infecções podem ser a causa. Essas queixas em pacientes com câncer, AIDS e imunossuprimidos são particularmente preocupantes.
  3. Mudança de padrão: se o paciente tem um tipo de dor de cabeça e ela após anos muda de padrão, isso pode indicar uma causa secundária.
  4. Cefaleia progressiva e apresentações atípicas: qualquer cefaleia que esteja piorando progressivamente ou apresentando sintomas incomuns deve ser avaliada por um neurologista.
  5. Dor de cabeça posicional: uma dor de cabeça que piora ou melhora com mudanças na posição do corpo deve ser avaliada, pois as causas primárias de cefaleia não costumam sofrer interferência da posição.
  6. Infecções concomitantes: pacientes que apresentam quadro de sinusite, otite, infecções de pele na face apresentam maior risco de desenvolver abscessos cerebrais e meningite (leia: Sintomas da meningite). Infecções após implantação de piercings podem ser a porta de entrada.
  7. Febre: a presença de cefaleia intensa associado a febre sem causa definida, principalmente se houver rigidez de nuca, indica meningite. É importante lembrar que a febre por si só pode causar dor de cabeça. Não confunda uma gripe com algo mais grave.
  8. Medicações: alguns pacientes usam medicamentos como corticoides, que facilitam infecções, e anticoagulantes, que facilitam sangramentos.
  9. Alteração do estado de consciência: obviamente, doentes que entram em coma, apresentam crises convulsivas, desorientação súbita ou déficits neurológicos devem procurar imediatamente um serviço de emergência.
  10. Déficit neurológico: se a cefaleia está associada a um déficit neurológico, como fraqueza em um lado do corpo, perda da visão, alterações da fala ou da marcha, isso é um sinal de possível AVC.
  11. Papiledema: o inchaço do disco óptico, a parte do nervo óptico que se encontra dentro do olho, é chamada de papiledema. Se o paciente com dor de cabeça apresenta papiledema ao exame oftalmológico, isso pode estar associado a problemas graves, como tumores, hipertensão intracraniana ou infecções.
  12. Trauma: cefaleias que ocorrem após traumatismos devem ser avaliadas com mais cuidado, principalmente em idosos, devido ao risco de hemorragias intracranianas. Algumas pessoas desenvolvem dores de cabeça crônica após um traumatismo do crânio.
  13. História familiar: pacientes com parentes de primeiro grau que sofreram rotura de aneurismas também devem ser avaliados com mais cuidado.
  14. Histórico de câncer: se a pessoa tem histórico de câncer e desenvolve uma dor de cabeça nova, é importante estar atento, pois pode ser um sinal de metástase cerebral.
  15. Início após os 50 anos de idade: o início de uma nova dor de cabeça após os 50 anos costuma indicar uma causa secundária, como tumor, vasculite ou infecções.

Os pacientes com um ou mais sinais de alerta acima não necessariamente apresentam alguma condição grave, mas, por uma questão de segurança, devem ser avaliados por um médico neurologista.

Não existe um protocolo definido de quando pedir, ou não, uma tomografia computadorizada. Alguns quadros são óbvios, como nas alterações neurológicas, em outros, mais questionáveis. Depende do bom senso do médico e do quadro clínico do paciente.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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