Body piercing: perigos e complicações

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Piercing

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Introdução

O uso de body piercing tem se tornado cada vez mais comum entre os jovens. Cerca de 1 em cada 4 pessoas entre 13 e 29 anos possui um piercing.

Na maioria dos casos, a implantação do piercing decorre sem maiores complicações, mas o procedimento está longe de ser isento de problemas. Até 40% das pessoas apresentam algum grau de infecção da pele e 1% desenvolvem complicações graves que necessitam de internação hospitalar.

Infecção pelo piercing

A pele é o nosso maior órgão de defesa. Ela impede que as bilhões de bactérias que vivem na nossa pele invadam nosso organismo. Quando furamos essa barreira através de um piercing, estamos expondo nosso interior a germes que causam doenças.

Fazendo uma analogia, podemos dizer que um furo na pele equivale a deixar a porta de casa aberta em uma vizinhança cheia de ladrões. Pode até não acontecer nada, mas o risco é muito maior do que se a porta estivesse trancada.

Alguns locais como a língua e a orelha são mais susceptíveis a complicações. A primeira por ser a boca uma região rica em bactérias, e a segunda por ser a cartilagem da orelha uma região de baixa vascularização sanguínea, o que dificulta a chegada de células de defesa.

Todavia, qualquer região do corpo pode apresentar infecções graves. Isso inclui genitais, umbigo, sobrancelhas, mamilos, etc. Sempre que a barreira da pele for quebrada haverá risco de contaminação bacteriana.

Quanto menos cuidado com a assepsia houver no momento da inserção do piercing, maiores será o risco de complicação. Nos EUA existem relatos de epidemias de infecções bacterianas relacionadas a alguns locais de tatuagem que realizam implantações de piercing sem os cuidados necessários.

Piercing na orelha

Como a região de cartilagem apresenta uma vascularização sanguínea pobre, qualquer infecção local pode ser difícil de ser tratada porque havendo pouco sangue, não há fluxo suficiente nem de das células de defesa nem dos antibióticos que possam ser prescritos.

Infecção da cartilagem da orelha pelo piercing
Infecção da cartilagem da orelha pelo piercing

A duas infecções mais comuns da orelha são a celulite, provocada pela bactérias Staphylococcus aureus, e a pericondrite, que é a inflamação da cartilagem da orelha e costuma ser provocada pela bactéria Pseudomonas aeruginosa.

A infecção da orelha pode surgir no momento da implantação do piercing, se o processo for feito com pouca assepsia, ou mais tardiamente, caso a orelha não seja limpa com produtos adequados.

Todos os casos de celulite da orelha ou pericondrite devem ser tratados com antibióticos e remoção do piercing. Nos casos mais graves, principalmente se não tratados a tempo, o paciente pode ficar com deformidades na orelha.

Piercing na língua

A língua é outro local comum de infecção. Nesse caso, o problema é o oposto da cartilagem. Ela é um órgão extremamente vascularizado e localizado em uma região com elevada carga de bactérias.

A boca é dos sítios do corpo humano com maior concentração de bactérias. Como há muito fluxo de sangue, qualquer infecção na língua pode facilmente atingir a circulação sistêmica e levar as bactérias a órgãos distantes.

Há casos descritos de formação de abscesso cerebral apenas 4 semanas após a colocação de piercing na língua. A bactéria entrou pelo orifício do piercing, alcançou a circulação sanguínea e foi se alojar no cérebro.

Outro órgão distante que pode ser acometido nesses casos são as válvulas cardíacas, causando uma grave infecção chamada endocardite infecciosa.

Além da infecção da língua, outras complicações que podem surgir são:

  • Gengivite e periodontite por dificuldade em manter uma higiene oral adequada.
  • Sangramento frequente da língua.
  • Aumento da salivação.
  • Lesões dos dentes por trauma do piercing.
  • Interferência com a mastigação e deglutição.
  • Interferência na fala.

As complicações listadas acima não são graves, mas podem ser incômodas e frequentemente levam o paciente a desistir do piercing.

Tempo de cicatrização

A completa cicatrização do local de inserção é necessária para reduzir o risco de infecção. Cada local do corpo tem um tempo diferente, que pode variar de alguns dias até vários meses.

Os tempos de cicatrização médio para cada tipo de piercing são os seguintes:

  • Clitóris – 2 a 6 semanas.
  • Língua – 3 a 6 semanas.
  • Lóbulo da orelha e aurícula – 6 a 8 semanas.
  • Sobrancelha – 6 a 8 semanas
  • Lábio – 6 a 8 semanas.
  • Saco escrotal – 2 a 3 meses.
  • Grandes lábios – 2 a 4 meses.
  • Mamilo – 2 a 4 meses.
  • Glande do pênis – 3 a 9 meses.
  • Umbigo – até 9 meses.

Queloides

Outra complicação comum dos piercings é a formação de queloides, que são cicatrizes hipertrofiadas, que podem ocorrer após processos inflamatórios exuberantes.

Queloide orelha
Queloide na orelha orelha

O queloide pode ser grande, deformante e pode ocorrer em qualquer ponto do corpo onde haja uma reação ao piercing.

Para saber mais sobre queloide, leia: QUELOIDE E CICATRIZ HIPERTRÓFICA.

Outras complicações

Outras complicações do piercing que podem acontecer são:

  • Alergia ao metal (aço cirúrgico, ouro 14K e titânio são os melhores metais para evitar alergias).
  • Intensa dor local.
  • Aspiração do piercing pelos pulmões.
  • Infecção por hepatite B, hepatite C ou HIV.
  • Infecções gengivais.
  • Parafimose, nos casos de colocação de piercings no pênis.

Conclusão

Antes de se submeter a um piercing, procure informações do local. A implantação de qualquer objeto através de quebra da barreira da pele deve ser considerada como um procedimento cirúrgico e, como tal, deve estar submetida a criteriosos padrões de assepsia.

As complicações graves são raras, mas podem colocar a vida em risco ou provocar lesões deformantes.

Se você tem histórico de queloides, procure antes a orientação de um dermatologista.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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