O que é a Mononucleose (doença do beijo)?

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O que é mononucleose?

A mononucleose infecciosa, também conhecida como doença do beijo, é uma doença contagiosa causada por um vírus da família do herpes chamado vírus Epstein-Barr (EBV), que é transmitido através da saliva.

A imensa maioria das pessoas tem contanto com o vírus nos primeiros anos de vida e desenvolvem um quadro bem brando, que é indistinguível de um resfriado simples. Essas crianças contaminadas curam-se espontaneamente e adquirem imunidade para o resto da vida. Menos de 10% das crianças que se contaminam com o Epstein-Barr desenvolvem sintomas relevantes, como febre ou dor de garganta.

A doença mononucleose, com os sintomas clássicos de febre alta, dor de garganta, prostração e aumento dos linfonodos do pescoço, geralmente ocorre na adolescência ou início da vida adulta, quando alguém que conseguiu passar a infância sem ser contaminado finalmente entra em contato com o vírus.

Transmissão

O vírus Epstein-Barr é transmitido de humano para humano através da saliva. Por este motivo ganhou a alcunha de “doença do beijo”. Além do beijo, a mononucleose também pode ser transmitida através da tosse, espirro, objetos, como copos e talheres, ou qualquer outro modo no qual haja contato com a saliva de uma pessoa contaminada.

Apesar do modo de transmissão ser semelhante ao da gripe, o EBV é um vírus menos contagioso, o que faz com que seja possível haver contato com pessoas infectadas e não se infectar. O contágio só costuma ocorrer após contato prolongado com uma pessoa contaminada.

Um indivíduo infectado pelo Epstein-Barr costuma manter-se com o vírus na sua orofaringe, em média, por 6 meses após a resolução dos sintomas, podendo contaminar pessoas com quem mantenha algum contato íntimo, principalmente se prolongado. E não é incomum encontrarmos pessoas ainda contagiosas 18 meses depois de terem tido a infecção.

É por isso que a maioria das pessoas que desenvolve mononucleose não se recorda de ter tido contato com alguém doente. A própria pessoa que transmite o vírus também nem sequer imagina que ainda possa transmiti-lo tanto tempo depois.

Na prática, a mononucleose não é um problema de saúde pública muito relevante porque além de não ser extremamente contagiosa, a maioria dos casos ocorre ainda na infância, quando a doença costuma ser mais branda, e até 90% dos pacientes chega à fase adulta já imunizado contra o vírus.

Sintomas

Conforme já explicado, menos de 10% das crianças infectadas apresentam sintomas. Essa incidência começa a subir com o passar dos anos, atingindo seu ápice entre os 15 e 24 anos. Essa é a faixa etária que mais costuma apresentar infecção sintomática. A mononucleose é rara após os 30 anos, uma vez que praticamente todas as pessoas nesse grupo já terão sido expostos ao vírus em algum momento da vida.

Nas pessoas que desenvolvem sintomas, o período de incubação, ou seja, intervalo de tempo desde o contato até o aparecimento dos primeiros sintomas da doença, é, em média, de 4 a 8 semanas.

Os sintomas típicos da mononucleose clássica são:

  • Febre – presente em 98% dos casos.
  • Aumento dos linfonodos do pescoço – presente em mais de 99% dos casos.
  • Dor de garganta – presente em 85% dos casos.

Outros sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, dores musculares e cansaço também são comuns e costumam surgir antes do aparecimento da tríade clássica descrita acima.

Outro sinal característico da mononucleose é o aumento do baço, chamado de esplenomegalia. Quando ocorre, é necessário manter repouso, devido ao risco de ruptura do mesmo. A ruptura do baço é rara, mas quando acontece leva a risco de morte devido ao intenso sangramento que se sucede. O baço aumenta tanto de tamanho, que pode ser palpável abaixo das costelas, à esquerda do abdômen.

O acometimento do fígado não é incomum, podendo levar a um quadro de hepatite com icterícia em até 20% dos casos. Outras complicações descritas, porém, menos comuns, são a síndrome de Guillain-Barré e a paralisia facial.

A maioria dos sintomas desaparece dentro de 4 semanas, mas o cansaço pode ser prolongado, durando até 6 meses.

A mononucleose não costuma causar maiores problemas quando adquirida durante a gravidez. Não há evidências de aumento do risco de má-formação, aborto ou parto prematuro.

Diferenças entre mononucleose e faringites bacterianas

À primeira vista, os sintomas da mononucleose são exatamente iguais aos de qualquer faringite. Porém, há algumas diferenças que ajudam a distinguir ambas situações.

Em geral, as faringites ou amigdalites provocadas pelo EBV não causam pus nas amígdalas. Esse sinal costuma ser típico das amigdalites bacterianas. Porém, alguns pacientes com mononucleose podem desenvolver uma amigdalite purulenta, muitas vezes com um aspecto que parece um manto de pus recobrindo as amígdalas, como na foto acima. Nesses casos, é difícil distinguir sem exames complementares se a origem da amigdalite é bacteriana ou é mononucleose.

Amigdalite com pus em manto - mononucleose
Amigdalite com pus em manto – mononucleose

A adenopatia (aumento dos linfonodos) na mononucleose infecciosa é um pouco diferente da faringite comum, acometendo preferencialmente as cadeias posteriores do pescoço (região da nuca) e frequentemente se espalhando pelo resto do corpo. A adenopatia das faringites virais e bacterianas se restringe ao pescoço e costuma ocorrer na região anterior, abaixo da mandíbula.

Uma dica para o diagnóstico diferencial entre as faringites bacterianas e a mononucleose é que nesse último pode haver o aparecimento de uma rash (manchas vermelhas) pelo corpo após o início de antibióticos, principalmente se o medicamento for a amoxicilina.

É muito comum o paciente procurar atendimento médico com mononucleose, ser equivocadamente diagnosticado com faringite bacteriana, ser medicado com amoxicilina e horas apresentar o corpo cheio de manchas vermelhas, como se tivesse feito uma alergia ao antibiótico.

O mecanismo que leva ao aparecimento desse rash ainda não está muito bem explicado.

Rash da mononucleose
Rash da mononucleose

Síndrome de mononucleose x doença mononucleose

Um fato que causa confusão, inclusive entre médicos, é a diferença entre a doença mononucleose infecciosa e a síndrome de mononucleose. O primeiro é causado pelo Epstein-barr vírus e é o alvo de discussão desse artigo. Já a síndrome de mononucleose engloba todas doenças que podem cursar com dor de garganta, aumento de linfonodos, febre e aumento do baço. Entre elas destacam-se o HIV, citomegalovirose, linfomas e toxoplasmose. Portanto, ter mononucleose infecciosa é diferente de ter uma síndrome de mononucleose.

Diagnóstico

O diagnóstico da mononucleose é feito através do quadro clínico e é confirmado por análises de sangue.

No hemograma da mononucleose um achado típico é o aumento do número de leucócitos (leucocitose), causado pela maior produção de linfócitos (linfocitose).

Quando o fígado é acometido, pode haver elevação das enzimas hepáticas, chamadas de TGO e TGP.

O diagnóstico definitivo, porém, é feito através da sorologia, com a pesquisa de anticorpos. O mais comum e simples é um exame chamado monoteste.

Tratamento

O tratamento baseia-se em sintomáticos e repouso. Não há medicamento específico para o vírus e o quadro clínico costuma se resolver espontaneamente em duas a quatro semanas.

Devido ao risco de ruptura do baço, recomenda-se evitar exercícios por pelo menos quatro semanas.

Durante muitos anos se associou a mononucleose com a síndrome da fadiga crônica. Porém, hoje sabe-se que a fadiga da mononucleose é diferente. O cansaço prolongado que pode ocorrer após a mononucleose normalmente não vem associado com os outros sintomas da síndrome e habitualmente ocorre por reativações mais fracas do vírus.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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78 comentários em “O que é a Mononucleose (doença do beijo)?”

  1. Como é possível diferenciar a amidalite da mononucleose? Quais efeitos prejudiciais se a doenca é mononucleose e for tratada como amidalite com amoxilina? Grata.

    Responder
    • Clinicamente às vezes é difícil distinguir as duas. Os exames laboratoriais ajudam.
      Exceto pelo rash, que é transitório, não há maiores problemas se tomar amoxicilina na mononucleose.

      Responder
  2. Olá Dr. Pedro, tenho algumas dúvidas, a mononucleose pode ser transmitida no período de incubação? Por quanto tempo o vírus permanece na saliva após o desaparecimento dos sintomas? As chances de transmissão são grandes mesmo após cessar os sintomas? Agradeço desde já

    Responder
  3. Tenho 38 anos, há 2 meses estou com fortes dores de garganta, com linfonodos aumentados no pescoço, axilas e virilhas.
    Cheguei a ir ao médico, e tomei amoxilina por 3 dias e parei porque não fez nenhum efeito. Fiz vários exames e um apareceu Reagente:
    Epstein Barr Vírus – IgG = 2024 U/ml
    Epstein Barr Vírus – IgM = 85 U/ml

    Este primeiro está muito alto. Será que vai diminuir essa quantidade e melhorar logo?

    Responder
  4. Qual especialista pode avaliar meus linfonodos do pescoço? Possuo alguns nas laterais há uns 20 anos…tive mononucleose aos 6 anos. Será possivel ainda ser disso?

    Responder
    • Hematologista. Mas se já tem 20 anos, é possível que sejam linfonodos cicatrizados por causa da mononucleose

      Responder
    • A doença foi descrita pela primeira vez sob o nome de mononucleose infecciosa em 1920. O vírus Epstein-barr, causador da doença, só foi descrito em 1964.

      Responder
  5. Dr, conheco uma crianca de 8 anos de idade e foi diagnosticado com a doença do beijo. a mae dela esta muito desmotivada pois disseram que é uma doença sem cura. essa informação é verídica? esse virus pode ficar encubado vindo posteriormente se manifestar novamente?? aguardo anciosa por sua resposta pois a mae do garoto está desesperada :(

    Responder
    • Monucleose costuma ser uma doença benigna e quase todo mudo já teve. Eu mesmo já tive. Ou ela foi mal orientada ou a doença do filho é outra.

      Responder
  6. DR. meu exame constatou que tenho mononucleose, minha gargante fica enflamada de 20 em 20 dias, não aguento mas isso, porem eu gostaria de saber se posso fazer a cirurgia de remoção das amigdalas.

    Responder
    • Jonnie, não tenho como opinar à distância se a cirurgia de retirada de amígdalas está indicada no seu caso. Quem pode lhe dizer isso é um otorrinolaringologista.

      Responder
  7. Dr pedro
    ja tive a doença mas ja fui curada a algumas semanas apenas,ontem a noite uma narina minha ficou entupida,e quando fui assoar saiu o mesmo catarro amarelo que saia de quando eu estava doente,ela pode estar voltando?posso beber normalmente depois que isso acabou?
    obrigada.

    Responder
    • Qualquer virose pode causar constipação nasal. Isso é um sintoma muito inespecífico. Em relação à bebida, não tenho como opinar à distância se você está apta ou não a beber.

      Responder
  8. Dr.Pedro..meu nome é Nathalia, eu ja tive a mononucleose,fiquei algumas semanas com aqueles pus na garganta e muita dor..enfim.
    Ja nao estou mais com isso,todas as inguas da minha garganta e pus sumiram..mas eu queria saber se tem algum perigo de algo acontecer se eu ingerir alcool,é possivel passar mal mesmo depois que a doença foi embora?

    Responder
  9. Bom dia! É possível um médico afirmar diagnostico de mononucleose numa criança de 3 anos sem solicitar exames específicos? Ontem levei minha filha no pediatra que diagnosticou virose. Logo mais a noite quanto percebi um nódulo atrás da orelha levei imediatamente na urgência. Este ultimo diagnosticou vírus mononucleose. É possível essa afirmação?

    Parabéns pelo blog! Tenho certeza que será de grande valia para todos que procuram acrescentar mais informações sobre seus diagnósticos.

    Obrigada

    Simone

    Aracaju/Se

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  10. Parabéns Dr.! Muito explicativo de forma para que todos entemdam e tire suas dúvidas…
    Tão joveme de uma capacitação maravilhooosa!
    Pena que em nossa medicina não se tenham muitos exemplos como o seu!
    Dedicação amor e respeito ao seu próximo!

    Responder
  11. Dr. Pedro, me chamo Rodrigo e gostaria de saber como diferir os sintomas da mononucleose infecciosa aos sintomas da amigdalite, sendo que estou com dor de garganta a 5 dias, com a presença de uma manchinha branca-acinzentada na amigdala (até onde sei, na amigdala mesmo) e tambem aumento dos linfonodos do pescoço, porem nao apresento esplenomegalia, rash, febre e nem cansaço.. Agradeço desde ja

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    • Apenas pelos sintomas geralmente não é possível distingui-los. O quadro pode ser mesmo muito semelhante. Só fazendo o exame de sangue.

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  12. ola DR. PEDRO. por gentileza caro Senhor Médico seria possivel me indicar alimentos que ajudem a combater ou a melhorar mais rapido. Por favor lhe suplico….

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    • Raramente, uma faringite não tratada pode levar a uma glomerulonefrite, que é uma doença do rim que provoca insuficiência renal aguda

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  13. Olá,Doutor ! Me chamo Daniela ,meu filho de 3 anos fez exames em junho de 2011 e acusou mononucleose .Até hoje ele tem os linfonodos do pescoço crescidos é normal?Quanto tempo depois eles diminuem e voltam ao tamanho normal?Obrigada!

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  14. Saudacoes Dr Pedro.
    Uma questao a lhe colocar de que precisaria de um exclarecimento se assim estiver disponivel.
    Doutor a estomatite faz parte da monocleos?

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  15. Ola doutor, estou escrevendo de Portugal, e hoje o namorado da minha filha de 17 anos disse-nos que ficou internado no hospital 24 horas porque foi diagnosticado que ele tem mononucleose. Estou muito preocupada porque nao conhecia essa doença e passei a pesquisar na net. A questao é que minha filha nao tem nenhum sintoma ate agora ha nao ser garganta seca e fica com sono mais cedo do que o habitual. Mas como ela tem uma rinite alergica e toma oa antiestaminicos eu associo esse sono aos medicamentos. Eu pergunto se é possivel ela ter apanhado a doença com o namorado e nao ter se manifestado ainda e se nesse caso ela deve ja fazer as analises pra saber se ela pode ter?

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    • A maior probabilidade é de que ela já tenha anticorpos contra a doença e nada sofrerá. Se ela nada sente, não é preciso fazer exames.

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  16. doutor meu  muito  obrigado por  todas  estas  informações  muito  bacana  de  sua  parte  pois  com  certeza ajuda  muitas  pessoas  como  esta  ajudando  amim obrigado por  tudo !!!!

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    • O uso de antibióticos é feito quando o médico imagina que a faringite possa estar sendo causada por uma bactéria. O quadro clínico é muito parecido e às vezes engana mesmo. Entretanto, se o médico suspeitar de mononucleose não há por que prescrever antibióticos.

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