O que é a caxumba?
A caxumba, também conhecida como parotidite infecciosa, parotidite epidêmica ou papeira, é uma infecção viral muito comum na infância, transmitida pela via respiratória e que ataca preferencialmente a glândula parótida.
A glândula parótida, ou simplesmente parótida, é a maior das três glândulas salivares, que o próprio nome diz, são responsáveis pela produção de saliva.
As glândulas salivares são formadas aos pares, uma em cada lado da boca, sendo classificadas conforme a sua localização (veja a ilustração abaixo para facilitar a compreensão):
- Glândulas parótidas: são as maiores glândulas salivares, situam-se nas laterais do rosto, logo à frente das orelhas. A saliva produzida é secretada na altura do segundo molar superior.
- Glândulas submandibulares: encontram-se na parte interna da mandíbula. Elas secretam a saliva no assoalho da boca.
- Glândulas sublinguais: localizam-se sob o assoalho da boca e por baixo de cada lado da língua. Também secretam a saliva no assoalho da boca.
O vírus da caxumba se aloja preferencialmente na parótida, fazendo com que a mesma fique inflamada, apresentando-se inchada e dolorosa (parotidite). A caxumba também pode acometer as outras glândulas salivares.
Transmissão
A parotidite infecciosa é transmitida de uma pessoa para outra através das secreções das vias aéreas, semelhantemente ao que ocorre com outras viroses respiratórias, como a gripe ou resfriado. O vírus da caxumba é altamente contagioso, sendo facilmente transmitido para pessoas susceptíveis.
O período de incubação da caxumba varia entre 14 e 25 dias. Entre 3 e 5 dias antes do aparecimento dos sintomas típicos da caxumba, o paciente apresenta o que chamamos pródromos, sintomas inespecíficos que podem ser confundidos com um início de gripe, como dor de cabeça, febre baixa, perda do apetite, mal-estar e dor muscular.
O paciente contaminado já é capaz de transmitir o vírus três dias antes dos sintomas prodrômicos surgirem, mantendo-se contagioso por até 5 dias após o aparecimento dos sintomas típicos da caxumba, sendo este o tempo indicado de isolamento dos pacientes.
Sintomas
Nem todas as pessoas contaminadas pelo vírus da caxumba irão desenvolver sintomas. Cerca de 20 a 30% não costumam apresentar sintomatologia, no máximo queixas inespecíficas que passam praticamente despercebidas.
Nos pacientes sintomáticos, 95% apresentam a parotidite, com dor e edema (inchaço) das glândulas parótidas, provocando a clássica manifestação clínica da caxumba.
A parotidite costuma ser bilateral, mas eventualmente pode acometer apenas um lado, como na imagem acima. Esse inchaço no rosto costuma durar até 10 dias.
Além do edema da parótida, a parotidite infecciosa também provoca os seguintes sintomas:
- Febre.
- Cansaço
- Dor muscular pelo corpo
- Fraqueza
- Mal-estar.
- Boca seca.
O diagnóstico pode ser confirmado pela sorologia, porém o quadro clínico costuma ser tão típico que esta confirmação laboratorial não precisa ser feita obrigatoriamente.
Complicações
As complicações da caxumba são raras, porém costumam ser graves. A maioria delas ocorria antes do advento da vacina, mas ainda podem ser encontradas em adultos nos dias de hoje.
O fato das complicações poderem ocorrer mesmo naqueles pacientes que não desenvolvem parotidite é uma importante causa de atraso no diagnóstico correto da caxumba.
Entre as complicações mais relevantes da parotidite infecciosa, podemos citar:
Orquite
O acometimento dos testículos pelo vírus é a mais famosa e mais comum complicação da caxumba. É uma complicação que ocorre em até 40% dos homens que contraem caxumba após o início da adolescência. Alterações na fertilidade ocorrem em até 13% dos pacientes com orquite, entretanto, a esterilidade é rara.
Os sintomas da orquite pela caxumba são febre alta, dor testicular e edema na bolsa escrotal. O intervalo entre a parotidite e a orquite costuma ser de 10 dias.
Ooforite
Analogamente ao que ocorre com os homens, a caxumba nas mulheres pode atacar os ovários, causando a ooforite. É uma complicação menos comum e ocorre em cerca de 7% das mulheres em idade pós-puberal.
Meningite
Ocorre em menos de 10% dos casos e, ao contrário da meningite bacteriana, costuma ter bom prognóstico, com resolução espontânea e sem deixar sequelas. A encefalite, infecção do cérebro, é uma complicação rara.
Para saber mais sobre meningite e suas causas, leia: Meningite | Sintomas, Transmissão e Vacina.
Surdez
Antes da vacina, a caxumba era uma importante causa de surdez infantil. Atualmente é uma complicação rara.
Aborto
A infecção por caxumba no primeiro trimestre é um importante fator de risco para aborto. Entretanto, quando a gravidez consegue seguir seu curso, não parece haver maior risco de má-formações.
Outras complicações mais raras da parotidite infecciosa incluem:
- Pancreatite.
- Artrite.
- Síndrome de Guillain-Barré.
- Miocardite (inflamação do músculo do coração).
Tratamento
Não há tratamento específico para caxumba; em geral, prescrevemos apenas sintomáticos, tais como analgésicos e antipiréticos. Como é uma doença de origem viral, não há indicação para o uso de antibióticos.
A caxumba é, na imensa maioria dos casos, uma doença autolimitada, com resolução espontânea dentro de 2 semanas, sem necessidade de nenhum tratamento específico.
Vacina
A imunização contra caxumba faz parte do atual calendário de vacinação, administrada através da vacina tríplice viral, chamada MMR, que protege contra caxumba, sarampo e rubéola.
Todos os adultos não imunizados contra a parotidite infecciosa durante a infância podem receber a vacina, principalmente se houver pessoas próximas com a doença. As contra-indicações incluem gravidez, pacientes com imunossupressão e pessoas alérgicas ao antibiótico neomicina.
A eficácia da vacina está acima dos 96% e pacientes recém-imunizados não transmitem o vírus vacinal, por isso não precisam evitar contato com nenhum grupo de pacientes.
Referências
- Mumps – UpToDate.
- Measles, mumps, and rubella immunization in infants, children, and adolescents – UpToDate.
- Facts about mumps – European Centre for Disease Prevention and Control.
- Mumps – Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
- Kliegman RM, et al. Mumps. In: Nelson Textbook of Pediatrics. 20th ed. Philadelphia, Pa.: Elsevier; 2016.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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