Estreptococos B – Exame do Cotonete na Gravidez

Dr. Pedro Pinheiro

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Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

O que é o Estreptococos do grupo B

O Estreptococo do grupo B (Streptococcus agalactiae) é uma bactéria comum, presente na região genital de 1 em cada 3 mulheres grávidas. O Streptococcus agalactiae é normalmente inofensivo em adultos e em indivíduos saudáveis, porém, pode causar doença grave em bebês e pessoas com sistema imunológico comprometido, incluindo neste grupos pacientes com diabetes grave, câncer e problemas do fígado.

Apesar de ser encontrado habitualmente na região genital feminina, o Estreptococo do grupo B não é uma DST, ou seja, não é uma bactéria transmitida pela via sexual. A maioria das mulheres com a região vaginal colonizada foi contaminada por Estreptococos que vieram dos seu próprio intestino ou da região retal.

Nos recém-nascidos, a infecção pelo Streptococcus agalactiae pode ocorrer ainda dentro do útero, por invasão do líquido amniótico, conhecido popularmente como bolsa d’água, ou somente na hora do parto, durante a passagem pela canal vaginal. Esta última via é a mais comum.

O Estreptococos B é diferente das outras espécies de Estreptococos que habitualmente provocam doenças, como pneumonia, meningite, amigdalite, escarlatina, impetigo, etc.

Exemplos de Estreptococos diferentes do Streptococcus agalactiae

1. O Estreptococos do grupo B pode até causar pneumonia ou meningite em recém-nascidos, mas a espécie de Estreptococos mais relacionado a estas infecções nos adultos é o Streptococcus pneumoniae, também conhecido como pneumococo (leia: PNEUMONIA | Sintomas e tratamento e MENINGITE | Sintomas e vacina).

2. O Streptococcus viridans é uma outra espécie, diferente do Estreptococos do grupo B, que costuma estar relacionado à endocardite infecciosa (leia: ENDOCARDITE BACTERIANA | ENDOCARDITE INFECCIOSA).

3. O Estreptococos do grupo A, conhecido com Streptococcus pyogenes é responsável por diversas doenças, entre elas:

Infecção pelo Estreptococos do grupo B durante a gravidez

A infecção pelo Streptococcus agalactiae durante a gravidez está associada a uma variedades de potenciais riscos, tanto para a mãe quanto para o bebê.

Infecção urinária por Streptococcus agalactiae

Entre 10% a 30% das grávidas apresentam colonização da urina pela bactéria Streptococcus agalactiae. Em algumas destas gestantes, a bactéria provoca infecção da bexiga, conhecida como cistite, ou pielonefrite, que é a infecção dos rins. A maioria das pacientes, porém, não apresenta infecção urinária, apenas colonização da urina pelo Estreptococos do grupo B.

O problema é que a bacteriúria assintomática, nome dado à simples presença da bactéria na urina sem sinais ou sintomas de infecção urinária, é um grande fator de risco para complicações na gestação, tais como, parto prematuro, aborto e contaminação do líquido aminótico.

Para saber mais sobre a infecção urinária na gravidez, leia: INFECÇÃO URINÁRIA NA GRAVIDEZ

Infecção do líquido aminótico pelo Streptococcus agalactiae

A infecção da bolsa d’água, chamada em medicina de corioamnionite, é uma invasão bacteriana do líquido amniótico, membranas fetais ou placenta. Os sinais e sintomas da corioamnionite incluem febre, dor no útero, aumento da frequência cardíaca fetal e presença de pus no líquido aminótico.

A infecção do líquido amniótico ocorre geralmente durante a rotura da bolsa no início do trabalho de parto em mulheres colonizadas pelo Estreptococos B. Trabalhos de parto prolongados, com várias horas de duração, ou casos de roturas prematuras da bolsa, são aqueles com maior risco. Todavia, a corioamnionite pode surgir antes da rotura da bolsa d’água, como nos casos de grávidas com infecção urinária, principalmente pielonefrite.

Infecção do útero pelo Streptococcus agalactiae

A infecção da parede do útero, chamada de endometrite, é uma complicação que pode ocorrer após o parto das gestantes contaminadas pelo Estreptococos do grupo B. Dor abdominal, febre e sangramento uterino são sinais e sintomas que sugerem uma infecção no período pós-parto.

Infecção do recém-nascido pelo Estreptococos do grupo B

Apesar dos riscos da mãe desenvolver complicações pelo Streptococcus agalactiae, a grande preocupação é sempre a contaminação do bebê durante o parto. A transmissão da bactéria se dá habitualmente após a rotura da bolsa ou durante a passagem do bebê pelo canal vaginal.

As complicações derivadas da infecção neonatal podem ocorrer precocemente, nas primeiras horas de vida do bebê, ou tardiamente, somente semanas depois do parto.

A infecção precoce do recém-nascido pelo Estreptococos do grupo B é aquela que ocorre dentro dos primeiros 7 dias de vida, habitualmente dentro das primeiras 24 horas, e se manifesta como um quadro de pneumonia, meningite ou sepse sem ponto de partida definido (leia: O QUE É SEPSE?).

Febre, dificuldade para mamar e dificuldade respiratória são os sintomas mais frequentes neste tipo de infecção. Crise convulsiva, fraqueza ou rigidez muscular também podem ocorrer. A mortalidade nos casos precoces é de cerca de 3% nos bebês nascidos com mais de 37 semanas e de 20% nos bebês prematuros.

A infecção tardia do recém-nascido pelo Estreptococos do grupo B é aquela que ocorre após a primeira semana de vida. Sepse e meningite são as apresentações mais comuns. A mortalidade nos casos tardios é de cerca de 2% nos bebês nascido com mais de 37 semanas e de 6% nos bebês prematuros.

É importante destacar que nem todo bebê nascido de mães colonizadas pelo Estreptococos do grupo B irá apresentar problemas. Na verdade, apenas 1 em cada 200 são infectados e desenvolvem doença.

Diagnóstico

Para impedir a infecção neonatal pelo Estreptococos do grupo B é importante que a bactéria seja identificada e tratada antes do trabalho de parto. Durante a gravidez, toda gestante é submetida a um exame de urocultura à procura de bactérias na urina (leia: EXAME UROCULTURA – Indicações e como colher). Se for identificada bacteriúria, ou seja, presença de bactérias na urina, o obstetra instituirá tratamento antibiótico adequado para eliminação das mesmas.

Entre a 35ª e 37ª semanas de gestação os obstetras fazem habitualmente o exame do cotonete, que consiste na obtenção de material da vagina e do ânus com uma espécie de cotonete para pesquisar a presença do Estreptococos do grupo B.

Se o exame for positivo, significa que a mãe está colonizada. De forma imediata, porém, não há risco elevado nem para a mãe nem para o feto, pois a contaminação do bebê ocorre, na imensa maioria dos casos, somente no momento do parto. Estar colonizada pelo Streptococcus agalactiae significa apenas que será necessária a administração de antibiótico durante o parto para impedir a transmissão da bactéria para o feto.

O teste do cotonete só é feito no final da gravidez porque a colonização da vagina pelo Estreptococos B pode desaparecer sozinha ao longo da gestação. E mesmo que ele seja tratado no início da gravidez, a bactéria pode retornar ao longo dos meses. Além disso, excetuando-se os casos de infecção urinária, a grande maioria das mulheres colonizadas não apresenta complicações durante a gravidez. Por isso, se o exame de urina for negativo, ter a bactéria durante a gestação não acarreta em maiores problemas. O importante mesmo é saber se o Estreptococos do grupo B está presente na hora do parto, e não meses antes.

A coleta do material vaginal e retal é indolor e o resultado fica pronto em 2 ou 3 dias. Não é recomendado banho ou higiene íntima antes da coleta.

Tratamento

Toda mulher com teste do cotonete positivo deve ser tratada com antibióticos no momento do parto. Sem antibióticos, cerca de 1 em cada 200 bebês fica doente com o Streptococcus agalactiae. Com o uso de antibióticos, a incidência cai para 1 em cada 4000 recém-nascidos, tornando, atualmente, a infecção neonatal pelo Estreptococos do grupo B um evento raro.

O antibiótico é administrado por via venosa durante o trabalho de parto. Os dois mais usados são a penicilina ou a ampicilina, que devem ser administradas a cada 4 horas até o nascimento do bebê.

O tratamento com antibióticos não precisa ser feito se o parto for cesariano e não houver rompimento da bolsa d’água. Neste caso, não há risco das bactérias presentes no canal vaginal chegarem até o bebê. Entretanto, se a bolsa romper antes da cesariana ser iniciada, a administração de antibiótico está indicada.

Tanto a ampicilina quanto a penicilina são antibióticos seguros para o bebê.

Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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14 respostas para “Estreptococos B – Exame do Cotonete na Gravidez”

  1. Tânia Fernandes

    Boa tarde

    Desde já agradeço a disponibilidade.

    E fazendo o antibiótico, depois pode-se amamentar o bebé sem problemas?

    Obrigada

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Depende do antibiótico.
  2. Marta
    Fiz o exame e deu positivo o antibiótico e dado por soro ….Estou de 37 semanas na hora do parto
    Como deu positivo posso tomar antes esses antibióticos. …
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      O seu obstetra vai indicar o momento mais adequado para a medicação.
  3. Paola
    Deus em minha vida operou milagre pois fiz o exame só que minha bolsa estourou antes do exame
    ficar pronto eu tive minha filha de parto normal e bem depois que peguei o exame e vi que constatou positivo e ela não teve nada hj ela tem 1 ano e seis meses para honra e glória do meu Senhor!
  4. Hérika Oliveira
    Boa noite!!! Meu exame, infelizmente deu positivo. Sou mãe de primeira viagem e tudo que mais quero, é ter um parto sem problemas. Li sobre o assunto e o parto cesária não apresenta riscos para o bebê. Vou ter no hospital da Marinha, mas lá, eles não fazem cesária “marcada”. Penso seriamente em pagar um particular para não correr risco. O que devo fazer, Dr? Acha melhor marcar uma cesária? Queria ter normal, mas diante dessa situação, prefiro cesária.

    Aguardo contato.
    Desde já agradeço.

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Não há necessidade de fazer parto cesariano só por causa disso. Basta fazer o antibiótico pré-parto, que ficará tudo bem. O importante é o seu obstetra estar ciente da situação.
  5. Eric Bya
    Meu exame para extreptococo.deu.positivo na hora do trabalho de parto foi.menistrado.o.antibiotico ,tudo certinho , mas infelismente meu bebe pegou a bacteria e veio.a falecer 5horas apos o parto . Fiquei sem entender pois tomei o antibiotico antes da bolsa se romper .fico.sem entender …
    1. Bruna
      Também aconteceu o mesmo comigo em fev deste ano… Mas minha bolsa rompeu as 36s e 2d, ainda eu não tinha pegado o resultado do exame, e so depois de todo o ocorrido que peguei o resultado q o medico pediu p ver e o resultado foi positivo, o q ocasionou o rompimento da bolsa antes da hora, e mesmo assim o medico me fez antibiótico, porem meu anjinho pegou a infecção, virou septicemia e foi ao encontro do Papai do Céu no dia seguinte quando estava sendo transferido para o CTI… Mas to descansando em Deus… E faça assim também… Pois antes de cada um de nós nascermos Deus tem um plano para cada um de nós… E Ele so recolhe para Si as mais belas rosas para o seu jardim… Deus nos permitiu ter os nossos anjinhos por alguns instantes para nos alegrar e nos mostrar como somos dependentes Dele e Ele sempre faz o que é melhor… A vontade de Deus sempre é boa, perfeita e agradável… E por mais q não entendemos, Deus nos faz o q é melhor… Acredito que Ele poupou o sofrimento dos nossos anjinhos… Pois esta é uma infecção grave que deixa sequelas…
  6. deborah
    Estou com 36 semanas e meu exame deu positivo, assim como do meu primeiro filho. Pretendo ter novamente parto normal. O meu trabalho de parto anterior começou com a bolsa rompendo e demorou 5horas para começar a ser administrado o antibiótico. Gostaria de saber se essa demora para a administração do remédio com a bolsa rota pode aumentar a chance de infecção do bebê?
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Quando a bolsa se rompe, o bebe passa a ficar exposto á flora de bactérias da região vaginal. Em geral, indica-se a administração do antibiótico assim que possível após o rompimento da bolsa.
  7. samantha
    eu tinha essa bacteria e minha bebe nasceu no dia13.02.14 e nao fizeram a profilaxia em mim e a minha bebe faleceu no dia 17.03 com septicemia e eu qro engravidar novamente eu posso?
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
      A princípio, sim.
  8. Cristiano Silva
    É as mulheres gravidas precisam de um cuidado especial, principalmente nessa período onde a imunidade fica baixa atingindo assim o feto, por isso uma alimentação rica em ferro e vitaminas e importantíssimo para saúde dos dois.

    Att,

    Silva – Consultor de Sistema para Distribuidora da SBG.