O que é a catapora?
A catapora, também conhecida como varicela, é uma infecção altamente contagiosa causada pelo vírus Varicella-Zoster, da família dos herpes vírus.
A catapora sempre foi uma das infecções mais comuns da infância em todo mundo, porém, desde a introdução da vacina em 1995, a incidência da doença vem caindo vertiginosamente.
A transmissão da varicela é feita através da via respiratória, por gotículas eliminadas pela boca ou nariz. O vírus é tão contagioso que o risco de contaminação entre pessoas que moram na mesma casa é maior que 90%. A transmissão pode também ser feita por objetos contaminados.
O interessante é que o primeiro caso da casa costuma ser o mais brando. Isso ocorre provavelmente pela diferença entre os tempos e a intensidade de exposição ao vírus entre aqueles que adquirem a doença na comunidade e aqueles que se contagiam dentro de casa.
O período de incubação varia entre 10 a 20 dias. O indivíduo contaminado começa a transmitir a doença até 48 horas antes do início dos sintomas.
Em geral, a imunidade após um episódio de catapora é permanente, sendo raro a ocorrência de uma segunda infecção. Porém, apesar da cura, o vírus permanece no nosso corpo pelo resto da vida. Explico melhor na parte sobre herpes zoster.
A varicela costuma ser uma infecção da infância. Em crianças imunocompetentes (saudáveis) até 12-13 anos, ela costuma ser auto-limitada, tendo taxas de complicações e mortalidade muito baixas.
Em adultos, adolescentes e pessoas com imunossupressão, a catapora pode ser mais séria, com taxas de complicações mais elevadas, principalmente neste último grupo.
Sintomas
A varicela costuma iniciar-se como um quadro inespecífico de mal-estar, dor de garganta, febre baixa e perda de apetite. 24 horas após o início desses sintomas, surge o rash típico da catapora.
As lesões iniciam-se como pequenas elevações avermelhadas (pápulas) que logo se transformam em vesículas (bolhas). Depois de alguns dias, essas bolhas viram crostas que caem ao final de 1 a 2 semanas, deixando a pele temporariamente mais clara nestas áreas.
O que ajuda a diferencia o rash da catapora do rash de outras doenças virais como rubéola (leia: RUBÉOLA – SINTOMAS E VACINA) e sarampo, por exemplo, é o fato de haver lesões em vários estágios ao mesmo tempo, sendo possível identificar crostas, bolhas e pápulas espalhados pelo corpo.

O rash da varicela é muito pruriginoso, sendo muito comum a criança querer ficar se coçando o tempo todo. É importante evitar que o paciente estoure as bolhas evitando assim a contaminação das lesões por bactérias naturais da pele como o estafilococos e o estreptococos.
O paciente permanece contagioso até que todas as suas lesões já tenham virado crostas, o que costuma demorar de 1 a 2 semanas. Enquanto houver bolhas, ainda há o risco de transmissão da catapora.
Complicações
Apesar de raro em crianças saudáveis, a catapora pode causar complicações sérias. Entre as mais comuns podemos citar:
- Pneumonia.
- Hepatite.
- Encefalite (infecção do cérebro).
- Miocardite (inflamação do músculo cardíaco).
Outra complicação possível é a síndrome de Reye, um quadro de alteração neurológica, que pode inclusive terminar em coma. A síndrome de Reye pode ser desencadeada pelo uso de ácido acetilsalicílico (AAS ou aspirina) durante o curso infecção. Por isso, este medicamente é contra-indicado na varicela.
Tratamento
A varicela é uma doença auto-limitada na imensa maioria dos casos. O tratamento em pessoas saudáveis, sem deficiências do sistema imune, é basicamente de suporte.
Deve-se evitar coçar a lesões para que não ocorra infecção bacteriana secundária. Em crianças, as unhas devem estar bem curtas. Anti-histamínicos (antialérgicos) podem ser usados para diminuir o comichão.
A febre deve ser tratada preferencialmente com paracetamol. Nunca se deve usar aspirina.
Os banhos com permanganato de potássio ou com solução iodadas, apesar de muito famosos, não apresentam comprovação científica. A higiene da pele pode e deve ser feita apenas com água e sabão.
O aciclovir, valaciclovir e fanciclovir são antivirais que podem ser usados nos pacientes acima de 12 anos ou naqueles com maior risco de complicações. Os anti-virais não eliminam o vírus, mas diminui o tempo de doença, o número de lesões na pele e os riscos de complicações.
Pacientes imunossuprimidos ou com outras condições médicas graves, que porventura entram em contato com pessoas infectadas, devem usar a imunoglobulina contra varicela para impedir que desenvolvam a doença.
Vacina
A vacina para varicela tem mudado a história natural da doença nos últimos anos.
Todas as crianças a partir de 1 ano de idade podem ser vacinadas contra a catapora, assim como adultos que ainda não tenham tido a doença. São duas doses: uma aos 12 meses e outra entre 4 e 6 anos de idade. Nos adultos, também estão indicadas 2 doses, sendo a segunda administrada com 4 meses de intervalo.
A vacina contra a varicela é feita com organismo vivo atenuado, por isso deve ser evitada em:
- Grávidas.
- Indivíduos imunossuprimidos (AIDS, câncer, uso de imunossupressores, etc.).
- Pessoas que tenham recebido outra vacina de vírus vivo nas últimas 4 semanas.
Herpes zoster
Como já foi dito anteriormente, mesmo após a completa cura, o vírus da varicela permanece no nosso organismo pelo resto da vida. Ele fica escondido dentro das células do sistema nervoso. Não causa sintomas e nem é contagioso. Toda vez que o vírus tenta sair do seu esconderijo, nosso sistema imune consegue impedi-lo.
Todo paciente que já tenha tido varicela em algum momento da vida, quando apresenta alguma queda nas defesas do organismo, pode apresentar a reativação do vírus da varicela zoster.
Conforme vamos envelhecendo, nosso sistema imunológico vai ficando mais fraco, por isso, a partir dos 50-60 anos existe o risco de reativação do vírus, que não se dá como um novo episódio de catapora, mas sim, como herpes zoster, conhecido popularmente como cobreiro.
O herpes zoster é uma lesão de pele com características similares à varicela comum, porém, restrita a uma pequena zona do corpo. O herpes zoster tem uma característica: a lesão costuma ser em “faixa” e parar na linha média do corpo, como pode ser visto nas fotos abaixo. A região acometida é aquela inervada pelo nervo que abriga o vírus.
Se você procura por informações sobre herpes zoster, temos um texto específico sobre esta doença: HERPES ZOSTER | Sintomas e tratamento.
Referências
- About Chickenpox – National Center for Immunization and Respiratory Diseases (NCIRD), Division of Viral Diseases.
- Chickenpox: Overview – InformedHealth.org.
- Clinical features of varicella-zoster virus infection: Chickenpox – UpToDate.
- Epidemiology of varicella-zoster virus infection: Chickenpox – UpToDate.
- Treatment of varicella (chickenpox) infection – UpToDate.
- Varicella-zoster virus infections. In: Harrison’s Principles of Internal Medicine. 20th ed. New York, N.Y.: The McGraw-Hill Companies; 2018.