Síndrome dos vômitos cíclicos: causas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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Vômitos cíclicos

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O que é a síndrome dos vômitos cíclicos?

A síndrome dos vômitos cíclicos é uma desordem conhecida desde o século XIX, caracterizada por episódios recorrentes e intensos de vômitos, sem que nenhuma causa aparente consiga ser determinada.

As crises de vômitos vão e voltam, mas no período de pausa, o paciente encontra-se perfeitamente saudável e sem queixas.

Antigamente, pensava-se que a síndrome dos vômitos cíclicos era uma doença que afetava apenas as crianças. Estudos sugerem que a síndrome dos vômitos cíclicos afeta cerca de 2% das crianças em idade escolar.

Hoje, porém, sabe-se que esse problema pode surgir em qualquer faixa etária. O número de casos diagnosticados em adultos está aumentando progressivamente, mas não existem grandes estudos determinado a sua real incidência neste grupo.

Para se pensar em síndrome dos vômitos cíclicos, o paciente precisa apresentar os seguintes critérios:

  1. Três ou mais episódios distintos de vômitos recorrentes nos últimos 6 meses.
  2. Intervalos entre as crises, com resolução completa das queixas e sintomas.
  3. Episódios de vômitos estereotipados, com início, duração e sintomas sempre muito parecidos.
  4. Ausência de uma causa identificável para as crises de vômitos.

Nas crianças, os sintomas costumam aparecer entre os 5 e 10 anos de idade, enquanto nos adultos a doença surge ao redor dos 35 anos.

O diagnóstico da síndrome dos vômitos cíclicos costuma ser estabelecido com mais rapidez nas crianças, pois, como o distúrbio é mais comum nesta faixa etária, os pediatras estão mais habituados a lidar com este problema.

Causas

As causas da síndrome dos vômitos cíclicos são desconhecidas. Na verdade, não se sabe se há uma única causa ou se o distúrbio é uma manifestação comum de várias doenças distintas.

Sabe-se atualmente que há uma relação da síndrome dos vômitos cíclicos com a enxaqueca. Alguns fatos corroboram com essa hipótese:

  • Cerca de 1/3 dos pacientes com síndrome dos vômitos cíclicos também têm crises de enxaqueca.
  • Crianças com síndrome dos vômitos cíclicos costumam desenvolver enxaqueca quando adultos.
  • Mais de 80% dos pacientes com síndrome dos vômitos cíclicos possuem história familiar positiva para enxaqueca.
  • Cerca de 80% dos pacientes apresentam melhora quando tratados para enxaqueca, mesmo aqueles que não têm dor de cabeça.

Apesar da associação com a enxaqueca, outras doenças também parecem apresentar relação com a síndrome dos vômitos cíclicos, como alergia a alimentos, doenças mitocondriais, defeitos no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e a neuropatia hereditária sensitiva autonômica.

A síndrome dos vômitos cíclicos também pode ter relação com os hormônios femininos. Algumas meninas apresentam a síndrome nos primeiros meses de menstruação da vida. Em algumas mulheres adultas com síndrome dos vômitos cíclicos, as crises de vômitos têm nítida relação com o período menstrual. O uso de anticoncepcionais orais é controverso; em alguns casos há melhora, mas em outros, as crises podem ser desencadeadas pelos hormônios (leia: Como tomar o anticoncepcional).

O uso crônico de maconha também tem sido descrito como fator de risco para a síndrome dos vômitos cíclicos. Nestes casos, a suspensão da droga por 1 ou 2 semanas é suficiente para as crises cessarem.

Quando os episódios de vômitos frequentes surgem na gravidez, chamamos de hiperemese gravídica. A denominação é diferente, pois, aparentemente, as causas são distintas.

Sintomas

Como o próprio nome da doença já diz, a síndrome dos vômitos cíclicos se caracteriza por episódios repetidos e cíclicos de vômitos. O paciente vomita várias vezes ao longo do dia, por mais de um dia, chegando a vomitar mais de 4 vezes em apenas 1 hora.

Em geral, os episódios de vômitos duram 24 a 48 horas, mas podem demorar até 1 semana para desaparecer. As crises são mais curtas nas crianças e mais longas nos adultos.

Passada a crise, o paciente fica aparentemente saudável e sem queixas, até o aparecimento de novos episódios, que podem ocorrer somente após semanas ou meses.

Cerca de 2/3 dos pacientes conseguem identificar um fator de gatilho para as crises, como infecções respiratórias, alimentos, esforço físico intenso, crises de estresse, medicamentos, jejum prolongado, etc.

Os episódios de vômitos costumam ser estereotipados, ou seja, apresentam caraterísticas muito semelhantes, como fator desencadeante, hora do início, tempo de duração, intensidade e sintomas associados.

Além das náuseas e vômitos, o paciente com síndrome dos vômitos cíclicos pode apresentar outros sintomas associados, como dor abdominal, dor de cabeça, diarreia, intolerância a luz (fotofobia), tonturas, etc.

Complicações

A principal complicação imediata da síndrome dos vômitos cíclicos é a desidratação. Em alguns casos, as crises de vômitos são tão intensas e duradouras que o paciente precisa ser internado para administração de soros por via intravenosa. O paciente não consegue se alimentar nem ingerir líquidos.

Os principais sintomas da desidratação são o ressecamentos das mucosas, sede intensa, palidez da pele e redução do volume de urina.

A passagem frequente de conteúdo gástrico altamente ácido pelo esôfago e boca pode causar algumas complicações, como esofagite (inflamação do esôfago) e corrosão do esmalte dos dentes.

Tratamento

Não há cura para síndrome dos vômitos cíclicos través de tratamentos. Todavia, na maioria dos casos, principalmente nas crianças, a doença desaparece espontaneamente após alguns anos, geralmente na fase pré-puberal.

Como não há tratamento curativo, os cuidados médicos se voltam para a prevenção das complicações e controle dos sintomas. Se o paciente não consegue se alimentar e hidratar, ele deve ser internado para administração de soros. Medicamentos, como antieméticos (remédios para enjoos), sedativos, inibidores da acidez gástrica e antidepressivos são frequentemente usados.

Como já referido, muitos pacientes melhoram se forem tratados como se tivessem enxaqueca. Propranolol, amitriptilina, sumatriptano e ciproeptadina são drogas que podem ser tentadas.

Em geral, o prognóstico da doença é bom. A maioria dos pacientes consegue controlar os sintomas da doença até que a mesma desapareça sozinha após alguns anos.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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