Introdução
A clamídia é a doença sexualmente transmissível mais comum no mundo. A maioria dos pacientes infectados por essa bactéria não costuma desenvolver sintomas, mas quando isso ocorre, o quadro clínico é muito parecido com o da gonorreia, sendo impossível distingui-las apenas pelos sintomas.
Como a clamídia é uma infecção transmitida através de relações sexuais, a forma mais eficaz de preveni-la é com sexo seguro, através do uso de camisinha.
Se você procura informações sobre gonorreia, o seu texto é este: Gonorreia – Sintomas e Tratamento.
O que é clamídia?
A clamídia é uma doença sexualmente transmissível, causada por uma bactéria chamada Chlamydia trachomatis.
Nem todas as pessoas contaminadas com clamídia apresentam sintomas, podendo a infecção passar despercebida por muitos anos. Os pacientes com clamídia assintomática tornam-se fontes de contaminação permanentes, motivo pelo qual a clamídia é a DST mais comum no mundo. Quem transmite clamídia pode não saber que está contaminado e quem se contaminou pode não saber de quem pegou.
Estima-se que 5% da população adulta e 10% da população adolescente sexualmente ativa estejam contaminados com a Chlamydia trachomatis. A infecção por clamídia é mais comum em jovens, pessoas que tenham tido múltiplos parceiros(as) nos últimos anos ou pessoas que não costumam usar camisinha durante as relações sexuais.
Formas de transmissão
A Chlamydia trachomatis pode ser transmitida por duas maneiras: pela via sexual (anal, vaginal ou oral) ou de mãe para filho, durante a passagem do bebê pelo canal vaginal na hora do parto.
Assim como na gonorreia, nos adultos e adolescentes a transmissão é exclusivamente por via sexual. Não se pega clamídia em banheiros ou piscinas públicas. O beijo também não é uma forma de transmissão da clamídia.
A transmissão através de toalhas ou roupas íntimas ainda não foi comprovada, mas ela é teoricamente possível caso haja contato com secreções contaminadas frescas. Por exemplo, se uma mulher com corrimento vaginal contamina uma toalha e outra pessoa imediatamente a usa para secar suas partes íntimas, é possível haver transmissão. Isso, porém, é uma situação muito hipotética, e o que observamos na prática é a via sexual como única forma relevante de transmissão desta DST entre adultos.
A contaminação dos olhos pela clamídia pode ocorrer se as mãos estiverem contaminadas com secreções vaginais e o indivíduo coçar os olhos sem lavá-las antes.
Sintomas
Como já foi referido, a maioria dos pacientes que se contaminam com clamídia não apresenta sinais da doença. Nas mulheres apenas 10% desenvolvem sintomas; nos homens, o número é um pouco maior, ao redor dos 30%. Entretanto, é bom destacar que mesmo sem sintomas, o paciente contaminado é capaz de transmitir a doença para seus parceiros.
Nos pacientes que desenvolvem sintomas, os mesmos costumam surgir entre 1 e 3 semanas após a contaminação.
Nas mulheres, os principais sintomas da Chlamydia trachomatis são:
- Corrimento vaginal.
- Coceira vaginal.
- Sangramento vaginal.
- Dor abdominal.
- Dor durante o sexo.
- Ardência ou dor ao urinar.
Nos homens, os sintomas mais comuns de clamídia incluem:
- Ardência ou dor ao urinar.
- Saída de corrimento purulento pela uretra.
- Dor nos testículos.
- Inchaço do saco escrotal.
- Proctite (inflamação do ânus que ocorre em homens homossexuais passivos).
A faringite por Chlamydia trachomatis é um quadro incomum, mas pode surgir se a via de transmissão for o sexo oral.
Complicações
As complicações da infecção pela Chlamydia trachomatis costumam ocorrer nos pacientes com poucos ou nenhum sintoma, que por isso mesmo, acabam não procurando tratamento médico.
A principal complicação da infecção por clamídia nas mulheres é progressão da bactéria em direção ao útero, trompas e ovários, provocando uma grave infecção conhecida como doença inflamatória pélvica (DIP). Cerca de 10 a 15% das mulheres infectadas com a Chlamydia trachomatis desenvolvem DIP.
Infertilidade também é uma complicação comum da clamídia não tratada e ocorre por lesão das trompas e/ou do útero por infecção prolongada.
As mulheres com infecção por Chlamydia trachomatis (especialmente a causada por sorotipo G) apresentam 6 vezes mais riscos para o desenvolvimento de câncer do colo do útero.
Nas grávidas, infecções por clamídia podem levar a parto prematuro. Bebês que nascem de mães infectadas podem se infectar e desenvolver complicações precoces. A clamídia é uma das principais causas de pneumonia e conjuntivite em recém-nascidos.
Nos homens a complicação mais comum é a prostatite, infecção da próstata. Infecção do epidídimo, estrutura localizada logo acima dos testículos, também pode ocorrer.
Linfogranuloma venéreo
Existem alguns sorotipos da Chlamydia trachomatis, chamados L1, L2 e L3, que são capazes de apresentar uma doença chamada linfogranuloma venéreo, um quadro diferente da infecção clássica pela clamídia.
No linfogranuloma venéreo, a infecção inicial é caracterizada por um pequeno nódulo, que se rompe e forma uma úlcera genital. Duas a seis semanas mais tarde a infecção estende-se para os nódulos linfáticos regionais, ou seja, para os gânglios da virilha. O paciente apresenta um ou mais gânglios inflamados e aumentados, chamados bubões. Estes bubões podem romper-se, drenando grande quantidade de pus.
Diagnóstico
O exame para identificar a clamídia é feito através da urina ou por amostra de material colhido com um cotonete na vagina, colo do útero ou na uretra. Os resultados estão geralmente disponíveis no prazo de 24 a 48 horas.
Muitos médicos solicitam a sorologia para pesquisa dos anticorpos IgM e IgG contra a clamídia, mas esse exame, apesar de útil, não é o mais confiável. Se for possível, a pesquisa da Chlamydia trachomatis deve ser feita por uma técnica chamada PCR, que procura a presença do DNA da clamídia nas secreções vaginais. Nos homens, essa pesquisa do DNA pode ser feita na urina.
Tratamento
O tratamento da clamídia é simples, feito com administração de antibióticos. A azitromicina em dose única de 1 grama é o antibiótico mais prescrito. O paciente infectado deve ficar por pelo menos 7 dias sem atividade sexual após o início do tratamento (leia: Azitromicina: indicações, doses e efeitos colaterais).
Recentemente, a doxiciclina 100 mg duas vezes por dia por 7 dias tem ganhado popularidade entre os ginecologistas. As vantagens da doxiciclina sobre a azitromicina são:
- Ligeira superioridade na taxa de cura (97.4% contra 96.2%).
- Eficácia superior no tratamento do linfogranuloma venéreo ou da infecção retal e anal pela clamídia.
Se o paciente não puder tomar nem azitromicina, nem doxiciclina, as melhores alternativas são:
- Levofloxacino, 500 mg por via oral uma vez ao dia por sete dias.
- Ofloxacina, 300 mg duas vezes ao dia por sete dias.
Como o quadro clínico da clamídia pode ser muito parecido com o da gonorreia, é comum o médico prescrever um tratamento que atue sobre as duas bactérias. Geralmente associa-se ceftriaxona à azitromicina ou a doxiciclina. Porém, o ideal é sempre investigar a presença de gonorreia antes de prescrever o tratamento.
Todos os parceiros (as) do paciente infectado devem ser testados e se necessário, tratados para clamídia, mesmo que não apresentem sintomas.
Três meses após o fim do tratamento, o paciente deve ser retestado para confirmar a erradicação da bactéria.
É possível se contaminar com o Chlamydia trachomatis por mais de uma vez. O fato de já ter tido uma infecção por clamídia anteriormente não confere imunidade permanente.
Referências
- Chlamydia Trachomatis Infections: Screening, Diagnosis, and Management – American Family Physician.
- Chlamydia – CDC Fact Sheet – Centers for Disease Control and Prevention.
- Antibiotics for treating genital Chlamydia trachomatis infection in men and non-pregnant women – Cochrane.
- Clinical manifestations and diagnosis of Chlamydia trachomatis infections – UpToDate.
- Treatment of Chlamydia trachomatis infection – UpToDate.
- Epidemiology of Chlamydia trachomatis infections – UpToDate.
- Chlamydia (Chlamydial Genitourinary Infections) – Medscape.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.