O que é a próstata?
A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz (3 a 4 cm de diâmetro), com aproximadamente 20 gramas de peso, presente apenas no sexo masculino.
Cerca de 70% do líquido ejaculado durante o orgasmo é produzido pela próstata. Este líquido é uma secreção alcalina (com pH elevado) que se mistura e protege os espermatozoides do ambiente ácido da vagina, aumentando sua mobilidade e facilitando a chegada dos mesmos ao óvulo.
A próstata localiza-se na base da bexiga e circunda a parte inicial da uretra, canal que escoa a urina da bexiga (ver imagem abaixo).
Devido a sua íntima relação anatômica com a bexiga e a uretra, as doenças da próstata costumam causar sintomas associados à micção, como dor ao urinar e fraqueza do jato urinário.
Explicamos a próstata com mais detalhes no artigo: Para que serve a próstata?
O que é prostatite?
A prostatite é uma condição habitualmente dolorosa que envolve inflamação e/ou infecção da próstata e das áreas ao seu redor.
A prostatite não é uma doença única, mas sim um grupo de quatro doenças que cursam com sintomas semelhantes, sempre relacionados à inflamação da próstata.
Atualmente dividimos as prostatites em quatro grupos:
- Prostatite aguda.
- Prostatite bacteriana crônica.
- Prostatite não bacteriana crônica ou síndrome da dor pélvica crônica.
- Prostatite inflamatória assintomática.
Falemos um pouquinho sobre cada uma delas.
Prostatite aguda
A prostatite aguda é um quadro inflamatório normalmente causado por infecção bacteriana da próstata.
As bactérias mais comuns são as mesmas que costumam causar infecção urinária, tais como E. coli, Klebsiella e Proteus.
A contaminação da próstata se dá pela invasão de bactérias presentes na uretra ou na bexiga, normalmente devido a uma urina previamente contaminada.
Entre os principais fatores de risco para a prostatite aguda podemos citar:
- Infecção urinária.
- Uso de cateter vesical.
- Traumas locais por uso prolongado de bicicletas ou andar a cavalo.
- Infecção pelo HIV.
- Uretrites por DST, como gonorreia ou clamídia.
Sintomas da prostatite aguda
A prostatite aguda pode ocorrer tanto em homens jovens quanto em idosos e os seus principais sintomas incluem:
- Febre.
- Calafrios.
- Disúria (dor ao urinar).
- Dificuldade em urinar.
- Vontade frequente de urinar.
- Dor pélvica.
- Urina turva.
- Mal-estar.
- Dores musculares e nas articulações.
Os sintomas da prostatite aguda podem ser muito intensos, sendo a hospitalização frequentemente necessária.
A sepse e o choque séptico são complicações possíveis dessa infecção.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito através da avaliação conjunta dos sinais clínicos e do toque retal, que demonstram uma próstata dolorosa ao exame.
Assim como na infecção urinária, a urocultura serve para identificar a bactéria responsável pela infecção.
O exame simples de urina (EAS) costuma demonstrar pus na urina (piócitos ou leucócitos) e sangramento microscópico.
Nas análises de sangue, a dosagem do PSA pode ajudar, pois o mesmo costuma estar elevado durante os quadros de inflamação prostática.
Os marcadores de atividade inflamatória, como PCR, também encontram-se elevados e o hemograma costuma apresentar leucocitose.
Tratamento
A prostatite aguda tem cura, e o tratamento é feito com administração de antibióticos por um período médio de quatro semanas.
Como as bactérias que causam a prostatite costumam ser as mesmas da infecção urinária, os antibióticos também são semelhantes, sendo o Bactrim® e as quinolonas (ciprofloxacina, levofloxacina e norfloxacina) os mais usados.
Os antibióticos podem ser alterados posteriormente consoante os resultados da urocultura, que costumam demorar de 48 a 72 horas para ficarem prontos.
Os sintomas costumam melhorar com 48 horas de antibioticoterapia. Depois de sete dias de tratamento, a urocultura já se encontra negativa, não apresentando mais bactérias na urina.
Para o alívio da dor, analgésicos comuns e anti-inflamatórios podem ser usados, se não houver contraindicações.
Prostatite bacteriana crônica
A prostatite bacteriana crônica é uma complicação possível de uma prostatite aguda que não foi devidamente tratada.
Sintomas da prostatite bacteriana crônica
O quadro é bem mais brando que na prostatite aguda e os sintomas podem ser sutis. Na maioria das vezes, as queixas se restringem a disúria (incômodo ao urinar), vontade urinar frequentemente e mal-estar. A febre, quando presente, costuma ser baixa.
Muitos dos sintomas da prostatite crônica são semelhantes aos da cistite (infecção da bexiga), podendo causar alguma confusão no diagnóstico.
É importante saber que nos homens adultos a cistite é uma infecção pouco comum. A prostatite deve ser sempre uma das hipóteses diagnósticas nos pacientes do sexo masculino com sintomas semelhantes aos de uma infecção urinária.
Diagnóstico
O diagnóstico da prostatite crônica também é feito através da história clínica e do toque retal.
Neste caso, durante o toque retal, é possível realizar a massagem da próstata para estimular a secreção de líquidos para a análise laboratorial. A massagem prostática nunca deve ser feita na prostatite aguda devido ao risco de estimular a liberação de bactérias para a corrente sanguínea.
A urocultura colhida após massagem também é uma opção para o diagnóstico da prostatite crônica.
As bactérias que causam a prostatite crônica são, em geral, as mesmas da aguda. Paciente que apresentam sintomas de prostatite crônica, com pus no exame simples de urina, mas cujas uroculturas e culturas da secreção prostática são persistentemente negativas, devem ser investigados para infecção por clamídia.
Tratamento
O tratamento da prostatite crônica é semelhante ao da aguda, com duração entre 4 a 6 semanas. Pacientes que apresentam infecção recorrente podem precisar de tratamento mais prolongado.
Prostatite não bacteriana crônica ou Síndrome da dor pélvica crônica
A síndrome da dor pélvica crônica é uma síndrome que cursa com sintomas urológicos e desconforto na região pélvica. O termo síndrome da dor pélvica crônica é mais correto que prostatite não bacteriana crônica, porque muitas vezes não há envolvimento da próstata no quadro, apesar de os sintomas serem sugestivos de prostatite crônica.
A síndrome da dor pélvica crônica é um diagnóstico de exclusão, ou seja, só pode ser dado depois que se descartam a prostatite bacteriana e outras causas para dor pélvica como tumores, infecções urinárias, hemorroidas e doenças testiculares.
Os sintomas da síndrome da dor pélvica crônica incluem aqueles da prostatite crônica e outros como dor pélvica, desconforto anal e incômodo nos testículos.
Não há tratamento específico para a síndrome da dor pélvica crônica. Quando não se consegue descartar uma prostatite bacteriana crônica, um curso de quatro semanas de antibióticos é uma conduta aceitável.
Nos casos onde não é possível determinar a causa da dor, o tratamento se limita ao uso de analgésicos e medicamentos para reduzir o tamanho da próstata, como finasterida ou dutasterida.
Prostatite inflamatória assintomática
A prostatite inflamatória assintomática é caracterizada por uma inflamação prostática sem que o paciente tenha queixas geniturinárias.
Essa condição é habitualmente diagnosticada acidentalmente durante uma investigação de infertilidade, após biópsia da próstata ou após dosagem do nível sanguíneo do PSA.
A prostatite inflamatória assintomática pode provocar glóbulos brancos elevados na ejaculação (leucocitospermia) e pode causar infertilidade masculina.
A não ser que o paciente esteja com dificuldades para ter filhos, o tratamento não é necessário.
Referências
- Prostatitis: Inflammation of the Prostate – National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK).
- Prostatitis – Medscape.
- Prostatitis: Diagnosis and Treatment – American Family Physician.
- Acute bacterial prostatitis – UpToDate.
- Chronic bacterial prostatitis – UpToDate.
- Chronic prostatitis and chronic pelvic pain syndrome – UpToDate.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
Deixe um comentário