O Método Shettles funciona?

Dr. Pedro Pinheiro

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Método Shettles

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Introdução

Quando a relação sexual é feita de forma natural e espontânea, a chance de ter uma criança do sexo feminino ou masculino é de aproximadamente 50/50 (em algumas regiões nascem um pouco mais de mulheres e em outras um pouco mais de homens).

No entanto, devido a influências culturais, preferências pessoais ou por questões de saúde, algumas famílias procuram por métodos naturais ou artificiais que possam desviar essa proporção de 50/50, de forma a aumentar a probabilidade da criança nascer de um determinado sexo.

A escolha do sexo do bebê é um tema bastante controverso, seja porque muitas das técnicas carecem de embasamento científico ou porque nossa sociedade ainda apresenta nichos com grande viés machista, imprimindo maior valor às crianças do sexo masculino.

Nem sempre, porém, a preferência por um determinado sexo vem acompanhada de motivos poucos nobres, como a desvalorização das mulheres. Um casal que já tenha um filho de determinado sexo tem todo o direito de desejar que o próximo filho seja do sexo oposto. Além disso, algumas doenças genéticas estão ligadas aos cromossomas sexuais, tornando a escolha do sexo do bebê uma forma de impedir que o defeito genético seja herdado pelo filho ou pela filha.

As técnicas de fertilização atualmente utilizadas pelos grandes centros de referência apresentam alguns problemas que impedem a sua utilização de forma rotineira na população em geral. Além de toda a discussão ética, elas não são 100% efetivas, são realizadas através de procedimentos invasivos, não são isentas de efeitos colaterais e ainda custam alguns milhares de dólares.

Por isso, alguns métodos “caseiros” ou “naturais” ainda são bastante populares, apesar de, habitualmente, não serem indicados pelos médicos especializados em fertilidade. Dentre essas opções, a mais famosa é o chamado método Shettles.

O que é o método Shettles?

O método Shettles foi criado na década de 1960 pelo Dr. Landrum B. Shettles e popularizado através do livro “Como escolher o sexo do seu bebê”, publicado em 1971 pelo mesmo autor.

O Dr. Shettles afirma que através do seu método é possível aumentar a chance de um bebê ser do sexo masculino ou feminino a partir da escolha do dia do ciclo menstrual no qual ocorre a relação sexual e a posição utilizada para o coito.

De acordo com o método de Shettles, o espermatozoide contendo o cromossoma Y (cromossoma masculino) é menor, mais rápido e menos resistente que o espermatozoide contendo o cromossoma X (cromossoma feminino). Seguindo essa lógica, se a relação acontecer no dia da ovulação, os espermatozoides com o cromossoma Y teriam mais chances de fecundar o óvulo. Por outro lado, se a relação acontecer alguns dias antes da ovulação, os espermatozoides contendo o cromossoma X teriam mais chances, devido a sua maior capacidade de sobreviver mais tempo dentro do aparelho reprodutor feminino.

Segundo os defensores do método de Shettles, a taxa de sucesso dessa técnica é de aproximadamente 75%.

Como fazer

Para fazer o método Shettles você precisa primeiro estimar o dia da sua ovulação. No texto Como Calcular o Período Fértil e o Dia da Ovulação ensinamos algumas formas de estimar o seu período fértil.

Se você pretende ter uma menina, o ideal é ter relações sexuais frequentes até 2 a 4 dias antes do dia estimado da ovulação. Após essa data limite, você deve evitar ter novas relações (se as tiver, tem que ser com camisinha). Como o coito é realizado dias antes da ovulação, os “espermatozoides femininos”, mais resistentes, serão a maioria no momento em que o óvulo estiver disponível para ser fecundado.

Para ter um menino, por sua vez, o ideal seria ter relações sexuais no dia em que a ovulação está prevista. Como os “espermatozoides masculinos” são mais rápidos, eles chegariam primeiro ao óvulo.

Segundo o Dr. Shettles, a posição na qual o ato sexual é realizada também poderia ter influência. Quando o coito é realizado com o casal virado de frente um para outro, a penetração é mais profunda e os espermatozoides são lançados mais próximos da entrada do útero, em uma região menos ácida do canal vaginal. Essa posição supostamente favorece o frágil “espermatozoide masculino”.

Por outro lado, se a mulher estiver de costas para o homem no momento da penetração, os espermatozoides serão lançados na porção mais inicial do canal vaginal, região mais ácida e mais distante da entrada do útero, o que supostamente favorece a sobrevivência dos espermatozoides femininos.

O que dizem os estudos científicos

Não há estudos clínicos que corroborem com as afirmações dos defensores do método Shettles. Na verdade, o que os estudos mostram é exatamente o oposto, ou seja, o método não funciona.

O estudo mais conhecido sobre o assunto foi publicado em 1995 na prestigiosa revista científica The New England Journal of Medicine (link nas referências).

Neste estudo com 221 mulheres que estavam tentando engravidar, não foi possível identificar nenhum padrão que relacionasse o dia da relação sexual com o sexo do bebê.

Além dos estudos clínicos com humanos, os estudos mais atuais sobre os espermatozoides também não dão suporte à alegação de que aqueles que contêm o cromossoma masculino são morfologicamente diferentes ou conseguem se locomover mais rapidamente. Aparentemente, há pouca diferença de performance entre os espermatozoides “masculinos” e “femininos”.

Veredito sobre o método Shettles

O método Shettles não é uma técnica confiável de escolha do sexo do bebê. Além de ser baseado em premissas falsas sobre as diferenças entre os espermatozoides que carregam os cromossomas masculino e feminino, ele carece de embasamento científico e já foi refutado por diversos estudos clínicos, que demonstraram que a data do coito não tem qualquer relação com o sexo do bebê.

Não há no momento nenhum método simples ou caseiro para selecionar o sexo do bebê. Todas as técnicas com embasamento científico são complexas, caras, restritas a poucos centros de referências e sujeitas a uma avaliação prévia de um comitê de ética.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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