Check-up – Exames de sangue mais comuns

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Exame de sangue

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O que é um check-up?

Todo mundo já fez um check-up pelo menos uma vez na vida. Algumas pessoas exageram e procuram seu médico a cada 6 meses para realizar seus exames.

Quem é que nunca recebeu suas análises de sangue cheia de números, termos técnicos e palavras desconhecidas? E quando surge um resultado fora do valor de referência? Aquele número em negrito logo se transforma em uma ameaça de doença oculta. Já perdi a conta de quantos amigos e familiares já não me ligaram por causa desse temido valor fora da referência. A pergunta é sempre a mesma: isso é algo grave?

Bom, antes de explicar o básico dos exames de sangue e check-ups é preciso esclarecer alguns pontos.

1. Os exames são chamados de “exames complementares” porque complementam a avaliação médica. Nunca a substitui. Um resultado de exame de sangue sem uma história clínica e uma exame físico do paciente pode causar mais confusão do que elucidações.

2. Qualquer exame complementar, seja de sangue, urina, imagem, etc., é passível de erros. Estes erros podem ser tanto de interpretação como erros nas máquinas que os produzem. É preciso um médico para saber interpretar os resultados. O quadro clínico do paciente é sempre soberano. Deve-se diagnosticar e tratar o paciente, nunca o resultado do exame.

3. Não se pede exames sem motivo. O conceito do check-up completo é errado. Como os exames podem apresentar erros, não faz sentido solicitá-los se não há uma hipótese diagnóstica a ser investigada.

4. É preciso saber diferenciar exames de rastreamento (screening) do check-up. Os exames de rastreamento são aqueles realizados para se identificar doenças prevalentes em um determinado grupo ou faixa etária. São exames que se mostraram benéficos quando solicitados periodicamente. Um exemplo é a mamografia para o câncer de mama ou um exame ginecológico de rastreamento de câncer de colo de útero. Não faz sentido, por exemplo, solicitar ressonâncias magnéticas de crânio em todo mundo para tentar descobrir tumores cerebrais.

5. O que muitas empresas fazem, solicitando vários exames a novos empregados e encaminhando-os a especialistas quando aparece alguma alteração, é uma aberração. Primeiro, é gasto desnecessário de recursos da saúde, segundo, vários desses exames poderiam ser descartados com uma simples consulta, e terceiro, resultados errados levam a ansiedade desnecessária por parte do paciente, que às vezes, é rotulado como doente, quando, na verdade, não o é.

6. Alguns pacientes confundem o que é um exame de sangue. Não existe uma solicitação única, que engloba todos as análises existentes. Existem centenas de dosagens diferentes em uma análise de sangue. O médico precisa especificar no pedido quais análises ele gostaria de receber. Se o médico não solicitar uma dosagem de colesterol, este não virá nos resultados. Não é porque foi colhido uma amostra de sangue, que sempre será feito hemograma, colesterol, glicose ou qualquer outra dosagem. O laboratório só fornece o que foi pedido, e o médico só pede o que acha ser relevante para aquele momento.

Bom, vamos então imaginar que seu médico após uma criteriosa avaliação do seu estado de saúde, dos seus antecedentes patológicos, do histórico familiar e de seus hábitos de vida, resolveu solicitar alguns exames para complementar sua avaliação.

Eis os exames de sangue mais frequentes na prática clínica.

Hemograma

O hemograma é o exame para avaliar as três principais linhagens de células do sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas). É o mais complexo e o que merece maiores explicações. Concentre-se apenas naqueles que explicarei.

Hemácias (glóbulos vermelhos)

Serve para o diagnóstico de anemia, que é a redução do número de células vermelhas.

São considerados principalmente os valores do hematócrito e da hemoglobina. Valores um pouco fora da faixa de referência podem não ter significado clínico. Mulheres podem ter hematócrito/hemoglobina um pouco mais baixo devido a perdas de sangue na menstruação. Fumantes costumam tê-los um pouco elevado devido a pior oxigenação do sangue pelos seus pulmões. Repito: esses valores devem sempre ser interpretados

Leucócitos (glóbulos brancos)

São as nossas células de defesa. É o exército ou a polícia do organismo. Chamamos de leucocitose quando estão aumentados. Normalmente indicam uma resposta do organismo a um processo infeccioso em curso. Pacientes com pneumonia ou um abscesso de pele, por exemplo, costumam ter seu número de leucócitos aumentados. A ausência de leucocitose de modo algum descarta uma infecção. Mais uma vez, o quadro clínico é sempre soberano.

Grandes elevações podem indicar leucemia. Leucopenia é o nome que se dá à baixa contagem dos leucócitos. Significa uma supressão da imunidade e maior susceptibilidade a infecções.

Os leucócitos são divididos em 5 grupos de células, com funções diferentes na defesa do organismo:

  • Neutrófilos.
  • Eosinófilos.
  • Basófilos.
  • Linfócitos.
  • Monócitos.

Essas dosagens servem para se identificar qual linhagem é a responsável pela leucocitose ou leucopenia.

Plaquetas

São as células responsáveis pelo processo de coagulação do sangue. Elevações são chamadas de trombocitose e a diminuição de trombocitopenia. Pacientes com plaquetas muito baixas são mais propensos a sangramentos. Plaquetas muito elevadas podem favorecer a formação de trombos.

A dosagem das plaquetas são necessárias antes de cirurgias ou procedimentos susceptíveis a sangramentos. Também são importantes na distinção da forma hemorrágica e clássica da dengue.

Para saber informações mais detalhadas sobre o hemograma, leia: Hemograma – Entenda os seus resultados.

Tempo de tromboplastina ativada (PTT ou TTP) e tempo de protrombina (TAP ou TP)

Medem o tempo que o sangue demora para coagular. Obviamente, tempos maiores indicam maior propensão a sangramentos. A cascata da coagulação inicia-se com a ativação das plaquetas, sendo completada pela ação dos fatores da coagulação. O TAP e o PTT medem a funcionamento desses fatores. A avaliação completa do estado da coagulação, feita com o TAP, PTT e plaquetas, é muitas vezes chamado de coagulograma.

A dosagem do INR é outra maneira de avaliar o TAP. Atualmente é a mais usada por ser mais confiável.

Colesterol

O colesterol total é composto da soma das frações HDL+LDL+VLDL.

  • HDL: colesterol bom. Protege os vasos da aterosclerose (Placas de gordura). Quanto mais elevado melhor.
  • LDL e VLDL: colesterol ruim, formador da aterosclerose que obstrui os vasos sanguíneos e leva a doenças como infarto. Quanto mais baixo melhor.
  • Triglicerídeos: estão relacionados ao VLDL. Normalmente equivale a 5 vezes o seu valor. Um paciente com 150 mg/dl de triglicerídeos apresenta 30 mg/dl de VLDL.
  • Apolipoproteína B: é uma forma alternativa, e mais precisa, de estimar a quantidade de colesterol ruim, que aumenta o risco de aterosclerose.

Há algum tempo se sabe que o colesterol total não é tão importante quanto os valores de suas frações. Pois vejamos 2 pacientes distintos:

1. HDL = 70, LDL= 100, VLDL= 30. Colesterol total = 200 mg/dl.
2. HDL = 20, LDL = 160, VLDL = 20. Colesterol total = 200 mg/dl.

Sem dúvida o primeiro paciente tem muito menos risco de desenvolver aterosclerose que o segundo, apesar de terem o colesterol total igual. Não basta ver a quantidade, é necessário saber a qualidade.

Para saber mais sobre o colesterol, leia: Colesterol bom (HDL) e colesterol ruim (LDL).

Ureia e creatinina

São as análises que avaliam a função dos rins.

Seus valores são usados para cálculos do volume de sangue filtrado pelos rins a cada minuto. Os melhores laboratórios já fazem esse cálculo automaticamente para o médico e normalmente vem com o nome de “clearance de creatinina” ou “taxa de filtração glomerular”.

  • Valores aumentados de ureia e creatinina indicam diminuição da filtração pelo rim.
  • Valores menores que 60 ml/minuto de clearance de creatinina indicam insuficiência renal.

Este é um dos exames que mais requerem interpretação do médico, pois o mesmo valor de creatinina pode ser normal para uma pessoa, e significar insuficiência renal para outra.

Para saber mais, leia: Creatinina e ureia [exame para avaliação dos rins].

Glicose

A dosagem de glicose é importante para o diagnóstico ou controle do tratamento do diabetes mellitus. Só tem valor se realizada com um jejum mínimo de 8 horas.

  • Valores menores que 100 mg/dl são normais.
  • Valores entre 100 e 125 mg/dl são considerados pré-diabetes.
  • Valores acima de 126 mg/dl são compatíveis com diabetes (deve ser sempre repetido para confirmação do diagnóstico).

Para saber mais informações sobre o diagnóstico do diabetes, leia: Exames para diagnóstico e seguimento do diabetes.

Hemoglobina glicada (HbA1c)

A hemoglobina é uma proteína nos glóbulos vermelhos, responsável por transportar oxigênio. Durante a vida útil de um glóbulo vermelho, que é cerca de 120 dias, a glicose no sangue se liga naturalmente à hemoglobina, formando a hemoglobina glicada (HbA1c).

O nível de HbA1c no sangue é um reflexo da média dos níveis de glicose no sangue ao longo dos últimos dois a três meses, porque reflete a quantidade de glicose que se ligou à hemoglobina ao longo do tempo.

A dosagem da HbA1c é uma forma mais eficaz de avaliar o controle da glicemia ao longo das últimas semanas que a simples dosagem da glicemia em jejum.

Os valores da hemoglobina glicada são interpretados da seguinte forma:

  • 4,0 a 5,6%: resultado normal. Valor esperado para pessoas não diabéticas.
  • Entre 5,7 e 6,4%: resultado anormal, que indica pré-diabetes.
  • Entre de 6,5 e 7,0% em pacientes sem diagnóstico de diabetes: resultado anormal, que indica diabetes.
  • Entre de 6,5 e 7,0% em pacientes sabidamente diabéticos e em tratamento: resultado desejado, que indica controle adequado da glicemia.
  • Entre de 7,0% e 7,9%: resultado anormal para adultos diabéticos, mas que pode ser tolerado em pacientes idosos ou crianças, pois esses fazem parte de um grupo com maior risco de desenvolver episódios de hipoglicemia com a medicação para o diabetes.
  • Acima de 8,0%: resultado anormal, que indica diabetes mal controlado.

Para saber mais sobre a hemoglobina glicada, leia: Hemoglobina glicada HbA1c: entenda os resultados

TGO (AST) e TGP (ALP)

O TGO e a TGP, chamadas também de transaminases, são exames utilizados para avaliar o fígado. Valores elevados indicam lesão das células hepáticas.

TGO e TGP elevadas normalmente traduzem algum tipo de hepatite, seja viral, medicamentosa ou isquêmica.

Leia: O que significam AST (TGO) e ALT (TGP)?

Eletrólitos (Sódio, Potássio, Cálcio e Fósforo

São chamados de eletrólitos. Valores elevados ou diminuídos devem ser tratados e investigados, pois podem trazer risco de morte se estiverem muito alterados.

Diarreia, vômitos, desidratação, insuficiência renal, fármacos e intoxicações são algumas das causas comuns de alterações dos eletrólitos do sangue.

Algumas nomenclaturas:

  • Hipernatremia: sódio sanguíneo elevado.
  • Hiponatremia: sódio sanguíneo baixo.
  • Hipercalemia: potássio sanguíneo elevado.
  • Hipocalemia: potássio sanguíneo baixo.
  • Hipercalcemia: cálcio sanguíneo elevado.
  • Hipocalcemia: cálcio sanguíneo baixo.
  • Hiperfosfatemia: fósforo sanguíneo elevado.
  • Hipofosfatemia: fósforo sanguíneo baixo.

TSH e T4 livre

o TSH e o T4 livre são análises solicitadas para avaliar o funcionamento da tireoide, um pequeno órgão que se encontra na região anterior do nosso pescoço e controla nosso metabolismo. É através desses dois exames que diagnosticamos e controlamos o hipertireoidismo e o hipotireoidismo.

Falamos dos exames da tireoide no artigo: TSH e T4 livre.

Ácido úrico

O ácido úrico é o metabólito resultante da metabolização de algumas proteínas pelo organismo. Níveis elevados são fatores de risco para gota, cálculo renal e estão associados a hipertensão e doenças cardiovasculares.

Para saber mais sobre o ácido úrico, leia: Ácido Úrico Alto – Causa, sintomas e riscos.

PCR

A PCR (proteína C reativa) é uma proteína que se eleva em estados inflamatórios. Ela, porém, é inespecífica, não nos diz claramente o motivo pelo qual está elevada.

A PCR elevada normalmente indica um processo infeccioso em andamento, mas também pode ocorrer nas neoplasias e nas doenças inflamatórias. Uma PCR elevada associado à leucocitose é um forte indicador de infecção em curso.

Para saber mais sobre PCR leia: Proteína C reativa – PCR.

PSA

O PSA é uma proteína que costuma estar elevada nos casos de câncer de próstata ou prostatites (infecção da próstata). Aumento do tamanho da próstata provocada pela idade, chamada de hiperplasia prostática benigna, também pode elevar o PSA, mas não nos níveis da neoplasia.

Albumina

A albumina é a proteína mais abundante no sangue. É um marcador de nutrição. Como é sintetizada pelo fígado, também serve para avaliação da função hepática em doentes cirróticos.

VHS

o VHS (velocidade de hemossedimentação) mais um teste não específico de inflamação. É menos sensível que o PCR. Costuma estar muito elevado nas doenças auto-imunes.

Para saber mais sobre o VHS, leia: Exames de sangue – VHS, PCR, Ferritina e CK.

EAS ou Urina Tipo I

É o exame básico de urina. Permite a detecção de doenças renais ocultas e pode sugerir a presença de infecções urinarias.

Com ele podemos avaliar a presença na urina de pus, sangue, glicose, proteínas, etc., substâncias que, em geral, não deveriam estar presentes.

Leia: EAS – Exame de urina

Urocultura

A urocultura é o exame de escolha para o diagnóstico da infecção urinária. Com ele conseguimos identificar a bactéria responsável pela infecção e ainda testar quais são os antibióticos efetivos.

Mais informações: Exame urocultura.

Exame parasitológico de fezes (EPF)

O EPF é o exame solicitado para investigar a presença de parasitos, conhecido vulgarmente por vermes.

Leia: Parasitoses (e exame parasitológico de fezes).

Existem inúmeras outras análises pedidas no sangue, fezes e urina. Estas são as mais comuns.

Pergunte sempre ao seu médico o porquê de cada exame solicitado. Não existe pedir exame apenas por pedir. A boa prática médica pede que todo exame solicitado tenha um motivo.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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