Sibutramina: remédio para emagrecer

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Sibutramina

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Introdução

O cloridrato de sibutramina, também conhecida pelo nome comercial Reductil®, pertence a uma classe de fármacos chamada moderadores do apetite, habitualmente usada no tratamento da obesidade.

Proibida em vários vários desde 2011 por conta do aumento do risco de eventos cardiovasculares, a sibutramina ainda é comercializada no Brasil devido a um parecer favorável emitido pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Atenção: esse texto não tem como objetivo reproduzir a bula completa da sibutramina. O que faremos é uma revisão crítica do fármaco em linguagem mais acessível ao público leigo, eliminando as partes da bula que contém linguagem mais técnica e ressaltando as informações que são realmente relevantes para os pacientes que desejam tomar o medicamento.

Para que serve a sibutramina?

A sibutramina é atualmente indicada como tratamento medicamentoso para perda de peso em pacientes obesos. A sua indicação clássica são pacientes com IMC (índice de massa corporal) maior que 30 kg/m2, ou maior que 25 kg/m2 quando houver associado outros fatores de risco, tais como diabetes mellitus, colesterol alto ou hipertensão arterial (apenas se controlada).

A sibutramina é comercializada desde 1997 e auxilia na perda de peso por agir diretamente sob neurotransmissores cerebrais responsáveis pela sensação de saciedade, entre eles, a serotonina, a dopamina e a noradrenalina.

Enquanto as drogas mais antigas, como a anfetamina, agiam estimulando a produção destes neurotransmissores, a sibutramina apenas faz com que elas permaneçam mais tempo circulando no cérebro, fazendo com que o paciente consiga permanecer mais tempo sem ter vontade de comer. A sibutramina também previne a redução do gasto calórico que costuma acontecer quando o paciente perde peso, aumentando a chance do paciente manter-se mais magro.

O cloridrato de sibutramina deve ser utilizado como parte de um programa de perda de peso, apresentando melhores resultados quando associado a exercícios físicos regulares e dieta hipocalórica. Quando a sibutramina é usada de modo correto, além da perda de peso, também é esperada uma redução nos níveis sanguíneos dos triglicerídeos e do LDL (colesterol ruim).

A sibutramina sozinha não faz milagres, e o tempo estimado para início do efeito terapêutico é de, pelo menos, 15 dias, podendo haver variações individuais.

Nomes comercias mais comuns

O cloridrato de sibutramina pode ser encontrado na sua forma genérica ou através dos diversos nomes comerciais disponíveis no mercado, entre os quais destacamos:

  • Biomag.
  • Grece.
  • Sibus.
  • Slenfig.
  • Vazy.
  • Nolipo.
  • Plenty.
  • Reductil.
  • Saciette.
  • Sibuctil.
  • Sibutran.
  • Sigran.

A sibutramina é comercializada em duas apresentações: comprimidos ou cápsulas de 10 mg ou 15 mg.

Preço médio

O preço varia de acordo com a marca, a dosagem e o número de comprimidos contidos na caixa. A opção mais barata costuma ser a caixa de 30 comprimidos de 10 mg na versão genérica, que custa ao redor de 15 reais. Já a caixa de 60 comprimidos de 15 mg do medicamento de marca pode chegar a custar cerca de 100 reais.

Como tomar

A sibutramina é um medicamento de venda controlada, que só deve ser tomada com indicação médica. NUNCA TOME MEDICAMENTOS POR CONTA PRÓPRIA.

A sibutramina deve ser tomada uma vez por dia, de preferência sempre no mesmo horário. Não é necessário estar em jejum. Se por algum motivo você esquecer de tomar o remédio, não há problemas. Não tome dois comprimidos no dia seguinte tentando compensar a dose perdida.

A dose inicial usual é de 10 mg por dia, podendo ser elevada até o máximo de 15 mg, se após 4 semanas de tratamento não houver resposta satisfatória. O objetivo é perder pelo menos 2 kg no primeiro mês. Nos casos em que o aumento da dose seja necessária, deve-se antes levar em consideração a frequência cardíaca e a pressão arterial do paciente.

Os pacientes perdem em média 10 a 15% do peso nos primeiros 6 meses. A partir deste ponto, o peso tende a estabilizar-se, mas a medicação deve ser mantida até ordem contrária para reduzir o risco do paciente voltar a engordar. Em geral, o medicamento pode ser tomado por até 2 anos.

O tratamento deve ser descontinuado em pacientes que após 3 meses não tenham conseguido perder pelo menos 5% do peso inicial. O medicamento também deve ser interrompido nos pacientes que inicialmente tiveram boa resposta, mas acabaram por voltar a engordar pelo menos 3 kg durante o tratamento.

Efeitos colaterais

Os efeitos colaterais mais comuns do tratamento com sibutramina são:

Um efeito colateral, obviamente pouco desejado nos pacientes que querem perder peso, é o aumento paradoxal do apetite. Isto chega a ocorrer em até 9% das pessoas que tomam sibutramina.

A sibutramina pode alterar os níveis pressóricos, provocando hipertensão arterial ou dificultando o controle da pressão em quem já é hipertenso. Portanto, a monitorização da pressão arterial e da frequência cardíaca são necessárias durante o tratamento.

Nos primeiros três meses de tratamento, a pressão arterial e a frequência cardíaca devem ser verificadas a cada duas semanas. Entre 3 e 6 meses estes parâmetros devem ser verificados mensalmente e, se tudo estiver bem, a partir do 6ª mês, os parâmetros podem ser avaliados a cada 3 meses.

O tratamento deve ser descontinuado se o paciente tiver um aumento persistente (em mais de 2 consultas seguidas) da frequência cardíaca de repouso de mais de 10 bpm ou da pressão arterial sistólica ou diastólica de mais 10 mmHg. Nos pacientes previamente hipertensos, mas bem controlados com medicação, se a pressão arterial exceder a 145/90 mmHg em duas consultas consecutivas, o tratamento também deve ser descontinuado.

Contraindicações

A sibutramina não deve ser tomada por pacientes que apresentem as seguintes condições:

  • Histórico de infarto ou doença coronariana.
  • Insuficiência cardíaca congestiva.
  • Histórico de AVC ou AIT.
  • Arritmias cardíacas.
  • Doença arterial periférica.
  • Hipertensão arterial mal controlada (acima de 145/90 mmHg).
  • Diabetes mellitus tipo 2, com pelo menos mais um outro fator de risco cardiovascular, tais como hipertensão arterial controlada por medicamentos, dislipidemia, tabagismo ou nefropatia diabética com evidência de microalbuminúria.
  • Histórico de transtornos alimentares, como bulimia e anorexia.
  • Pacientes em uso de inibidores da monoaminoxidase (IMAO). É recomendado um intervalo de pelo menos duas semanas após a interrupção dos IMAO antes de iniciar o tratamento com sibutramina.
  • Gravidez ou aleitamento materno.

Além das doenças acima, também não devem tomar sibutramina os pacientes com: depressão grave, doença das válvulas cardíacas, hipertensão pulmonar, glaucoma de ângulo fechado e doença hepática grave.

Por que alguns países proibiram a sibutramina, mas o Brasil não?

Em 21 de janeiro de 2010, a European Medicines Agency (EMA) publicou um comunicado recomendando a suspensão da licença de comercialização da sibutramina, baseada na análise do seu Committee for Medicinal Products for Human Use (CHMP), que concluiu que os benefícios da sibutramina são menores que os riscos de seus efeitos colaterais, principalmente os eventos cardiovasculares graves. No mesmo ano, EUA e Canadá também suspenderam a autorização para venda da Sibutramina.

Essa decisão foi reforçada pela publicação do estudo The Sibutramine Cardiovascular Outcomes (SCOUT), que acompanhou cerca de 11 mil pacientes acima de 55 anos e com fatores de risco cardiovascular. O estudo mostrou que nessa população, o risco de infarto e AVC foi mais elevado nos pacientes que estavam medicados com sibutramina em comparação com o grupo controle com placebo.

Os endocrinologistas brasileiros argumentam que os achados no estudo SCOUT foram supervalorizados, já que os eventos cardiovasculares ocorreram em 11,4% dos pacientes que utilizaram a sibutramina em comparação com 10% dos que tomaram placebo. Uma diferença que, apesar de estatisticamente significativa, foi de apenas 1,4%. E apesar dessa pequena diferença, a taxa de mortalidade ao final do estudo não foi estatisticamente diferente.

Outra queixa é o fato de, apesar do estudo ter avaliado apenas pacientes com mais de 55 anos e com fatores de risco cardiovasculares, os seus resultados foram extrapolados para toda a população, incluindo pacientes jovens e sem fatores de risco.

Portanto, após intensa discussão com a ANVISA, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) emitiram parecer favorável à manutenção da venda da Sibutramina, reforçando, no entanto, que ela não deve ser utilizada em pacientes com elevado risco cardiovascular.

Interação com outros medicamentos

Os seguintes medicamentos interagem com sibutramina e devem ser relatados ao seu médico antes do início do tratamento:

Esta lista está longe de ser completa. Lembre-se sempre de levar consigo a lista dos medicamentos que estás a tomar para que o seu médico possa avaliar a segurança da prescrição do tratamento para emagrecer.

Não se deve fumar maconha durante o tratamento com sibutramina pelo aumento do risco de hipertensão e arritmias cardíacas (leia: EFEITOS DA MACONHA).

Não há interação entre a sibutramina e os anticoncepcionais hormonais.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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