Introdução
Insônia é uma palavra que tem origem no latim e significa ausência de sono.
O insone, ou seja, o indivíduo que sofre de insônia, é aquele que apresenta imensa dificuldade em começar a dormir ou que não consegue manter-se dormindo por muito tempo. Em ambos os casos, o paciente sofre cronicamente de um sono não restaurador e apresenta-se incapaz de ser plenamente produtivo durante o dia.
Neste artigo explicamos o que é a insônia, quais são as suas principais causas, quais são os seus sintomas e o que tipo de tratamento o paciente pode recorrer para conseguir livrar-se desse problema.
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O que é a insônia?
A insônia é um distúrbio do sono que acomete até 10% das pessoas na sua forma crônica e até 40% na forma aguda.
Para ser caracterizado como insone, o paciente precisa apresentar as seguintes características:
- Dificuldade de pegar no sono ou dificuldade de se manter dormindo por uma quantidade de horas suficiente para ter um sono restaurador.
- Apresentar as dificuldades descritas acima, mesmo havendo tempo suficiente e condições ideais para se conseguir dormir.
- A ausência de sono restaurador capaz de tornar o paciente improdutivo durante o dia.
Se o indivíduo não apresentar essas três características, ele provavelmente não tem insônia. Por exemplo, os indivíduos que dormem poucas horas por noite, mas mantêm-se plenamente produtivos ao longo do dia não são insones.
Também é importante distinguir a insônia da privação do sono. Pacientes com privação do sono são aqueles que querem dormir, mas não conseguem por motivos que variam desde um ambiente barulhento, desconfortável ou muito claro, até a impossibilidade de dormir por questões profissionais. A principal diferença entre a insônia e a privação do sono é que, no segundo caso, o paciente consegue dormir caso lhe seja dada a oportunidade.
Outra situação que não é considerada insônia são os casos de algumas pessoas que têm o ritmo circadiano (relógio natural) diferente do habitual, sendo produtivas durante a noite e sonolentas durante o dia. Estes indivíduos também não são insones, pois, durante a manhã e parte da tarde, eles conseguem dormir um sono restaurador a ponto de estarem novamente produtivos durante a noite.
Causas
Existem dezenas de causas para insônia. Em geral, elas costumam ser categorizadas em insônia aguda e insônia crônica.
Insônia de curta duração
A insônia aguda, também chamada de insônia transitória ou de curta duração, é uma dificuldade para dormir que dura menos de 3 semanas e costuma estar associada a fatores de estresse, tais como:
- Mudanças súbitas no ambiente onde o indivíduo dorme. Questões como barulhos, temperatura, tipo de colchão, luminosidade, presença de outras pessoas no quarto, etc., podem causar insônia durante um curto período, até que o paciente se adapte ao novo ambiente.
- Aumento ou redução repentina no consumo de determinadas substâncias, como cafeína, nicotina, álcool e drogas ilícitas.
- Doenças agudas, principalmente aquelas que causam dor, desconforto ou impedem o paciente de dormir deitado.
- Estresses psicológicos, como divórcio, perda do emprego, falecimento de um familiar, discussões, pressões profissionais, etc.
- Uso de certos medicamentos, como beta-bloqueadores, teofilina, corticoides, fluoxetina, bupropiona, venlafaxina, levotiroxina, broncodilatadores e anfetaminas.
- Suspensão, após longo uso, de medicamentos que agem no sistema nervoso central, como antidepressivos ou ansiolíticos.
A insônia de curta duração costuma se resolver sozinha após algumas semanas. Em algumas situações, porém, o paciente só consegue voltar a ter um sono normal depois que o fator de estresse é eliminado.
Qualquer causa de insônia aguda pode levar à insônia crônica, caso o fator de estresse não consiga ser controlado.
Insônia crônica
A insônia crônica ocorre quando o paciente tem dificuldade para dormir em, pelo menos, 3 dias da semana por mais de 4 semanas seguidas. Muitas vezes, o paciente fica vários dias sem conseguir dormir bem e depois apresenta uma noite isolada de bom sono.
As causas mais comuns para insônia crônica são:
Má higiene do sono
Ao contrário do que o nome sugere, o que chamamos de higiene do sono não tem nada a ver com os hábitos de limpeza do paciente. Higiene do sono é um conjunto de ações ao longo do dia que favorecem o início do sono à noite.
Exemplos de má higiene do sono são: consumir cafeína à noite, praticar atividades físicas logo antes de dormir, não dormir na mesma hora todo dia, tirar vários cochilos durante o dia, principalmente após as 15 horas, jantar muito tarde à noite, ficar estudando ou trabalhando até tarde, etc.
Insônia psicofisiológica
Também chamada de insônia primária, é aquela insônia que surge sem causa aparente.
Pacientes com insônia psicofisiológica não conseguem relaxar na cama e apresentam grande atividade mental quando tentam adormecer, pensando em várias coisas seguidamente. Em dado momento da sua intensa atividade mental, o paciente se toca que já está há muito tempo na cama sem dormir e começa a ficar ansioso por conta disso, criando um ciclo vicioso que torna ainda mais difícil que ele relaxe e consiga cair no sono.
Com o tempo, o paciente pode começar a associar a própria cama ou quarto com períodos de ansiedade. Alguns deles só conseguem voltar a dormir se mudarem de ambiente.
Doenças neurológicas
Doenças degenerativas neurológicas, como a doença de Parkinson e o mal de Alzheimer podem também ser causas de insônia.
Insônia paradoxal
Também chamada de hipocondria do sono, a insônia paradoxal é uma falsa sensação de insônia.
O paciente acredita ser insone, mas quando estudado por polissonografia é possível descobrir que ele não só consegue dormir de forma relativamente rápida, como apresenta boas horas de sono de qualidade. Apesar disso, no dia seguinte, o paciente jura ter demorado a dormir e ter tido uma noite de pouco sono.
Desordens psiquiátricas
A insônia crônica é muito comum em pacientes que sofrem de problemas psiquiátricos, principalmente depressão, distúrbio de ansiedade, abuso de substâncias ou estresse pós-traumático.
Insônia pós-Covid-19
Com o surgimento da pandemia de Covid-19 em 2020, uma nova causa de insônia tornou-se comum.
Cerca de 5% dos pacientes que tiveram Covid-19 referem ter desenvolvido insônia crônica após a doença. Esse percentual sobe para 7,5% nos pacientes que precisaram ser internados em unidades de cuidados intensivos (UTI) e para 10% nos pacientes que precisaram ser intubados e ventilados artificialmente.
Sintomas
O paciente insone costuma apresentar diversos sinais e sintomas ao longo do dia derivados da falta de um sono restaurador à noite. Entre os mais comuns podemos citar:
- Cansaço.
- Sonolência.
- Falta de concentração.
- Alterações da memória.
- Irritabilidade.
- Ansiedade.
- Dificuldade de executar tarefas.
- Aumento de acidentes.
- Dor de cabeça.
- Sintomas gastrointestinais.
- Problemas de relacionamento.
Tratamento
Inicialmente, o tratamento da insônia é feito com terapia comportamental, incluindo educação sobre higiene do sono e técnicas de relaxamento.
Algumas dicas ajudam a melhorar a insônia:
- Conheça os hábitos de higiene do sono.
- Não vá para cama sem estar com sono.
- Use a cama apenas para dormir. Evite comer, mexer no computador ou ver TV na cama.
- Se após 20 minutos deitado, você não conseguir dormir, levante-se e vá fazer alguma atividade relaxante, como ler ou ouvir música calma.
- Se não estiver tendo sono, evite ficar na claridade. O excesso de luz dificulta a chegada do sono.
- Procure acordar todos os dias na mesma hora, mesmo nos finais de semana.
- Ao acordar, se já tiver amanhecido, levante-se da cama, mesmo que ainda esteja com sono. Isso facilitará o sono à noite.
- Não tire cochilos à tarde.
- Pratique atividades físicas ao longo do dia, porém evite esforços durante a noite.
- Encontre formas de relaxar à noite. Banho quente, massagens, leitura, meditação ou ioga podem ajudar. Alguns pacientes referem melhora com acupuntura.
- Não deixe relógios por perto, para que você não fique olhando para a hora o tempo todo.
- Entenda que a ansiedade por não conseguir dormir torna o ato de dormir ainda mais difícil.
- Não leve problemas não resolvidos ao longo do dia para cama.
É necessário salientar que algumas dessas dicas precisam ser implementadas durante vários dias antes que possa ser possível notar alguma melhora.
Medicamentos contra a insônia
Em alguns casos, o uso de medicamentos para induzir o sono faz-se necessário. Algumas opções para o tratamento da insônia incluem:
- Ansiolíticos benzodiazepínicos: triazolam, estazolam, lorazepam, temazepam e flurazepam.
- Ansiolíticos não benzodiazepínicos: zolpidem, zopiclone, zaleplon e eszopiclone.
- Agonistas da melatonina: ramelteon (Rozerem®).
- Antidepressivos: amitriptilina, trazodona, doxepina (indicados apenas se o paciente tiver depressão associada à insônia).
A valeriana é uma medicação que pode ser obtida sem prescrição médica e que é muito utilizada pelos pacientes para ajudar no sono. Porém, há pouca evidência científica que suporte o seu uso para o tratamento da insônia. Tudo indica que ela é apenas um placebo.
A melatonina é uma opção viável para alguns tipos de insônia.
Explicamos com detalhes o uso da melatonina para o tratamento da insônia no seguinte artigo: Melatonina – O que é, Como Tomar, Indicações e Efeitos Colaterais.
Referências
- Clinical Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Insomnia in Adults – Journal of Clinical Sleep Medicine,
- Clinical Practice Guideline for the Pharmacologic Treatment of Chronic Insomnia in Adults: An American Academy of Sleep Medicine Clinical Practice Guideline – Journal of Clinical Sleep Medicine.
- European guideline for the diagnosis and treatment of insomnia – European Sleep Research Society.
- Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) -American Psychiatric Association.
- Evaluation and diagnosis of insomnia in adults – UpToDate.
- Overview of the treatment of insomnia in adults – UpToDate.
- 6-month neurological and psychiatric outcomes in 236379 survivors of COVID-19: a retrospective cohort study using electronic health records – The Lancet Psychiatry.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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