Transtorno alimentar: tipos, sintomas e tratamento

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Escrito por: Dra. Maira Harris & Dra. Claudia Miliauskas

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Tempo de leitura estimado do artigo: 8 minutos

O que é um Transtorno alimentar?

Os transtornos alimentares são doenças caracterizadas por alterações do comportamento alimentar e preocupações excessivas com o peso, formato do corpo e a comida. É uma condição que pode cursar com intensidade e duração suficientes para causar impacto na saúde física e na vida social da pessoa.

Existem diversos tipos de transtorno alimentar, a saber:

Os sinais e sintomas podem variar consoante o tipo de transtorno alimentar, e uma mesma pessoa pode sofrer com tipos de distúrbios alimentares diferentes em cada momento do seu ciclo de vida e do seu tratamento. No entanto, não é possível ter mais de um transtorno alimentar ao mesmo tempo.

Quem pode ter?

Os transtornos alimentares podem se iniciar em qualquer fase da vida, sendo mais comum na adolescência e início da vida adulta, e costumam manter-se presentes por vários anos, quando não tratados.

São mais comuns em mulheres, mas também podem atingir homens, a população LGBTQI+, ocorrerem em crianças ou idosos, pessoas de todas as etnias e classes sociais; assim como pessoas com diferentes formas, pesos e tamanhos corporais.

Uma revisão publicada em 2022 que avaliou estudos publicados nos últimos 10 anos encontrou uma prevalência de 5,5 a 17,9% em mulheres e 0,6 a 2,4% em homens de transtornos alimentares na fase inicial da vida adulta.

Considerando a prevalência ao longo da vida foram encontrados os seguintes valores:

  • Anorexia nervosa de 0,8 a 6,3% em mulheres e 0,1 a 0,3% em homens;
  • Bulimia de 0,8 a 2,6% em mulheres e 0,1 a 0,2% em homens;
  • Transtorno de compulsão alimentar de 0,6 a 6,1% em mulheres e 0,3 a 0,7% em homens;
  • Outros transtornos alimentares não especificados de 0,6 a 11,5% em mulheres e 0,2 a 0,3% em homens.

Esse mesmo estudo descreveu que minorias de gênero e orientação sexual estão sob maior risco, e que a incidência de transtornos alimentares aumentou com a pandemia da Covid-19.

Complicações

Os transtornos alimentares são condições que tendem a ser persistentes, com grande comprometimento físico e da vida pessoal, social, profissional e familiar. Os quadros mais graves são de difícil recuperação, podendo, eventualmente, levar ao óbito. A anorexia nervosa, um dos tipos de transtorno alimentar, é a doença psiquiátrica que mais mata.

Essas mortes, geralmente, ocorrem devido a complicações médicas secundárias à desnutrição causada pela própria doença. Além disso, muitas mortes decorrem do suicídio, que também é maior entre as pessoas com transtorno alimentar quando comparado com a população em geral.

Portanto, é importante compreendermos que os transtornos alimentares são doenças sérias e potencialmente devastadoras. Conviver com esses transtornos é extenuante, física e psiquicamente, podendo acabar por dilacerar a autoconfiança e o desejo de viver. O sofrimento físico e psíquico pode ser tão intenso e extremo, que o desejo de viver se esvai. Por isso, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, com equipe transdisciplinar especializada e coesa, é indispensável.

Diagnóstico

Frente ao potencial de gravidade que o transtorno alimentar pode alcançar, ressalta-se que o diagnóstico precoce e encaminhamento para centro especializado é indispensável e está relacionado ao melhor prognóstico.

A seguir descreveremos os principais sintomas dos três transtornos alimentares mais comuns, conforme o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5)

Anorexia nervosa

Os principais sinais e sintomas da anorexia nervosa são:

  • Baixo peso: definido por um índice de massa corporal (IMC) menor que 18,5 kg/m²ou perda considerável de peso (aproximadamente 20% do peso total do corpo em 6 meses ou abaixo do percentil 5 das curvas de crescimento se crianças e adolescentes).
  • Preocupação mórbida com o risco de engordar (o papel do peso e da forma corporal é sobrevalorizado no julgamento que os pacientes fazem sobre si mesmos).
  • Alterações na percepção corporal (costumam se ver maior do que realmente são).

Nota: o índice de massa corporal é uma medida calculada a partir do peso e altura do indivíduo, com a finalidade de auxiliar profissionais de saúde a delimitar níveis de magreza e obesidade. Pode ser calculado dividindo o peso (em quilos), pela altura (em metros) elevada ao quadrado. Se você quiser calcular o seu IMC, acesse a nossa calculadora online: Calculadora de IMC (índice de massa corporal).

Explicamos a anorexia nervosa com mais detalhes no artigo: Anorexia nervosa: o que é, sintomas e tratamento.

Bulimia nervosa

Os principais sinais e sintomas da bulimia nervosa são:

  • Presença de um episódio de compulsão alimentar, definido pelo ato de comer uma quantidade de comida definitivamente maior do que a maior parte das pessoas comeria na mesma situação, em um período curto de tempo (até duas horas), associado a sensação de perda de controle.
  • Pelo menos 3 dos seguintes sintomas devem estar presentes:
    • comer mais rapidamente do que o habitual, escondido, sem estar com fome, até se sentir desconfortavelmente cheio;
    • se sentir mal a respeito de si, deprimido ou muito culpado após o episódio de compulsão alimentar;
    • sentir-se culpado e angustiado após os episódios.
  • Associação de comportamentos compensatórios relacionados aos episódios de compulsão alimentar para evitar o ganho de peso, pelo menos uma vez por semana por no mínimo 3 meses.
  • Preocupação mórbida com o risco de engordar.

Explicamos a bulimia nervosa com mais detalhes no artigo: Bulimia nervosa: o que é, sintomas e tratamento.

Transtorno de compulsão alimentar

O principal sinal do transtorno de compulsão alimentar é:

  • Presença de um episódio de compulsão alimentar pelo menos uma vez por semana, por 3 meses, porém sem a presença dos mecanismos compensatórios (como ocorre na bulimia).

Explicamos melhor o transtorno de compulsão alimentar no artigo: Transtorno da compulsão alimentar periódica.

Causas dos transtornos alimentares

Os transtornos alimentares têm origem multifatorial e podem surgir da interação entre vários fatores relacionados ao indivíduo, como influências biológicas, genéticas, psicológicas e até mesmo do meio social, cultural e familiar.

Alguns dos aspectos culturais envolvidos atualmente no desenvolvimento dos sintomas são a hipervalorização social do corpo magro e o preconceito com a gordura corporal. Os indivíduos, como seres sociais, sentem-se pressionados a corresponderem ao “padrão” de beleza da sua cultura — que é exaustivamente apontado pela mídia — caso contrário, sentem-se menos atraentes, excluídos e inferiores.

Algumas pessoas, nesse sentido, acabam por eleger o corpo como único representante de si mesmas e o controle do peso como forma de viver. Todavia, esse “estilo de vida”, como muitos chamam, apenas os aproximam da morte.

Sinais de alarme

Alguns dos sinais que podem indicar que uma pessoa esteja desenvolvendo um transtorno alimentar são:

  • Restrição alimentar autoimposta e excessiva.
  • Rápida perda ou ganho de peso.
  • Dietas radicais seguidas de períodos de comer compulsivo.
  • Uso frequente do banheiro, principalmente após as refeições.
  • Isolamento social.
  • Desmaios.
  • Preferência por comer sozinho.
  • Infecção recorrente das vias aéreas e queda da imunidade.
  • Perda do esmalte dentário.

Tratamento dos transtornos alimentares

Um tratamento de excelência inclui uma equipe transdisciplinar com especialistas em transtornos alimentares, composta por: clínico/endocrinologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista, terapeutas de família e, sempre que possível, agregar profissionais da fisioterapia e educação física (idealmente com especialização na área de transtorno alimentar).

Em alguns casos, fonoaudiólogos, dentistas, psicopedagogos, pediatras, gastroenterologistas, cardiologistas, neurologistas e outras especialidades médicas se fazem necessários. A necessidade de entrada de cada profissional deve ser determinada e coordenada pela equipe especializada mínima, visando sempre a manutenção da sincronia e da harmonia ao longo da jornada de recuperação do paciente. A família nuclear, cônjuges e cuidadores também devem ser incluídos, sendo parte indispensável do tratamento.

O que é uma equipe transdisciplinar?

A equipe transdisciplinar vai além de uma equipe composta por diferentes profissionais. Torna-se essencial a interação efetiva entre as diversas disciplinas e saberes, com um fluxo de comunicação horizontal e constante que age como elemento integrador de seus membros. A equipe deve agregar valores e interesses, com cada membro responsável e ativo em seu papel individual, sem perder de vista a colaboração entre todos os membros e a divisão equilibrada da responsabilidade compartilhada.

Cada profissional dessa equipe transdisciplinar trabalha com foco em alguma especificidade da pessoa em sofrimento. Mas, eles precisam estar afinados entre si para trabalharem de forma complementar e eficaz, mantendo sempre o paciente e a família no centro do processo terapêutico.

Objetivos do tratamento do transtorno alimentar

O tratamento tem como objetivo a completa reabilitação do paciente nos aspectos clínicos, psiquiátricos, nutricionais e psicológicos. O sucesso do programa de atendimento integrado e completo depende da existência desse time e do emprego conjunto de estratégias baseadas em evidências científicas.

Mais do que definir em qual diagnóstico o paciente se encontra no momento, é essencial identificar suas vulnerabilidades e quais fatores levaram o paciente a desenvolver e a manter a doença, correlacionando-os com os sintomas, o estado nutricional e os riscos clínicos. A partir dessa análise, é possível elaborar um plano terapêutico totalmente individualizado, que levará em conta o seu diagnóstico e todas as particularidades de cada indivíduo.

Assim, o tratamento deve envolver o indivíduo como um todo, incluindo os diversos contextos nos quais ele está inserido (familiar, social, econômico, cultural, midiático e acadêmico). O sucesso deste está diretamente ligado não só ao desenho de um projeto terapêutico adequado para cada caso, mas também à abertura do paciente e da família ao que é proposto pela equipe.

O plano de tratamento oferecido pela equipe transdisciplinar, a depender da gravidade dos sintomas, pode ocorrer em diferentes níveis de cuidado: ambiente ambulatorial regular; passar o dia sob os cuidados de uma equipe (day clinic ou hospital-dia); internação domiciliar; ou internação hospitalar. Neste último caso, a coesão e a interação da equipe transdisciplinar se fazem ainda mais necessárias, principalmente para uma integração em perfeita sintonia com a equipe hospitalar, através do cuidado colaborativo.

O que é o cuidado colaborativo no transtorno alimentar?

Trata-se de uma ação com caráter terapêutico e educacional onde há construção de prática conjunta entre diferentes profissionais, de forma horizontal, respeitando as diferentes visões do caso que cada área alcança. Através dessa troca, simultaneamente ao tratamento do paciente, ocorrerá a capacitação dos profissionais não especializados em transtornos alimentares que porventura estão participando dos cuidados ofertados.

Dessa forma, todos passarão a ter uma visão mais abrangente do caso e assim poderão juntos elaborar o Projeto Terapêutico Singular (PTS). Para esse tipo de cuidado (colaborativo), também dá-se o nome de matriciamento, e ele é indispensável no campo dos transtornos alimentares.

O matriciamento é um suporte técnico-pedagógico que tem como objetivos principais a capacitação da equipe de referência e a otimização da assistência do paciente em avaliação. Ele se dá na presença de duas equipes — a equipe de referência, que pode ser, por exemplo, uma equipe da saúde da família ou uma equipe de clínicos em um hospital; e a equipe de matriciamento, que pode ser, por exemplo, especialistas na área de transtorno alimentar e saúde mental.

As duas trabalharão juntas, atendendo os pacientes e sua família em conjunto, trocando experiências e conhecimento prático. Ao longo do tempo, a equipe de referência ficará melhor capacitada para aquele tipo específico de atendimento e precisando menos da equipe de matriciamento.

Tratamento psicoterápico

É consenso na literatura que o tratamento psicoterápico é a base e a parte mais importante do PTS para todos os transtornos alimentares. Dentre as diversas formas de aplicação da psicoterapia, algumas modalidades merecem atenção: terapia interpessoal, terapia comportamental dialética, terapia cognitiva comportamental e a terapia com base familiar.

Terapia cognitivo comportamental

Esta abordagem da psicologia tem como objetivos principais modificar comportamentos disfuncionais e auxiliar a pessoa a encontrar novos padrões de comportamentos mais saudáveis. Trata-se da modalidade mais estudada e, portanto, com maior grau de evidência no controle dos transtornos alimentares. É considerada primeira linha de tratamento para anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar nos adultos.

Terapia Interpessoal

Nesse tipo de abordagem o foco está no início dos sintomas, a disfunção que isso causa na vida da pessoa e nos problemas interpessoais atuais, o que constitui o foco pragmático do tratamento. A conexão entre esses problemas e o desenvolvimento e a manutenção do transtorno alimentar é identificada no início do tratamento. Pacientes que tem transtorno do estresse pós-traumático ou certos desajustamentos associados a crenças de incapacidade de lidar com a doença podem se beneficiar dessa técnica.

Terapia comportamental dialética (DBT)

Indicada principalmente para pacientes com transtorno alimentar associado a transtorno de personalidade borderline, risco de suicídio e desregulação emocional. Baseia-se no fato de que os comportamentos alimentares disfuncionais ocorrem em resposta a experiências emocionais que não são toleráveis para a pessoa devido a sua baixa capacidade de regulação emocional.

Esse processo acaba aumentando a reatividade cerebral e gerando respostas neurofisiológicas como ansiedade e medo, o que leva a uma sobrecarga emocional. Essa é seguida por uma urgência em interromper tal escalada emocional a todo custo.  Dessa forma, os sintomas alimentares funcionam como uma forma de proporcionar alívio, mesmo que temporário e disfuncional, desses sentimentos desagradáveis.

A DBT traz de forma bastante prática diversos caminhos para o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades que tornarão, com o tempo, os sintomas alimentares desnecessários. A pessoa será capaz de construir uma vida que valha a pena ser vivida, mesmo com todo desconforto que é existir. A DBT compreende 4 áreas: mindfulness, regulação emocional, tolerância ao mal-estar e efetividade interpessoal. 

Tratamento baseado na família (do inglês Familly based treatment- FBT)

Atualmente é consolidada na literatura a indicação de terapia familiar no tratamento de pessoas com transtorno alimentar. Chamamos de padrão ouro, ou seja, é o tratamento com maior nível de evidência de realmente ajudar as pessoas com distúrbio alimentar.

A expertise do clínico em auxiliar o desenvolvimento de habilidades junto à família, para que esta possa conduzir seu ente querido no caminho da recuperação, é vital para que estes cuidadores possam lidar com a intensa carga emocional vivida no dia a dia do tratamento e, assim, reduzir o nível de stress inerente ao cuidado.

O papel do cuidador é de extrema importância no processo de recuperação do indivíduo com transtorno alimentar. Nesse modelo, o foco do tratamento é o sistema familiar, os padrões de comunicação dentro da família e a dinâmica psíquica de formação dos sintomas. Pela lógica sistêmica familiar, certas questões do adoecimento estariam ligadas ao funcionamento da família, e vice-versa.

New Maudsley Approach (NMA)

O Workshop New Maudsley Approach para familiares tem como objetivo equipar os cuidadores com diversas ferramentas que facilitarão a jornada de recuperação da saúde de pessoas com transtorno alimentar. É um espaço seguro de trocas e acolhimento, onde são ensinadas habilidades indispensáveis para a verdadeira compreensão do impacto biopsicossocial da doença e a diminuição do sofrimento gerado por ela.

Desenvolvido pela professora Janet Treasure e Jenny Langley, a qual vivenciou seus próprios desafios com o filho diagnosticado com anorexia nervosa. O grupo deve ser conduzido por facilitadores devidamente treinados e licenciados no New Maudsley Approach.

Um grande diferencial dessa abordagem foi a incorporação da linguagem motivacional, ou seja, a aplicação de elementos da entrevista motivacional (EM) no tratamento do transtorno alimentar. A EM, que já tem eficácia apontada na literatura, é um estilo de abordagem clínica que busca construir conversas colaborativas para manejo e resolução das ambivalências do paciente sofrendo com as mais diversas doenças.

O NMA é voltado para contextos de maior cronicidade e foca no desenvolvimento de habilidades dos familiares do paciente com transtorno alimentar. Trata-se do modelo mais atual e eficaz de intervenção familiar.

Modelo Maudsley do Tratamento da Anorexia Nervosa (MANTRA)

Trata-se do primeiro tratamento específico para anorexia nervosa. Nessa abordagem, o transtorno alimentar não será visto como retrato da disfunção familiar. O transtorno será a doença e a família, parte importante da sua solução. São realizadas estratégias para aumentar a motivação do paciente e para entender como funciona a dinâmica familiar e de que forma ela pode ajudá-lo. É parte fundamental do tratamento avaliar os fatores de manutenção da doença.

Através do MANTRA, o paciente é estimulado a desenvolver a percepção de fome e saciedade e a entender as consequências de uma dieta restritiva, buscando o aprimoramento da acurácia interoceptiva, ou seja, o melhor entendimento de como estamos nos sentindo e entendemos o que está acontecendo dentro de nós.

É trabalhado, ainda, quais aspirações e metas o paciente possui para sua vida. Dessa forma, ele é estimulado a desenvolver novas habilidades consonantes com suas aspirações e com uma vida valorosa sem anorexia nervosa.

Tratamento medicamentoso

É considerada segunda linha do tratamento dos transtornos alimentares e atuará de forma coadjuvante, ou seja, conjuntamente à psicoterapia. Não existe medicação que resolva de forma isolada um transtorno alimentar. Por isso, o uso de medicamentos sempre precisa estar associado às abordagens não farmacológicas e transdisciplinares.

A escolha da medicação dependerá da forma de apresentação dos sintomas e pode variar em cada etapa do tratamento. O psicofármaco muitas vezes não terá uma ação direta sobre o distúrbio alimentar, mas sim a partir do controle de comorbidades associadas, como ansiedade e depressão, podendo ser necessário uso de antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos, dentre outros.

Devido à complexidade dos casos, é importante que um psiquiatra especializado em transtorno alimentar esteja a frente dessas condutas medicamentosas, trabalhando em parceria com os outros profissionais envolvidos com o PTS.

Tratamento das comorbidades

Vale ressaltar que a presença de comorbidades associadas ao transtorno alimentar é mais regra do que exceção. 80% dos pacientes com transtorno alimentar terão outras comorbidades associadas. Dessa forma, o tratamento combinado de psicoterapia e psiquiatria será sempre a melhor opção. Eles se somam e se completam.

Um bom psiquiatra saberá qual medicação abrangerá o máximo de sintomas possíveis, evitando, assim, a polifarmácia desnecessária. Até porque, o que realmente fará diferença entre o sucesso e o fracasso do tratamento é a presença de uma equipe transdisciplinar capacitada em transtornos alimentares, principalmente com a presença de nutricionista e psicólogo.

É muito importante que profissionais de diversas áreas estudem e se aprimorem na clínica dos distúrbios alimentares, seja para realizar uma triagem adequada com diagnóstico precoce e encaminhamento para equipe transdisciplinar especializada, seja para oferecer um tratamento eficaz e baseado em evidências às pessoas que sofrem com esses transtornos tão graves e perigosos.


Referências

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Autor(es)

Médica psiquiatra pelo Instituto Municipal Philippe Pinel.
Especialista em Transtornos Alimentares e Obesidade pelo GOTA-IPUB/UFRJ/IEDE.
Mestre em ciências médicas pela UERJ.
Terapeuta Sistêmica de Família e Casais com formação em Entrevista Motivacional.
Habilitada no New Maudsley Approach .
Diretora médica do NATA Espaço de Saúde Transdisciplinar.

Professora adjunta de Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FCM/UERJ). Doutorado concluído pelo Instituto de Medicina Social/UERJ, departamento de epidemiologia/saúde coletiva. Mestrado em saúde materno-infantil pela Universidade Federal Fluminense. Especialização em terapia familiar sistêmica. Residência médica em pediatria e psiquiatria.

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