O que é a metoclopramida?
O cloridrato de metoclopramida, mais conhecido pelo nome comercial Plasil® ou Primperan®, é um fármaco que age estimulando o esvaziamento do estômago, o que o torna útil nos casos de refluxo gastroesofágico, nos pacientes com quadro de náuseas e vômitos e nos diabéticos com gastroparesia (esvaziamento lento do estômago).
A ação da metoclopramida está relacionada ao bloqueio dos receptores da dopamina no sistema nervoso central e no trato gastrointestinal, de forma semelhante ao que faz a bromoprida (Digesan®). De fato, a bromoprida e a metoclopramida são substâncias quase idênticas, partilhando o mesmo mecanismo de ação e os efeitos colaterais.
Falamos especificamente da bromoprida no artigo: Bromoprida: posologia e efeitos colaterais.
O bloqueio dos receptores da dopamina aumenta a força e a amplitude das contrações do estômago e do intestino delgado, além de relaxar o esfíncter pilórico, facilitando o esvaziamento gástrico e o acelerando o trânsito intestinal, combatendo, assim, as náuseas e vômitos.
A metoclopramida é, portanto, um medicamento antiemético (que impede os vômitos) e um procinético (que acelera o esvaziamento do estômago).
Atenção: Este texto não tem como objetivo reproduzir a bula completa da metoclopramida. O que faremos é uma revisão crítica do fármaco em linguagem mais acessível ao público leigo, eliminando as partes da bula que contêm linguagem muito técnica e ressaltando as informações que são realmente relevantes para os pacientes que desejam tomar o medicamento.
Indicações
O cloridrato de metoclopramida pode ser utilizado nas seguintes situações:
- Tratamento de curta duração de quadros de náuseas e vômitos.
- Prevenção de náuseas e vômitos nos pacientes em pós-operatório ou sob quimioterapia ou radioterapia.
- Tratamento agudo da enxaqueca.
- Doença do refluxo gastroesofágico.
- Gastroparesia diabética.
- Procedimentos radiológicos do trato gastrintestinal.
Por conta dos possíveis efeitos colaterais neurológicos que podem surgir com o uso prolongado da metoclopramida, algumas agências internacionais de medicamentos, como a European Medicines Agency (EMA), atualmente desaconselham o uso do medicamento para tratar gastroparesia e refluxo, por se tratarem de doenças com indicação de uso prolongado do medicamento.
Segundo recomendação do Comitê, a metoclopramida deve ser utilizada por no máximo 5 dias seguidos e apenas para a prevenção e tratamento de curta duração de náuseas e vômitos.
Em outros países, como Brasil e EUA, o uso da metoclopramida por 4 a 12 semanas ainda é sugerido e está presente na bula do medicamento.
Nomes comerciais
O cloridrato de metoclopramida pode ser encontrado sob a forma de medicamento genérico ou com os seguintes nomes comerciais:
- Aristopramida.
- Drasil.
- Fluccil.
- Metoclosantisa.
- Metrofarma.
- Neolasil.
- Noprosil.
- Novosil.
- Plabel.
- Plagex.
- Plamivon.
- Plasil.
- Plavom.
- Primperan.
- Vomistop.
O cloridrato de metoclopramida é comercializado nas formas de comprimidos, solução oral, gotas e solução injetável. Essa última é habitualmente reservada para uso intra-hospitalar.
Como tomar
ADULTOS
- Comprimidos: 1 comprimido, 3 vezes ao dia, via oral, 10 minutos antes das refeições.
- Injetável: 1 ampola a cada 8 horas, via intramuscular ou intravenosa.
- Solução oral: 2 colheres de chá (10 mL), 3 vezes ao dia, via oral, 10 minutos antes das refeições.
CRIANÇAS ACIMA DE 1 ANO
Gotas: a dose não deverá exceder 0,5 mg/kg/dia e o tratamento deve começar com a dose mais baixa. Esta dose corresponde aproximadamente a:
- 1 a 3 anos: 5 gotas (1,0 mg), 2 a 3 vezes ao dia;
- 3 a 5 anos: 10 gotas (2,0 mg), 2 a 3 vezes ao dia;
- 5 a 14 anos: 13 gotas (2,5 mg) a 26 gotas (5 mg), 3 vezes ao dia.
O uso de metoclopramida em crianças deve ser evitado como primeira opção sempre que possível.
Correção da dose para pacientes com insuficiência renal crônica
A metoclopramida tem eliminação renal, por isso, em pacientes com insuficiência renal, a dose do medicamento deve ser ajustada de acordo com a taxa de filtração glomerular (TFG):
- TFG maior que 60 mL/minuto: não é necessário ajuste de dosagem.
- TFG entre 10 a 60 mL/minuto: administrar 50% da dose diária total usual.
- TFG menor que 10 mL/minuto: administrar 1/3 (ou menos) da dose diária total usual.
Pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal devem tomar 1/3 da dose diária total usual.
Efeitos colaterais
Em geral, a incidência de reações adversas está relacionada com a dose e a duração do uso da metoclopramida. Os dois efeitos colaterais mais relevantes da metoclopramida são a depressão do sistema nervoso central e os sintomas extrapiramidais.
Depressão do sistema nervoso
Sonolência, fadiga, sensação de esgotamento, tontura e confusão mental podem ocorrer com a dosagem terapêutica ou supra-terapêutica. Esses efeitos são autolimitados e geralmente desaparecem dentro de 24 horas após a descontinuação do medicamento.
Os sintomas da depressão do sistema nervoso central normalmente surgem nos primeiros 5 dias de uso, mas podem aparecer logo no primeiro dia.
Fatores de risco:
- Idade acima de 65 anos.
- Uso simultâneo de outro medicamento com ação depressora do SNC.
- Insuficiência renal crônica.
Sintomas extrapiramidais
Sintomas extrapiramidais são reações de distonia dos músculos que surgem nas primeiras 24 a 48 horas de uso do medicamento. O risco dessas reações é mais elevado em doses a partir de 30 a 40 mg por dia e em pacientes com menos de 30 anos de idade.
Cerca de 0,2% (1 em 500) dos pacientes apresentam sintomas extrapiramidais com o uso da metoclopramida.
Os sintomas podem incluir movimentos involuntários dos membros, contrações dos músculos da face, torcicolo, protrusão da língua, alterações da fala e trismo (contratura dolorosa da musculatura da mandíbula). O quadro tende a ter reversão completa após suspensão do medicamento.
Outra manifestação neurológica possível é a acatisia (inquietação motora), que se manifesta como sentimentos de ansiedade, agitação, insônia e incapacidade de ficar quieto ou parado. A acatisia é geralmente reversível com a descontinuação do medicamento ou redução da dose.
Sintomas de parkinsonismo, como bradicinesia (lentificação de reflexos e movimentos do corpo), tremores, rigidez muscular e perda da expressão facial, podem surgir após cursos mais longos de tratamento, principalmente em idosos. Os sintomas parkinsonianos geralmente remitem dentro de 2 a 3 meses após a descontinuação da metoclopramida.
Fatores de risco para sintomas extrapiramidais com uso da metoclopramida incluem:
- Uso de doses superiores às recomendadas.
- Uso prolongado (maior que 12 semanas).
- Idade abaixo de 30 anos ou acima de 60.
- Mulheres.
- Insuficiência renal.
- Diabetes mellitus.
- Uso concomitante de outros medicamentos que podem causar sintomas extrapiramidais (por exemplo, antipsicóticos).
- Uso concomitante de inibidores fortes do CYP2D6 (por exemplo, fluoxetina, paroxetina, bupropiona).
Outros sintomas adversos
- Dor de cabeça.
- Tontura.
- Galactorreia (secreção de leite pelas mamas).
- Ginecomastia (aumento do volume das mamas em homens).
- Retenção de líquido.
- Erupções cutâneas, incluindo urticária.
- Diarreia.
- Incontinência urinária.
- Hipertensão arterial.
- Depressão.
- Síndrome Neuroléptica Maligna.
- Atraso menstrual.
- Impotência.
Contraindicações
A metoclopramida não deve ser utilizada nos seguintes casos:
- Sempre que a estimulação da motilidade gastrointestinal possa ser perigosa, como, por exemplo, na presença de hemorragia gastrointestinal, obstrução mecânica ou perfuração intestinal.
- Pacientes com feocromocitoma, pois o medicamento pode causar crise hipertensiva, provavelmente devido à liberação de catecolaminas do tumor.
- Pacientes com antecedentes de alergia aos componentes da fórmula.
- Pacientes epilépticos ou que estejam recebendo outros medicamentos que possam causar reações extrapiramidais.
- Pacientes com história de discinesia tardia ou reação distônica à bromoprida ou metoclopramida.
- Crianças menores de 1 ano de idade, devido ao risco aumentado da ocorrência de agitação, irritabilidade e convulsões.
Uso durante a gravidez e lactação
A bromoprida é um medicamento que apresenta graduação B na categoria de risco na gravidez. Isso significa que os estudos em animais não conseguiram demonstrar um risco para o feto, mas que não existem estudos adequados e bem controlados em humanos.
Como os estudos em animais nem sempre são preditivos da resposta humana, a metoclopramida deve ser usada durante a gravidez apenas se for claramente necessário e não houver outra opção disponível.
A metoclopramida é excretada pelo leite materno, não devendo, portanto, ser administrada em mulheres que estejam amamentando.
Interações medicamentosas
Combinação contraindicada: levodopa e metoclopramida têm um antagonismo mútuo (uma inibe o efeito da outra).
Combinações que devem ser evitadas: álcool potencializa o efeito sedativo da metoclopramida.
Combinações que merecem atenção:
- Anticolinérgicos e derivados da morfina têm ambos antagonismo mútuo com a metoclopramida na motilidade do trato digestivo.
- Depressores do sistema nervoso central (derivados da morfina, hipnóticos, ansiolíticos, anti-histamínicos H1 sedativos, antidepressivos sedativos, barbituratos, clonidina e substâncias relacionadas).
- Neurolépticos podem ter efeito aditivo para a ocorrência de sintomas extrapiramidais.
- Digoxina: metoclopramida diminui a biodisponibilidade da digoxina. É necessária cuidadosa monitoração da concentração plasmática da digoxina.
- Ciclosporina: metoclopramida aumenta a biodisponibilidade da ciclosporina. É necessária cuidadosa monitorização da concentração plasmática da ciclosporina.
- Medicamentos inibidores da monoaminoxidase (MAO), quando associados à metoclopramida, podem aumentar a liberação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) e causar pico hipertensivo nos pacientes hipertensos.
A metoclopramida não interfere com a eficácia dos anticoncepcionais.
Interferência em exames de sangue e testes laboratoriais
Não há dados até o momento que demonstrem interferência do cloridrato de metoclopramida nos resultados de exames de sangue ou em outros testes laboratoriais.
Referências
- Metoclopramide hydrochloride tablet – DailyMed – NIH.
- Metoclopramide: Drug information – UpToDate.
- Metoclopramide-containing medicines – European Medicines Agency.
- Metoclopramide – Medline Plus – NIH.
- Plasil® – Cloridrato de metoclopramida – Bula.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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