O que é incontinência urinária?
Incontinência urinária é a perda da capacidade de controlar a bexiga, causando vazamentos involuntários de urina.
A incontinência urinária é uma situação extremamente comum, principalmente em mulheres acima dos 60 anos. O seu maior problema é o constrangimento, que em alguns casos pode ser tão grande que a paciente nem sequer relata-o ao seu médico. Apesar de ocorrer tipicamente em mulheres mais velhas, a incontinência urinária também pode acometer mulheres jovens e homens.
Como controlamos a urina?
Para entender por que surge a incontinência urinária é preciso antes conhecer o funcionamento normal da bexiga e da uretra.
Começando pelo básico. A urina é produzida pelos rins, escoada pelos ureteres, armazenada na bexiga e eliminada através da uretra.
A bexiga é órgão responsável por armazenar temporariamente a urina produzida pelos rins ao longo do dia. Quando o volume de urina se aproxima de 200-300 ml, o estiramento da parede da bexiga envia sinais ao cérebro, causando-nos a desconfortável sensação de precisar urinar. Quanto mais cheia a bexiga, mais forte é a vontade.
Os rins produzem urina de forma ininterrupta, drenando continuamente pequenos volumes em direção à bexiga. Isto significa que temos sempre algum volume de urina na bexiga durante todo o dia, mesmo quando não estamos com vontade de urinar. Em alguns momentos, podemos ter até 200 ml de urina armazenados na bexiga sem nos darmos conta disso.
Mas como é que impedimos que essa urina armazenada saia da bexiga, já que não passamos o dia fazendo força para não urinar?
Quando a bexiga está vazia ou com pequeno volume de urina, os nervos da bexiga enviam sinais ao cérebro comunicando esta situação. Neste momento, a musculatura da bexiga encontra-se relaxada, facilitando o armazenamento de urina proveniente dos rins. Ao mesmo tempo o cérebro comanda os músculos ao redor da uretra fazendo com que os mesmo fiquem contraídos. Essa contração é involuntária e imperceptível. O resultado final é uma baixa pressão na bexiga relaxada e uma alta pressão na uretra contraída, impedindo a saída de urina.
A uretra fica contraída graças a um grupo de músculos que compõe o esfíncter uretral ou esfíncter urinário. Além do esfíncter, outros músculos da região pélvica também agem controlando a pressão na uretra, mantendo-a fechada.
Quando a bexiga fica cheia, sua dilatação envia estímulos ao cérebro para urinar. Neste momento, o processo de fechamento da uretra começa a tornar cada vez menos involuntário e passa a depender de um esforço ativo dos esfíncteres e da musculatura pélvica. Ao mesmo tempo, a musculatura da bexiga, chamada de músculo detrusor, começa a reduzir seu relaxamento em um processo para iniciar o esvaziamento a bexiga. Quanto mais cheia a bexiga, maior a pressão dentro desta e maior a necessidade de fazermos força para segurar a urina.
Quando urinamos, o detrusor (músculo da bexiga) se contrai, espremendo a bexiga e expulsando o volume de urina do seu interior. Concomitantemente, o esfíncter urinário e os músculos da pelve relaxam, abrindo a uretra e permitindo o escoamento da urina.
Portanto, o ato de urinar e de prender a urina dependem do bom funcionamento e sincronia dos nervos e da musculatura da bexiga e da uretra.
Tipos de incontinência urinária
Incontinência urinária de esforço
A incontinência urinária de esforço é aquela em que ocorre perda involuntária de urina quando há um aumento na pressão intra-abdominal, ou seja, quando tossimos, espirramos, rimos, pulamos ou quando fazemos qualquer esforço que use a musculatura abdominal. Todo aumento da pressão abdominal também causa um aumento da pressão na bexiga. Em pessoas sem problemas, este aumento de pressão não é suficiente para vencer o esfíncter urinário, por isso, a maioria dos indivíduos não perde urina aos esforços.
A incontinência urinária de esforço é causada na maior parte dos casos por uma fraqueza nos músculo da região pélvica, fazendo com que haja um mau funcionamento do esfíncter urinário, permitindo a perda de urina toda vez que houver aumento súbito da pressão dentro da bexiga.
A incontinência urinária de esforço pode ser causada pela gravidez, por lesão da musculatura pélvica durante o parto vaginal, por uma cirurgia na região pélvica ou pelo enfraquecimento natural da musculatura ao longo dos anos.
Incontinência urinária de urgência
A incontinência urinária de urgência é aquela que ocorre por uma hiperatividade do detrusor, músculo que contrai a bexiga. A bexiga apresenta súbitas contrações, causando urgência para urinar, o que, em alguns casos, costuma fazer com que o paciente urine antes ter tempo de chegar ao banheiro. Esse tipo de incontinência urinária também é chamada de bexiga hiperativa.
A incontinência urinária de urgência pode ocorrer devido ao envelhecimento da bexiga, queda nos níveis de estrogênio (menopausa), doenças neurológicas como Parkinson (leia: DOENÇA DE PARKINSON | Sintomas e tratamento), infecção urinária (leia: INFECÇÃO URINÁRIA | Cistite) e outras causas que citaremos mais abaixo.
PaAra saber mais detalhes sobre a bexiga hiperativa, leia: BEXIGA HIPERATIVA- Causas, Sintomas e Tratamento.
Incontinência urinária mista
A Incontinência urinária mista é aquela que apresenta características dos dois tipos de incontinência citados anteriormente, ou seja, um esfíncter incompetente associado a uma bexiga que contrai involuntariamente. É, na verdade, a apresentação mais comum de incontinência urinária.
Incontinência urinária de sobrefluxo
A incontinência urinária de sobrefluxo é aquela que ocorre por obstruções à saída de urina, fazendo com que a bexiga permaneça constantemente cheia. Ao contrário dos outros tipos de incontinência, este caso é mais comum nos homens, principalmente naqueles com doença da próstata, seja hiperplasia benigna, seja câncer de próstata (leia: CÂNCER DE PRÓSTATA | Hiperplasia benigna da próstata). O crescimento da próstata comprime a uretra e faz com que a bexiga tenha que suportar grandes volumes de urina. Quando a bexiga fica muito, mas muito cheia, a pressão do líquido é tão grande que acaba vencendo a resistência causada pela próstata, fazendo com que o paciente não tenha controle da hora que vai urinar.
Pessoas com doenças que causem lesão dos nervos ou dos músculos da bexiga, também apresentam dificuldades em esvaziá-la, podendo apresentar incontinência urinária de sobrefluxo.
Independente da causa, o mecanismo inicial da incontinência é sempre o mesmo, hiperatividade da bexiga, hipoatividade da bexiga, obstrução à passagem da urina ou um esfíncter urinário incompetente. Deve-se destacar que é muito comum o paciente com incontinência urinária apresentar mais de um destes mecanismo ao mesmo tempo.
Existe também a incontinência urinária causada por incapacidade do paciente, como nos casos de demência ou lesão neurológica grave.
Abaixo, citaremos as doenças e condições que mais comumente levam a incontinência urinária.
Fatores de risco para incontinência urinária
- Idade avançada.
- Obesidade (leia: OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA | Definições e consequências).
- Tabagismo (leia:MALEFÍCIOS DO CIGARRO | Tratamento do tabagismo).
- Diabetes mellitus (leia: DIABETES MELLITUS | DIAGNÓSTICO E SINTOMAS).
- Infecção urinária (leia: INFECÇÃO URINÁRIA | Cistite).
- Gravidez.
- Parto normal
- Histerectomia (retirada do útero).
- Cirurgias pélvicas.
- Traumas na região pélvica.
- Menopausa (leia: MENOPAUSA | Sintomas e causas).
- Prostatite (leia: PROSTATITE | Sintomas, causas e tratamento).
- Aumento do tamanho da próstata (leia: CÂNCER DE PRÓSTATA | Hiperplasia benigna da próstata).
- Doença de Parkinson (leia: DOENÇA DE PARKINSON | Sintomas e tratamento).
- Esclerose múltipla (leia: ESCLEROSE MÚLTIPLA | Sintomas, diagnóstico e tratamento).
- Doença de Alzheimer.
- Traumas da coluna.
- AVC (leia: AVC | ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL | Sintomas e tratamento).
- Obstruções do trato urinário.
- Drogas (diuréticos, antidepressivos, antipsicóticos, sedativos, medicamentos para redução da próstata, etc.).
Diagnóstico
A avaliação inicial da incontinência urinária inclui uma avaliação da história clínica do paciente e um exame simples de urina (leia:EXAME DE URINA | Entenda seus resultados). O médico também costuma fazer testes como pedir para o paciente tossir ou fazer força com abdômen para identificar visualmente o vazamento de urina.
O teste de urodinâmica também pode ser usado para avaliação da incontinência. O exame é feito com a inserção de um cateter pela uretra e a medição da pressão da bexiga com diferentes volumes de líquido. Deste modo é possível saber se a bexiga suporta volumes de normais de urina.
Uma ultrassonografia da bexiga também pode ser usada para avaliar se há sinais de obstrução e se a bexiga consegue esvaziar-se por completo.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.