Vacinas Pneumocócicas (Prevenar 13, Pneumovax 23 e Outras)

Dra. Renata Campos & Dr. Pedro Pinheiro

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O que são as vacinas pneumocócicas?

As vacinas pneumocócicas são aquelas que oferecem proteção contra doenças causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, também conhecida como pneumococo.

A doença pneumocócica refere-se a qualquer infecção provocada pelo pneumococo, incluindo condições graves como pneumonia, meningite e septicemia. Essas doenças afetam principalmente crianças, idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido.

O pneumococo é a principal causa de mortes por pneumonia em todo o mundo. Devido à importância dessa doença para a saúde pública, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vacinação contra pneumococos como parte do calendário vacinal para crianças e idosos em diversos países.

Neste artigo, discutiremos as vacinas pneumocócicas disponíveis atualmente, seu mecanismo de ação e o esquema de administração recomendado pela OMS. Escrevemos este texto tendo em mente não só a população em geral, mas também estudantes da área de saúde que procuram informações sobre as vacinas contra o Streptococcus pneumoniae.

Mecanismo de ação das vacinas

De modo geral e simplificado, podemos dizer que as vacinas em geral funcionam ao treinar o sistema imunológico a reconhecer e combater microorganismos invasores, como parasitas, vírus ou bactérias.

Vacinas contêm partes do agente infeccioso, como proteínas ou polissacarídeos, que não causam a doença, mas são suficientes para estimular uma resposta imunológica, com produção de anticorpos e células de memória. Existem também vacinas que utilizam o germe enfraquecido ou morto para estimular a resposta imunológica.

Caso a pessoa vacinada seja posteriormente exposta ao microorganismo contido na vacina, o sistema imunológico será capaz não só de reconhecê-lo rapidamente, como de combatê-lo prontamente, com anticorpos que haviam sido produzidos na altura da administração da vacina. Desta forma, a vacinação consegue evitar o desenvolvimento da doença ou reduzir a sua gravidade.

Se você quiser saber mais detalhes sobre os mecanismos de ação e os diferentes tipos de vacinas e imunizações, leia: Vacinas: tipos, como funcionam e calendário vacinal.

Vacinas pneumocócicas

No caso das vacinas pneumocócicas, o que estimula a resposta imune são os polissacarídeos (açúcares) presentes no revestimento externo, ou seja, na cápsula que envolve a bactéria. A vacinação estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos que se ligam a estes polissacarídeos da cápsula, neutralizando a bactéria e prevenindo a infecção.

Já foram identificados mais de 90 sorotipos de pneumococos. Os sorotipos são uma forma de dividir e classificar as bactérias que compõem grupo maior. As bactérias no grupo do pneumococo apresentam diferenças entre elas no que diz respeito aos polissacarídeos capsulares, tendo sido categorizadas de forma numérica a medida que essas diferenças foram sendo identificadas.

Essa informação é importante para compreendermos as diferenças entre as duas classes de vacinas pneumocócicas disponíveis atualmente: a vacina pneumocócica conjugada (VPC) e a vacina pneumocócica polissacarídica (VPP).

Temos hoje basicamente 4 opções de vacina pneumocócica conjugada: VPC 10 (Synflorix®, GSK), VPC13 (Prevenar 13®, Pfizer), VPC15 (VaxNeuvance®, Merck) e VPC20 (Prevenar 20®, Pfizer). Temos também uma opção de vacina pneumocócica polissacarídica: VPP23 (Pneumovax 23®, Merck).

Os números ao lado do nome de cada vacina se referem à quantidade de sorotipos para os quais a vacina fornece proteção. Por exemplo: A Prevenar 13® protege contra 13 sorotipos de Streptococcus pneumoniae; já a Pneumovax 23® protege contra 23 sorotipos.

Como a maioria dos sorotipos de pneumococos não provoca infecções sérias, os componentes ativos das vacinas são precisamente os polissacarídeos dos sorotipos mais graves, que podem provocar doença invasiva.

A tabela abaixo lista cada um dos sorotipos utilizados nas 5 vacinas pneumocócicas mais comuns.

VPC10
(Synflorix)
VPC13
(Prevenar 13)
VPC15
(VaxNeuvance)
VPC20
(Prevenar 20)
VPP23
(Pneumovax23)
11111
2
3333
44444
55555
6A6A6A
6B6B6B6B6B
7F7F7F7F7F
88
9N
9V9V9V9V9V
10A10A
11A11A
12F12F
1414141414
15B15B
17F
18C18C18C18C18C
19A19A19A19A
19F19F19F19F19F
20
22F22F22F
23F23F23F23F23F
33F33F33F

Vacina Pneumocócica Polissacarídea (VPP23)

A vacina Pneumovax 23® (VPP23) é composta por um preparado purificado de polissacarídeos capsulares de 23 sorotipos de bactérias pneumocócicas: 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9V, 10A, 11A, 12F, 14, 15B, 17F, 18C, 19A, 19F, 20, 22F, 23F e 33F.

Mais de 80% dos adultos que recebem a Pneumovax 23® desenvolvem anticorpos contra os sorotipos presentes na vacina e mantêm níveis elevados de anticorpos até cinco anos após a imunização.

Dentre os indivíduos que não apresentam resposta satisfatória à vacina estão os imunossuprimidos, pacientes com doenças crônicas, idade muito avançada e crianças menores de dois anos.

A VPP23 está indicada em todos os adultos com mais de 65 anos.

Em casos especiais, a VPP23 pode também ser indicada a adultos de 19 a 64 anos ou a crianças entre 2 e 18 anos que apresentem risco elevado para desenvolvimento de doença pneumocócica invasiva, como nas seguintes condições clínicas:

  • Doença cardíaca, hepática, renal e/ou pulmonar crônica.
  • Diabéticos.
  • Portadores de implante coclear.
  • Fístula de líquido cefalorraquidiano.
  • Síndrome nefrótica.
  • Imunodeficiência congênita ou adquirida.
  • Problemas de funcionamento do baço ou remoção do órgão.
  • Infecção pelo HIV.
  • Transplantados.
  • Anemia falciforme.
  • Síndrome de Down.
  • Portadores de neoplasias.

Observe bem essa lista de fatores de risco para doença pneumocócica invasiva, pois ela será citada com frequência ao longo do artigo.

Vacina Pneumocócica Conjugada (VPC)

As vacinas pneumocócicas conjugadas (VPC) são semelhantes à vacina polissacarídea, no sentido que utilizam igualmente polissacarídeos capsulares como agentes imunizantes, contra os quais o sistema imunológico criará os anticorpos e a resposta imune.

No entanto, no caso das VPC, os polissacarídeos são ligados (ou conjugados) a proteínas transportadoras. Essa ligação faz com que o sistema imunológico responda melhor e por mais tempo. Por isso, as VPC podem ser utilizadas em crianças pequenas, cujo sistema imunitário ainda não está tão desenvolvido, e não carecem de reforço em adultos, uma vez que a resposta imunológica gerada por elas é mais duradoura.

No Brasil, as vacinas pneumocócicas conjugadas disponíveis atualmente são:

  • Vacina pneumocócica conjugada 10-valente (VPC10) – Synflorix®: composta pelos sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23 F. A VPC10 previne cerca de 70% das doenças pneumocócicas invasivas em crianças.
  • Vacina pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13) – Prevenar 13®: composta pelos sorotipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F e 23F. A VPC13 tem uma eficácia maior que a VPC10, prevenindo cerca de 90% das doenças pneumocócicas invasivas em crianças.

Já nos EUA, Canadá e em alguns países da Europa, além da Prevenar 13, dois tipos de vacinas conjugadas foram aprovados para uso, levando a uma mudança nas recomendações da imunização antipneumocócica dos adultos em 2022. São elas:

  • Vacina pneumocócica conjugada 20-valente (VPC20) – Prevenar 20®: composta pelos sorotipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 8, 9V, 10A, 11A, 12F, 14, 15B, 18C, 19A, 19F, 22F, 23F, e 33F.
  • Vacina pneumocócica conjugada 15-valente (VPC15) – Vaxneuvance®: composta pelos sorotipos 1, 3, 4, 5, 6A, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19A, 19F, 22F, 23F, e 33F.

Esquemas vacinais para crianças menores de 5 anos

Em crianças pequenas e saudáveis, a vacinação antipneumocócica costuma ser feita com uma das três opções de vacina pneumocócica conjugada: VPC15, VPC13 ou VPC10, nesta ordem de preferência, sempre que disponível.

Nota: A VPC20 (Prevenar 20®) é uma versão desenvolvida mais recentemente e sua utilização em crianças ainda está em processo de aprovação pelas principais agências de saúde pública.

Os esquemas de imunização infantil com as vacinas pneumocócicas conjugadas ainda não está uniformizado em todo mundo. Cada país apresenta um esquema diferente, consoante a VPC utilizada.

Esquema de vacinação infantil com VPC13 (Prevenar 13®)

Quando a VPC13 é escolhida, o esquema deve ser de quatro doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida, mais uma dose de reforço entre 12 e 15 meses.

Esse esquema está em concordância com as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e Organização Mundial de Saúde (OMS).

Para crianças de 12 a 23 meses que não foram vacinadas aos 2, 4 e 6 meses, a OMS recomenda a administração de duas doses de VPC13, com um intervalo de pelo menos dois meses entre a primeira e a segunda dose. Já as crianças de dois a cinco anos não vacinadas devem receber apenas uma dose da vacina.

Esquema de vacinação infantil com VPC15 (VaxNeuvance®)

Nos países onde a VPC15 já está disponível, ela é utilizada seguindo o mesmo esquema da VPC13, ou seja: quatro doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida, mais uma dose de reforço entre 12 e 15 meses.

A VPC15 é uma versão mais moderna da VPC13. Ela ainda não está amplamente disponível, mas nos próximos anos é possível que venha a substituir a VPC13, dado que ela protege contra 2 sorotipos de pneumococo a mais.

A VPC13 e a VPC15 podem ser utilizadas uma em substituição à outra. Se a criança fez a primeira dose com VPC13, a segunda dose pode ser feita com VPC15 e vice-versa.

Esquema de vacinação infantil com VPC10 (Synflorix®)

Quando a VPC10 é a vacina disponível, existem dois esquemas recomendados pela OMS:

  • Esquema de três doses: aos 2 e 4 meses de vida, com uma dose de reforço aos 12 meses.
  • Esquema de quatro doses: aos 2, 4 e 6 meses de vida, mais uma dose de reforço entre 9 e 15 meses.

O esquema de 3 doses da VPC10 é o adotado no Brasil pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). Porém, a partir de 2023, a preferência deve ser dada à vacinação de 4 doses com a VPC13. As crianças menores de 6 anos com esquema completo ou incompleto de VPC10 podem se beneficiar de dose(s) adicional(is) da VPC13.

Para crianças de um a cinco anos que não foram vacinadas, a OMS recomenda um esquema com duas doses de VPC10, com um intervalo de pelo menos dois meses entre a primeira e a segunda dose (caso a VPC13 ou 15 não estejam disponíveis).

Esquema de vacinação infantil com VPP23 (Pneumovax 23®)

A vacina pneumocócica polissacarídica não deve ser utilizada como esquema de imunização inicial nas crianças. Porém, nas crianças acima de 2 anos que apresentam um ou mais dos fatores de risco para doença pneumocócica invasiva, ela pode ser utilizada como complemento da vacinação inicial com VPC.

O esquema de administração da VPP23 em crianças com indicação para administração desta vacina é: após os dois anos de idade, duas doses com intervalo de 5 anos entre elas. Deve ser respeitado o intervalo de 8 semanas entre a última dose da VPC e a primeira dose da VPP.

Esquemas vacinais para crianças de 6 a 18 anos

As crianças sem risco elevado de doença pneumocócica invasiva que completaram o esquema de imunização com a VPC não precisam de mais nenhuma dose de vacina pneumocócica nesta fase. As vacinas pneumocócicas conjugadas oferecem proteção duradoura contra o pneumococo nas crianças saudáveis.

No entanto, as crianças entre 6 e 18 anos que apresentam um ou mais fatores de risco para doença pneumocócica invasiva devem ainda receber duas doses da VPP23, com intervalo de 5 anos entre a primeira e a segunda dose.

Caso a criança ainda não tenha sido vacinada com a VPC, o esquema de imunização deve começar com uma dose de VPC13 ou VPC15, e posteriormente as duas doses da VPP23, com intervalo de 5 anos entre a primeira e a segunda dose. É importante lembrar que o intervalo mínimo entre a administração da VPC13 e a primeira dose de VPP23 é de oito semanas.

Esquemas vacinais para adultos

VPP23 (Pneumovax 23®)

Para adultos de 19 a 64 anos, semelhante ao que ocorre na faixa etária dos 6 aos 18 anos, só é recomendada a vacinação nos casos de risco elevado de doença pneumocócica invasiva. As condições clínicas são as já listadas anteriormente, acrescentando-se o tabagismo e alcoolismo.

Por outro lado, todos os adultos acima de 65 anos, saudáveis ou não, devem ser imunizados para doença pneumocócica.

Para aqueles indivíduos que receberam alguma VPC previamente, a recomendação da OMS e da Sociedade Brasileira de Imunizações é a administração do esquema de duas doses da VPP23, com intervalo de 5 anos entre a primeira e a segunda dose, em adultos a partir dos 65 anos. Se, entretanto, a segunda dose tiver sido aplicada antes dos 60 anos de idade, está indicada uma terceira dose, com intervalo mínimo de 5 anos após a última dose.

Se a situação vacinal do indivíduo for desconhecida ou se não houver sido administrada a VPC previamente, a imunização pneumocócica deve ser iniciada com uma dose de VPC13 ou VPC15 e só depois administrado o esquema habitual da VPP23.

Vacinação pneumocócica VPC13 e VPP23

A primeira dose de VPP23 deve ser aplicada com no mínimo 8 semanas de intervalo após a dose de VPC13 ou VPC15. O ideal é que a diferença entre a vacinação com VCP e VPP23 não seja maior que 1 ano.

VPC20 (Prevenar 20®)

A VPC20 é uma vacina nova, licenciada para as mesmas indicações da VPP23, mas em dose única. Portanto, nos países onde ela está disponível para uso, a sua administração tem sido priorizada, pela simplicidade de uso e menor custo.

Cuidados a ter antes e depois da vacina

Pessoas com febre não devem ser vacinadas até melhorarem. Pacientes que estejam fazendo tratamento com fármacos imunossupressores também devem ter a vacinação adiada.

Após a administração da vacina pode ocorrer dor, inchaço, vermelhidão e aparecimento de um nódulo no local da aplicação, bem como febre, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações. Geralmente estes sintomas são leves e desaparecem espontaneamente em 1 a 3 dias sem tratamento específico.

Em caso de dor e inflamação no local da injeção, o uso de compressas frias ajuda a aliviar o desconforto e se houver febre, podem ser utilizados anti-térmicos, como dipirona ou paracetamol.

Sintomas graves e persistentes após a vacinação devem ser investigados para exclusão de outras causas.

Nota final

É importante ressaltar que este artigo serve como uma fonte de informação geral, sem levar em conta a situação clínica ou particularidades de cada indivíduo, de modo que em caso de dúvida é imprescindível a avaliação por um profissional de saúde qualificado para que a recomendação da imunização seja mais adequada.

Também convém lembrar que as recomendações em termos de imunização podem variar dependendo das políticas de saúde e imunizantes disponíveis de cada país.


Referências


Autor(es)

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade do Porto. Nefrologista pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pelo Colégio de Nefrologia de Portugal.

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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