Febre amarela: vacina, transmissão e sintomas

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Febre amarela

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Introdução

A febre amarela é uma doença infecciosa de origem viral, transmitida através da picada de mosquito do gênero Haemagogus. É uma doença que atualmente só acomete países da África central e do norte da América do Sul, incluindo o Brasil, onde costuma ficar restrita a áreas silvestres.

Febre amarela silvestre x urbana

A febre amarela é dividade em dois tipos:

1. Febre amarela silvestre: quando a infecção corre nas regiões de floresta e serrado. Esta forma é transmitida pelos mosquitos do gênero Haemagogus.

2. Febre amarela urbana: quando a infecção ocorre nas grandes cidades e áreas urbanizadas. Esta forma é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que transmite dengue (leia: DENGUE – Sintomas e Tratamento).

As duas formas de febre amarela são idênticas, essa divisão tem apenas caráter epidemiológico para facilitar o controle da doença em áreas urbanizadas (explico mais à frente).

A febre amarela em áreas urbanas não ocorre desde 1942. Nas últimas décadas, incluindo o surto de 2017, os casos de febre amarela identificadas nos grandes centros ocorreram em pessoas não vacinadas que viajaram para áreas de mata e retornaram para áreas urbanas antes dos sintomas surgirem. Nestes casos, consideramos que o paciente adquiriu a forma silvestre, já que a contaminação ocorreu em áreas de floresta.

Transmissão

A febre amarela não é transmitida de humano para humano. Apenas mosquitos transmitem o vírus (leia: Picada de mosquito – Tratamento e Prevenção).

Como atualmente não existem casos de febre amarela urbana, a única forma de transmissão é a silvestre. Isso significa que é preciso que um ser humano não vacinado vá para áreas florestais onde existam macacos doentes. A transmissão ocorre quando um mosquito do gênero Haemagogus pica um macaco contaminado, adquire o vírus e dias depois pica um humano não vacinado.

A febre amarela silvestre é uma doença que ocorre principalmente em macacos, sendo os humanos hospedeiros acidentais do vírus.

Para que a forma urbana volte a ocorrer, basta que uma pessoa contaminada pela forma silvestre retorne a uma cidade não endêmica, como o Rio de Janeiro, por exemplo, e seja picada pelo mosquito Aedes aegypti dentro dos primeiros 5 dias de infecção (leia: Aedes aegypti (fotos): como é o mosquito da dengue?).

A forma urbana ainda não retornou graças a um eficaz controle do Ministério da Saúde, que fornece vacinação para toda população nas áreas endêmicas e monitora os casos de febre amarela em macacos, aumentando a cobertura vacinal na população toda vez que há surtos em primatas.

Febre amarela no Brasil
Febre amarela no Brasil

Vacina

A vacina para febre amarela é altamente eficaz, sendo o Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz, o maior produtor mundial da mesma. A vacinação para febre amarela faz parte do calendário vacinal nos estados das regiões Norte e Centro-Oeste; todos os municípios do Maranhão e Minas Gerais; municípios do sul do Piauí, oeste e sul da Bahia, norte do Espírito Santo, noroeste de São Paulo e oeste de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Indivíduos que residem em áreas indenes, ou seja, sem circulação da forma silvestre, também devem ser vacinados 10 dias antes de viajarem para áreas endêmicas. Não só as pessoas que farão ecoturismo devem ser vacinadas. Mesmo que a viagem seja apenas a negócios, permanecendo o individuo sempre em área urbana, a vacinação deve ser efetuada.  Pessoas que residem em áreas indenes e que não viajarão para áreas endêmicas não precisam ser vacinadas.

A vacina para febre amarela tem duração de 10 anos, sendo necessário o reforço após este período.

Entre as contraindicações à vacina da febre amarela estão:

  • Crianças menores de 6 meses de idade.
  • Pessoas com alergia a ovo.
  • Pessoas imunossuprimidas.
  • Gestantes.

Surto de 2017

Nos primeiros meses de 2017 houve um surto de febre amarela silvestre, com centenas de casos confirmados. Os estados mais afetados foram Minas Gerais, Espírito Santos, Rio de Janeiro e São Paulo. Não houve, porém, sinais de transmissão urbana da doença.

O surto começou no Estado de Minas Gerais e foi provocada pela baixa taxa de vacinação da população nos últimos anos. Minas é um estado que deveria ter pelo menos 95% da população vacinada, mas em 2016 registrou vacinação de apenas 47%.

Como consequência, o surto de 2017 foi o maior das últimas décadas, com 777 casos confirmados e 261 óbitos.

Por conta do surto, as populações dos municípios com casos registrados estão sendo vacinadas, de forma a conter o surto e evitar que a febre amarela possa ser transmitida pelo Aedes aegypti.

Sintomas

O período de incubação (intervalo de tempo entre contaminação e o aparecimento dos primeiros sintomas) da febre amarela é de 3 a 7 dias. Como a doença pode demorar até uma semana para se manifestar, muitos pacientes que adquirem a forma silvestre só desenvolvem sintomas depois de já terem voltado da sua viagem para área endêmica.

A maioria das pessoas infectadas não desenvolve a doença, apresentando no máximo alguns sintomas inespecíficos de virose.

Nos pacientes que desenvolvem sintomas da febre amarela, as manifestações iniciais são febre alta com suores e calafrios, mal-estar, dor de cabeça, dor muscular e cansaço. Podem também surgir náuseas, vômitos ou diarreia. Após três ou quatro dias, a maioria dos doentes recupera-se completamente, ficando imunizado contra a doença para o resto da vida.

Em cerca de 15% dos casos, porém, a febre amarela evolui de forma grave. O paciente apresenta uma pequena melhora após dois ou três dias de doença, dando a impressão que irá se recuperar, mas a febre volta com toda força, desta vez acompanhada de fortes dores abdominais, náuseas e vômitos, manchas roxas na pele, sangramentos na gengiva, nariz ou estômago, e pele amarelada, chamada de icterícia (leia: Icterícia nos adultos).

Órgãos nobres como fígado, pulmões e rins podem entrar em falência levando o paciente à morte. As formas graves têm letalidade acima de 50%, mesmo com tratamento médico adequado.

O diagnóstico é feito através de exames de sangue.

Tratamento

Não existe tratamento específico para febre amarela. Não há um medicamento que cure a doença, o que torna a vacinação ainda mais importante.

Nos casos grave o paciente é internado para controle das complicações e monitorização das hemorragias. Alguns pacientes que apresentam falência dos rins precisam de hemodiálise (leia: Hemodiálise – Como funciona, cateter e fístulas). Nos casos de insuficiência respiratória a ventilação mecânica pode ser necessária.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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