O que é dermatite atópica?
A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é um problema de pele comum em bebês e crianças, mas que também pode acometer adultos.
Quando a doença foi descrita, imaginava-se que ela era uma espécie de alergia da pele, relacionada a outras atopias, como a rinite alérgica, asma e a alergia alimentar; daí o nome dermatite atópica.
Porém, estudos recentes têm mostrado que o eczema atópico não é uma doença alérgica. Ele parece surgir por conta de um defeito genético em uma proteína da pele, o que facilitaria o surgimento de inflamação crônica e sintomas, como coceira, descamação, pele seca e vermelhidão local.
Como surge?
Como todos sabemos, a pele é o órgão responsável por criar uma barreira entre o interior do nosso corpo e o meio externo. Ela é a nossa primeira linha de defesa contra agressões do meio ambiente. Uma pele intacta impede que micróbios e substâncias irritantes consigam alcançar o interior do nosso organismo.
A permeabilidade da pele é determinada por uma complexa interação entre proteínas e células naturais da própria pele. Qualquer pertubação destes componentes, seja através de defeitos genéticos, traumas, diminuição da umidade, alteração de pH ou infecção, pode interferir com a capacidade da epiderme agir como uma barreira efetiva.
A quebra da barreira da pele permite que os incontáveis agentes irritantes do meio ambiente possam penetrá-la e entrar em contato com as células do sistema imunológico que ficam localizados logo abaixo da pele. Essa interação entre substâncias irritantes absorvidas e o sistema imunológico leva à liberação de mediadores pró-inflamatórios, produzindo os achados clínicos e patológicos de dermatite atópica.
Da mesma forma que a quebra da barreira e o aumento da permeabilidade facilitam a invasão por substâncias irritantes, ela também permite uma maior evaporação da água da pele, deixando-a mais ressecada. O ressecamento provoca rachaduras na pele, o que colabora ainda mais para a quebra da barreira contra o meio externo, exacerbando os sintomas da dermatite atópica. Cria-se, assim, um ciclo vicioso.
Sintomas
A dermatite atópica é uma doença típica de bebês e crianças, mas pode também ocorrer nos adultos. 85% dos casos surge nos primeiros 4 anos de vida; em mais da metade destes, a inflamação desaparece sozinha com o passar dos anos. Até a adolescência, cerca de 60 a 80% dos pacientes já não apresentam mais eczema.
Em geral, os adultos com dermatite atópica são indivíduos que trazem a doença desde a infância. Apenas 1% dos adultos apresenta dermatite atópica com início após a adolescência.
O eczema atópico pode ser divido em três estágios:
- Fase infantil (3 meses a 2 anos de idade).
- Fase pré-puberal (2 a 12 anos de idade).
- Fase adulta (a partir de 12 anos de idade).
O quadro clínico da dermatite atópica muda conforme a fase da doença.
Fase infantil
Na fase infantil, o quadro é de lesões avermelhadas, descamativas, com crostas e intenso prurido. As faces extensoras das articulações, como cotovelos e joelhos, o rosto e o couro cabeludo são os locais mais afetados. Em alguns casos, as lesões podem ser bem extensas e ocupar boa parte da superfície da pele.
Curiosamente, a área coberta pelas fraldas costuma ser poupada. Na fase mais aguda das lesões pode haver vesículas (pequenas bolhas) com drenagem de material purulento.
Fase pré-puberal
Na fase pre-puberal, além da vermelhidão e da coceira intensa, é também muito comum um espessamento da pele em forma de placas ásperas nas faces flexoras das articulações, como a fossa cubital (fossa do cotovelo) e fossa poplítea (fossa do joelho). Pescoço, punhos e tornozelos também são frequentemente acometidos.
Nessa fase, a pele apresenta-se bastante ressecada e são comuns as feridas provocadas pelo ato de coçar.
Fase adulta
Na fase adulta, as lesões da dermatite atópica tendem a ser bem espessadas e pruriginosas. O eczema pode ficar restrito às mãos e aos pés, mas o pescoço, a fossa cubital e a fossa poplítea também são aéreas frequentemente acometidas. O ressecamento difuso da pele é outro sinal bastante comum.
Para ver mais imagens de lesões do eczema atópico, acesse o link: Fotos de dermatite atópica (bebês, crianças e adultos).
Geralmente, o eczema atópico é um quadro inflamatório da pele que vai e volta, podendo haver intervalos de meses ou anos entre uma crise e outra.
O eczema pode provocar uma comichão intensa, e o ato de coçar a lesão pode deixá-la ainda irritada e pruriginosa. A coceira pode levar a lesões da pele pela unha, o que facilita a invasão e contaminação das feridas por bactérias, principalmente o Staphylococcus aureus.
Em todas as faixas etárias, qualquer área do corpo pode estar envolvida em casos graves, embora seja incomum ver lesões na região axilar, glútea ou virilhas. Lesões nesses locais devem levar à consideração de outros diagnósticos, como psoríase, dermatite alérgica de contato ou dermatite seborreica.
A dermatite atópica não é uma doença contagiosa. Pode-se tocar as lesões à vontade que não há nenhum risco de transmissão.
Tratamento
O objetivo do tratamento da dermatite atópica visa o controle da coceira, a redução da inflamação da pele e prevenção das recorrências.
Um dos primeiros passos no controle do eczema atópico é eliminar fatores que favorecem o agravamento das lesões, tais como:
- Calor, suor ou ambientes secos.
- Estresse ou ansiedade.
- Mudanças bruscas de temperatura.
- Exposição a certos produtos químicos ou soluções de limpeza, incluindo sabões e detergentes, perfumes, cosméticos, cloro da piscina, roupas de lã ou fibras sintéticas, poeira, areia ou fumaça de cigarro.
A hidratação da pele é outra medida necessária para aliviar o eczema. Hidratantes pobres em água, como Eucerin, Cetaphil e Nutraderm, devem ser usados diariamente após o banho. Vaselina é outra opção válida.
O uso tópico de cremes contendo corticoides é bastante útil para reduzir a irritação da pele. Nos casos leves, corticoides tópicos de baixa potência costumam ser os mais indicados, entre eles: desonida 0,05%, hidrocortisona 2,5%.
Nos casos mais graves, corticoides mais potentes são preferíveis, como fluocinolona 0,025%, triancinolona 0,1%, dipropionato de betametasona 0,05%.
O uso de corticoides tópicos, porém, deve ficar restrito às fases agudas e durar poucos dias para evitar efeitos colaterais. Quando o tratamento com cremes é necessário por mais de 4 semanas, o ideal é evitar os corticoides e usar produtos imunossupressores à base de tacrolimos ou pimecrolimos.
Em casos de eczema grave e de difícil controle, o uso de corticoides por via oral pode ser indicado por alguns dias.
A fototerapia, tratamento com raios ultravioleta, é bastante eficaz no controle do eczema. Porém, trata-se de um tratamento caro, que aumenta o risco de câncer de pele e provoca envelhecimento precoce, motivo pelo qual ele costuma ficar restrito apenas aos casos graves e de difícil controle.
Para pacientes com doença moderada a grave que não respondem à terapia tópica isolada e para os quais a fototerapia não é viável ou aceitável, uma opção é o tratamento com dupilumabe, um anticorpo monoclonal. O dupilumabe é administrado como injeções subcutâneas com duas semanas de intervalo.
Dupilumabe, fototerapia e agentes imunossupressores convencionais não são adequados para bebês e crianças pequenas. Em crianças com mais de seis anos e adolescentes, eles devem ser usados quando a terapia tópica ideal falhou e a doença tem um impacto significativo na qualidade de vida.
Tratamentos sem comprovação científica
Anti-histamínicos comuns, como cetirizina, loratadina, fexofenadina, não são eficazes para o tratamento do eczema atópico.
Outros tratamentos que também carecem de eficácia comprovada para dermatite atópica são:
- Probióticos, como lactobacilos.
- Suplementos dietéticos, incluindo vitaminas, óleo de peixe e ácidos graxos essenciais derivados de plantas.
- Óleo de prímula e óleo de borragem, que são ricos em ácido gama-linolênico de ácido graxo essencial, têm sido amplamente usados para o tratamento de dermatite atópica como um remédio de medicina alternativa e complementar, mas não apresentam evidências adequada de eficácia.
- Melatonina.
- Medicamentos fitoterápicos.
- Antagonistas do receptor de leucotrieno, como o Montelucaste.
Referências
- Atopic dermatitis – American Academy of Dermatology.
- Eczema (Atopic Dermatitis) – American College of Allergy, Asthma & Immunology.
- Atopic dermatitis – The Lancet.
- Atopic dermatitis (eczema): Pathogenesis, clinical manifestations, and diagnosis – UpToDate.
- Treatment of atopic dermatitis (eczema) – UpToDate.
- Atopic Dermatitis – Medscape.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
Deixe um comentário