O que é bruxismo?
O bruxismo é um transtorno reconhecido pelo ato inconsciente de apertar ou ranger os dentes, normalmente durante o sono. Este comportamento, muitas vezes relacionado ao estresse ou ansiedade, coloca uma pressão excessiva sobre os músculos, tecidos e outras estruturas ao redor da mandíbula, levando ao desgaste prematuro dos dentes. Este desgaste pode, por sua vez, causar problemas que vão desde sensibilidade dentária e dor na mandíbula até a perda dos dentes.
Em suma, o bruxismo é definido como a atividade muscular involuntária, excessiva e repetitiva da mandíbula, caracterizada por cerrar ou ranger os dentes.
Por causa da força aplicada pela musculatura da mandíbula durante os episódios de bruxismo, a condição pode provocar dor de cabeça e causar sérios problemas para os dentes e mandíbula, exigindo tratamento para reduzir seu impacto.
O bruxismo é mais comum durante o sono, situação conhecida como bruxismo noturno ou bruxismo do sono. O ranger dos dentes que ocorre de forma involuntária quando o paciente se encontra acordado é bem menos comum, sendo chamado de bruxismo diurno.
O bruxismo noturno é considerado um distúrbio do sono. Pessoas com bruxismo noturno têm maior probabilidade de apresentar outros distúrbios do sono, como roncos, sonambulismo e apneia do sono.
O bruxismo relacionado ao sono afeta de 15 a 40% das crianças e de 8 a 10% dos adultos.
Nas crianças, o bruxismo pode ser notado logo no aparecimento dos primeiros dentes; a prevalência atinge seu pico de aproximadamente 30% aos 6 anos. A partir dessa idade, a condição vai se tornando progressivamente menos comum, chegando a 15% na adolescência, 10 a 12% nos adultos jovens e somente 2 a 4% a partir dos 60 anos.
Os sexos masculino e feminino são afetados de forma equivalente.
Causas
As causas do bruxismo diurno ainda não estão bem esclarecidas, mas ele provavelmente ocorre como resposta a emoções, como ansiedade, estresse, raiva, frustração ou tensão. O ranger dos dentes também pode ser uma estratégia de enfrentamento de situações desconfortáveis ou desafiadoras, ou um cacoete que o paciente apresenta durante concentração profunda.
Já o bruxismo relacionado ao sono é provavelmente um fenômeno mediado pelo sistema nervoso central, relacionado a microdespertares do sono com ativação do sistema nervoso autônomo. Microdespertares são breves períodos de despertar durante o sono.
Quase todos os episódios de bruxismo noturno ocorrem durante microdespertares do sono e são precedidos por um padrão previsível de atividade autonômica, com elevação da frequência cardíaca, aumento do tônus da mandíbula e da musculatura orofaríngea, aumento do esforço respiratório e do fluxo de ar nasal, que são seguidos por um aumento na atividade muscular rítmica da mastigação nos músculos da mandíbula, produzindo o ranger os dentes.
Os eventos de bruxismo tendem a ocorrer em sequências durante um microdespertar que duram de 3 a 15 segundos.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para o bruxismo noturno são os distúrbios do sono, especialmente a apneia obstrutiva do sono e as parassonias, que são transtornos comportamentais que ocorrem durante o sono, tais como sonambulismo, terrores noturnos, urinar na cama, pesadelos, câimbras noturnas, etc.
Os principais fatores de risco para bruxismo são:
- Apneia obstrutiva do sono.
- Parassonias.
- Ronco pesado.
- Ansiedade.
- Circunstâncias de vida altamente estressantes.
- Autismo.
- Síndrome de Rett.
- Doença de Alzheimer avançada.
- Distúrbios psicóticos.
- Doença do refluxo gastroesofágico.
- Disfunção da articulação temporomandibular.
- História familiar de bruxismo.
O bruxismo também pode ser desencadeado por uma variedade de fármacos ou drogas. As principais são:
- Tabaco.
- Cafeína.
- Bebidas alcoólicas.
- Cocaína.
- Ecstasy.
- Anfetaminas.
- Antipsicóticos.
- Antidepressivos.
Apesar de ser uma informação bastante difundida na população em geral, o bruxismo não tem relação alguma com quadros de verminose. A confusão provavelmente se dá porque ambas as condições ocorrem mais frequentemente nas crianças. Mas não há nenhuma evidência de que bruxismo seja um dos sintomas de infecção por parasito intestinal.
Sintomas
Os principais sintomas do bruxismo são dores de cabeça, desconforto na mandíbula, especialmente na articulação temporomaxilar, dores nos músculos da face e nas orelhas, rigidez e dor dos ombros, limitação de abertura da boca e alterações do sono.
O bruxismo noturno se manifesta como contrações rítmicas dos músculos da mandíbula, aproximadamente uma por segundo durante os episódios noturnos.
Muitos pacientes não têm ciência do bruxismo, mas os pais ou parceiros de cama podem reclamar dos ruídos causados pelo ranger dos dentes ou estalidos nas articulações temporomandibulares.
A frequência do bruxismo varia de noite para noite e de semana para semana. Alguns pacientes podem relatar que os episódios de bruxismo, ou os sintomas associados ao bruxismo, aumentam com os níveis de estresse e ansiedade da vida.
Riscos associados ao bruxismo
O bruxismo costuma ser um quadro benigno sem consequências mais graves. No entanto, é importante destacar que, nos casos mais graves, a condição pode ter implicações sérias se não for adequadamente tratada.
Alguns dos riscos associados ao bruxismo incluem:
- Danos aos dentes: o constante ranger e apertar dos dentes pode levar ao desgaste do esmalte dental, tornando os dentes mais suscetíveis a cáries e infecções. Em casos extremos, os dentes podem até ser quebrados ou fraturados.
- Problemas nas gengivas: inflamação das gengivas, hipermobilidade e queda de dentes são outras consequências possíveis. Em casos graves, o bruxismo relacionado ao sono também pode causar lesões nos tecidos moles da boca (língua, lábios, bochechas).
- Problemas na articulação temporomandibular (ATM): O bruxismo pode causar ou agravar problemas na ATM, causando dor e desconforto na mandíbula.
- Dores de cabeça: muitas pessoas com bruxismo experimentam dores de cabeça frequentes ou crônicas, muitas vezes parecidas com enxaquecas.
- Distúrbios do sono: como referido no início do artigo, o bruxismo noturno pode levar a um sono de baixa qualidade e a condições como roncos, sonambulismo e apneia do sono.
Diagnóstico
O bruxismo noturno é um diagnóstico clínico, estabelecido geralmente pelo dentista após avaliação clínica, exame dos dentes e relatos de ranger os dentes durante o sono, com corroboração da história pelos pais ou parceiros de cama.
Os critérios formais para bruxismo relacionado ao sono, segundo a Classificação Internacional de Distúrbios do Sono, Terceira Edição (ICSD-3), incluem os seguintes:
- Presença de ruídos regulares ou frequentes de ranger de dentes durante o sono.
- Presença de um ou mais dos seguintes sinais clínicos:
- Desgaste dentário anormal consistente com casos de bruxismo.
- Dor muscular transitória da mandíbula pela manhã ou fadiga e/ou dor de cabeça temporal e/ou travamento da mandíbula ao acordar consistente com casos de bruxismo.
É importante ressaltar que a simples presença de desgaste dentário ou desconforto temporomandibular não são específicos para o bruxismo, pois podem ocorrer em outras situações.
A polissonografia não é essencial para o diagnóstico, mas pode ser útil quando há incerteza sobre se os eventos descritos são realmente bruxismo ou são devidos a outros movimentos orofaciais durante o sono. A desvantagem da polissonografia é o fato de não ser um exame muito prático de ser realizado.
Tratamento
Boa parte dos indivíduos com bruxismo noturno não requer nenhum tratamento específico. O bruxismo ocasional é comum, principalmente durante a infância, frequentemente é assintomático, não provoca complicações e desaparece com o tempo.
Quando há necessidade de tratamento, as opções incluem modificações comportamentais, dispositivos orais para proteger os dentes, como aparelhos ou placas, e medicamentos apropriados.
Nos casos de bruxismo noturno induzido por fármacos, os sintomas podem remitir após ajustes de dose, retirada da medicação ou mudança para uma substância alternativa.
Indivíduos com bruxismo relacionado ao sono devem receber atendimento odontológico de rotina para monitorar o desgaste dentário e intervir quando necessário. Dentes excessivamente desgastados podem exigir procedimentos de restauração dentária.
Os dentistas são os profissionais indicados para fazer o tratamento do bruxismo.
Higiene do sono e outras medidas comportamentais
A educação e aconselhamento sobre bons hábitos do sono são sugeridos a todos os pacientes, uma vez que o bruxismo tende a ocorrer em associação com despertares. Apesar de não haver evidências robustas de eficácia especificamente sobre o bruxismo, as medidas sugeridas são simples, inofensivas e melhoram a qualidade do sono.
As principais recomendações sobre a higiene do sono são:
- Evitar álcool, cafeína e tabaco antes de dormir.
- Tentar dormir e acordar mais ou menos na mesma hora todos os dias.
- Praticar atividade física regular durante o dia.
- Evitar cochilos durante o dia.
- Não comer perto da hora de dormir.
- Não ver as horas caso acorde durante a noite.
A terapia cognitivo-comportamental com biofeedback mostrou alguma evidência de benefício em pacientes com transtorno temporomandibular crônico, mas não foi estudada especificamente para bruxismo relacionado ao sono. Outras modalidades comportamentais ou complementares, como a acupuntura, também carecem de evidências de qualidade.
Dispositivos orais para proteger os dentes (placas ou aparelhos)
Para indivíduos com bruxismo frequente ou já com desgaste dentário, um dispositivo oral que cubra os dentes superiores ou inferiores pode ser instalado por um dentista para proteger os dentes de danos e reduzir os ruídos de ranger associados ao bruxismo.
Os dados disponíveis indicam que os dispositivos orais não reduzem a frequência do bruxismo em si. No entanto, eles são eficazes no controle do desgaste dentário e muitos pacientes referem redução do desconforto matinal da mandíbula quando usados regularmente.
Os dispositivos orais para bruxismo se enquadram em duas categorias:
Placas de mordida ou placas de bruxismo
As placas de tratamento para bruxismo são dispositivos feitos de acrílico ou silicone, com o formato exato da mordida do paciente, que devem ser usados durante a noite.
O principal objetivo da placa é proteger os dentes de danos durante os episódios de bruxismo. As placas devem ser inspecionadas periodicamente por um dentista, pois podem ficar gastas ou danificadas com o tempo devido ao bruxismo contínuo.
Crianças na fase de dentição mista podem se beneficiar de uma placa macia, que pode ser adaptada à mudança dinâmica da mordida.
Dispositivos de avanço mandibular (DAM)
Menos confortável de usar que as placas, o DAM só costuma ser usado quando há bruxismo associado à apneia obstrutiva do sono.
Medicamentos para o bruxismo
Uma variedade de medicamentos tem sido explorada para o tratamento do bruxismo refratário, mas nenhum mostrou um efeito relevante e todos têm efeitos colaterais potenciais.
Os dois medicamentos com melhores resultados são o clonazepam (0,25 a 0,5 mg antes de deitar) ou clonidina (0,3 mg à noite).
Pequenos estudos sugerem que as injeções de toxina botulínica tipo A (Botox) nos músculos temporal e masseter podem fornecer benefícios sintomáticos em pacientes com sintomas refratários. O objetivo é diminuir a força das contrações musculares da mandíbula.
Assim como acontece com os dispositivos orais, o número de eventos de bruxismo do sono não parece ser reduzido na maioria dos pacientes, o objetivo é reduzir o ranger e a força da mordida, protegendo os dentes.
As injeções de Botox são normalmente administradas a cada seis meses por um especialista em distúrbios do movimento com treinamento em injeções de toxina botulínica A.
Perguntas e respostas
Quais são as diferenças entre bruxismo diurno e noturno?
O bruxismo diurno ocorre quando a pessoa está acordada, muitas vezes em situações de estresse ou concentração intensa. O bruxismo noturno ocorre durante o sono e é muitas vezes associado a distúrbios do sono, como apneia do sono. Ambos podem causar desgaste dos dentes e dor, mas o bruxismo noturno é mais difícil de controlar porque ocorre inconscientemente durante o sono.
O bruxismo pode ser hereditário?
Estudos sugerem que o bruxismo pode ter um componente hereditário, especialmente o bruxismo do sono. Se um dos pais tem bruxismo, seus filhos têm maior probabilidade de desenvolver a condição.
Existem alimentos ou bebidas que podem agravar o bruxismo?
Sim, alguns estudos sugerem que a cafeína e o álcool podem aumentar o risco de bruxismo.
Quais são as opções de tratamento natural para o bruxismo?
Alguns estudos sugerem que técnicas de relaxamento, como meditação e ioga, podem ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade que podem levar ao bruxismo. Além disso, manter uma rotina regular de sono e evitar estimulantes como cafeína e álcool perto da hora de dormir também pode ajudar.
O bruxismo pode levar a problemas de saúde além da saúde oral?
Sim, o bruxismo crônico não tratado pode levar a dores de cabeça crônicas, distúrbios do sono e, em alguns casos, pode contribuir para transtornos da articulação temporomandibular. Além disso, o estresse, a ansiedade e a falta de sono adequado muitas vezes associados ao bruxismo também podem ter efeitos negativos na saúde em geral.
Ranger os dentes é sinal de verme?
Não, o bruxismo não é um sinal de verminose. Isso é mito.
O bruxismo dura a vida toda?
A história natural do bruxismo não é totalmente conhecida, mas seu curso é geralmente benigno. Embora o bruxismo iniciado na infância geralmente persista na idade adulta, os episódios podem ser pouco frequentes ou permanecer assintomáticos durante a maior parte da vida. Alguns indivíduos relatam piora episódica do bruxismo relacionado ao sono ao longo da vida em relação ao estresse ou ansiedade; no entanto, a maioria dos estudos indica que a prevalência diminui progressivamente com o passar dos anos.
Referências
- Sleep-related bruxism (tooth grinding) – UpToDate.
- Prevalence of sleep bruxism in children: a systematic review – Dental press journal of orthodontics.
- Dyssomnias and parasomnias in early childhood – Pediatrics.
- Current Treatments of Bruxism – Current treatment options in neurology.
- Sleep related bruxism. In: International Classification of Sleep Disorders. 3rd ed. Darien, Ill.: American Academy of Sleep Medicine; 2014.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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