O que é uma inflamação?
Imagine a seguinte situação: um paciente coloca um piercing em uma determinada região do corpo. O processo é feito sem a assepsia adequada e bactérias conseguem entrar pelo orifício de entrada do piercing, causando uma infecção no local.
Assim que microrganismos estranhos entram em contato com nosso meio interno, eles são logo identificados pelas nossas células de defesa, em geral os macrófagos. Essas células imediatamente liberam mediadores inflamatórios que agem aumentando a circulação de sangue local para facilitar a chegada de mais células de defesa. É uma espécie de alarme para chamar reforços.
Esse aumento local da circulação de sangue leva ao aparecimento do rubor (vermelhidão) e do calor característicos dos processos inflamatórios. Alguns desses mediadores aumentam a sensibilidade para dor, que é uma maneira de mostrar ao paciente que algo de errado está ocorrendo naquele sítio.
O reforço vem pelo sangue, através dos leucócitos (células brancas). Esses leucócitos precisam atravessar a parede do vaso para chegar no tecido infectado e combater as bactérias. Mais uma vez, os mediadores inflamatórios ajudam, aumentando a permeabilidade dos poros dos vasos sanguíneos. E
sse processo facilita a saída das células brancas, principalmente dos neutrófilos (subtipo de leucócito), mas também de proteínas e plasma, o que provoca edema no local por excesso de líquido.
Neste momento temos os quatro sinais típicos de um processo inflamatório, todos causados por reações do nosso próprio organismo. São eles:
- Calor.
- Rubor.
- Edema (inchaço)
- Dor.
Esse processo inflamatório descrito ocorre em qualquer situação de agressão, seja por infecções, por trauma, artrite, por queimaduras, doenças auto-imunes, etc.
Se o agente causador for algo pontual, como no caso de um traumatismo, esse processo será auto limitado. Se houver um agente invasor persistente, como uma bactéria ou um corpo estranho, o processo inflamatório continuará até que a causa seja eliminada.
O que é o pus?
Ao contrário do que muita gente pensa, o pus não é uma substância produzida pelas bactérias. Se você tem uma lesão com pus isso realmente fala a favor de infecção bacteriana, mas quem produz o pus é o nosso próprio sistema imunológico.
Na verdade, o pus é o resultado final da ação das nossas células de defesa, os glóbulos brancos, contra as bactérias que estão causando a infecção.
Voltando então ao nosso exemplo do piercing que ficou infectado, o quadro agora é de um local com inúmeras bactérias, inúmeros neutrófilos, plasma sanguíneo, vários tipos de proteínas, mediadores inflamatórios, etc.
O quadro é de um verdadeiro campo de batalha microscópico, com milhões de bactérias, neutrófilos e células do tecido acometido mortos, além de mais um monte de substâncias liberadas cada vez que uma célula morre. Esse conjunto de produtos forma um líquido pastoso amarelado chamado de pus.
O pus só ocorre em pessoas com sistema imunológico normal. Doentes graves, imunossuprimidos, com baixa contagem de neutrófilos, não conseguem atacar bactérias invasoras, não produzem pus e muitas vezes não conseguem sequer criar um processo inflamatório.
O que é um abscesso?
Muitas vezes, quando há dificuldade em derrotar determinadas bactérias invasoras, as células de defesa criam uma parede em volta do processo inflamatório, encapsulando-o e isolando o material purulento, impedindo que as bactérias contidas nele possam migrar para outras regiões do corpo. A essa formação de uma bolsa cheia de pus dá-se o nome de abscesso.
A formação do abscesso faz parte do arsenal de defesa do organismo. Todavia, ao mesmo tempo que o abscesso impede a saída de bactérias, ele também dificulta a chegada de antibióticos e novos glóbulos brancos. Muitas vezes, o abscesso precisa ser abordado e drenado cirurgicamente para que se possa curar a infecção de forma definitiva.
O abscesso pode se formar em qualquer órgão sólido, como fígado, rins, pulmão, cérebro etc. A presença dele indica uma infecção grave, geralmente com febre alta, suores e calafrios e outros sinais de sepse).
O que é um empiema?
O empiema é a acumulação de pus que ocorre em cavidade naturais do corpo, como por exemplo nas pleuras, nas meninges, articulações, vesícula, etc.
No abscesso, o corpo cria uma bolsa especificamente para “guardar” o pus. No empiema, esse espaço já existe na nossa anatomia natural.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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