O que é inflamação, pus, abscesso e empiema?

A inflamação é a resposta natural do corpo a infecções e lesões. Neste artigo, entenda o que são inflamação, pus, abscesso e empiema, como surgem, quais os sinais clássicos e quando esses processos exigem atenção médica.

Dr. Pedro Pinheiro
Atualizado:
Inflamação

Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

Introdução

A inflamação, o pus, os abscessos e os empiemas são manifestações comuns do nosso sistema imunológico quando há uma agressão ao organismo. Saber reconhecer esses sinais ajuda a entender quando se trata de uma reação normal e quando é necessário procurar atendimento médico.

Neste artigo, explicamos o que são esses processos, por que ocorrem e quando representam risco à saúde.

O que é uma inflamação?

A inflamação é uma resposta natural do corpo a qualquer tipo de agressão, como infecções, traumas, queimaduras, toxinas ou doenças autoimunes. Ela faz parte do mecanismo de defesa do sistema imunológico e tem como principal objetivo eliminar a causa da agressão, reparar os danos e restaurar os tecidos afetados.

Imagine, por exemplo, um paciente que coloca um piercing em uma determinada região do corpo. Se o procedimento for realizado sem a assepsia adequada, bactérias presentes na pele ou no ambiente podem entrar pelo orifício e causar uma infecção local. Quando isso acontece, o organismo identifica a presença de microrganismos estranhos e inicia o processo inflamatório.

As primeiras células a entrar em ação são, geralmente, os macrófagos, que detectam os invasores e liberam substâncias químicas chamadas mediadores inflamatórios. Esses mediadores atuam dilatando os vasos sanguíneos da região e aumentando o fluxo de sangue para o local afetado, facilitando a chegada de mais células de defesa. É como se o corpo acionasse um “alarme biológico” para chamar reforços.

Esse aumento na circulação sanguínea provoca dois sinais típicos de inflamação:

  • Rubor (vermelhidão).
  • Calor (aumento da temperatura local).

Outros mediadores aumentam a sensibilidade à dor, um alerta natural para indicar que algo está errado.

O reforço de defesa vem principalmente na forma de leucócitos (glóbulos brancos), que circulam no sangue. Entre eles, os neutrófilos são os mais importantes na fase inicial da inflamação, principalmente em infecções bacterianas. Para alcançar os tecidos infectados, esses leucócitos precisam atravessar a parede dos vasos sanguíneos — algo facilitado pelos mediadores inflamatórios, que tornam os vasos mais permeáveis (leitura sugerida: Leucócitos: o que são, como agem e como são produzidos).

Essa permeabilidade aumentada permite a saída de neutrófilos, plasma, proteínas e outras substâncias. O acúmulo desses elementos no tecido resulta em:

  • Edema (inchaço local).
  • Dor (devido à compressão de terminações nervosas e ação de substâncias inflamatórias).

Assim, temos os quatro sinais clássicos da inflamação:

  1. Calor.
  2. Rubor.
  3. Edema.
  4. Dor.

O processo inflamatório ocorre em resposta a diversos estímulos de agressão, como:

Se a causa da agressão for algo pontual, como uma batida ou ferida leve, a inflamação tende a ser autolimitada e resolve-se naturalmente. Mas se houver um agente agressor persistente — como uma bactéria, doença autoimune ou um corpo estranho — o processo inflamatório continuará até que a causa seja eliminada ou tratada.

Inflamação.
Área da pele inflamada com nítido rubor e edema. Ao toque a lesão é quente e bastante dolorosa.

O que é o pus?

O pus é uma secreção espessa, de coloração esbranquiçada, amarelada, esverdeada ou até acastanhada, que aparece geralmente em locais de infecção bacteriana. Embora muitas pessoas pensem que o pus é produzido pelas bactérias, na verdade, ele é um subproduto da resposta do sistema imunológico à infecção.

Sempre que bactérias invadem um tecido do corpo, o sistema imunológico reage imediatamente. A resposta envolve a ativação de células de defesa, principalmente os neutrófilos, que são um tipo de leucócito (glóbulo branco) especializado em combater infecções.

Durante o processo inflamatório, os neutrófilos:

  • Migram em grandes quantidades para o local da infecção.
  • Envolvem e “engolem” as bactérias por um processo chamado fagocitose.
  • Liberam enzimas digestivas que matam os microrganismos.
  • Frequentemente, os neutrófilos também morrem no processo, liberando seu conteúdo intracelular.

Portanto, o pus é formado justamente pela acumulação de neutrófilos mortos, bactérias vivas e mortas, células do tecido destruído, plasma, proteínas inflamatórias e enzimas digestivas. Essa mistura cria um líquido viscoso, denso e opaco que se acumula no local da infecção.

Em feridas cutâneas superficiais, o pus pode ser drenado naturalmente ou com limpeza local adequada. Já em casos mais graves, o acúmulo de pus pode exigir drenagem médica ou antibióticos.

Curiosidade: pessoas imunossuprimidas, como pacientes com câncer, transplantados ou com HIV avançado, podem não produzir pus, mesmo diante de infecções graves. Isso ocorre porque seu organismo não consegue montar uma resposta inflamatória eficaz.

O que é um abscesso?

O abscesso é uma bolsa de pus encapsulada que se forma quando o organismo tenta conter uma infecção localizada. Quando as células de defesa percebem que não conseguem eliminar rapidamente as bactérias invasoras, elas isolam a área infectada, formando uma parede de tecido ao redor do pus. Isso impede a disseminação da infecção para outras partes do corpo.

Embora essa barreira seja um mecanismo de defesa, ela também dificulta a ação de antibióticos e a chegada de novas células de defesa. Por isso, muitos abscessos precisam ser drenados cirurgicamente para resolver a infecção de forma eficaz.

Abscesso na orelha
Abscesso na orelha

Abscessos podem se formar em:

  • Pele, como nos casos de furúnculos.
  • Tecidos profundos, como glúteos ou coxas.
  • Órgãos internos, como fígado, pulmões, rins e até no cérebro.

Os sintomas do abscesso costumam incluir:

  • Febre alta.
  • Dor intensa.
  • Vermelhidão e inchaço local.
  • Presença de massa endurecida.
  • Calafrios e sudorese, em casos mais graves.

Abscessos internos geralmente são mais graves e podem evoluir para sepse se não forem tratados rapidamente.

O que é um empiema?

O empiema é uma coleção de pus que se acumula dentro de cavidades naturais do corpo, ou seja, espaços que já existem anatomicamente, ao contrário do abscesso, onde o organismo cria uma cavidade.

Empiemas mais comuns incluem:

  • Empiema pleural: pus acumulado entre as pleuras (membranas que envolvem os pulmões).
  • Empiema articular: pus dentro de uma articulação (como no joelho ou ombro).
  • Empiema da vesícula biliar (colecistite supurada).
  • Empiema subdural ou meníngeo, envolvendo o sistema nervoso central.

Ao contrário do abscesso, que o corpo consegue isolar em tecidos moles, o empiema ocorre em áreas fechadas e vitais. Isso torna sua drenagem mais difícil e elevação rápida do risco de complicações, como sepse ou insuficiência respiratória (no caso do empiema pleural).

Empiemas são consideradas emergências médicas e frequentemente exigem:

  • Drenagem cirúrgica.
  • Antibioticoterapia intravenosa.
  • Monitoramento em ambiente hospitalar.

Referências

  • Rossi JF, Lu ZY, Massart C, Levon K. Dynamic Immune/Inflammation Precision Medicine: The Good and the Bad Inflammation in Infection and Cancer. Frontiers in Immunology. 2021;12:595722. doi:10.3389/fimmu.2021.595722.
  • Sherwood ER, Toliver-Kinsky T. Mechanisms of the Inflammatory Response. Best Practice & Research. Clinical Anaesthesiology. 2004;18(3):385-405. doi:10.1016/j.bpa.2003.12.002.
  • Weavers H, Martin P. The Cell Biology of Inflammation: From Common Traits to Remarkable Immunological Adaptations. The Journal of Cell Biology. 2020;219(7):e202004003. doi:10.1083/jcb.202004003.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.