Introdução
A cólica menstrual, também chamada de dismenorreia, é definida como uma dor do tipo cólica que acomete a região inferior do abdômen e surge logo antes ou durante o período menstrual.
A cólica menstrual é um evento tão comum que até 90% das adolescentes e 25% das mulheres adultas sofrem dessa dor todos os meses.
A dismenorreia é provocada pelas contrações uterinas durante a menstruação, que são importantes para que o útero consiga expulsar todo o tecido uterino desvitalizado.
Em algumas mulheres, porém, as cólicas menstruais são muito intensas, provocadas por contrações tão vigorosas, que até mesmos os vasos sanguíneos que irrigam o útero ficam comprimidos, causando uma isquemia uterina temporária.
Neste artigo vamos falar sobre as opções de tratamento da cólica menstrual. Se você procura informações sobre a cólica menstrual em si, incluindo sintomas, causas e fatores de risco, acesse o seguinte link: Cólica Menstrual – Sintomas, Causas e Tratamento.
Se você também procura informações sobre a tensão pré-menstrual (TPM), não deixe de ler: Sintomas da TPM – Tensão pré-menstrual.
Opções para tratar a cólica menstrual
O objetivo do tratamento da cólica menstrual deve ser sempre aliviar a dor ao máximo possível. Se der para eliminar a dor completamente, ótimo. Porém, infelizmente, a completa resolução da dor nem sempre é alcançável. Nesses casos, com cólicas mais intensas, o objetivo deve ser o alívio da dor de forma suficiente para que a mulher consiga realizar as suas tarefas habituais do dia a dia.
O tratamento da dismenorreia pode ser feito com medicamentos de verdade ou apenas com medidas educacionais, tais como exercícios, dieta adequada, técnicas de relaxamento e remédios caseiros. O que define o tipo de tratamento mais adequado é o grau de intensidade das cólicas. A intensidade da cólica menstrual pode ser dividade em 4 graus:
- Dismenorreia grau 0: a menstruação não provoca dor, ou o faz de forma muito discreta, sem causar qualquer tipo de pertubação para mulher. → Esse tipo de menstruação não requer nenhum tratamento específico.
- Dismenorreia grau 1: a menstruação provoca uma pequena cólica, que na imensa maioria dos casos não atrapalha as atividades diárias. → Esse tipo de menstruação raramente requer medicamentos e medidas caseiras são mais do que suficiente para aliviar a dor.
- Dismenorreia grau 2: a menstruação provoca cólicas moderadas a forte, algumas vezes acompanhadas de outros sintomas, como irritabilidade, dor de cabeça e mal-estar. A cólica pode ser intensa o suficiente para atrapalhar a execução das tarefas habituais do dia a dia. → Esse tipo de menstruação costuma ser tratada com medicamentos.
- Dismenorreia grau 3: a menstruação provoca cólicas muito intensas, quase sempre acompanhadas de sintomas, como diarreia, cansaço, dor de cabeça, irritação ou vômitos. A cólica é forte e quase sempre atrapalha a execução das tarefas habituais do dia a dia → Esse tipo de menstruação costuma ser tratada com medicamentos, mas eles nem sempre funcionam.
Papel do placebo
O placebo por definição é uma substância ou tratamento que não tem nenhum efeito direto sobre a doença, mas que o paciente acredita ser eficaz. E porque o paciente acredita que esse falso tratamento é real, ele pode realmente funcionar em determinadas situações.
O placebo pode ser simplesmente uma pílula feita de farinha ou uma vitamina qualquer. Pode ser também uma pulseira que supostamente emite vibrações, terapia com luzes coloridas ou um medicamento homeopático.
A cólica menstrual tem uma característica interessante, que é a elevada, porém temporária, eficácia dos placebos. No primeiro mês, 84% das mulheres tratadas com um placebo referem melhora das cólicas menstruais. Esse efeito, porém, não dura muito. No segundo mês, a taxa de eficácia já cai para 29%, no terceiro mês para 16% e no quarto para 10%.
Quanto mais intensa for a cólica menstrual, menos eficaz é o tratamento com placebos.
Tratamento caseiro e não medicamentoso
O tratamento das cólicas menstruais com medidas caseiras pode ser efetuado em qualquer caso, sendo geralmente a única medida necessárias nas dismenorreias graus 0 e 1. Abaixo vamos citar as opções de tratamento não-medicamentoso que nos estudos científicos apresentaram taxa de eficácia superior aos placebos.
Calor local
A aplicação de calor na região inferior do abdômen é uma medida muito eficaz para aliviar as cólicas. Estudos mostram que uma bolsa de água quente pode ser tão efetiva quanto anti-inflamatórios e melhor até que analgésicos comuns, como o paracetamol.
A aplicação de calor na região do abdômen pode ser utilizada em conjunto com analgésicos ou anti-inflamatórios, ajudando a aumentar a eficácia dos medicamentos.
Exercício físico
A prática regular de exercícios físicos ajuda a diminuir a intensidade da cólica menstrual. Mulheres sedentárias costumam ter cólicas mais intensas que as mulheres que fazer regularmente alguma atividade física.
Yoga
Não há muitos estudos sobre a eficácia da Yoga no tratamento da dismenorreia, mas os poucos que existem sugerem que ela é eficaz. Na verdade, qualquer medida que ajude a controlar o estresse parece ser eficaz no controle da dismenorreia, incluindo massagem, técnicas de relaxamento, meditação, etc.
Relação sexual
Estudos mostram que o orgasmo pode aliviar a intensidade da cólica menstrual em algumas mulheres. O problema é que dificilmente a mulher terá desejo sexual se a dor estiver de intensidade moderada ou grave.
Dieta
Uma dieta pobre em gordura animal e rica em vegetais e ômega 3 pode reduzir de forma significativa a intensidade e a duração das cólicas menstruais. Porém, os estudos publicados até o momento foram feitos com poucos pacientes, o que torna o grau de evidência fraco.
Cigarro e álcool
O consumo de cigarro e bebidas alcoólicas está relacionada a um agravamento dos sintomas da cólica menstrual. Se você tem cólicas fortes, evite essas duas substâncias.
Acupuntura
A maioria dos estudos sobre a eficácia da acupuntura na dismenorreia é pequeno e de má qualidade. Há, porém, alguns poucos bons estudos, e estes mostram que a acupuntura pode ser eficaz.
Entretanto, o resultado da acupuntura parece ser inferior ao dos medicamentos, mas ela é uma boa opção para aqueles que desejam evitar fármacos. De qualquer forma, o grau de evidência ainda é fraco.
Tratamento com remédio
O tratamento medicamentoso da dismenorreia é feito preferencialmente com anti-inflamatórios ou com anticoncepcionais hormonais. Nenhum estudo até o momento conseguiu comprovar a superioridade de um sobre o outro. Ambos parecem igualmente eficazes e podem ser usados ao mesmo tempo.
Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES)
Os anti-inflamatórios são eficazes em 85% dos casos e, ao contrário do placebo, o seu efeito não diminui com o tempo.
Os AINES mais indicados para o controle da cólica menstrual são o ibuprofeno e o ácido mefenâmico (mais conhecido como Ponstan®).
Analgésicos comuns, como o paracetamol, têm eficácia inferior aos anti-inflamatórios e, por isso, não costumam ser usados como tratamento de primeira linha. A única exceção parece ser a dipirona (metamizol), que é um analgésico que tem um efeito antiespasmódico relevante, sendo uma boa opção para o alívio das cólicas, tanto de origem uterina, intestinal ou renal.
Anticoncepcionais hormonais
Os anticoncepcionais hormonais ajudam na estabilização do ciclo menstrual e controlam o fluxo e as contrações uterinas, ajudando na redução da cólica menstrual.
Todas as formas de anticoncepção hormonal são eficazes, incluindo:
- Pílula anticoncepcional à base de estrogênio e progesterona (qualquer dose).
- Minipílula.
- Adesivo anticoncepcional.
- Anticoncepcional injetável.
- Anel vaginal.
O DIU Mirena, que é um DIU que contém pequenas doses de hormônio, também ajuda no tratamento dismenorreia. Por outro lado, o DIU de cobre não é indicado, pois costuma agravar os sintomas (leia: DIU de Cobre e DIU Mirena – Anticoncepcional intrauterino).
Vitaminas e sais minerais
Alguns pequenos estudos avaliaram a eficácia de determinadas vitaminas no controle da cólica menstrual. A que tiveram melhores resultados foram a vitamina E e a vitamina B1. Em todos eles, porém, os estudos foram pequenos e o grau de evidência é fraco.
O magnésio também parece ser superior ao placebo, mas os estudos pequenos e de má qualidade não nos permitem tirar conclusões.
Adesivos de nitrato
Os adesivos transdérmicos contendo nitrato são uma opção de tratamento, mas a sua eficácia é inferior a dos AINES e a dos anticoncepcionais, e a taxa de efeitos colaterais, como dor de cabeça, é mais alta.
Nifedipina
A nifedipina é um medicamento anti-hipertensivo que ajuda a reduzir a dor da dismenorreia. Nas mulheres hipertensas, ele é uma boa opção de tratamento, apesar de ser inferior aos AINES.
A endometriose é uma hipótese que deve ser pensada em todas as mulheres com cólicas menstruais intensas, que não respondem bem a nenhum dos tratamentos citados acima.
Referências
- Dysmenorrhea in adult women: Treatment – UpToDate.
- Primary Dysmenorrhea Consensus Guideline – Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada.
- Dysmenorrhea Treatment & Management – Medscape.
- Diagnosis and Initial Management of Dysmenorrhea – American Family Physician.
- Dysmenorrhea: Painful Periods – American College of Obstetricians and Gynecologists.
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