Psitacose: sintomas, transmissão e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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O que é a psitacose?

A psitacose, também chamada de febre dos papagaios, ornitose ou clamidiose, é uma infecção provocada pela bactéria Chlamydia psittaci, que costuma provocar sintomas como febre, tosse e dor de cabeça.

A psitacose é uma zoonose, ou seja, uma infecção transmitida de animais para o ser humano. As principais fontes de transmissão da Chlamydia psittaci são as aves psittaciformes, uma ordem que inclui, entre outros, papagaios, araras, cacatuas e piriquitos.

A infeção porém, não fica restrita a essa ordem de aves. Já foram identificados mais de 460 espécies com ornitose, incluindo pombos, perus, patos, faisões, galinhas, avestruzes e até pinguins.

Epidemiologia

A psitacose é pouco comum, mas está presente em praticamente todos os países do mundo. No Brasil, em média, há menos de 50 casos notificados por ano. De tempos em tempos surgem notícias de surtos, com algumas dezenas de pessoas contaminadas, como ocorreu em 2007 no Rio Grande Sul, com cerca de 50 pacientes contaminados após contato com aves contrabandeadas.

Apesar de rara, a verdadeira incidência da doença é provavelmente mais alta. Dois fatos falam a favor dessa provável subestimação:

  • Segundo o IBGE, existem cerca de 38 milhões de aves domésticas no Brasil.
  • Muitos dos pacientes contaminados exibem sintomas brandos que acabam sendo confundidos com uma gripe comum.

A maior parte dos casos, portanto, acaba não sendo diagnosticada e muito menos notificada. A real incidência da doença é desconhecida.

Transmissão

A bactéria Chlamydia psittaci costuma infectar pessoas expostas a aves infectadas. Os grupos sob maior risco são:

  • Proprietários de pássaros de estimação.
  • Funcionários de aviários.
  • Funcionários de pet shops.
  • Avicultores.
  • Veterinários.

As aves infectadas nem sempre mostram sinais de doença; muitas apresentam aspecto completamente normal.

Aves infectadas, com ou sem sintomas, liberam as bactérias em suas fezes ou secreções respiratórias. Quando os excrementos e as secreções secam, pequenas partículas de poeira contendo bactérias podem se espalhar pelo ar. A maneira mais comum de alguém ser infectado é respirando o pó dessas secreções secas.

As bactérias permanecem viáveis por meses em temperatura ambiente e são rotineiramente espalhadas pelo ar quando as aves batem as asas.

Eventualmente, as aves também podem infectar as pessoas por meio de mordidas e contato direto boca a bico.

A transmissão de pessoa para pessoa é considerada muito rara, embora exista um relato de sete casos de pneumonia entre profissionais de saúde que cuidaram de um funcionário de uma loja de animais hospitalizado com psitacose.

Sintomas nas aves

As aves infectadas com a Chlamydia psittaci não apresentam necessariamente sintomas. Elas também podem ser portadoras da bactéria por meses antes que apareçam os primeiros sinais externos. Só porque um pássaro não parece estar doente não significa que não esteja infectado.

Quando há sintomas de psitacose nas aves, os principais são:

  • Tremores.
  • Dificuldade para respirar.
  • Secreção nos olhos ou nariz
  • Diarreia
  • Urina ou fezes com cores diferentes.
  • Perda de peso
  • Letargia e sonolência
  • Perda do apetite.

Sintomas nos humanos

Nas pessoas, a psitacose geralmente se assemelha à gripe ou à pneumonia.

Os sintomas geralmente começam aproximadamente de uma a duas semanas após a exposição à bactéria, mas o período de incubação em alguns casos pode durar até mais de 40 dias.

O quadro psitacose apresenta-se mais comumente em adultos jovens ou de meia-idade. Começa com febre alta de início abrupto, dor de cabeça pronunciada e tosse seca. Esses três são os sintomas mais comuns.

Na maioria dos casos, porém, a infecção é assintomática ou bastante branda.

Além da tosse, dor de cabeça e febre, outros sintomas também podem estar presentes. As manifestações mais comuns são:

  • Sintomas sistêmicos (muito comuns)
    • Febre (50-90% dos casos).
    • Calafrios.
    • Dor muscular.
    • Cansaço e fraqueza.
  • Sintomas respiratórios (muito comuns)
    • Tosse seca (50-90% dos casos)
    • Falta de ar.
    • Dor torácica ao respirar.
    • Dor de garganta.
    • Sangramento nasal.
  • Sintomas gastrointestinais (pouco comuns)
    • Náusea e vômitos.
    • Dor abdominal.
    • Diarreia.
    • Aumento do tamanho do fígado ou baço.
  • Sintomas neurológicos (comuns)
    • Dor de cabeça.
    • Fotofobia (intolerância à luz).
    • Agitação ou letargia.

Complicações

Na maioria dos casos, o quadro de psitacose é brando. Mesmo nos quadros mais agressivos, o tratamento adequado costuma levar à recuperação total.

No entanto, algumas pessoas têm complicações graves e precisam de cuidados hospitalares.

As complicações mais comuns da psitacose incluem:

  • Pneumonia grave.
  • Endocardite (inflamação das válvulas cardíacas).
  • Hepatite (inflamação do fígado)
  • Inflamação dos nervos ou do cérebro.

Com tratamento antibiótico apropriado, a taxa de mortalidade da psitacose é menor que 1%.

Diagnóstico

O quadro clínico típico (febre alta, dor de cabeça, dores pelo corpo e tosse seca) em um paciente com histórico de contato com aves é bastante sugestivo do diagnóstico e já autoriza o médico a iniciar o tratamento com antibióticos.

Como a doença é pouco comum, a maioria dos médicos não pensa nessa hipótese habitualmente. Os quadros de psitacose costumam ser diagnosticados inicialmente como pneumonia comum ou gripe complicada. A falta de resposta ao tratamento inicial e a história de contato próximo com aves são as dicas que direcionam ao diagnóstico correto.

A sorologia pelo método ELISA para Chlamydia psittaci costuma ser o método laboratorial mais utilizado para confirmar o diagnóstico.

A bactéria também pode ser isolada em culturas a partir de amostras de escarro, líquido pleural ou biópsias de pulmões, fígado ou baço. No entanto, poucos laboratórios são capazes de fazer a cultura de Chlamydia psittaci e a bactéria é altamente infecciosa quando cultivada. O risco de transmissão por aerossol para o pessoal do laboratório é significativo, motivo pelo qual essa forma de diagnóstico é pouco utilizada.

Tratamento

A doxiciclina é o antibiótico mais utilizado para tratar a psitacose. A dose indicada é 100 mg de 12/12 horas por 10 a 14 dias.

Em crianças menores de 7 anos, o antibiótico indicado é a eritromicina, na dose de 30 a 40 mg/kg/dia de 6/6 horas.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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