Alopurinol (bula simples): para que serve e efeitos adversos

Dr. Pedro Pinheiro

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Alopurinol

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O que é o alopurinol?

O alopurinol, também conhecido pelo nome comercial Zyloric, é um medicamento que tem como ação a redução da produção de ácido úrico pelo organismo, sendo útil, portanto, na prevenção das crises de artrite gotosa e de alguns tipos de cálculos renais.

A redução nos níveis sanguíneos de ácido úrico começam a ser perceptíveis já no segundo dia de tratamento e o efeito máximo do medicamento é atingido com cerca de 1 a 2 semanas.

Atenção: este texto não aspira ser uma bula completa do alopurinol. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula e mais útil aos pacientes que procuram informações objetivas e em linguagem acessível ao público leigo.

Para que serve

O ácido úrico presente no nosso organismo é produzido a partir da purina, que é um conjunto de compostos orgânicos presentes em diversos tipos de alimentos, principalmente naqueles de origem animal. Cerca de 40% das nossas purinas são obtidas pela dieta e os 60% restantes são produzidos pelo nosso próprio organismo.

A transformação da purina em ácido úrico é catalisada por uma enzima chamada xantina oxidase. A inibição dessa enzima, que é o mecanismo de ação do alopurinol, reduz a transformação das purinas em ácido úrico, provocando, assim, uma redução da concentração deste último no sangue.

Portanto, o alopurinol é um medicamento que é utilizado sempre que desejamos reduzir os níveis de ácido úrico no sangue, como são os casos dos pacientes que têm gota ou cálculos renais que surgem por excesso de ácido úrico na urina.

É importante destacar que o alopurinol é um fármaco indicado para a prevenção e não para tratamento da gota. Os pacientes com crise aguda de gota devem ser medicados com anti-inflamatórios até a resolução do quadro. Se o paciente não toma alopurinol, este só deve ser iniciado após o fim da crise de artrite gotosa, como forma de prevenção de crises futuras.

Para saber mais sobre o ácido úrico e a gota, leia:

Nomes comerciais

O alopurinol é um medicamento que já pode ser encontrado sob a forma genérica.

Entre as marcas comerciais, o nome mais famoso é o Zyloric, que é o medicamento de referência para a substância alopurinol.

No Brasil, o alopurinol também pode ser encontrado sob o nome Lopurax; já em Portugal, além do Zyloric, existem também as marcas Zurim e o Uriprim.

Como tomar

A alopurinol é comercializado sob a forma de comprimidos de 100 mg e 300 mg.

O tratamento deve ser iniciado com doses de 100 mg por dia, com incrementos de 100 mg a cada 2 a 4 semanas de forma a se atingir um valor de ácido úrico no sangue menor que 6 mg/dl. O ideal é tentar encontrar a menor dose que seja eficaz para controlar o ácido úrico.

A dose máxima diária de alopurinol é de 800 mg, mas a maioria dos pacientes consegue controlar os níveis de ácido úrico com cerca de 300 mg.

Quando a dose do medicamento precisa ser maior que 300 mg por dia, indicamos que a dose total seja dividida em 2 tomas diárias (ex: 200 mg de 12/12 horas, caso a dose total necessária seja de 400 mg).

Efeitos colaterais

O alopurinol é um fármaco presente no mercado há mais de 40 anos e seus efeitos adversos são bastante conhecidos. Aqui, falaremos apenas dos mais comuns ou mais graves.

Apesar de ser um medicamento que previne os ataques de gota, nos primeiros dias de uso ocorre um efeito paradoxal, havendo um aumento do risco de surgirem crises de artrite gotosa. Se isso ocorrer, o paciente deve manter o medicamento na mesma dose e a crise deve ser tratada com colchicina ou anti-inflamatórios. A elevação da dose, caso necessária, só deve ser feita após completa resolução dos sintomas.

Os pacientes que tiveram crise de gota recente devem começar a tomar o alopurinol antes da interrupção da colchicina ou do anti-inflamatório, de forma a prevenir um recaída da crise nos primeiros dias.

Cerca de 5% dos pacientes desenvolvem reação alérgica ao alopurinol, manifestada por rash de pele. Na maioria dos casos, a reação é leve e melhora com a suspensão ou com a redução da dose do medicamento.

Reações graves (ocorrem em menos de 1% dos casos)

Reações alérgicas graves, como a síndrome de Stevens-Johnson, são raras, mas já foram diversas vezes descritas em pacientes que estavam tomando alopurinol (leia: Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica). Essa reação são mais comuns nas populações de origem asiática.

A Insuficiência renal provocada por nefrite intersticial é outro problema pouco comum, mas que está bastante relacionada ao uso do alopurinol.

Contraindicações

A principal contraindicação ao alopurinol é uma história de reação alérgica ao medicamento. Se o paciente tiver tido uma reação leve, uma dose mais baixa pode ser tentada. Se ainda assim houver reação, o medicamento deve ser suspenso indefinidamente.

Se já na primeira reação o quadro alérgico for de moderada a grande intensidade, o medicamento deve ser suspenso sem que doses mais baixas sejam testadas.

O alopurinol não deve ser iniciado durante uma crise de gota, pois há risco de agravamento do quadro. Porém, se o paciente já faz uso do alopurinol e ainda assim apresenta uma crise de gota, a dose deve ser mantida até a resolução do quadro. Quando o paciente estiver assintomático, um aumento da dose deve ser considerado.

O alopurinol não deve ser usado na gravidez, exceto quando não houver alternativas mais seguras e quando a doença em si representar um risco para a mãe ou para o feto maior que o próprio medicamento.

Caso possível, o medicamento também deve ser evitado durante a amamentação.

Interações medicamentosas

A azatioprina é o medicamento que mais sofre influência do alopurinol. Quando utilizados em conjunto, a dose da azatioprina deve ser reduzida para 1/4.

Pacientes medicados com algum anti-hipertensivo da classe dos inibidores da ECA (Enalapril, Ramipril, Lisinopril…) ou com o antibiótico amoxicilina apresentam um risco maior de reações alérgicas.

Antiácidos, como o bicarbonato de sódio, reduzem a eficácia do alopurinol.

A alopurinol pode aumentar o efeito anticoagulante da varfarina (leia: Varfarina – Marevan,Varfine, Coumadin).


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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