Candidíase vaginal: como se pega, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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O que é candidíase vaginal?

A candidíase vaginal, também chamada monilíase vaginal, é uma infecção ginecológica provocada pelo fungo Candida albicans. Essa micose é tão comum que 3 em cada 4 mulheres terão pelo menos um episódio de candidíase vaginal ao longo da vida.

A Candida albicans provoca um quadro de inflamação na vagina e na vulva (parte exterior da vagina), motivo pelo qual ela também é conhecida como vulvovaginite por Candida. A inflação genital da candidíase caracteriza-se pelos sinais e sintomas de vermelhidão local, intensa coceira e corrimento vaginal.

A monilíase vaginal pode ser facilmente tratada com medicamentos antifúngicos, mas algumas mulheres com episódios recorrentes de vulvovaginite podem precisar de tratamento prolongado para conseguirem se livrar da infecção.

Neste artigo, explicaremos o que é a vulvovaginite por Candida, quais são as suas causas, sintomas e tratamento. Falaremos também dos casos de candidíase recorrente, que podem ser difíceis de serem eliminados.

Causas

Conforme explicado na introdução do artigo, a candidíase vaginal é uma infecção da vagina e da vulva causada pelo fungo do gênero Candida. Dentre todas as espécies de Candida, a Candida albicans é a mais comum, sendo responsável por até 90% dos casos. A candidíase vulvovaginal também pode ser causada pelas espécies Candida glabrata ou Candida parapsilosis, mas esses casos são incomuns e tendem a ter um quadro clínico mais brandos.

A Candida é um fungo que existe naturalmente na nossa flora biológica, estando presente na boca e no sistema digestivo de até 50 a 80% das pessoas, dependendo da população estudada. Em situações normais, o nosso sistema imunológico e a presença dos outros microrganismos da nossa flora natural impedem que a Candida se multiplique exageradamente, mantendo sua população sob controle. Portanto, estar colonizado pelo fungo Candida não é sinônimo de ter uma infecção por Candida. A Candida é apenas um ente os milhões de germes que fazem parte da nossa flora natural de microrganismos.

Isso significa que a Candida é um germe oportunista, ou seja, um micróbio que pode viver inocentemente em nosso corpo sem causar doenças, mas que, ao menor sinal de fraqueza do nosso sistema imunológico ou distúrbio na nossa flora natural de germes, pode multiplicar-se e provocar infecções.

Entre 20 a 50% das mulheres têm a sua vagina colonizada pelo fungo Candida sem que isso, porém, signifique haver uma infecção pela Candida. Essas mulheres são completamente assintomáticas, pois o pH ácido da vagina, o sistema imunológico e a presença da flora bacteriana vaginal impedem que a Candida consiga se multiplicar. A vulvovaginite por Candida só surge se houver algum distúrbio em pelo menos um desses três fatores de proteção citados.

Como se pega candidíase?

A pergunta acima é muito comum, mas ela é conceitualmente errada, pois, na maioria dos casos, não se pega candidíase de ninguém; a vulvovaginite surge porque a Candida albicans, que já existia no seu organismo, encontrou formas de ultrapassar as defesas do nosso corpo e conseguiu multiplicar-se descontroladamente.

Habitualmente, a Candida albicans que coloniza a vagina das mulheres tem sua origem na região perianal. A Candida que existe no trato gastrointestinal e coloniza a região perianal pode migrar pelo períneo, alcançar a vagina e se estabelecer nessa nova região.

Uma forma comum disso ocorrer é através da limpeza incorreta do ânus após a evacuação. Se a mulher se limpa de trás para a frente, ela acaba trazendo germes da região perianal em direção à vagina. Isso favorece não só a colonização vaginal pela Candida, como também a ocorrência de infecção urinária por bactérias do trato gastrointestinal.

Eventualmente, a Candida albicans pode ser transmitida de uma pessoa para outra. Como a boca e trato gastrointestinal são os habitats mais comuns da Candida no nosso organismo, o sexo oral e o sexo anal são possíveis fontes de transmissão. O sexo vaginal também pode ser uma forma de transmissão, caso o pênis do parceiro ou a vagina da parceira estejam colonizados.

Cabe aqui uma ressalva, a transmissão da Candida por via sexual não necessariamente indica que a mulher irá desenvolver candidíase. A Candida recém-adquirida terá de enfrentar os mesmos fatores de defesa que uma Candida do próprio organismo precisa enfrentar. Como já vimos, ter o fungo Candida albicans não é sinônimo de ter infecção pelo fungo Candida albicans.

Portanto, apesar de a Candida poder ser transmitida pela via sexual, a monilíase vaginal em si não é considerada uma doença sexualmente transmissível, pois a imensa maioria dos casos de vulvovaginite por Candida não tem relação com o ato sexual. O número de parceiros que uma mulher tem na vida não interfere no risco dela desenvolver candidíase, e mulheres que praticam o celibato podem desenvolver vulvovaginite pela Candida albicans.

Fatores de risco

Em geral, a Candida albicans prolifera-se nas seguintes situações: redução da acidez vaginal (aumento do pH vaginal), alterações na flora microbiana da vagina, alterações hormonais ou fraqueza do sistema imunológico.

Vários fatores de risco para candidíase vulvovaginal já são bem conhecidos, sendo os mais importantes:

  • Diabetes Mellitus: mulheres diabéticas, principalmente aquelas com glicemia cronicamente mal controlada, são indivíduos particularmente propensos a desenvolver vulvovaginite por Candida (leia: Primeiros sintomas do diabetes).
  • Uso recente de antibióticos: cerca de 25 a 30% das mulheres que precisam fazer  um curso de antibióticos de largo espectro acabam desenvolvendo um episódio de candidíase vaginal. Isso ocorre porque os antibióticos agem contra as bactérias naturais da flora vaginal, mas são inertes contra os fungos.
  • Alterações hormonais: níveis muito elevados ou muito baixos de estrogênio interferem no meio vaginal e aumentam o risco de candidíase. Isso explica porque situações como gravidez, reposição hormonal, menopausa, uso de anticoncepcionais hormonais e até o período ovulatório podem facilitar o aparecimento da vulvovaginite por Candida.
  • Imunossupressão: mulheres imunossuprimidas, seja por doenças, como o HIV, ou por uso de drogas imunossupressoras, apresentam maior risco de desenvolverem candidíase.

Situações de risco ainda não comprovadas

Os fatores de risco listados acima são aqueles que comprovadamente influenciam no risco da mulher desenvolver uma candidíase. Há muitos outros, mas estes não apresentam resultados consistentes nos estudos clínicos realizados. Portanto, é possível, mas não é definitivamente correto que afirmar que os seguintes fatores aumentam o risco de candidíase:

  • Roupas apertadas.
  • Biquíni molhado
  • Métodos anticoncepcionais intravaginais, tais como DIU, diafragma ou esponja vaginal (leia: 20 métodos anticoncepcionais comuns).
  • Ducha vaginal.
  • Absorvente interno.

Como esses possíveis fatores de risco, apesar de não serem comprovados, podem ser evitados, faz sentido que as mulheres que apresentam candidíase recorrente tentem se resguardar. No entanto, quem nunca teve candidíase vulvovaginal ou teve somente um ou dois episódios ao longo de vários anos não precisa se preocupar com esses possíveis fatores de risco, pois eles não são assim tão relevantes.

Candidíase vaginal recorrente

Cerca de 5% das mulheres têm candidíase vaginal recorrente, que se caracteriza pela ocorrência de mais de 4 episódios de candidíase por ano. As recorrências habitualmente ocorrem pela falta de eficácia no tratamento de uma infecção anterior, o que permite que a mesma cepa de candidíase volte a crescer após algum tempo. Raramente, a recorrência da candidíase se dá por uma nova infecção, provocada por uma cepa diferente de Candida albicans.

Estudos sugerem que as mulheres que apresentam candidíase vaginal recorrente podem ser geneticamente mais susceptíveis à infecção pela Candida albicans, por alterações no sistema de defesa da região vaginal.

Sintomas

Prurido vulvar (coceira vaginal) é o sintoma mais importante da candidíase. Ardência ou dor na região vaginal também são comuns e podem ser acompanhadas por disúria (dor ao urinar) ou dispareunia (dor durante o ato sexual).

Outros sinais frequentes são a vermelhidão na região da vulva e o corrimento vaginal. O corrimento da candidíase vaginal é habitualmente leitoso, ou tipo queijo cottage, e sem odor.

Os sintomas da monilíase vaginal podem se agravar nos dias que antecedem a descida da menstruação.

Diagnóstico

Nenhum dos sintomas descritos acima é exclusivo da vulvovaginite pela Candida. Várias infecções ginecológicas, tais como a tricomoníase e vaginose bacteriana, podem causar sintomas semelhantes. Na verdade, de todas as mulheres que procuram o ginecologista com queixa de coceira vaginal, menos de 50% têm candidíase. A maioria apresenta outras causas de infecção ginecológica.

Portanto, o diagnóstico da candidíase vulvovaginal só pode ser estabelecido com certeza através da avaliação laboratorial do corrimento. Para tal, o ginecologista precisa realizar um exame ginecológico no qual ele utiliza uma espécie de cotonete para colher material da parede da vagina. Esse material é enviado para o laboratório, para que o germe causador da vaginite possa ser identificado.

Tratamento

Os casos mais simples de candidíase vulvovaginal podem ser tratados com pomadas antifúngicas de aplicação vaginal, entre elas o clotrimazol, nistatina e miconazol. Outra opção é o fluconazol comprimido de 150 mg em dose única. Ambas formas de tratamento têm taxas de sucesso acima de 90%, mas a posologia por via oral é mais confortável por ser simples e curta, sendo atualmente a forma mais utilizada.

Nos casos de candidíase recorrente, o tratamento é habitualmente feito com fluconazol por via oral por até 6 semanas.

Se você quiser saber mais detalhes sobre o tratamento da monilíase vaginal, temos um artigo exclusivo sobre o assunto: Opções de tratamento da candidíase vaginal.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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Comentários e perguntas

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29 respostas para “Candidíase vaginal: como se pega, sintomas e tratamento”

  1. Sarah Stephanny Costa de Sousa

    Pode ser transmitido durante o ato sexual?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Pode, mas transmissão sexual da cândida não é muito comum.

  2. Luzia

    Meninas de 11 e 12 anos podem ter candidiase?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Sim, podem.

  3. Custodio balate

    Quais os sintomas da Candidíase no homem ?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Temos um texto sobre esse assunto: Candidíase em homens: sintomas, fotos e tratamento.

  4. Luciana santos

    Tenho dor na vagina após urinar, o que é?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Infecção urinária ou vaginite são as principais hipóteses. Mas há outras causas.

  5. Jansely

    Parabéns!!! Obrigada pelos esclarecimentos, abraços

  6. Sandra maria

    É normal não sentir dor nem corrimento só ferdor no ato sexuais?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Candidíase sem dor, coceira ou corrimento é pouco habitual.

  7. Adjaine

    Oi, estou grávida de 22 semanas e a partir da 20 semana por aí minha vagina inchou e agora somente um lado tá inchado e com alguns carocinhos, sinto queimação ao urinar ou quando uso roupa apertada, não coça mais queima e sai um corrimento branco. Estou com Candidíase vaginal?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Pode ser, mas pode ser também outra infecção ginecológica. Você precisa colher esse material do corrimento para avaliação.

  8. Marcela

    Pode ter relação sexual durante o tratamento?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      O ideal é não ter.

  9. Mah

    Bom…
    Queria saber, eu tive relação, e minha menstruação desceu no outro dia, veio 3 dias e cortou e começou a descer um líquido branco em muita quantidade, minha vagina coça muito, e o odor é bem fraco, e tem uma leve ardência, não sinto dor pra urinar e nem na hora da relação, isso é candidíase ? Ou apenas uma infecção?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      A candidíase é uma infecção. Os seus sintomas são compatíveis. Você deveria procurar um ginecologista.

  10. Ilusk

    Muito boa todas as explicações e respondeu todas as minhas dúvidas. Obrigada!

  11. Juliana

    Oi, me chamo Juliana e estou desesperada porque os lábios da minha vagina estava muito inchado, como posso trata ?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Isso deve ser uma infecção, você precisa ir a um ginecologista.

  12. Jéssica

    Por já ter tido candidíase por mais ou menos 6 vezes e agora começou ontem,notei que todas as vezes que acontece é quando viajo.Acabei levando pouca calcinha por achar que voltaria de viagem antes.
    Quando viajamos,tomamos menos banho e além deste fato de ter que ficar com a calcinha o dia todo,usando calça jeans apertada e mais um fato relevante que é o diabetes,notei que estava correndo o risco de isto ocorrer novamente.
    Voltei de viagem e no dia seguinte,me vem aquela bendita coceira incomoda e logo ardência.
    Eu posso afirmar que tudo tem haver com estes fatos sim.Não é todas as vezes que viajo que isto acontece.Mas sim quando
    passo por esta situação e roupa como calça jeans que abafa muito.Acho que o diabetes também por mesmo pouco descontrolado,ajudou e quando consumo algo que contém açucar,agrava ainda mais.
    Estou usando Cetaconazol comprimido e Fenticonazol creme que é o que sempre resolve mesmo. Mas aconselho a qualquer pessoa antes de usar qualquer remédio,consultar um médico,por que cada caso é um caso.

  13. Vitória Salva

    Oi, então tenho 17 anos e acho q venho com isso desde os 15 ou 16 anos pq eu raramente tenho coceira na região ai quando coça fica vermelho, na minha valcinha fica resíduos sim meio esbranquiçados ou meio amarelinhos bem claro mas o cheiro não é forte, e meu namorado disse q o penis dele ficou com alguns caroços em volta do penis, é candidíase?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Tem que fazer um exame ginecológico para saber.

  14. Ana

    O meu absorvente fica um bocadinho amarelado com pouco cheiro. Reparei que às vezes saem umas coisinhas da vagina esbranquiçadas, nao tenho mais sintoma nenhum. É alguma infeção?

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      Pedro Pinheiro

      Se você não tem sintoma algum, pode ser apenas corrimento fisiológico. De qualquer forma, só dá pra ter certeza após um exame ginecológico.

  15. Silvio Heisenberg

    Minha esposa fez o tratamento com um remédio de dose única. Qual o período para fazer efeito e sumirem os sintomas, ou seja, certificar que o tratamento teve eficácia?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Tem que ver melhora em 48 horas.

  16. Renata Silva

    Candidíase vaginal em adolescentes é sinal de início da vida sexual?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Não necessariamente. Não é preciso ter vida sexual pra ter candidíase.