O que é a esporotricose?
A esporotricose é uma infecção provocada por fungos do gênero Sporothrix. A espécie mais comum de Sporothrix é o Sporothrix schenckii, que está presente em todo o mundo e é o principal causador da esporotricose.
Entretanto, em determinadas regiões, outras espécies de Sporothrix podem ser encontradas, como no caso do Brasil, onde a espécie Sporothrix brasiliensis é a causa mais comum de esporotricose e costuma estar relacionada à infecção de gatos.
No México e em vários outros países da América Latina, além da espécie Sporothrix schenckii, a esporotricose também pode ser provocada pelo Sporothrix mexicana.
Na maioria dos casos, a esporotricose atinge apenas a pele, o tecido subcutâneo e a cadeia de linfonodos ao redor da lesão inicial, mas em pacientes com algum grau de imunossupressão, o fungo pode também invadir órgãos internos, como articulações e sistema nervoso central.
O fungo Sporothrix costuma estar presente no solo, madeiras em decomposição, feno e em vários tipos de vegetais. Animais também podem ser a fonte do micro-organismo, principalmente os gatos.
Transmissão
O Sporothrix é um fungo que sobrevive sob a forma de esporos na natureza, principalmente no solo, em madeiras, no feno e nas plantas.
A esporotricose surge quando os esporos do fungo penetram o nosso corpo através de feridas, como arranhões, farpas ou furos provocados por espinhos. O contato direto da pele com feno, musgos e mofos também pode ser fonte de transmissão, se o paciente tiver pequenas fissuras.
Algumas atividades profissionais estão mais sujeitas ao desenvolvimento da esporotricose, tais como paisagismo, jardinagem, agricultura, trabalho florestal e empacotamento de feno.
Em muitos casos, o local da inoculação do fungo não é óbvio, mas o paciente costuma se lembrar de ter tido exposição ao solo, madeira ou plantas.
A transmissão do Sporothrix através da inalação de esporos presentes no solo também é possível, mas essa via é bem pouco comum e costuma provocar infecção pulmonar em vez de lesões da pele.
Veterinários também estão sujeitos a um maior risco, já que a esporotricose também pode se comportar como uma zoonose, ou seja, uma doença transmitida diretamente de animais para o ser humano.
A maioria dos casos de transmissão por animais tem sido associada a gatos infectados.
No Rio de Janeiro, há um surto de esporotricose desde 1998, como mais de 2000 casos registrados de esporotricose provocada por gatos domésticos. Infecções através de cães também têm sido descritas, apesar destas serem mais raras e mais brandas.
Na maior parte dos casos transmitidos por gatos, mordidas e arranhões são a fonte de transmissão. Em geral, o animal contaminado já aparenta alguma lesão de pele, principalmente na face ou na cabeça.
Sintomas
As formas mais comuns de apresentação são a esporotricose cutânea e a esporotricose linfocutânea, que como os próprios nomes sugerem, são infecções que envolvem, respectivamente, apenas a pele ou linfonodos e pele.
O primeiro sintoma da esporotricose costuma ser uma pequena pápula (nódulo) avermelhada e indolor no local onde o fungo foi inoculado, que surge entre 1 e 12 semanas após a contaminação. Essa lesão pode ser muito parecida com uma picada de inseto. Os locais mais acometidas são as mãos, braços, pés e pernas.
Com o passar dos dias, o nódulo tende a se tornar maior e, em alguns casos, pode se transformar em uma úlcera. Se não for tratada, a esporotricose cutânea pode durar anos.
Em cerca de 60% dos pacientes, a doente evolui para esporotricose linfocutânea. Nódulos adicionais, geralmente duros e de coloração arroxeada, podem surgir perto da lesão inicial e se espalhar pelos braços ou pernas ao longo do trajeto da circulação linfática, formando uma lesão “em cordão” ou “em rosário”.
Esses nódulos costumam ser indolores, persistentes e não provocam sintomas sistêmicos, como febre, perda de peso ou mal-estar.
A maioria das infecções pelo Sporothrix envolve apenas a pele e o sistema linfático. No entanto, o fungo pode se espalhar para outras partes do corpo, incluindo os ossos, articulações e sistema nervoso central. A esporotricose disseminada é rara e costuma ocorrer apenas em pessoas com sistema imunológico debilitado.
Outra forma pouco comum é a esporotricose pulmonar, que é uma doença com quadro clínico semelhante a de uma pneumonia, com tosse, falta de ar e febre, e que surge após a inalação de esporos de Sporothrix.
Diagnóstico
Os casos de esporotricose cutânea ou linfocutânea são relativamente fáceis de serem diagnosticados, pois as lesões são típicas e o paciente costuma ter uma história de exposição a solo, plantas ou gatos.
Para se ter certeza do diagnóstico, uma biópsia das lesões da pele costuma ser utilizada.
Tratamento
O itraconazol é o antifúngico de escolha para o tratamento da esporotricose linfocutânea e cutânea.
A dose habitual é de 100 a 200 mg/dia por via oral, e o tratamento deve ser mantido durante duas a quatro semanas após a cura de todas as lesões, o que geralmente resulta em um tratamento com duração de três a seis meses.
A taxa de sucesso do tratamento com itraconazol em estudos observacionais é de 90 a 100%. A terbinafina e o fluconazol são as opções que podem ser utilizadas nos raros casos de falha do tratamento com itraconazol.
A esporotricose pulmonar e articular podem ser tratada com itraconazol 200 mg, duas vezes por dia, por pelo menos um ano.
Nos casos mais graves de esporotricose, a anfotericina B por via intravenosa costuma ser a primeira opção de tratamento.
Prevenção
Profissionais que lidam com materiais de risco devem trabalhar usando calças e mangas compridas, além de luvas sempre que forem manusear o solo, madeira ou plantas, principalmente aquelas que possuam espinhos ou musgos.
Pessoas que possuem gatos domésticos devem levá-lo ao veterinário o mais rapidamente possível sempre que notarem leões de pele, principalmente nas patas, face e cabeça.
Ainda não existe vacina contra a esporotricose.
Referências
- Clinical features and diagnosis of sporotrichosis – UpToDate.
- Treatment of sporotrichosis – UpToDate.
- Basic biology and epidemiology of sporotrichosis – UpToDate.
- Sporotrichosis – Centers for Disease Control and Prevention.
- Sporotrichosis – Medscape.
- Sporotrichosis – The Center for Food Security and Public Health.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
Que medico devo procurar?
Dermatologista ou infectologista.
Meu gato apareceu com feridas que evoluiu muito rápido foi para não curou o meu cachorro logo apareceu com fungos na pele eu com feridas nos braços e inchaço na fase. Temos a mesma doença?
É possível que sim.
Nossa muito esclarecedor!!! Minha filha está em tratamento!! O médico receitou um ácido salicinico com cloridrato de betametazona para uso tópico e o Fluconazol por 5 dias!! Mais acho que será um tratamento dw longo prazo pq em 2 meses ela já infectou 2x
Boa tarde
Gostaria de saber se o humano pode transmitir a doença para outro humano?
Não.
devo tratar com itraconazol um arranho de gato com aparecimento de uma ferida local e mais 3 linfonodos, porém resultado negativo para fungos e biopsia negativa. a biopsia foi feita depois de 5 dias de itraconazol. o gato foi diagnosticado com esporotricose.
duvida: custo versus benefício do tratamento
toxidade do remédio versus possibilidade de estar infectado com esporotricose e esta vir a ganhar sistemas mais perigosos no futuro
Itraconazol não é um medicamento muito tóxico. Acho que o tratamento foi bem indicado, pois a história clínica é soberana. Você foi arranhado por um gato infectado e desenvolveu sintomas compatíveis.
obrigada pelas informaçaoes.
O paciente cria ínguas?
Sim, pode haver aumento dos linfonodos.
Estou me tratando da esporotricose com itraconazol (4 comprimido de 100mmg cada), receitados pela dermatologista, a mais de 50 dias, porém só vejo piora, e estou com muita dor nas articulações, pela manhã senão tomar remédios fortíssimos para dor não consigo me levantar .Será só esporotricose disseminada ou estou com outra doença? E qual especialidade devo procurar?
Infectologista.
Boa tarde Pedro! Vcs conseguem ter notificações dos casos? Se sim é obrigatório? Tenho iniciado algumas pesquisas na Universidade a qual sou vinculada, entretanto temos dificuldades de acessar os casos.
Gabriel, somos só um website de informação. E eu vivo em Portugal, nem no Brasil estou. A parte epidemiológica da esporotricose é de responsabilidade do Ministério da Saúde.
o paciente infectado por esporotricose pode apresentar coloração avermelhada na ponta dos dedos????
Não é a presentação mais comum, mas até pode.
Qual o medicamento ou pomada que seria indicado para a ferida da esporotricose
Cátia, o texto fala sobre o tratamento. A informação que você procura está lá.