Esporotricose: causas, sintomas e tratamento

Na maioria dos casos, a esporotricose atinge apenas a pele, o tecido subcutâneo e a cadeia de linfonodos ao redor da lesão inicial, mas em pacientes com algum grau de imunossupressão, o fungo pode também invadir órgãos internos, como articulações e sistema nervoso central.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Esporotricose

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O que é a esporotricose?

A esporotricose é uma infecção provocada por fungos do gênero Sporothrix. A espécie mais comum de Sporothrix é o Sporothrix schenckii, que está presente em todo o mundo e é o principal causador da esporotricose.

Entretanto, em determinadas regiões, outras espécies de Sporothrix podem ser encontradas, como no caso do Brasil, onde a espécie Sporothrix brasiliensis é a causa mais comum de esporotricose e costuma estar relacionada à infecção de gatos.

No México e em vários outros países da América Latina, além da espécie Sporothrix schenckii, a esporotricose também pode ser provocada pelo Sporothrix mexicana.

Na maioria dos casos, a esporotricose atinge apenas a pele, o tecido subcutâneo e a cadeia de linfonodos ao redor da lesão inicial, mas em pacientes com algum grau de imunossupressão, o fungo pode também invadir órgãos internos, como articulações e sistema nervoso central.

O fungo Sporothrix costuma estar presente no solo, madeiras em decomposição, feno e em vários tipos de vegetais. Animais também podem ser a fonte do micro-organismo, principalmente os gatos.

Transmissão

O Sporothrix é um fungo que sobrevive sob a forma de esporos na natureza, principalmente no solo, em madeiras, no feno e nas plantas.

A esporotricose surge quando os esporos do fungo penetram o nosso corpo através de feridas, como arranhões, farpas ou furos provocados por espinhos. O contato direto da pele com feno, musgos e mofos também pode ser fonte de transmissão, se o paciente tiver pequenas fissuras.

Algumas atividades profissionais estão mais sujeitas ao desenvolvimento da esporotricose, tais como paisagismo, jardinagem, agricultura, trabalho florestal e empacotamento de feno.

Em muitos casos, o local da inoculação do fungo não é óbvio, mas o paciente costuma se lembrar de ter tido exposição ao solo, madeira ou plantas.

A transmissão do Sporothrix através da inalação de esporos presentes no solo também é possível, mas essa via é bem pouco comum e costuma provocar infecção pulmonar em vez de lesões da pele.

Veterinários também estão sujeitos a um maior risco, já que a esporotricose também pode se comportar como uma zoonose, ou seja, uma doença transmitida diretamente de animais para o ser humano.

A maioria dos casos de transmissão por animais tem sido associada a gatos infectados.

No Rio de Janeiro, há um surto de esporotricose desde 1998, como mais de 2000 casos registrados de esporotricose provocada por gatos domésticos. Infecções através de cães também têm sido descritas, apesar destas serem mais raras e mais brandas.

Na maior parte dos casos transmitidos por gatos, mordidas e arranhões são a fonte de transmissão. Em geral, o animal contaminado já aparenta alguma lesão de pele, principalmente na face ou na cabeça.

Sintomas

As formas mais comuns de apresentação são a esporotricose cutânea e a esporotricose linfocutânea, que como os próprios nomes sugerem, são infecções que envolvem, respectivamente, apenas a pele ou linfonodos e pele.

O primeiro sintoma da esporotricose costuma ser uma pequena pápula (nódulo) avermelhada e indolor no local onde o fungo foi inoculado, que surge entre 1 e 12 semanas após a contaminação. Essa lesão pode ser muito parecida com uma picada de inseto. Os locais mais acometidas são as mãos, braços, pés e pernas.

Com o passar dos dias, o nódulo tende a se tornar maior e, em alguns casos, pode se transformar em uma úlcera. Se não for tratada, a esporotricose cutânea pode durar anos.

Lesão ulcerada da esporotricose cutânea.
Lesão ulcerada da esporotricose cutânea

Em cerca de 60% dos pacientes, a doente evolui para esporotricose linfocutânea. Nódulos adicionais, geralmente duros e de coloração arroxeada, podem surgir perto da lesão inicial e se espalhar pelos braços ou pernas ao longo do trajeto da circulação linfática, formando uma lesão “em cordão” ou “em rosário”.

Esporotricose linfocutânea
Esporotricose linfocutânea
(https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0006434.g001)

Esses nódulos costumam ser indolores, persistentes e não provocam sintomas sistêmicos, como febre, perda de peso ou mal-estar.

A maioria das infecções pelo Sporothrix envolve apenas a pele e o sistema linfático. No entanto, o fungo pode se espalhar para outras partes do corpo, incluindo os ossos, articulações e sistema nervoso central. A esporotricose disseminada é rara e costuma ocorrer apenas em pessoas com sistema imunológico debilitado.

Outra forma pouco comum é a esporotricose pulmonar, que é uma doença com quadro clínico semelhante a de uma pneumonia, com tosse, falta de ar e febre, e que surge após a inalação de esporos de Sporothrix.

Diagnóstico

Os casos de esporotricose cutânea ou linfocutânea são relativamente fáceis de serem diagnosticados, pois as lesões são típicas e o paciente costuma ter uma história de exposição a solo, plantas ou gatos.

Para se ter certeza do diagnóstico, uma biópsia das lesões da pele costuma ser utilizada.

Tratamento

O itraconazol é o antifúngico de escolha para o tratamento da esporotricose linfocutânea e cutânea.

A dose habitual é de 100 a 200 mg/dia por via oral, e o tratamento deve ser mantido durante duas a quatro semanas após a cura de todas as lesões, o que geralmente resulta em um tratamento com duração de três a seis meses.

A taxa de sucesso do tratamento com itraconazol em estudos observacionais é de 90 a 100%. A terbinafina e o fluconazol são as opções que podem ser utilizadas nos raros casos de falha do tratamento com itraconazol.

A esporotricose pulmonar e articular podem ser tratada com itraconazol 200 mg, duas vezes por dia, por pelo menos um ano.

Nos casos mais graves de esporotricose, a anfotericina B por via intravenosa costuma ser a primeira opção de tratamento.

Prevenção

Profissionais que lidam com materiais de risco devem trabalhar usando calças e mangas compridas, além de luvas sempre que forem manusear o solo, madeira ou plantas, principalmente aquelas que possuam espinhos ou musgos.

Pessoas que possuem gatos domésticos devem levá-lo ao veterinário o mais rapidamente possível sempre que notarem leões de pele, principalmente nas patas, face e cabeça.

Ainda não existe vacina contra a esporotricose.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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