Pré-natal: exames laboratoriais na gravidez

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Pré-natal

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Introdução

Chamamos de pré-natal as consultas médicas realizadas durante a gravidez, que têm como objetivo acompanhar a evolução da gestação e assegurar uma boa saúde ao feto e à futura mãe.

As consultas de pré-natal devem ser iniciadas no primeiro trimestre, preferencialmente até a 10ª semana de gestação. Em geral, sugerimos às mulheres que agendem uma consulta de acompanhamento pré-natal assim que descobrirem que estão grávidas.

O pré-natal tem como objetivos:

  • Estimar a idade gestacional correta e a provável data do parto.
  • Identificar, prevenir ou tratar potenciais problemas que ponham em risco a gravidez.
  • Monitorizar ao longo da gestação o estado de saúde da mãe e do feto.
  • Informar e educar a mãe sobre hábitos saudáveis e adequados durante a gravidez.

Neste artigo abordaremos os exames laboratoriais indicados durante o pré-natal. O seguimento pré-natal com ultrassom obstétrico será discutido em artigo à parte, que pode ser acessado neste link: ULTRASSOM NA GRAVIDEZ.

Vários exames laboratoriais, tanto de sangue quanto de urina, são necessários para um pré-natal adequado. Explicamos a seguir de forma simples os exames de pré-natal mais solicitados durante a gestação.

Exames do pré-natal do primeiro trimestre

TIPAGEM SANGUÍNEA

A tipagem sanguínea é importante para detectar mulheres que tenham sangue com fator Rh negativo (A-, B-, AB- ou O-) que estejam grávidas de bebês com sangue Rh positivo (A+, B+, AB+ ou O+).

Em geral, o sangue do bebê não se mistura com o sangue da mãe durante a gravidez, por isso, em uma primeira gravidez não há problemas quando a mãe e o filho têm fatores sanguíneos distintos. Porém, durante o parto, o organismo da mãe pode entrar em contato com alguma porção de sangue fetal, estimulando o sistema imunológico materno a produzir anticorpos contra o fator Rh. Isso significa que, em uma próxima gravidez, o sistema imunológico da mãe pode rejeitar um feto com fator Rh positivo, uma grave complicação conhecida como eritroblastose fetal.

Portanto, toda gestante com fator Rh negativo que está grávida de um bebê com fator Rh positivo deve receber injeção de imunoglobulina no terceiro trimestre e dentro das primeiras 72 horas após o parto, de forma a impedir o sistema imunológico da mãe de produzir anticorpos permanentes contra o fator Rh.

Gestantes que têm fator Rh positivo no sangue não precisam se preocupar com esse tipo de complicação na gravidez.

PAPANICOLAU

O exame ginecológico de papanicolau, também chamado de citologia cérvico-vaginal, é usado para o rastreio do câncer do colo do útero. Toda mulher deve fazer este exame de forma regular e o fato de estar grávida não muda essa rotina. Por isso, em geral, sugere-se que toda mulher com mais de 21 anos de idade, que esteja grávida e não tenha feito o papanicolau recentemente, faça o exame ginecológico na primeira consulta do pré-natal.

O exame ginecológico comum também serve para detectar corrimentos ou sinais de colpite ou cervicite que possam sugerir uma infecção ginecológica em curso. Todo corrimento com aspecto suspeito deve ser investigado (leia: CORRIMENTO NA GRAVIDEZ).

HEMOGRAMA

O hemograma durante o pré-natal tem como principal objetivo a investigação de anemia, que em gestantes é definido quando o valor da hemoglobina encontra-se abaixo de 11 g/dl ou um hematócrito menor que 33%.

As grávidas costumam reter líquidos e há uma diluição natural do sangue, fazendo com que o valor normal da hemoglobina seja um pouco mais baixo que nas mulheres não gestantes, cujo limite inferior da normalidade da hemoglobina é 12 g/dl e do hematócrito é 36%.

Portanto, toda grávida pode ter uma anemia leve devido ao aumento do volume de água do sangue, sem que isso tenha relevância clínica. Na grávida, somente valores de hemoglobina abaixo de 11 g/dl são preocupantes e devem ser tratados.

O hemograma é habitualmente solicitado na primeira consulta e pode ser repetido, a critério do médico, no segundo e no terceiro trimestre de gestação.

Para saber mais sobre o hemograma e a anemia, acesse os seguintes links:

Exames do pré-natal do primeiro e do terceiro trimestre

GLICEMIA

A dosagem da glicemia (concentração sanguínea de glicose) no pré-natal serve para pesquisar o diabetes mellitus gestacional. Não há um consenso entre as diversas escolas internacionais de obstetrícia sobre a melhor forma de rastrear e diagnosticar o diabetes gestacional. O que vamos apresentar a seguir são as orientações da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). As sociedades americana e europeia utilizam métodos e valores um pouco diferentes.

O rastreio básico é feito com uma glicemia de jejum na primeira consulta e um teste de tolerância oral à glicose entre a 24ª e a 28ª semana.

O valor considerado normal da glicemia em jejum da primeira consulta é até 85 mg/dl. O critério para o diagnóstico do diabetes é um valor acima de 126 mg/dl (o exame deve ser repetido para confirmação do valor).

As gestantes com glicemia entre 85 e 125 mg/dl são as que apresentam alto risco para desenvolver diabetes gestacional ao logo da gravidez e devem ter muito cuidado com a alimentação e com o ganho de peso durante a gestação.

Todas as gestantes com glicemia entre 85 e 125 mg/dl e aquelas com glicemia menor que 85 mg/dl, mas com fatores de risco (como história familiar, obesidade, diabetes gestacional em uma gravidez anterior, etc.) devem fazer o teste de tolerância oral, também chamado de curva glicêmica, entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez.

O teste é feito através de 3 dosagens da glicemia. A primeira é feita em jejum. Logo após colher o sangue, a gestante ingere um xarope contendo 75 gramas de glicose e colhe mais 2 novas amostras de sangue, 1 e 2 horas depois de ter bebido o xarope. Os resultados esperados são os seguintes:

  • Glicemia Jejum: normal até 95 mg/dl.
  • Glicemia após 1 hora: normal até 180 mg/dl.
  • Glicemia após 2 horas: normal até 155 mg/dl.

Se a gestante tiver 2 dos 3 valores acima alterados, ela já pode ser considerada portadora de diabetes gestacional.

Para saber mais detalhes sobre o diabetes gestacional, acesse o seguinte link: Diabetes gestacional: valores, sintomas e tratamento.

Exames do pré-natal nos três trimestres

EXAME DE URINA

Dois exames de urina fazem parte da avaliação básica do pré-natal: EAS (Urina tipo 1) e a urocultura.

O EAS é um exame simples de urina, que serve, principalmente, para detectar sangramentos, presença de pus (leucócitos) ou de proteínas na urina. Ele é habitualmente solicitado no primeiro e no terceiro trimestre.

A presença de sangue ou pus pode ser um sinal de inflamação do trato urinário, principalmente infecção urinária. Já a proteinúria, que é o nome que damos quando há presença de proteínas na urina, é um dos possíveis sinais da pré-eclampsia, doença que pode surgir no 3° trimestre de gestação.

Em um exame de urina simples, a pesquisa de leucócitos, hemácias e proteínas deve ser negativa. Se o resultado dessa pesquisa for fornecido em números, eles devem estar abaixo do valor de referência.

A urocultura é um exame de urina específico para identificar bactérias na urina. A presença de bactérias na urina da grávida, mesmo sem sintoma algum de infecção urinária, deve sempre ser tratada com antibióticos, pois ela aumenta o risco de complicações da gravidez.

Tanto o EAS quanto a urocultura costumam ser solicitados nos três trimestres da gestação.

Para saber mais detalhes sobre os temas citados acima, acesse os seguintes links:

Pesquisa de infecções no pré-natal

Outro ponto importante do pré-natal é o rastreio de doenças infecciosas que possam causar complicações no curso da gravidez.
Infecções, como toxoplasmose, rubéola, sífilis, herpes e outras, se adquiridas DURANTE a gravidez, podem provocar abortamento, parto prematuro ou má-formações do feto.

Por isso, é importante a realização de exames de sangue chamados sorologias, que pesquisam a presença de anticorpos no sangue da mãe contra essas infecções. As doenças cuja grávida já possui anticorpos específicos não podem ser adquiridas novamente, não havendo risco de infecção durante a gravidez. Por exemplo, ter tido rubéola em algum momento da vida não é o problema, pelo contrário, pois isso significa que a mãe está imunizada e não correr risco de se infectar de novo. O problema é nunca ter tido rubéola e contrair a doença DURANTE a gestação.

As sorologias do pré-natal devem ser solicitadas na primeira consulta. Todas as infecções cuja grávida tenha sorologia negativa, ou seja, não tenha anticorpos específicos, devem ter a sorologia repetida no segundo e no terceiro trimestre para termos certeza de que a mãe não se infectou durante da a gestação.

Anticorpos IgG e IgM na gravidez

Em geral, os anticorpos pesquisados na sorologia são o IgG e o IgM. Um anticorpo do tipo IgM significa que o paciente adquiriu a infecção muito recentemente. Já o anticorpo IgG é um anticorpo de memória, que surge semanas depois do paciente ter sido infectado. Portanto, podemos ter as seguintes situações:

  • IgM positivo e IgG negativo: este resultado indica infecção recente. Se esse tipo de sorologia surgir durante a gravidez, a gestação corre risco.
  • IgM negativo e IgG positivo: este resultado sugere infecção antiga e já curada. Esse tipo de sorologia indica que a paciente já teve a doença há muito tempo, curou-se e hoje encontra-se imunizada, sem risco de tê-la novamente. É o melhor resultado para a gestante.
  • IgM negativo e IgG negativo: este resultado indica que a grávida nunca teve a doença. Esse tipo de sorologia sugere que a paciente não está doente, mas não tem imunidade contra a infecção, podendo contraí-la, caso seja exposta ao germe durante a gravidez.

Exemplo de uma gestante fictícia:

  • Sorologia para toxoplasmose: IgM negativo e IgG negativo.
  • Sorologia para rubéola: IgM negativo e IgG positivo.
  • Sorologia para citomegalovírus: IgM negativo e IgG positivo.

Os resultados acima indicam que a gestante nunca teve toxoplasmose, mas já está imunizada contra rubéola e citomegalovirose. Isso significa que o único risco dela durante a gravidez é em relação à toxoplasmose. O obstetra só precisa orientá-la sobre como minimizar o risco de contrair toxoplasmose. No trimestre seguinte, não há necessidade de repetir as sorologias contra rubéola ou citomegalovírus, apenas contra toxoplasmose.

É importante destacar que nem todos os resultados da sorologia vêm com as dosagens de IgG e IgM. No caso do HIV, por exemplo, o resultado vem somente como reagente (positivo) ou não reagente (negativo).

Sorologias solicitadas de rotina no pré-natal

A sorologia para algumas infecções fazem parte da rotina de qualquer pré-natal. São elas:

As infecções acima são aquelas que devem ser pesquisadas de rotina em gravidezes de baixo risco. Outras sorologias podem ser solicitadas caso haja necessidade, como, por exemplo, uma grávida que tenha tido contado recente com pessoas com catapora, herpes ou caxumba, por exemplo.

O que explicamos neste artigo são apenas os exames laboratoriais mais simples do pré-natal. Em caso de gravidez de alto risco ou em gestante que apresentem fatores de risco ou forte história familiar para outras doenças, é obrigação do obstetra fazer uma investigação mais específica.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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