Tricuríase: transmissão, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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Tricuríase

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O que é tricuríase?

A tricuríase é uma verminose causada pelo parasito Trichuris trichiura, um nematódeo de aproximadamente 4 cm de comprimento, que habita o intestino grosso dos indivíduos infectados.

A infecção pelo T. trichiura costuma ser assintomática na maioria dos indivíduos, mas ela pode provocar diarreia crônica nos pacientes contaminados com uma carga de centenas de parasitos.

A tricuríase é uma parasitose muito comum em países subdesenvolvidos, onde as condições de saneamento básico são precárias.

O Trichuris trichiura é um parasito que não se adapta bem a locais áridos ou muito frios, por isso, as regiões tropicais, onde o clima é úmido e quente, são as que apresentam maior número de casos desta verminose.

Em todo mundo, estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas estejam infectadas com esse parasito, a maioria delas sem apresentar nenhum tipo de sintoma.

Devido ao fato do Trichuris trichiura viver em ambientes com características semelhantes aos do parasito Ascaris lumbricoides, é muito comum a co-infecção por ambos nematódeos. O Trichuris trichiura é um verme morfologicamente parecido com o Ascaris lumbricoides, porém, ele é bem menor, medindo, em média, cerca de 4 cm contra os habituais 30 cm do áscaris (leia: Ascaridíase | Ascaris lumbricoides).

Transmissão do Trichuris trichiura

A tricuríase é uma doença de transmissão fecal-oral. Um indivíduo se contamina com o Trichuris trichiura quando ingere acidentalmente ovos do parasito contidos em alimentos, água ou no solo.

O ciclo de vida do Trichuris trichiura pode ser resumido da seguinte forma: um indivíduo infectado libera milhares de ovos do parasito a cada evacuação. Se as fezes entrarem em contato com o solo, os ovos encontram um local propício para amadurecer. Após cerca de 2 ou 3 semanas, os ovos passam a conter um embrião do verme capaz de infectar quem o consumir.

A ingestão de ovos eliminados recentemente nas fezes não é capaz de contaminar outras pessoas, pois o embrião no seu interior precisa deste tempo de 2 semanas de amadurecimento no solo para poder completar o seu ciclo de vida.

Em ambientes úmidos e com pouca exposição solar direta, os ovos do Trichuris trichiura podem permanecer viáveis por vários meses. Por outro lado, em locais secos, muito quentes ou com exposição solar direta, o ovo sofre desidratação e o embrião em seu interior morre rapidamente.

As duas formas mais comuns de contaminação são através do contato da boca com mãos que manipularam solo infectado ou por consumo de alimentos plantados em terra adubada com fezes humana.

Uma vez ingeridos, os ovos do parasito conseguem atravessar incólumes o estômago e eclodem ao chegar ao intestino delgado, liberando as larvas do verme.

Após cerca de 3 meses, as larvas se tornam vermes adultos e migram para o intestino grosso, onde irão habitar definitivamente.

No intestino grosso, o Trichuris trichiura pode viver por até 5 anos. A fêmea do parasito é capaz de colocar mais de 20 mil ovos por dia, que serão eliminados pelas fezes, dando início a um novo ciclo.

Sintomas

A imensa maioria dos pacientes contaminados com o Trichuris trichiura não apresenta sintomas.

Em geral, somente os indivíduos com os intestinos infestados com centenas de parasitos é que desenvolvem sintomas de tricuríase.

Nestes casos, o quadro clínico mais comum é de diarreia crônica, que pode ou não vir acompanhada de muco ou sangue misturado às fezes. Distensão abdominal, enjoos, perda de peso, flatulência e anemia são outros sinais e sintomas possíveis.

Um sinal físico comum é o baqueteamento digital, que é um alargamento da ponta dos dedos e da unha.

Outro sinal típico, geralmente presente em crianças com contaminação maciça, é o prolapso retal, uma protusão de parte do reto através do ânus. Nestes casos, é comum conseguirmos ver vermes aderidos à mucosa do reto que está exteriorizada.

baqueteamento digital
Baqueteamento digital

Diagnóstico

O diagnóstico da tricuríase é feito habitualmente pelo exame parasitológico de fezes, no qual é possível identificar a presença de ovos do Trichuris trichiura (leia: Exame parasitológico de fezes).

Em alguns casos, o diagnóstico pode ser feito durante a realização de uma colonoscopia, pois os vermes são facilmente encontrados aderidos à mucosa do intestino grosso.

Tratamento

As opções de tratamento para tricuríase são:

  • Mebendazol 100 mg, 2 vezes por dia por 3 dias.
  • Albendazol 400 mg, 1 vez por dia por 3 dias.
  • Nitazoxanida, 500 mg 2 vezes ao dia, por 3 dias, por via oral.

Em pacientes com infecção maciça, o tratamento pode ser prolongado por 5 a 7 dias. A taxa de cura com estes esquemas costuma ser acima de 90%.

Três ou quatro semanas após o tratamento, o médico pode solicitar novo exame parasitológico de fezes para confirmar a cura. Se ainda houver ovos, sugere-se a repetição do tratamento.

Deve-se evitar o uso de albendazol ou mebendazol nas grávidas. Em geral, nas gestantes infectadas, o tratamento é adiado até depois do parto, para diminuir o risco de toxicidade para o feto.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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