O que é lipoaspiração?
A lipoaspiração é a cirurgia plástica mais realizada no Brasil, com mais de 200.000 procedimentos anualmente.
A lipoaspiração, também chamada de liposucção, é um procedimento cirúrgico que consiste na remoção de tecido gorduroso de áreas específicas do corpo, como barriga, nádegas, quadris e coxas, através de uma técnica que usa sucção.
A cirurgia de lipoaspiração não é um procedimento que visa o emagrecimento, mas sim a remoção de gordura localizada, principalmente aquelas resistentes a dietas e exercícios.
Como é feita?
A lipoaspiração é um procedimento que só deve ser realizada por cirurgiões plásticos e em centro cirúrgico habilitado com anestesia.
Antes da cirurgia, o cirurgião irá marcar com uma caneta as áreas que serão abordadas com liposucção. É possível que o seu médico peça para você ficar em pé parcialmente sem roupa para que ele possa fazer as marcações corretamente.
A anestesia para a lipoaspiração pode ser regional (peridural ou raqui) ou geral, dependendo da quantidade de gordura que se pretende retirar. A anestesia geral também é utilizada quando se deseja lipoaspirar segmentos mais superiores, como braços e região submentoniana, e principalmente, quando a lipo é associada a outra cirurgia, como por exemplo mamoplastia ou rinoplastia.
Uma vez que o paciente encontra-se anestesiado, o procedimento pode ser iniciado. A lipoaspiração é feita com a inserção de uma fina cânula, instrumento cilíndrico oco de metal, através de pequenos incisões na pele em direção à camada de tecido adiposo (tecido de gordura). A cânula da lipoaspiração fica conectada a um dispositivo que cria vácuo para aspirar a gordura. Quando a cânula entra na camada de gordura subcutânea, ela causa traumas no mesmo, soltando as gorduras e facilitando sua aspiração para fora do corpo.
O que eu expliquei acima é o princípio básico da lipoaspiração. Atualmente existem variações desta técnica que permitem uma aspiração mais eficiente e menos traumática de gordura.
Técnicas
Técnica infiltrativa e técnica não-infiltrativa
Técnica infiltrativa é aquela em que a lipoaspiração é precedida pela injeção, na gordura que será lipoaspirada, de uma solução composta por soro, vasoconstrictores e, às vezes, anestésicos locais.
A solução injetada faz com que as células de gordura “inchem”, facilitando a lipoaspiração, e faz com que as artérias e veias se contraiam, diminuindo o sangramento cirúrgico e os edemas. Devido a essas propriedades, a técnica infiltrativa é a preferida pela grande maioria dos Cirurgiões Plásticos, em detrimento da técnica não-infiltrativa, na qual, obviamente nada é injetado.
Lipoaspiração ultra-sônica
Envolve uma cânula capaz de emitir energia ultra-sônica para “derreter” a gordura, facilitando sua remoção. A técnica com ultra-som pode ser usada em conjunto com a técnica infiltrativa. Apesar de parecer mais efetiva na teoria, esta técnica apresenta algumas desvantagens como a necessidade de incisões maiores, maior risco de lesões internas, maior custo e maior tempo de procedimento.
Lipoaspiração à Laser
Técnica semelhante à descrita acima, só que em vez de usar ultra-som, usa energia do Laser para quebrar as gorduras. Atualmente não há evidências que estas duas técnicas sejam superiores à lipoaspiração infiltrativa isolada.
Vibrolipoaspiração
É uma outra variante, consiste em uma cânula que produz rápidos movimentos para frente e para trás, facilitando a quebra de gordura e sua aspiração.
Hidrolipo, mini lipo e lipo light
A lipoaspiração é um procedimento cirúrgico habilitado preferencialmente a Cirurgiões Plásticos, com formação prévia em Cirurgia Geral (caso de todos os Cirurgiões Plásticos membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e que só deve ser realizada em centro cirúrgico.
A invenção dos termos “hidrolipo”, “mini lipo”, “lipo light” e outros tem um único propósito: burlar a resolução do Conselho Federal de Medicina e permitir que outros profissionais possam realizar cirurgias de lipoaspirações.
Para piorar a situação a “hidrolipo”, a “minilipo” e a”lipolight” são vendidas para a população como sendo procedimentos mais modernos, que não precisam de internação e que o paciente vai do consultório direto para o trabalho.
Na realidade, a lipoaspiração realizada em consultório é muito inferior. Além de infringir uma resolução do CFM, não fornece a segurança e o ambiente necessários para a realização de um procedimento cirúrgico, o paciente não é sedado, sentindo, na melhor das hipóteses, um incômodo durante todo o procedimento e muitas vezes é mais dispendiosa financeiramente pois tem que ser feita em várias etapas, uma vez que há limites de toxicidade na utilização de anestésicos locais.
Portanto, as técnicas chamadas de minilipo, hidrolipo, lipolight são apenas uma forma de lipoaspiração em que se retira menor quantidade de gordura. No fundo, apresentam as mesmas indicações e riscos. Não aceite ser operado(a) por médicos não especializados em cirurgia plástica sob a alegação de que estes procedimentos são mais simples, e por isso podem ser realizados por outros profissionais.
Quem são os melhores candidatos à lipoaspiração?
A lipoaspiração não deve objetivar o emagrecimento. Os melhores resultados são obtidos por aqueles pacientes que mantém o peso estável há algum tempo, mas apresentam aquela impertinente gordurinha localizada, apesar do controle da dieta e de exercícios regulares.
O paciente não deve fazer a lipoaspiração primeiro para depois resolver mudar seus hábitos alimentares e de atividade física. A área lipoaspirada não costuma acumular gordura novamente, o que pode causar irregularidades caso o paciente venha a engordar de novo.
Porém, nem toda paciente com gordura localizada é uma candidata à lipoaspiração. O grau de flacidez da pele pode ser um fator impeditivo. A flacidez traduz a redução, ou até mesmo a perda, da elasticidade da pele. Quanto maior a flacidez menor a elasticidade. A presença das famigeradas estrias também é um forte indicador de uma pele pobre em elasticidade (leia: ESTRIAS | Tratamento e prevenção).
Para melhor explicar o quão importante é a elasticidade me utilizo de um momento da vida comum a quase todas as mulheres; a gravidez. Com o desenrolar da gestação, a pele se expande progressivamente para melhor comportar o aumento do volume abdominal. Imediatamente após o parto, o volume retorna ao normal e a pele se retrai lentamente durante as semanas subsequentes para adaptar-se novamente ao volume abdominal de outrora. Aí que entra a elasticidade da pele. Quantos de vocês conhecem mulheres que após o parto nem pareciam que tiveram um filho? E as que ficam com o abdômen flácido? E as que além de flacidez ficam cheias de estrias? O que determina o grau de retração da pele é a sua elasticidade que, analogamente à gravidez, desempenha o mesmo importante papel na lipoaspiração.
Sabemos que em se tratando de lipoaspiração, atuam na retração da pele, além do grau de elasticidade, a contração cicatricial. Ao realizarmos uma lipo, ocorre a lesão do tecido gorduroso pelas cânulas.
Essa lesão, como todo ferimento, cicatriza. Acontece que todo processo de cicatrização em nosso organismo evolui com uma retração dos tecidos vizinhos. Isto também é verdade na lipoaspiração, onde a cicatrização do tecido gorduroso acarretará na retração da pele, graças ao fenômeno de contração cicatricial.
Quando há flacidez pequena ou moderada, a lipoaspiração pode ser realizada, pois podemos contar com a elasticidade da pele e com a contração cicatricial. Quando a flacidez da pele é de moderada a grande, a lipo isolada deve ser evitada, sob pena de agravá-la. Nestes casos, a associação da ressecção de pele à lipoaspiração deve ser considerada.
Pós-operatório
A região submetida a lipoaspiração pode ficar bastante dolorosa e apresentar edemas e equimoses (manchas roxas). O cirurgião plástico pode indicar o uso de uma cinta para modelar o corpo e reduzir o edema. A cinta costuma ser utilizada ininterruptamente por cerca de 1 mês, podendo ser retirada apenas na hora do banho. Posteriormente a cinta é usada somente à noite, na hora de dormir, por mais um mês.
O paciente pode e deve andar já no primeiro dia de pós-operatório para reduzir o risco de tromboses nas veias dos membros inferiores. O retorno ao trabalho costuma ser liberado após 1 semana. O prazo para retirada dos pontos também costuma ser de 7 dias. Atividades físicas somente após 1 mês, no mínimo.
Quais são os riscos da lipoaspiração?
A lipoaspiração é um procedimento cirúrgico e deve ser tratada com a devida seriedade. Complicações comuns a qualquer cirurgia, como sangramentos e reações a anestesia também podem ocorrer na lipoaspiração.
A lipoaspiração é muito traumática e provoca grandes edemas no subcutâneo, o que significa grande mobilização dos líquidos corporais. Para evitar complicações como anemia ou insuficiência renal aguda por sangramentos ou perdas excessivas de água para os edemas, os volumes de gordura aspirados na técnica infiltrativa não devem ultrapassar 7% do peso corporal (ex: 4,2 litros em um paciente de 60 kg) e a área lipoaspirada não deve ser maior do que 40% da área corporal.
Ou seja, Qualquer profissional que prometer lipoaspirar todo o corpo e tirar 7,8,9 ou até 10 L de gordura ou são mentirosos ou são inconsequentes e levianos.
Outro risco é a lesão de órgãos internos pela cânula. Esta complicação é muito grave, mas é rara se o profissional for experiente e bem treinado. O problema é que há muitos aventureiros praticando cirurgia plástica sem ter título de cirurgião plástico.
Não esqueçam que lipoaspiração é uma CIRURGIA e como tal está sujeita à complicações CIRÚRGICAS, devendo ser realizada em ambiente CIRÚRGICO. Sendo assim, se você deseja realizar uma lipoaspiração, consulte-se com um Cirurgião Plástico, certifique-se que ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e exija que a cirurgia seja realizada em um centro cirúrgico.
Esse texto foi escrito em co-autoria do Dr. Carlos André Meyer – Cirurgião Plástico.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.