Circuncisão: o que é, riscos, benefícios e pós-operatório

A circuncisão é a remoção cirúrgica do prepúcio que cobre a glande do pênis. Pode ser realizada por razões médicas, religiosas ou culturais, com benefícios potenciais de higiene e redução de infecções.
Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Circuncisão

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O que é circuncisão?

A circuncisão é um procedimento cirúrgico, realizado em crianças e adultos, no qual é removido o prepúcio, a pele que recobre a glande (cabeça do pênis).

Historicamente realizado por motivos religiosos, a circuncisão tem se tornado cada vez mais comum por motivos de higiene e por ser um procedimento que reduz a incidência de doenças urológicas.

Neste texto explicaremos como e por que é feita a circuncisão, abordando seus riscos e benefícios.

O que é o prepúcio?

O prepúcio é aquela camada de pele retrátil que recobre e protege a glande, conhecida popularmente como cabeça do pênis. Apresenta duas faces, a externa, composta de pele comum, e a interna, virada para a glande, que é uma mucosa responsável por manter o pênis hidratado e protegido contra agressões do meio externo.

O prepúcio nos adultos encobre a glande quando o pênis está flácido, mas se retrai quando o mesmo está ereto.

Essa pele que recobre o pênis começa a ser formada já nas primeiras semanas de desenvolvimento do feto. Desde o nascimento até os primeiros anos de vida do homem, o prepúcio encontra-se aderido à glande, um processo chamado de fimose fisiológica.

Com o crescimento, a região interna vai se desprendendo gradualmente da glande, até se tornar totalmente retrátil quando o pênis encontra-se ereto. Não se deve forçar o descolamento do prepúcio nas crianças, pois o mesmo ocorre naturalmente com o passar dos anos.

Por que é feita a circuncisão?

A circuncisão é um dos procedimentos cirúrgicos mais antigos da humanidade, havendo relatos da prática entre os egípcios, há mais de 15.000 anos, como modo de aumentar a higiene masculina e “purificar a alma”.

A circuncisão, apesar de ser um procedimento cirúrgico, até hoje ainda é feita frequentemente por questões de tradição e religião, sem haver necessariamente indicação médica para tal, como são os casos das circuncisões rotineiras em crianças judias e muçulmanas.

No final do século XIX e início do século XX, a circuncisão começou a se tornar um procedimento médico comum, mesmo em famílias sem motivação religiosa. Em alguns países como EUA e Coréia, mais de 80% da população masculina é circuncidada (atenção: o termo circuncisada não existe).

É bom deixar claro que, apesar dos conhecidos benefícios — que serão explicados mais à frente —, as principais Sociedades de Pediatria do mundo não recomendam a realização rotineira da circuncisão sem indicação médica.

A circuncisão por indicação médica é normalmente feita nos casos de infecção do pênis (bálano-postite), dor durante o ato sexual ou fimose patológica, ou seja, ausência de retratilidade do prepúcio em crianças mais velhas e adolescentes.

Benefícios

A circuncisão, quando feita na infância, apresenta alguns benefícios, entre eles, podemos citar:

Redução das infecções urinárias

A infecção urinária em homens é incomum, porém, ocorre mais frequentemente em crianças não circuncidadas devido ao favorecimento do crescimento de bactérias no esmegma que é uma espécie de muco branco composto por células esfoliadas e gordura que costuma se acumular sob o prepúcio.

Redução das infecções do pênis

A balanite (infecção da glande) e a postite (infecção do prepúcio) também ocorrem menos frequentemente em crianças circuncidadas.

Redução do câncer peniano

Homens circuncidados apresentam menor risco de terem câncer peniano. Cabe destacar, porém, que essa doença é rara mesmo em homens não circuncidados (cerca de 1 caso a cada 100.000 pessoas). O benefício só parece existir quando a circuncisão é feita ainda na infância. Homens circuncidados após a adolescência não apresentam taxas de menores de câncer peniano.

Redução do câncer do colo do útero nas parceiras

Além da redução do câncer peniano, parceiras de homens circuncidados (e monogâmicos) apresentam menor taxa de câncer do colo do útero. A explicação parece estar no fato de homens circuncidados terem menor risco de contaminação e transmissão do HPV.

Redução de IST e HIV

Além do HPV, homens circuncidados apresentam uma menor taxa de contaminação por outras infecções sexualmente transmissíveis, tais como cancroide, herpes genital, tricomoníase e HIV.

Curiosamente, a circuncisão não apresenta evidências de proteção contra a gonorreia, clamídia ou sífilis.

Melhor higiene

A higiene genital é muito importante para a saúde do pênis. Homens circuncidados têm muito mais facilidade de limpar o pênis adequadamente durante o banho e de mantê-lo limpo ao longo do dia.

Riscos

A circuncisão é um procedimento cirúrgico que, como tal, possui riscos. Todavia, a cirurgia é rápida e simples (dura cerca de 20 minutos) e apresenta taxas de complicações cirúrgicas abaixo de 0,5%. As complicações mais comuns são sangramentos, infecções e insatisfação com o resultado estético.

A circuncisão, como qualquer outra cirurgia, deve ser feita sob anestesia, evitando que a criança ou mesmo o adulto sintam dor durante o procedimento.

Perda de sensibilidade após a circuncisão

A mucosa do prepúcio é muito inervada e contribui para a sensação de prazer. Um dos argumentos contra a circuncisão sem indicação médica é o risco de redução da sensibilidade do pênis. Todavia, apesar da lógica por trás desta teoria, o fato é que, na prática, homens circuncidados não apresentam uma satisfação menor com suas vidas sexuais.

Mesmo em homens que se submeteram à circuncisão somente quando adultos e com vida sexual já ativa, não há evidências contundentes de que haja mudanças da qualidade da vida sexual dos mesmos. Existem relatos pessoais de diminuição da sensibilidade, porém, há também trabalhos científicos com grandes grupos, que mostram ausência de alterações na qualidade do sexo. É um tema polêmico.

O fato é que a circuncisão feita em crianças, sem indicação médica formal, é atualmente um procedimento que causa controvérsias. Existem grupos contra a circuncisão que apresentam os seguintes argumentos:

  • A circuncisão causa dor nos recém-nascidos, trazendo estresse desnecessário ao bebê.
  • O trauma da circuncisão realizada quando o bebê é carregado pelo resto da vida, mesmo que o indivíduo não se dê conta disso (não existem evidências que comprovem que esse argumento seja válido).
  • A circuncisão contraria os direitos humanos, pois implica em uma intervenção que pode ser considerada mutilação genital em um indivíduo incapaz de tomar decisões.

A posição da maioria dos Colégios de Pediatria é de não indicar a circuncisão para toda população masculina, sem motivo médico claro. Entretanto, não há contraindicações à sua realização por motivos religiosos ou se for desejo do paciente (caso seja adulto) ou dos seus pais (caso seja criança).

Perguntas comuns

Que tipo de anestesia é utilizada para a circuncisão?

Na maioria dos casos, o procedimento é feito sob anestesia local, com bloqueio do nervo peniano dorsal.

Qual é a melhor idade para fazer a circuncisão?

A circuncisão pode ser feita em qualquer idade. Porém, nos bebês, a recuperação é mais rápida e a taxa de complicações é mais baixa que nas crianças mais velhas e nos adultos.

Com quantos dias deve-se retirar os pontos após a cirurgia de circuncisão?

Não é preciso retirar os pontos, dado que a sutura da circuncisão é feita com fio absorvível. Dentro de 3 a 4 semanas, os fios são absorvidos.

Quanto tempo dura uma cirurgia de circuncisão?

A cirurgia de circuncisão dura, em média, 20 minutos.

Quanto tempo de repouso é recomendado após a circuncisão?

O tempo de recuperação depende da forma como cada organismo responde à cirurgia. Em geral, recomendamos que o paciente tenha pelo menos 5 dias de repouso antes de voltar às suas atividades habituais de vida. Esforços devem ser evitados por 10 a 15 dias e atividade sexual (incluindo masturbação) só deve ser retornada após 2 a 4 semanas, consoante a recuperação da ferida cirúrgica e a absorção dos fios da sutura. Após 6 semanas, em geral, já não há mais limitações, incluindo esportes e andar de bicicleta.

Todo paciente com fimose precisa fazer circuncisão?

Não necessariamente. Em muitos casos, o urologista pode optar por uma cirurgia conservadora que preserve o prepúcio. Mas boa parte dos pacientes acaba optando pela circuncisão devido às suas vantagens.

A circuncisão pode causar impotência?

Não, disfunção erétil não é uma das complicações descritas da circuncisão.

Qual é a complicação mais comum da cirurgia de circuncisão?

A complicação mais fraquente é sangramento local e ocorre em cerca de 8 a cada 10 mil procedimentos (0,08%).


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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